TEMAS INEXPLICADOS

Pantomnésia - Parte 1

panto11Além de sábio, o inconsciente não esquece nada. Outra faculdade inconsciente, comum a todo gênero humano, é a chamada pantomnésia, memória de tudo. Um jovem açougueiro, em um ataque de loucura, recitava velozmente paginas inteiras da "Fedra" de Racine. Curado da loucura, por mais esforços que fizesse, não conseguia recordar-se de um só verso. Declarou que ouvira unicamente uma vez a leitura dessa tragédia, quando pequeno. Para saber até onde chega o poder mnemônico do inconsciente, um passo importante, sem duvida, é a comprovação de que nosso...

inconsciente nos recorda coisas que conhecemos quando nem possuíamos o uso da razao. Este fato se comprovou muitissimas vezes. O dr Maury, por exemplo, conta que certa noite sonhou que era criança e vivia num povoado chamado Trilport. Alí, imaginou ver um homem uniformizado, que dizia chamar-se..."fulano de tal". Maury apreciava analisar seus sonhos. Ainda que não tivesse a menor idéia daquele homem, nem daquele povoado, onde pensava nao ter nunca vivido , havia no sonho uma vaga sensação de "já visto". Passado algum tempo, se encontrou com a antiga ama seca. Ela lhe disse que, sendo ele muito pequeno, foram à mencionada localidade, onde o pai devia construir uma ponte, e que ali existia um policial com o mesmo nome que soubera através do sonho.

Por meio da hipnose ou de associações, testes ,drogas, etc, o psiquiatra podera obter algumas vezes do inconsciente, recordações que o auxiliem na recuperação do paciente. O advogado poderá obter preciosos dados para a reconstrução dos fatos do seu cliente, etc. Pela hipnose , se chegou, às vezes, a bastante profundidade do arquivo inconsciente. Uma experiência quase de rotina é a comprovação da memória do inconsciente durante a hipnose.E consequentemente, a imaginação se exalta também, dando à linguagem dos pacientes um brilho e um colorido notáveis. A memória reproduz, com extraordinária precisão, cenas e pormenores que, em estado de vigília, estão completamente esquecidos ou jamais fixados.
 

Pantomnésia e Deja Vú 

  
Nosso inconsciente é um perfeito gravador, ao qual nada escapa, em qualquer fase de nossa vida. A palavra "Pantomnésia", na sua origem etimológica, significa memória de tudo. Registra tudo e nada esquece.

Já Swedenborg (1688-1772) entreviu esse fato, hoje cientificamente comprovado. "Tudo aquilo que o homem ouve, vê e sente de qualquer modo, insinua-se, como idéias ou afins, em sua memória interior, sem ciência dele; e tudo aí se conserva, sem nada se perder, ainda que as mesmas coisas fiquem obliteradas em sua memória. Nela também se acham inscritos todos os fatos particulares e íntimos que em qualquer tempo pensou, falou ou fez, e, mesmo, os que lhe aparecem como uma sombra, com as minuciosas circunstâncias, desde a sua primeira infância à sua extrema velhice."

Quase todos os casos de "Já visto" ("dejá vu") se explicam pela memória do inconsciente. É relativamente freqüente o caso de pessoas que, chegando a determinado lugar, declaram que já o conhece sem nunca terem estado lá. E se fizermos testes exatos apuraremos que dão realmente certo. Vejamos então um caso exemplificando Pantomnésia.

Uma anciã, ao passar por lugar "no qual nunca estivera", "adivinhou", de repente, que naquele local tinha havido plantações de violetas. Fato surpreendente, porque aquele local, edificado e central, não poderia sugerir tais plantas anteriores. Mas a senhora, sem poder explicar o motivo, estava convencida do que afirmava. Fizeram-se averiguações e comprovou-se que de fato, há mais de trinta anos, naquele local se tinha derrubado um edifício, tendo ficado acertado que, até a nova construção, o terreno serviria para plantações de um famoso jardineiro. A senhora, porém, ignorava absolutamente esta circunstância.
   O tempo encarregou-se de elucidar a questão. O marido da senhora, intrigado também, pensou muitas vezes no assunto. Um dia, quase de repente, lembrou-se de que, pouco antes de ser vendida a propriedade, ele mesmo comprara lá um ramalhete de violetas para sua esposa, então convalescente de uma doença. A esposa se lembrou de que seu marido, ao dar-lhe as flores, lhe dissera onde as comprara.

Ambos haviam se esquecido, mas o inconsciente "não esqueceu nada". Ao passarem por aquele lugar, trinta anos após, efetuou-se a associação das idéias e brotou a misteriosa lembrança. Como já citamos, o inconsciente não esquece nada. (Cf. "Enciclopédia Ilustrada Europeo-Americana", Madri-Barcelona, Espasa-Calpe, no artigo "Vaticinio", Pág. 382. – " A Face Oculta da Mente", Pe. Oscar G.-Quevedo, Ed. Loyola, pág. 111).


Pantomnésia - A memória do inconsciente

 
O inconsciente conhece muitíssimo mais que o consciente!

Um sonho revelador - O filósofo Delboeuf sonhou que no pátio da casa encontrara duas lagartixas enterradas na neve e rígidas pelo frio. Tomou-as, aqueceu-as nas mãos e colocou-as numa greta do muro. Depois colocou ao lado delas umas ervas que lá cresciam. Ainda em sonho pronunciou o nome da planta: "Asplenium ruta muralis" (sic). O nome se lhe apresentou como algo familiar.

Delboeuf não se lembrava de quase nenhum dos nomes técnicos das plantas apreendidos na época de estudante. Como, pois era possível aquele conhecimento técnico? Após 16 anos encontrou casualmente a explicação: em casa de um amigo encontrou um pequeno álbum de flores secas, no qual estava escrito, por seu próprio punho: "Asplenium ruta muraria". O mesmo Delboeuf o escrevera muito tempo antes, depois de consultar um botânico. Delboeuf já nem se lembrava de que sua irmã presenteara aquele álbum ao amigo. Única variante: "muraria" por "muralis".

Casos semelhantes são bastante freqüentes. Isto nos prova, evidentemente, que se guardam no nosso psiquismo antigas lembranças que o consciente já esquecera completamente. Surge, pois, a pergunta: até que ponto chega a memória do inconsciente? As respostas as daremos por partes.

ËPOCA INFANTIL - Um primeiro passo importante é, sem dúvida, constatar que o nosso inconsciente lembra coisas que conhecemos quando ainda não tínhamos uso da razão. Este fato tem-se comprovado inúmeras vezes.

O Dr. Maury, por exemplo, uma noite sonhou que era menino e que vivia num povoado de Trilport. Lá imaginou ver um homem fardado que dizia chamar-se ... "fulano". Maury gostava de analisar seus sonhos. Embora não tivesse a menor idéia daquele homem nem daquele povoado, onde pensava não ter vivido nunca, havia no sonho uma vaga sensação de "já visto". ("Déjà vu", em francês, foi adotado em Parapsicologia como nome técnico deste freqüentíssimo fenômeno). Passado algum tempo encontrou-se com a antiga ama seca. A aia disse-lhe que sendo ele muito criança foram à mencionada localidade, onde o pai devia construir uma ponte, e que havia lá um policial com o mesmo nome que lembrara no sonho.

Foi essa uma impressão de "déjà vu" que, contra toda verossimilhança, se confirmou. Mais ainda, tem-se comprovado também que a lembrança pode-se referir inclusive àquelas sensações que se tiveram quando criança de colo!

Rignano, p. ex., cita no seu "ensayo de síntesis científica" o seguinte caso: Um jovem, ao chegar a um lugar "onde nunca estivera", conhecia tudo perfeitamente. Impressionado, pesquisou, descobrindo que quando criança de poucos meses fora levado para aquele lugar pela ama.

O inconsciente arquivara todos os detalhes. Agora, em presença do lugar, a lembrança brotou.

Uma família estava confusa pelo acontecido com uma das filhas. Procuraram-me até um tanto angustiados, e para livra-las da angústia é que decidi fazer umas averiguações.
 
Trata-se de uma jovem de 16 anos. Um dia fora a um grupo escolar e percebera que "já o conhecia", apesar de nunca ter estado nele! As professoras do centro, impressionadas pelo fato, fizeram naquele mesmo momento algumas experiências e, com efeito, a jovem descrevia as salas antes de abrirem-se as portas. Só uma falha: disse que uma sala era o gabinete da diretora e, na realidade, o aposento era de uso da encarregada da limpeza. Os familiares da jovem estavam angustiados, porque alguns espíritas tinham-lhes dito que isso era prova evidente (!) de que a menina tinha estado naquele colégio numa reencarnação (?!) anterior, doutrina que eles, como católicos, não podiam admitir.

As averiguações que realizei comprovaram, em primeiro lugar, que só durante o primeiro ano de funcionamento do grupo escolar aquele quarto que a jovem designava como gabinete da diretora o fora de fato. Atualmente nenhuma das professoras do colégio sabia disto, pois todas eram mais recentes na casa. E foi precisamente naquele ano da inauguração que uma tia da jovem esteve visitando o grupo levando-a no colo, então uma criancinha de um ano de idade.

Têm-se feito algumas experiências de ler para um menino, às vezes mesmo de poucos dias, um longo parágrafo de um livro, e passados vários anos, fazer-lhe repetir, em hipnose, o mesmo parágrafo que só uma vez ouviu, e que nem mesmo era capaz de entender. O inconsciente, até de criancinha, é um ótimo "gravador".

LEMBRA-SE ATÉ DO "NÀO-PERCEBIDO" - É um passo a mais para compreendermos até onde chega a memória do inconsciente.

Muitos são os aspectos e casos que se poderiam analisar sobre a lembrança do "não-percebido". Com efeito, como vimos, o inconsciente lembra-se do que só ouviu em tenra idade. É um tipo de "não percebido", já que as criancinhas "não prestam atenção". São freqüentes os casos de lembrar-se do que se ouviu completamente distraído; eis outro tipo do que chamamos "não-percebido". Podemos lembrar-nos até daquilo que jamais poderia perceber o consciente, lembrança de sensações hiperestésicas e certamente inconscientes como veremos neste e no próximo artigo.

Agora queremos frisar outro aspecto do "não-percebido"; possivelmente não existe algum estado de tal "desmemorização" que possa inclusive atingir o inconsciente. O exemplo típico é dado por Charcot numa das suas famosíssimas aulas na Salpêtrière:
Uma doente, depois de violenta crise provocada por uma emoção, esquece tudo, desde um mês antes da crise (amnésia retrógrada), e depois não pode fixar nada nem guardar nenhuma lembrança (amnésia atual).

Charcot, o célebre investigador do hipnotismo em doentes, analisa assim o caso em aula:
"Na realidade, os fatos que ela esquece tão rapidamente no estado de vigília, e que não pode fazer aparecer no seu consciente estavam verdadeiramente registrados (pelo inconsciente). A prova é que, espontaneamente, ela conseguiu lembrá-los de noite, no sonho. Mandamos que fosse observada por dois vizinhos de cama e comprovamos assim que ela freqüentemente sonha alto e que nos seus sonhos faz, às vezes, alusão aos acontecimentos... que é incapaz de fazer reviver no estado de vigília".

"Mas a prova de que o inconsciente se lembra de tudo está, especialmente, no fato seguinte: esta mulher que conseguimos hipnotizar, encontra durante a hipnose, todos os fatos sucedidos até o presente momento, e todas as lembranças revivem associadas, sistematizadas, de modo que formam uma trama contínua e como que um segundo eu, que contrasta estranhamente como o eu oficial do qual todos conheceis a amnésia profunda".

APRENDIZADO IMEDIATO DE COISAS COMPLEXAS - Entre os casos espontâneos é clássico o referido por Michée e citado por muitos autores: Um jovem açougueiro, num acesso de mania, recitava páginas inteiras da "Fedra" de Racine. Curado da sua mania, por mais esforços que fizesse, não conseguia recordar-se de um verso sequer. Declarou ter ouvido uma só vez a leitura dessa tragédia, quando pequeno.

Poucas coisas são tão complexas quanto as línguas. O próximo artigo leva como subtítulo. "O inconsciente, a melhor escola de línguas". É por isso que não nos deteremos agora no tema da complexidade dos dados que pode arquivar o inconsciente.

EXTENSÃO QUALITATIVA - Mede-se a memória não só pelo tempo durante o qual retém os dados aprendidos (extensão temporal, de que logo falaremos), nem tão pouco só pela quantidade de dados que é capaz de armazenar (extensão quantitativa ou complexidade, à qual acabamos de aludir); mede-se também pela minuciosidade dos detalhes que chega a conservar. Isto vem a ser a extensão qualitativa.

Em matéria de detalhes, isto é, no aspecto qualitativo, o inconsciente chega a limites insuspeitos.

Desde Bottley, são relativamente freqüentes na hipnose experiências como a seguinte:
"Coloca-se sob os olhos do sonâmbulo (hipnose profunda) uma série de folhas de papel superpostas e ordena-se-lhe que escreva (psicografia) à medida que se vai ditando. Após ter escrito algumas linhas sobre a primeira folha, esta é retirada subitamente, e ele prossegue escrevendo a Segunda folha. Opera-se da mesma forma com a terceira, depois com a quarta folha, etc., ficando escritas sobre cada uma delas apenas algumas linhas. Finalmente, ordenando-lhe que releia em voz alta tudo o que escreveu e que coloque a pontuação nos lugares necessários, ele pode executar tudo isto com extraordinária exatidão, não omitindo nenhuma palavra e fazendo as correções nos exatos devidos lugares das folhas retiradas". Sobre a folha em branco!

O fenômeno pode ser reproduzido aproveitando-se outros estados de inconsciência, diferentes da hipnose, como, p. ex. o sonambulismo espontâneo, durante o sono natural.

O Arcebispo de Bordeaux, colaborador no artigo "Sonambulisme" da "Encyclopedie Française", refere o seguinte caso:
Um jovem sacerdote, durante o sono levantava-se sonâmbulo para escrever sermões e compor música. O Arcebispo acompanhou o sonâmbulo várias noites seguidas. Com precisão matemática, o jovem, de olhos fechados, apanhava todo o material necessário. Quando compunha música, traçava primeiro as pautas com uma régua. As notas e o texto eram perfeitos, e, se havia erros, ao "reler", corrigia-os nos lugares correspondentes. Os sermões, lia-os em voz alta do começo ao fim com os olhos fechados! Corrigia as passagens de que não gostava. O Arcebispo, suspeitando que o sonâmbulo talvez enxergasse através das pálpebras fechadas, interpôs obstáculos, como folhas de papelão diante do sonâmbulo, quando este "lia". O padre continuava lendo calmamente, imperturbável. Outras vezes o Arcebispo substituía as folhas escritas por outras folhas de igual formato, peso, etc., e o padre "lia" sobre as folhas em branco o que estava traçado nas outras. Também corrigia nas páginas em branco os erros ou frases menos felizes, sobre os lugares exatos correspondentes aos das outras folhas.

Como se vê por estas manifestações, a minuciosidade da memória do inconsciente é assombrosa.

O TEMPO NA MEMÓRIA INCONSCIENTE - Eis outro fator de grande importância. Três aspectos que na realidade se interpenetram podem ser aqui considerados:

1) ATÉ QUE IDADE ANTERIOR PODEM RETROCEDER NOSSAS LEMBRANÇAS? - Já apontamos alguns casos de memória de fatos acontecidos antes do uso da razão e inclusive na primeira infância. Tais casos são relativamente freqüentes.

Mais ainda: um tipo de experiência é apresentado sob o aspecto e denominação de "regressão" na idade. O hipnotizado é levado pela força da sugestão a anos passados, reproduzindo então critérios, gestos, linguagem, ocupações ou jogos próprios da idade sugerida.

PARTE 2