HISTÓRIA E CULTURA

O Segredo das Sete Irmãs, a Vergonhosa História do Petróleo - Parte 1

petro topo1Tempestades e Fortunas do deserto - Iraque, Irã e Kuwait. EStou no rastro do cartel das sete irmãs. A investigação me leva a Kirkyk, norte do Iraque. Está 50 graus na sombra. Existem incontáveis pontos de controle e inspeções. A guerra deixou a sua marca. No coração do Oriente Médio esta o Iraque, o último campo de batalha  na grande guerra do petróleo.  O meu velho taxi americano é confortável, mas "bebe" muito.  Procuramos os revendedores locais de gasolina. Num Iraque rico em petróleo, não é facil encher o depósito. A quem se deve isso? Motorista Ali: "Os amerianos vieram para o Iraque por ganância.  Trouxeram-nos insegurança. Quando estão na rua, é melhor ficarmos atrás deles. São mais um fardo que uma mais-valia. Porque Deus os trouxe para cá?

Arruinaram o Iraque. São a fonte de nossos problemas. Somos uma terra e um povo de petróleo, mas temos falta de petróleo. Deus desejouisto e só Deus sabe porquê." Com múltiplos ataeues e raptos, a insegurança reina entre as torres e os poços. O meu motorista Ali chama à estrada para Kirkuk: "estrada para o inferno". Já fora descoberto petróleo no Oriente Médio, mas nunca em tais quantidades. Em 1927 jorrou do solo em Kirkuk. A violência da descarga provocou cinco mortos. O petróleo do Iraque ja começava a espalhar a sua ira.

No ancestral local de Baba Gurgur, respeitosamente conhecido como Pai do Fogo, viajantes e adoradores locais param para rezar ou admirar o fogo eterno que brilha entra as rochas. Mas a verdadeir história, a história secreta do petróleo, começa em outro lado: na Escócia, no coração das Highlands. No dia 28 de agosto de 1928, no castelo de Achnacarry. Três homens tem um encontro.

petrol4 Napoleão do petroleo

 

Um holandês, um americano e um inglês. O holandês é Henry Deterding, um homem implacável e determinado com a alcunha de "Napoleão do Petróleo". Tendo explorado uma descoberta em Sumatra. Uniu forças com um rico dono de navio e vendedor de conchas pintadas. Os dois homens fundaram a Royal Dutch Shell.

petrol Walter C Teagle

 

O americano é Walter C. Teagle. Ele representa a Standard Oil Company fundada por John D. Rockfeller aos 31 anos de idade. A futura Exxon. Poços, transporte, refinaria e distribuição, é tudo controlado pela Standard: uma besta onipotente de muitas cabeças. Em 1911, foi ordenado a Rockefeller que desmantelasse o seu monopólio e formasse 34 empresas separadas. Mas todas ficaram sob o controle do primeiro bilionário do século.

petrol John Cadman

 

O inglês é Sir John Cadman, diretor da Anglo Persina Oil Company que em breve se tornaria BP. Por iniciativa do brilhante e jovem primeiro Lorde do Almirantado Winston Churchill o governo britânico adquiriu parte da BP e a marinha trocou o carvão pelo petróleo. A primeira guerra mundial validaria essa decisão. Com navios, aviões e tanques sedentos de combustível, o petróleo tornou-se o sangue de cada batalha. A nova indústria automotiva desenvolvia-se rapidamente e o Ford T vendia-se aos milhões. O mundo estava sedento de petróleo e as empresas travavam uma impiedosa disputa.

Mas a concorrência estava tornando o mercado instável. Era hora de chegar a um acordo. Os seus nomes são Royal Dutch Shell, Standard Oil e Anglo Persian Oil Company. Atualmente Shell, Exxon e BP. As maiores empresas petrolíferas do mundo. De volta ao castelo, os donos do comércio de petróleo ja estão sentados e a sua reunião secreta pode começar. Henry Deterding declara: "É hora de explorar, fraternalmente e pelo máximo lucro os recursos petrolíferos do mundo."

Zonas de produção, custo de transporte, preços de venda. Tudo tem de ser acordado e partilhado. Nas primeiras horas, é alcançado um acordo. E selado um pacto secreto, mas sem assinaturas. O grande cartel do petróleo ja pode preparar-se para dominar o mundo.

Eric Laurent, jornalista internacional: "1928 é, efetivamente, a altura em que as grandes empresas petrolíferas decidem com os acordos feitos em Achnacarry ou melhor, um acordo e não vários, partilhar o mundo - petróleo, preços e zonas de produção - formando o que será tido como um cartel. O interessante é que se parte do princípio óbvio de que os paises consumidores são mantidos no escuro. Tal como os governos desses paises e, de igual forma, os paises produtores. Isso significa que tudo é feito no maior segredo e amoralidade. Teríamos de esperar, não só até ao final da guerra, mas até ao inicio da década de 1950, para que os pormenores desse acordo começassem a ser revelados."

Michael Economides, editor "The Energy Tribune": " As Sete Irmãs, sete empresas, dominavam a indústria do petróleo, numa altura em que a indústri ao petróleo não significava apenas progresso e poder econômico, mas significava também projeção do imperialismo americano e europeu sobre o resto do mundo. Era um intrumento de projeção de poder americano e europeu, ou ocidental, digamos assim, no Terceiro Mundo."


petrol sete irmas

 

Na manhã do dia 29 de agosto de 1928, a ordem mundial mudou. Outras empresas unir-se-iam à conspiração dos bilionários. A história chamar-lhes-á Sete Irmãs: Exxon, Shell, BP, Mobil, Texaco, Gulf e Chevron.

petrol Calouste

 

Tehran, irã. A história das Sete Irmãs leva-me a Teerã, com suas mesquitas, os seus véus e a austera vigilância dos imãs. No início do século XX, as empresas petrolíferas lutaram aqui para controlar os vastos recursos petrolíferos da Pérsia. No fim da primeira guerra mundial e através dos acordos Sykes-Picot - então tratado de São Remo - França e Grã-Bretanha repartiram o Oriente Médio. As empresas petrolíferas americanas ficaram enfurecidas. O que poderia ser feito? A solução veio de um armênio: Calouste Guibenkian. O maior corretor de petróleo de todos os tempos.

Gulbenkian traçou uma linha vermelha a volta dos perímetros de futuras zonas de extração de petróleo, proibindo concorrÊncia e exigindo ajuda mútua dentro da área da linha vermelha. Formou-se a Iraq Petroleum Company. BP, Shell, Exxon e a francesa SFP, a futura Totale, detinham partes iguais. As sete irmãs controlavam as reservas de petróleo conhecidas do Oriente Médio. Por esse golpe de gênio, Gulbenkian reclamou 5% de todos os contratos.

Pierre Terzian, diretor da Revista Petrostragégie: "Os contratos de concessão eram textos curtos de 15 ou 20 páginas, através dos quais os Estados cediam quase todo o seu território. Podemos imaginar o estado de ignorância em que estavam para fazerem tal coisa. Essas pessoas compraram paises inteiros - ou os recursos do país, pelo menos - com documentos que mal tinha 15 ou 20 páginas."

Para os britânicos a refinaria de Abadan, no Irã, era a joia da coroa. A maior refinaria do mundo. Os iraquianos nunca obtiveram acesso a contabilidade da empresa. Os direitos pagos ao Estado Iraquiano eram insignificantes, mas suficientes para satisfazerem o monarca regente MOhammed Reza Shah Pahalavi e comprar o seu silêncio. A Anglo-Persian era um Estado dentro de um estado. Onde a lei e o estilo de vida eram consumadamente britânicos. As Sete irmãs mandavam no Oriente Médio e no seu pertróleo. Petróleo que tinha de fluir sem falha para a Europa e os Estados Unidos.

Michael Klare, professor e Escritor: "Entregar o petróleo aos público é um requisito crucial de qualquer pessoa que queira manter-se no poder. E tempos de perceber a importância do petróleo para a vida americana para percebermos o porque de os políticos verem o seu trabalho, em grande parte, se estiverem na política externa, como obtenção de fornecimentos adequados de petróleo para satisfazer as necessidades americanas.Isso explica porque é que o presidente Roosevelt, nos seus últimos meses em que estava em sofrimento, sentiu a necessidade de se reunir com o rei da Arábia Saudita Abdelaziz Ibn Saud."

petrol reunião roosevelt

 

A procura de petróleo não parava da aumentar. De volta da ConferÊncia de Yalta, no dia 14 de fevereiro de 1945, o presidente Roosevelt ancorou o seu navio, o USS Quincy, perto do Canal de Suez. Ele reuniu-se com o rei da Arábia Abdelaziz Ibn Saud. Nada seria assinado. Mas eles reafirmaram um acordo feito em 1936, que abria as portas do reino da Arábia, às empresas petrolíferas americanas. Em troca do petróleo, o rei exigiu proteção para o seu país. E ouro...muito ouro !

petrol john philby

 

O destino do reino foi traçado por um aventureiro inglês: Harry St John Philby, um espião, explorador e escritor, a quem fora confiada, junto com um tal coronel Lawrence, a organização da revolta árabe. Tendo se convertido ao Islã, Philby uniu-se a Ibn Saud contra o seu próprio país e participou na craição do reino da Arábia. Em 1936 e a seu conselho, Ibn Saud vendeu aos americanos os direitos petrolíferos do reino. Foi fundada a Aramco, um consórcio composto por Exxon, Chevron, Mobil e Texaco.

Cheikh Zaki Yamasi, ex ministro, petróloe Sautida 1962-1986: "Todas essas empresas, como a Aramco antigamente, eram um estado dentro do estado. A Arábia Saudita não podia ter uma lei para controlar a Aramco. A Aramco tem o poder para produzir o petróleo, exportar o petróleo ao preço que eles decidirem. O único poder que a Arábia Saudita tem é estender as mãos para receber o dinheiro que lhes dão. Era essa a relação que existia."

A produção de petróleo da Arábia começou em 1946, pouco depois da reunião entre Roosevelt e Ibn Saud. Vinte mil americanos foram colocados em Dhahran, no leste da Arábia. Na teoria os homnes do petróleo eram apenas convidados do rei, pois ninguém podia comprar as terras santas do profeta. Mas, na verdade, a Aramco controlava o rei, o seu maior aliado. A única obrigação das empresas americanas era cobrir de ouro o rei e os seus 3000 príncipes. Os recursos petrolíferos do deserto revelaram ser fabulosos; o maior "baú do tesouro" de todos os tempos. Os Estados Unidos e a Arábia Saudita estavam casados, para o bem e para o mal. Petróleo e dólares. Apesar da crise que se seguiu, não houve divórcio.

petrol investigação

 

Washington DC, USA - Dado o rastro da minha investigação, o hino nacional não se destina a mim. Foi em aqui em Washington, em 1952, que o cartel das Sete irmãs foi intimado para enfrentar o Supremo Tribunal pela primeira vez. A comissão de comércio federal estava investigando as suas práticas comerciais e acordos ilícitos. O presidente Harry Truman recebeu um memorando confidencial de Edgar Hoover, o diretor do FBI. Mas a investigação foi bloqueada. O julgamento nunca ocorreria. O que era bom para as Sete Irmãs era bom para os Estados Unidos.

Em Teerã, visito o bazar, o coração da capital iraquiana. Foi aqui em 1951, que começou a primeira revolta contra a British Petroleum. Os comerciantes, a classe média, os comunistas do partido Tudeh e o líderes religiosos xiitas invadiram as ruas. As suas ações froram espoletadas pela recusa da BP em melhorar salários. Os trabalhadores iniciaram uma greve que paralisou Abadan, o enorme terminal petrolífero.

Michael Klare, professor e Escritor: "Aquilo era uma fonte de riqueza absolutamente crucial, para o que restava do Império Britânico, após a Segunda Guerra mundial. E era também um símbolo da superioridade anglo-saxônica branca. E as histórias da altura deixam muito claro que os britânicos viam os iraquianos como cidadãos de terceira categoria: como se fossem negros."

petrol mohammed Mossadegh

 

Deu-se uma revolta. Um deputado nacionalista Dr Mohammed Mossadegh, era o líder do movimento. No parlamento era conhecido como Mossadegh os Saltaneh: "um homem de comprovada honestidade". O seu programa era simples: nacionalizar o petróleo.

Fariborz Rais Dana, historiador: "O Dr Mossadegh foi acusado de radicalismo. O que não era verdade, claro. Mas ele identificara a questão essencial: recuperar o petróleo, a fonte da riqueza do páis que fora confiscada."

Pressionado pelo parlamento, Shah nomeou Mossadegh como primeiro-ministro. No dia seguinte, 1 de maio de 1951, ele conduziu a votação para a nacionalização do petróleo do irã. O exército ocupou os campos petrolíferos, mas os iraquianos não tinham habilitações para manter a produção. Três mil técnicos britânicos e suas famílias abandoraram o país e a marinha britânica bloqueou os portos.

Pierre Terzian, diretor da Revista Petrostragégie: "Houve um extraordinário pandemonio, por todo o mundo. E os países ocidentais declararam uma interdição ao petróleo iraniano. Quem comprasse seria levado ao tribunal. Ou seja, o Irã jã não podia vender o seu petróleo a ninguém. E os petroleiros que saissem de portos eram apreendidos."

petrol Kermit Roosevelt

 

O Irã e o Dr Mossadegh tinham de ser castigados. O primeiro ministro britânico Winston Churchill pediu ajuda aos americanos. A CIA entrou em ação. Foram distribuidos incontáveis dólares, para subornar deputados e altos oficiais do Exército. A operação de golpe de estado recebeu o nome código AJAX. Foi coordenada por Kermit Roosevelt, sobrinho do presidente e agente da CIA. Houve um golpe militar. Generais democratas, comunistas e nacionalistas foram fuzilados. O Dr Mossadegh foi mandado para o exílio, e o Irã ficou submerso em medo e as empresas petrolíferas recuperaram o seu antigo poder.

Cinco mil opositores do golpe foram fuzilados. Mossadegh foi preso e condenado a morte; uma sentença posteriormente reduzida para o exílio. No dia 24 de agosto de 1953, o monarca REza Shah regressou triunfalmente. Tendo organizado o golpe de estado, os americanos reclamavam agora a sua recompensa. A BP tinha de abrir caminho às empresas americanas. Agora estabelecidos no Irã e na Arábia Saudita, os EUA controlavam dois dos maiores produtores de ouro negro do planeta.

Era prática comum. O fato da CIA americana interfir no Irã para estabelecer no seu círculo empresas petrolíferas estrangeiras não era invulgar, na altura. E as empresas petrolíferas americanas são tão poderosas em alguns países que podem facilmente escolher entre eleger ou derrubar um governo. O Excepcional é, em primeiro lugar, que um homem se tenha oposto - Mossadegh, no caso - e que isso tenha resultado em fracasso. Isso teve um forte efeito durante vários anos. Durante vários anos, ningém se atreveu a fazer nada.

PARTE 2