HISTÓRIA E CULTURA

O Papiro Erótico de Turim

papir2Por Caroline Carmini - Se você pensa que só de pirâmides, múmias e faraós foi feita a história do Egito, engana-se. Criativos e liberais, os egípcios experimentaram e documentaram suas atividades sexuais, que não estavam ligadas somente a reprodução. Sexo, erotismo e pornografia transbordavam as paredes e a sociedade egípcia. Os séculos que nos separam não nos diferenciam de nossos antepassados egípcios e depois de tanto tempo um objetivo permanece: a busca pelo prazer. Sempre que pensamos em Egito antigo, a imagem das pirâmides, múmias e deuses com cabeças de animais invade nossas mentes. Mas, como nós, os egípcios tinham um ...

gosto especial pelo sexo. As imagens e os objetos produzidos por eles demonstram os seus modos de vida e como algumas coisas permanecem as mesmas, mesmo após séculos. E foi somente no final do século XX que a sexualidade egípcia foi retirada do limbo onde estava devido a um puritanismo de arqueólogos cristão e muçulmanos que dominavam as escavações do país.

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Detalhe do Papiro de Turim: esta parte humorística, não-erótica, mostra animais a desempenhar atividades de pessoas.

Sexo antes do casamento, relações extraconjugais, uma terceira pessoa na relação sexual e atos que remeteriam a ações sadomasoquistas eram tão comuns no Egito faraônico quanto na contemporaneidade. No século XIX, perto da região do Vale dos Reis foi encontrado numa ânfora um dos mais antigos documentos com conteúdo erótico da humanidade, o Papiro de Turim, que hoje se encontra preservado no Museu Egípcio de Turim na Itália. O Papiro de 3000 anos possui imagens explicitas até mesmo para nosso tempo. Durante anos, esteve escondido em uma biblioteca com acesso restrito apenas com agendamento e para homens. E só foi publicado em 1973.

nfelizmente, o Papiro não se encontra em perfeitas condições, possuindo diversas falhas. Somente no ano de 1980 o estudioso alemão J. Oslin apresentou ao mundo a versão completa do Papiro de Turim. O motivo pelo qual foi criado ainda não foi adivinhado, mas as imagens presentes no documento são reveladoras.

As imagens no papiro trazem funcionários da corte egípcia e altos sacerdotes e mulheres que podem ser interpretadas como prostitutas. Os pênis presentes no Papiro possuem sempre um tamanho desproporcional, frisando a ideia do poder do pênis no mundo egípcio. Cada indivíduo da cena traz um pequeno diálogo de teor erótico, como: "Venha e faça-me amor por trás!".

O papiro soma-se a uma longa produção erótica do antigo Egito, que inclui desenhos e esculturas de membros sexuais femininos e masculinos e representações do próprio ato. A variedade de imagens nos traz um Egito que estava muito aberto para o sexo. No entanto, a sexualidade egípcia não era exposta em todos os lugares. Apesar de bem resolvidos quanto as suas práticas, os egípcios destinavam as imagens eróticas ao espaço privado.

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Detalhe do Papiro de Turim. Figura em pedra com falo desproporcional (imagem da esquerda). Figura unida a um penis de pedra (imagem da diireita)

Em diversas tumbas é possível encontrar grafites primitivos trazendo cenas de sexo, muitas vezes em tom de crítica à realeza egípcia. Os templos também possuíam estátuas de deuses com ereção. O falo que estava presente em diversas imagens representava fertilidade e agressão, mas também indicava o poder sexual dos deuses. E em alguns papiros estava presente a ideia de que os egípcios acreditavam que seus deuses criaram o mundo através do sexo.

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Imagens do coito vaginal são comuns e se dividem em quatro posições básicas: o homem deitado em cima da mulher; o homem ajoelhado e a mulher de barriga para cima; o homem ajoelhado e a mulher apoiada em suas extremidades; e a posição lateral, com a mulher dando as costas a seu companheiro. Embora a presença não seja frequente, o coito anal estava longe de ser um tabu e está presente no repertório sexual egípcio. O Papiro de Turim é o documento com imagens mais representativas dessa prática sexual, e nele podemos perceber um homem ajoelhado e a mulher apoiada em suas extremidades e na lateral, um casal reclinado sobre um flanco.

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O sexo oral não possuía tanto espaço, mas ainda assim encontramos homens com falos desproporcionais com uma figura feminina segurando o membro e aproximando-se com a boca. Pode ser considerada um dos raros exemplares de representação do sexo oral no mundo antigo. Figuras femininas cheias de erotismo segurando os membros eretos de seus parceiros também fazem parte das imagens de diversas paredes de construções egípcias. Exemplos de mulheres se masturbando, muitas vezes com auxílio de consolos, eram bem comuns.

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Objetos de barro e pedra com formato de falo foram encontrados em diversas escavações. Seu uso tanto poderia ser para adoração quanto para o prazer da mulher e, posteriormente, o objeto era oferecido aos deuses, como maneira de ter fertilidade ou recuperar/melhorar a potência sexual. As possibilidades no mundo egípcio antigo estavam abertas para todos e hoje é possível ter contato com as práticas desse povo. A sexualidade egípcia traz à tona uma faceta que muitos tentaram esconder e nós ansiamos desvendar.

Fonte: http://obviousmag.org