HISTÓRIA E CULTURA

O reino esquecido do Grande Zimbabwe

ruiafri topo2016, por Rui Pinto - As ruínas do Grande Zimbabwe são um local de um valor histórico, cultural e arqueológico difícil de sobrestimar. O simples facto de que o próprio nome do país onde se encontram deriva da denominação local das grandes construções de pedra, dzimbabwe, é testemunho da sua importância na psique de um povo e na cultura de uma nação que dá ainda os primeiros passos após a sua independência e luta ainda hoje por um sistema mais justo e democrático. Em nenhum lugar da África subsariana se podem admirar edificações com a mesma magnitude, exibindo uma qualidade de construção ...

e uma diversidade de estruturas que constituem, até para o olhar de não-especialistas, sinais óbvios de uma sociedade rica e complexa. Explorando o sítio quase só por nós, acompanhados do nosso guia local, ficámos maravilhados pela grandeza, beleza e complexidade das construções. Dividido em três complexos, o mais antigo e provavelmente o mais simbólico é o complexo da colina (Hill Complex), onde os construtores conseguiram uma simbiose dos milhares de blocos de pedra, empilhados sem qualquer tipo de argamassa, com os blocos graníticos que ali afloraram.

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Aqui foram encontrados peças esculpidas, representando aves com traços antropomórficos, que se pensa terem sido símbolos do poder real e sua ligação ao poder espiritual, e que pudemos admirar no pequeno museu situado no vale, e que figuram hoje na bandeira nacional. Túneis labirínticos, entradas estreitas e uma qualidade de construção notável fazem-nos lembrar Machu Pichu e sentimos que estamos a visitar um lugar único e digno de figurar nos sítios arqueológicos mais importantes e impressionantes do mundo.

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Mais abaixo, no complexo do vale, podem admirar-se mais muros e plataformas redondas de casas, numa área que poderá ter sido residencial, mas é a Grande Muralha (Great Enclosure) que atrai todas as atenções: 255 m de perímetro, quase 100 m de diâmetro, paredes com mais de 10 m de altura e atingindo 5 m de espessura em algumas secções, são números que dão uma ideia da magnitude desta estrutura, da qual, à semelhança do resto do complexo, pouco se sabe acerca da sua função. No seu interior, sobressai uma torre cónica com 10m de altura, que se pensa ter tido uma simbologia fálica, pois não parece ter tido uma função concreta. Tal como nos túmulos de Naqsh-e Rostam, no Irão, acabámos a nossa visita completamente surpreendidos e maravilhados por um local que é uma pérola por descobrir.

Hoje sabe-se que o Grande Zimbabwe era a capital de um vasto império (séculos XII a XVII) que se estendia por uma área que hoje é repartida pelo Zimbabwe, Moçambique e Botswana, e cujos habitantes exploravam as riquezas da sua terra, principalmente o ouro e marfim, e estabeleciam rotas comerciais com a costa e os homens de terras longínquas que aí atracavam, vindos principalmente da Península Arábica, mas também de mais longe. Usavam os rios como fonte de riqueza, mas também como vias de comunicação entre o interior quase impenetrável e a costa que dava acesso ao imenso Oceano Índico. Construíram cidades com populações comparáveis às das maiores cidades europeias medievais, com uma estrutura social estratificada, baseada no poder da realeza e da religião. Objectos longínquos podiam ser encontrados ali: vidro da Síria, cerâmica da China, faiança da Pérsia.

Mas a história da afirmação da cultura africana perante o resto do mundo não tem sido fácil, e quando os primeiros portugueses atracaram na costa africana oriental, e ouviram falar de cidades muralhadas, com milhares de habitantes, florescendo com a exploração do ouro e estabelecendo rotas comerciais com os árabes, a ideia que os povos indígenas fossem capazes de tal nível de civilização era simplesmente impensável e inaceitável. Rapidamente as lendas do Rei Salomão e da mítica cidade de Ofir ganhavam forma e substância nesse misterioso interior africano e seus impérios esquecidos.

E quando, 200 anos mais tarde, as ruínas dessa grande cidade foram redescobertas novamente por ocidentais, desta vez alemães, novamente a douta opinião era de que nenhum africano teria sido capaz de erguer tais estruturas. A ignorância desses primeiros exploradores levou-os também à destruição de vestígios importantes e ao roubo de outros, mandados para a Europa, erros e crimes que ainda hoje têm o seu papel na dificuldade em reconstruir o legado cultural que chegou até nós. Já no século XX, alguns arqueólogos começaram a pôr a hipótese de nativos africanos terem construído o Grande Zimbabwe, mas foi a luta pela independência, física e cultural, das nações africanas perante os seus colonizadores, que possibilitou a exploração e o estudo mais aprofundado de variados sítios arqueológicos, confirmando a riqueza e diversidade do passado africano indígena.

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As ruínas do Grande Zimbabwe são hoje património da UNESCO, mas continuam a ser quase completamente desconhecidas pelo resto do mundo. E sabe-se que o investimento na arqueologia, nesta zona do mundo, não é uma prioridade, por isso não é fácil juntar esforços para estudar melhor o passado destas ruínas. Mas também aqui o turismo pode ter um papel a desempenhar pois trata-se de um local com um potencial enorme e que merece ser visitado e conhecido. Esperemos que visitantes e visitados saibam colaborar e trabalhar para que este passado não seja mais apagado da nossa memória e que os nossos descendentes possam admirar aquilo que os seus antepassados foram capazes de construir, e se sintam inspirados para construir um futuro melhor para todos.

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Comumente, quando estudamos História da África, ficamos "mal acostumados" em achar que grandes cidades e grandes impérios africanos formavam-se exclusivamente na África Saariana (O Norte da África), e as vezes relegamos para status de "cultura tribal" todos os outros povos africanos da África Subsaariana (A África abaixo do Saara). As ruínas da Civilização do Grande Zimbábue, datadas dos séculos XI e XII E.C. (Era Comum) nos mostram o quanto estávamos errados com essa visão. Construída por volta do século XI, esta vila murada com paredes de pedra, chamada de "As Ruínas do Grande Zimbábue", localiza-se próxima ao lago Mutirikwe, na atual nação do Zimbábue. Espalhando-se por mais de 1,780 acres, o Grande Zimbábue foi, talvez, a maior cidade subsaariana africana de que se tem notícias. Depois de estudos minuciosos no terreno dentro e entorno dos muros, estudiosos estimam que o Grande Zimbábue era a casa de 10.000 a 20.000 pessoas.

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Essa cidade leva o nome de "Grande" Zimbábue porque é a maior de 200 outras comunidades (ou "zimbabwes" na liguagem Shona, uma das principais línguas faladas no Zimbábue até hoje) já encontradas e que formavam o Reino do Zimbábue. que tem as mesmas origens de outros povos do sul da África, como os Zulus. Ambos derivam da cultura Banta.

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Talvez por ser a maior cidade dentro desse grupo de 200 outras, pode-se supor que o "Grande Zimbábue" foi a capital do reino do Zimbábue durante os Séculos Xi e XII, onde os monarcas desse povo moraram. Hoje o que restou da cidade foi apenas uma grande muralha branca, feita de tijolos e pedras, chamada de "O Grande Cercado", o que servia como palácio real, complexo de templos, e centro da cidade.

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A estrutura da cidade contada com 2 linhas de muralhas, Uma muralha interna e outra externa, esta última com posto de vigia e balcões onde soldados vigiavam quase 360 graus em torno da cidade. entre essas 2 muralhas ficava uma grande torre de vigia, de quase 10 metros de altura. Dentro da cidade murada existiam muitas estrutura e casas, e os arqueólogos acreditam que essas estruturas faziam parte tanto do complexo de templos quanto do palácio do monarca do Zimbábue.

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Foram encontrados, também, uma imensa quantidade de artefatos arqueológicos dentro e fora das muralhas. Esses artefatos ajudaram os estudiosos a montar teorias de como eram e como viviam as pessoas do "Grande Zimbábue". Era uma sociedade muito complexa, com artesanato muito bem desenvolvido (artesãos fabricavam várias coisas usando lã, pedra-sabão, madeira, marfim, couro e argila) e um comércio vívido entre as outras comunidades e até outros povos da região. Outra coisa que espantou os cientistas foi o imenso conhecimento de Metalurgia que esse povo tinha. Além de fazer trabalhos muito elaborados em ouro e cobre, foram encontrados utensílios e armas de bronze e até mesmo em ferro, o que era raro para muitas tribos subsaarianas.

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Por volta do século XV, a cidade foi abandonada devido à escassez de alimento nas redondezas, que já não conseguia mais manter a população. Há evidências de que a região estava sofrendo de um desflorestamento agudo, o que auxiliou no colapso alimentício e comercial. Hoje em dia a cidade do "Grande Zimbábue" é um monumento nacional do atual Zimbábue e um Patrimônio da Humanidade declarado pela ONU.

 

Fonte: https://www.viajarentreviagens.pt
           http://www.historiailustrada.com.br
           Museu Metropolitano de Arte, de Nova York:
           http://www.metmuseum.org