O Marketing das Carnes Vermelhas - Parte 1

CARNE VERMELHAPor Richard Jakubaszko - No marketing dos três tipos de carne, ou seja, de aves, suínos e bovinos, existem milhões de interesses cruzados, nem sempre confessáveis, e isso será o foco deste artigo. Como alimentos consagrados, as carnes proporcionam a necessária proteína e, ao mesmo tempo, nos satisfazem nas necessidades de sentir prazer nos alimentos. Assim, o marketing que tem sido praticado com relação às carnes está absolutamente correto, e quase nada há para ser corrigido ou mesmo criticado. Há, entretanto, alguns grandes senões que abordaremos a seguir. Até porque, para agregar valor na área de comercialização de carnes seria necessário um marketing de gigantes e implicaria enormes investimentos em pesquisa, de um lado, e em propaganda, de outro.

Na área das três carnes, existem dezenas de marcas consagradas pelos consumidores, considerando-se o Brasil como grande mercado consumidor. Há produtos diversificados, cortes especiais, forte e competente distribuição, fiscalização sanitária do governo, um padrão classificatório de carcaças em aves e suínos, que ainda faz falta nos bovinos, e constante melhoramento genético.

Na avicultura, há uma concorrência acirrada e competente, tanto para atender ao mercado interno como às exportações. O maior problema do setor está nos custos de produção elevados e na baixa rentabilidade da avicultura de carne ou de ovos. A altíssima produtividade mostra diferenças mínimas entre avicultores, independentemente do tamanho de cada um deles. A lucratividade é conquistada na economia de escala e em se manter rigorosos padrões de controles sanitários para evitar a entrada de doenças que colocariam em xeque não apenas os lucros, mas a própria sobrevivência do aviário.

Trata-se de um mercado maduro e estável, em que apenas grandes pedidos destinados à exportação poderiam fazer oscilar as cotações. Na verdade, mesmo estes pedidos pouco afetam o mercado, porque são feitos com muita antecedência, permitindo que o mercado se ajuste. A carne de frango encontra a cada dia novas formas de chegar ao consumidor, semi preparada, ou mesmo em sofisticados pratos prontos, garantindo, estimulando e fidelizando o mercado de consumo. Não foi à toa que a carne de frango, juntamente com a agricultura, foi uma das âncoras do sucesso do Plano Real.

Devem-se policiar e punir as malandragens de alguns abatedores que adicionam água em excesso ao frango congelado, para conquistar um peso adicional. O consumidor não é bobo e não gosta de se sentir lesado. E lesar o consumidor é a verdadeira ação de anti-marketing, é um autêntico tiro no pé, para não se falar em burrice, dura pouco tempo a enganação.

Na suinocultura brasileira, caminha-se também para a obtenção dos mesmos padrões existentes na avicultura, de competência produtiva e também de distribuição. No caso, trata-se de uma economia de escala menor e o maior problema mercadológico da carne de porco está no seio da medicina, resistente ao seu uso e consumo de forma repetitiva. O médico é o primeiro a proibir o consumo desse tipo de carne ao primeiro sinal de qualquer tipo de distúrbio na saúde dos clientes, principalmente aqueles ligados aos problemas cardiovasculares, e mesmo quando ocorrem os do aparelho digestivo ou as manifestações agudas de alergias. Essa, sem dúvida, é uma questão cultural, pois a milenar medicina chinesa, ao menor sinal de debilitação dos pacientes, preconiza o consumo da carne de porco, enquanto nós brasileiros nos limitamos a consumir a centenária “canja de galinha” das vovós. (O rebanho suíno na China segue a mesma proporção de grandiosidade da população humana, pois supera a casa das 350 milhões de cabeças.)

Em paralelo, acusa-se a carne de porco de ser uma das responsáveis pelos altos índices de colesterol, juntamente com a carne de vaca, como se costuma chamar, ou as carnes vermelhas. Diante dessas acusações, já antigas, jamais percebi qualquer tipo de reação mais concreta dos suinocultores, afora alguns rápidos e leves adjetivos, em conversas pessoais, do tipo “isso é bobagem”. É verdade que se tentou produzir o porco light, mas os médicos retrucaram que os perigos deste seriam iguais aos das carnes vermelhas, e o porco light não decolou. A questão, invocando o apoio dos chineses, é cultural, e nisso o marketing pode ajudar, como veremos adiante neste capítulo. Verificam-se, nos tempos contemporâneos, aumento expressivo de consumidores vegetarianos. Embora já tenha esmorecido um pouco, ainda resistem os adeptos da macrobiótica.

Rejeitam de forma veemente o consumo de qualquer tipo de alimento de origem animal, exceto peixes e crustáceos. Jamais serão consumidores em potencial de carnes, e, na grande maioria dos casos, um vegetariano convicto é radical até o fim de seus dias, não muda sua opinião como consumidor. Já ouvi ainda, centenas de vezes, “graves” acusações de vegetarianos contra as carnes vermelhas, e também as brancas, de que afora o fato de serem as causadoras do alto colesterol, em razão da gordura, as carnes provocariam ainda diversos tipos de câncer, devido aos hormônios que são liberados pelo estresse dos animais na hora do abate. E tudo isso sem considerar que bois na engorda receberiam hormônios, além do fato de os frangos consumirem antibióticos na ração durante toda sua curta vida de engorda. É essa imagem que tem prevalecido. Tudo isso tem um fundo de verdade, que se disfarça como “científica”, e que precisa ser mais bem trabalhado e avaliado. Já existem frigoríficos que evitam o estresse dos animais no abate, e, com isso, eliminam os perigos das toxinas do organismo do boi. Já o uso de hormônios, para incentivo de crescimento e engorda, é proibido no Brasil há algumas décadas.

Verifico, também já há muitos anos, as várias opiniões correntes na medicina, e que são muitas delas provenientes de pesquisas e estudos do Food and Drug Administration (FDA), poderoso e influente órgão do governo federal americano que administra e regula o uso de remédios e alimentos. Devemos saber que uma opinião ou parecer técnico emitido pelo FDA, nos EUA, em geral tem quase o valor de lei federal para todos os americanos, mas repercute e provoca influências em todo o planeta, em especial nos chamados formadores de opinião, médicos, cientistas e jornalistas. Longe de mim desejar ou querer levantar suspeitas sobre os estudos e pareceres técnicos do FDA. Instituições de pesquisa, em paralelo ao FDA, e de forma complementar, exercem essa mística de divulgar pesquisas científicas que têm se mostrado exacerbadamente polêmicas. Assim, analisarei, de forma direta e objetiva, algumas questões nessa área, pois devemos entender o que há por trás desses pareceres. Vemos as poderosíssimas indústrias farmacêuticas, que procedem a um fortíssimo lobby com os chamados órgãos de pesquisa, mesmo os públicos. Para essas empresas só interessa vender a todos nós seus fármacos e poções mágicas como panacéia para a solução de todos os problemas de saúde, e a peso de diamantes, ou ouro, como queiram. Em paralelo, e com propósitos e objetivos próprios, atua a não menos poderosa e também influente indústria alimentícia americana.

Se um doente, carnívoro ou vegetariano, tem deficiências de sais minerais a indústria farmacêutica tem as vitaminas sintéticas de todos os tipos. Se apresentar alto nível de colesterol, ou a pressão sangüínea está elevada, teremos betabloqueadores e diuréticos, mas estes nos fazem eliminar os preciosos sais minerais e nos obrigam a tomar as vitaminas, e assim por diante. Com exceção dos antibióticos e alguns poucos outros fármacos, a grande maioria das drogas na medicina é de uso contínuo, muitas vezes para o resto da vida do paciente, pois a indústria farmacêutica fideliza dessa forma os seus consumidores. O marketing da indústria farmacêutica começa na pesquisa… Se somente em poucos casos um remédio resolve em definitivo ou remove a causa do mal que afeta os doentes, na grande maioria das vezes apenas ameniza, ou, como prefere discursar de forma politicamente correta a poderosa indústria farmacêutica, “dá qualidade de vida aos pacientes”.

Cegos por não verem, os vegetarianos desconhecem e não percebem que a carne vermelha é uma das mais ricas fontes de ferro, vitamina B12 e zinco. A ausência de qualquer um desses três elementos provoca desbalanceamento no organismo humano, remetendo-nos aos caprichos da “Lei do mínimo”. Falta de ferro provoca anemias, em especial em crianças, idosos, gestantes ou doentes debilitados. Redução do zinco causa queda imunológica, infecções nas mucosas (aftas), dermatites, impotência sexual, redução de capacidade reprodutiva, e por aí afora. Não adianta ingerir depois 1 litro de vitamina C diariamente, sintética ou natural, pois ela será eliminada pelo organismo, por não interagir com os outros elementos químicos de que temos necessidade. O equilíbrio está na diversificação dos alimentos. Lamentavelmente, não são apenas os vegetarianos que não percebem isso, alguns médicos também não dão importância.

(Este autor pergunta aos produtores de chuchu, de alface, de maracujá, alho, e alguns chás e ervas: por que não divulgar que estes produtos da terra são excelentes diuréticos, ajudam a baixar a pressão, e repõem os tão necessários sais minerais?)

Tudo a um custo elevadíssimo, e pode-se dizer exorbitante ou até mesmo abusivo e escorchante quando o tipo de remédio é uma fórmula exclusiva de determinado laboratório, e que não tenha concorrentes. É nos interesses da indústria farmacêutica que navegam e estão balizados os múltiplos institutos de pesquisas científicas americanas, em especial algumas universidades, e de lá saíram as opiniões de que as carnes vermelhas causam mal à saúde de seus consumidores. Para esses órgãos de pesquisa, também faz mal à saúde consumir manteiga, seria preferível o uso da margarina, que tem “origem vegetal”, apesar de seus milhares de componentes sintéticos, dos conservantes e emulsificantes e também os acidificantes, todos de misteriosos números I, II, III e IV que constam, conforme determina a lei dos rótulos de qualquer alimento, inclusive margarinas, e são provocadores de alergias e sabe-se lá o que mais. Margarina é quase tudo, menos um alimento exclusivamente vegetal, exceto pela presença de soja ou milho, ou amendoim, que é apenas uma de suas múltiplas matérias primas em forma de gordura vegetal saturada ou hidrogenada. É um produto, a meu ver, de sabor isopor – e toda a Europa tem a mesma opinião sobre o assunto, inclusive a torcida do Flamengo – e de baixo custo de produção e venda quando comparado ao custo de produção da manteiga. A margarina tem um marketing altamente competente por trás de sua comercialização.

(Este autor é um alérgico, sobrevivente a inúmeros alimentos, entre eles feijão preto, banana, batata, chocolate, leite e alguns derivados, e alguns determinados fármacos e, sobretudo, a alguns conservantes de alimentos, cada um deles com maior ou menor intensidade de manifestações. A alergia é um problema pouco conhecido pela medicina, que apenas combate seus efeitos, e conhece algumas das substâncias e causas alergênicas, mas os efeitos devastadores são sempre individuais, porque essa é uma característica do ser humano.)

Não tenho a pretensão de colocar em discussão o valor alimentício da margarina, que é um problema de outra ordem e natureza, e inclusive porque foge à minha competência e especialidade. Apenas proponho um teste ao leitor: coloque num canto de sua casa dois pires, um com uma colher de manteiga e outro com a mesma quantidade de margarina e acompanhe duas ou três vezes ao dia, durante alguns dias, o que acontece por lá. A manteiga será visitada por baratas, formigas, até mesmo ratos se houver, e ao cabo de dez dias no máximo, se a temperatura estiver com média superior a 20° graus centígrados, iniciará o processo de mofo como qualquer alimento orgânico. Enquanto isso, a margarina estará incólume, não será degustada por nenhuma das espécies citadas e nem terá a presença de mofo. Dessa forma, após o teste, você, caro leitor, chegará à mesma conclusão que este escriba de que margarina é quase plástico, gordura hidrogenada e saturada. É produto vegetal, porém industrializado. Em análises químicas, as diferenças entre margarina e manteiga são pequenas no que se refere ao teor de gorduras. Mas, assim como as drogas da indústria farmacêutica, a margarina – em especial a feita com amendoim – é aprovada e até mesmo recomendada pelos diversos órgãos americanos de pesquisa. A manteiga é acusa de “criminosa”.

PARTE 2