RELIGIÃO, CULTOS E OUTROS

Uso de robôs com parceiro sexual ganha força e gera polêmica

robose205/07/2017 - Os brinquedos sexuais são usados por séculos, mas a tecnologia está transformando este mercado. Algumas companhias já produzem bonecos, na maioria das vezes femininos, que reproduzem com perfeição o corpo humano. E com inteligência artificial, eles estão ganhando a capacidade de interagir emocionalmente, o que levanta sérias questões éticas, ao menos é essa a percepção da organização britânica Foundation for Responsible Robotics. Em relatório divulgado nesta quarta-feira, o grupo de especialistas pede que governos se debrucem sobre o tema para regular o que pode ou não ser permitido. — Nós precisamos que os legisladores olhem sobre o ...

assunto e o público em geral para decidir o que é aceitável e permissível — disse Noel Sharkey, um dos autores do relatório, em entrevista à BBC. — Nós precisamos pensar como sociedade o que nós queremos fazer. Eu não sei as respostas, estou apenas colocando as perguntas.

Por valores entre US$ 5 mil e US$ 15 mil, algumas companhias entregam um parceiro sexual robótico sobre medida para os clientes. A aparência é a parte mais customizável, com diferentes opções de cor dos olhos, cabelo, orelha, cor da pele e maquiagem. O formato do corpo também pode ser definido. Nenhum boneco é capaz de andar, ainda, mas uma companhia apresenta seu produto como sendo capaz de realizar “50 posições sexuais automáticas”. Outra fabricante diz que sua boneca é capaz de simular o orgasmo, com “articulação no pescoço, expressões faciais, olhos que se movem e movimento dos lábios sincronizados com áudio”.

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“As bonecas sexuais têm ‘software avançado de inteligência artificial para comunicação’, e a RealBotix (uma das bonecas) permite a customização da inteligência artificial escolhendo ‘traços e emoções que você considere atraentes’, incluindo níveis altos e baixos de felicidade, timidez e humor”, aponta o relatório. “Roxxxy Gold vem com personalidades pré-programadas incluindo a ‘Frigid Farrah’, que dá a impressão de timidez, e ‘Wild Wendy’, com personalidade extrovertida e aventureira”.

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E como os bonecos são fabricados com silicone, é possível criar qualquer formato de corpo, inclusive de crianças. A empresa japonesa Trottla produz bonecas realistas que imitam as feições de meninas. A ideia pode parecer repulsiva, mas existem defensores do uso desses bonecos como terapia sexual para prevenir crimes sexuais, como estupros e pedofilia. A ideia é controversa. Enquanto uns defendem, outros sugerem que tal prática apenas serviria de incentivo para os criminosos sexuais. “Tratar pedófilos com robôs sexuais crianças é uma ideia duvidosa e repulsiva. Imagine tratar o racismo deixando um intolerante agredir um robô negro. Isso funcionaria? Provavelmente não”, disse o especialista em ética robótica Patrick Lin, do Instituto Politécnico da Califórnia, citado no relatório.

Os androides sexuais em formato de crianças também levantam questões legais. Em 2013, uma das bonecas da Trottla foi interceptada num aeroporto canadense, e o homem que fez a encomenda foi preso, sob acusação de posse de material de pornografia infantil. Ele também enfrenta duas acusações sob a Lei Federal Alfandegária por traficar e possuir bens proibidos. Outra questão sensível é o estupro. A boneca Roxxy Gold, que tem a personalidade Frigid Farah, é descrita pela fabricante como “não receptiva” a toques em “áreas privadas”. “Isso sugere sinais de não consentimento”, aponta o relatório. “Qualquer pessoa que se envolva em atividade sexual com um robô que sinaliza não consentimento pratica um ato de estupro robótico”.

Os autores do relatório não chegam a uma conclusão, mas sugerem que usar robôs para prevenir crimes não seja uma boa ideia. Por um lado, defensores afirmam que potenciais criminosos possam satisfazer seus fetiches sem vitimar humanos, mas muitos alegam que seria uma indulgência que encorajaria e reforçaria práticas sexuais ilícitas.

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“Isso pode funcionar para alguns, mas é um caminho muito perigoso”, aponta o relatório. “Pode ser que a permissão para as pessoas viverem suas mais pesadas fantasias com robôs sexuais tenham um efeito pernicioso na sociedade e nas normas sociais, criando mais riscos para os vulneráveis”.

Os especialistas levantam outras questões polêmicas sobre o futuro que estamos trilhando. Seria aceitável, por exemplo, que bordéis fossem abertos com robôs? No filme “Inteligência Artificial”, os personagens Gigolo Jow, interpretado por Jude Law, e Gigolo Jane, por Ashley Scott, são robôs que atuam na prostituição.

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No Japão existe um serviço que aluga bonecas sexuais, como um serviço de acompanhantes. Em Barcelona, na Espanha, foi aberto este ano o LumiDoll, algo como um prostíbulo com bonecas, que cobra 100 euros por hora para que os clientes “realizem suas fantasias sem qualquer limite”. Kathleen Richardson, especialista em ética robótica na Universidade de Montfort, no Reino Unido, acredita que os robôs sexuais, inevitavelmente, vão “aumentar o isolamento social”. Ela destacou a questão de gênero do mercado, voltado majoritariamente para o público masculino e às “ideias masculinas de sexualidade”. Sharkey, um dos autores do relatório, lembrou sobre o descompasso entre o que é oferecido pelas companhias e a realidade.

— Os fabricantes de robôs sexuais querem criar uma experiência mais próxima possível de um encontro sexual humano — disse. — Mas os robôs não podem sentir amor, carinho ou formar laços emocionais. O máximo que podem fazer é fingir.

 

Roxxxy

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Roxxxy é a primeira robô (fembot) construída para a a prática sexual. A robô é um produto da empresa TrueCompanion, sediada em Nova Jérsei. Seu engenheiro criador é Douglas Hines, presidente fundador da companhia, que trabalhou como engenheiro de inteligência artificial no Bell Labs antes de fundar a True Companion. O desenvolvimento da Roxxxy teve custo estimado entre 500 mil e 1 milhão de dólares, e levou aproximadamente dois anos e meio para ser concluído.

A robô é descrita como sendo "a primeira namorada robótica em tamanho real do mundo". Roxxxy foi apresentada ao público na AVN Adult Entertainment Expo (AEE) em Las Vegas em 9 de janeiro de 2010. A ginoide de cerca de 1,70m e 54kg, tem pele sintética parecida com a pele humana e programada com inteligência artificial para aprender o que o dono gosta ou não gosta. Um esqueleto articulado permite que Roxxxy seja posicionada como um ser humano, mas a boneca não pode movimentar seus membros independentemente. Um coração mecânico instalado na robô alimenta um sistema de resfriamento líquido interno.

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O protótipo da Roxxxy teria sido modelado com base em uma estudante de belas artes caucasiana. Roxxxy é disponibilizada para compra com cinco personalidades diferentes, à escolha do comprador — a extrovertida Wild Wendy (Wendy Selvagem), a reservada e tímida Frigid Farrah (Farrah Frígida), uma personalidade jovial e ingênua, Mature Martha (Martha Madura), e a aventureira S & M Susan (Susan Sadomasoquista). Ela pode conversar sobre esportes e carros. De acordo com o website da empresa, Roxxxy não é limitada ao uso para sexo mas também "pode manter uma discussão e expressar seu amor a você e ser sua amiguinha. Ela pode conversar com você, te escutar e sentir seu toque." Devido à inteligência artificial, a robô pode aprender coisas novas e discutí-las, além de armazenar as preferências de seu dono.

Modelo

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O corpo de Roxxxy é de silicone hipoalérgico e moldado em uma espécie de esqueleto. Ela não pode se mover sozinha, mas pode ser manuseada em uma série de posições naturais. Para criar o seu corpo, Hines utilizou uma modelo real. A bateria do robô tem duração de 3 horas e pode ser recarregada em uma tomada comum. O motor em seu peito bombeia ar por meio de um tubo para todo o corpo e mantém a “pele” quente ao toque. Roxxxy tem também sensores nas mãos e nos órgãos genitais, que respondem a estímulos externos.

Conversa

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Quando alguém fala com Roxxxy, o computador converte as palavras em texto e então ele usa um padrão de reconhecimento para encontrar a resposta mais adequada no banco de dados, com centenas de possibilidades. Por enquanto, o robô só entende inglês, mas Hines já está desenvolvendo a boneca nas versões em japonês e espanhol. Segundo o inventor, muitas mulheres têm feito a solicitação on-line da boneca e até uma terapeuta sexual encomendou uma unidade, para ser usada por pacientes em tratamento.

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Outras funções incluem sensores de toque que dão a Roxxxy a habilidade de sentir quando está sendo movida, e um programa que permite que ela converse com o dono através de um alto-falante interno. O vocabulário da robô pode ser atualizado com a ajuda de um laptop (conectado às costas por cabos) e Internet. Os consumidores poderão pedir à TrueCompanion que personalize Roxxxy de acordo com suas preferências pessoais, tais como cor do cabelo, cor dos olhos, tamanho dos seios, entre outros. Roxxxy custa de USD 7.000 a USD 9.000 mais uma taxa de assinatura separada e atualmente está disponível nos Estados Unidos e Europa com planos para eventual disponibilidade global.

 

Fonte: Agência O Globo
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