RELIGIÃO, CULTOS E OUTROS

O Silêncio do Papa Pacelli

nazipap"Devemos nos indagar se a perseguição do nazismo contra os judeus não teria sido facilitada pelos preconceitos antijudaicos existentes em alguns corações e mentes cristãos". - Cardeal Edward Cassidy - Nós lembramos - uma reflexão sobre o Shoah, 1998. Chamavam-no de il Tedesco, "o alemão". E não sem razão. Ninguém nas altas esferas do Vaticano superava a germanofilia do Cardeal Eugênio Pacelli. A Alemanha era a sua segunda pátria, o alemão seu outro idioma, e os Hohenzoller, ...

a dinastia lá reinante, os soberanos do seu coração. Ele estava em Munique em 1917 quando nomearam-no arcebispo e núncio, autorizando-o a. negociar uma concordata com os bávaros. A seguir, de 1925 a 1929, fixou-se em Berlim, quando então o Papa Pio XI chamou-o à Roma nomeando-o secretário de estado. Anos perigosos e difíceis aqueles, quando a Igreja Católica, indisposta com o liberalismo e inimiga de morte do comunismo, decidiu-se associar-se ao fascismo.

Aproximando-se do fascismo

Pelo Tratado de Latrão, de 1929, a roupeta preta confraternizou-se com a camisa negra. Em troca de 750 milhões de liras - o "empréstimo da conciliação"-, o Papado reconheceu o regime de Mussolini. A mão que abençoava os cristãos apertou a mão de quem sufocava as liberdades. A própria Igreja Católica apressou-se em suprimir da política italiana o Partito Popolare, e todas as demais organizações laicas católicas que pudessem atrapalhar ou impedir a implantação do regime de partido único na Itália. Quando Hitler chegou ao poder em 1933, foi o próprio Pacelli quem supervisionou os termos da concordata, assinada em 20 de julho de 1933, redigidos pelo Monsenhor Gröber, o "bispo nazista"(der braune Bischof), de Fribourg, que, a pretexto de proteger os católicos, tirou o Führer dos nazistas do isolamento diplomático em que se encontrava nos primeiros momentos da sua ascensão.

Pontos em comum

Para Ludwig Kaas, um dos representantes do centrista Partido Católico (Zentrum), que tornou-se íntimo colaborador de Pacelli nos anos vinte, nada de ominoso havia nesta aproximação. Tempos antes ele considerara o Tratado de Latrão, assinado por Benito Mussolini e o cardeal Pietro Gasparri, como o acordo ideal entre o moderno estado totalitário com a igreja autoritária. Entre outras alegações, disse que ninguém melhor que a Igreja Católica para entender a lógica da concentração de poder. Afinal o chamado fúhrer prinzip, a primazia da liderança adotada pelos juristas nazistas, nada mais era do que a versão secular, germanizada, do primado papal, afirmado no Código da Lei Canônica. Os ditadores fascistas consideravam-se todos eles infalíveis, exatamente como no Syllabus do Papa Pio IX, de dezembro 1864, documento contendo 80 proposições que, além de rejeitar a modernidade, conferia ao papa a infabilidade.

O discreto arrependimento

Se Pio XI arrependeu-se do seu acordo com Hitler, publicando em 1937 a encíclica Mit Brennender Sorge ("É com viva inquietação"), onde, em termos moderados e cautelosos, denunciou o paganismo e a absurda idéia de um "Deus Nacional" alemão, cultivada pelos nacionais-socialistas, nenhum sinal de contrição partiu de seu sucessor Eugênio Pacelli, o Papa Pio XII. Nem a crescente espiral de violência generalizada que a política de extermínio hitlerista desencadeou, a partir de 1939, fez com que se ouvisse a voz denunciante do Santo Padre. Com exceção às anódinas preleções pela paz em seus comunicados natalinos, onde jamais nomeou os agressores, o silêncio de Pacelli foi um daqueles mutismos barulhentos, clamorosos. Nunca tantos inocentes haviam sido exterminados em tal escala, pelo menos quase em frente ao Sumo Pontífice. Justo neste momento, a Igreja Católica sempre tão mobilizada contra a infringência de mínimos pecado, deixou-se paralisar por uma embaraçosa catatonia.

A Solução Final e o Papa

O papa Pio XII, que dispunha da única rádio independente em toda a Europa ocupada, jamais alçou-se em fazer sequer uma denúncia pública das atrocidades que os nazistas estavam cometendo. Na reunião do Lago de Wansee, ocorrida na periferia de Berlim em janeiro de 1942, como se sabe, os altos hierarcas do partido e do governo comprometeram-se a conjugar esforços para executar a Endlösung, a Solução Final, gazeando toda a população judaica européia (calculada em 11 milhões). O máximo que obteve-se de Sua Santidade foi uma alocução, no Natal de 1942, na qual, sem especificar quem eram as vítimas, apontou "as centenas e os milhares que, sem falta ou culpa alguma, talvez apenas em razão da sua nacionalidade ou raça, foram marcados pela morte e pela progressiva extinção."

O estranho argumento dos defensores do mutismo pacellista era de que se o Sumo Pontífice delatasse os crimes, os nazistas, em represália, poderiam aumentar o número dos imolados, tornado o sofrimento ainda maior! Alegam ainda, como fez o historiador Christopher Browning, que é uma ingenuidade pensar-se que o papa pudesse, em qualquer momento, deter o genocídio que, em sua maior parte, deu-se bem longe da Itália, vitimando ciganos, judeus poloneses e russos, e prisioneiros soviéticos.

Raciocínio que nos leva a concluir que o sentimento de solidariedade cristã e indignação humana contra os assassinatos em massa está limitado pela geografia! Ninguém, é bom lembrar, considera a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis.

Os motivos do silêncio

Qual então a razão do seu silêncio? Segundo a historiadora Annie Lacroix-Riz (Le Vatican l 'Europe et le Reich, Paris, 1996), sabe-se que em privado, com representantes alemães, Pacelli externava os mesmos sentimentos antijudaicos deles. Mas presumo ser outra a causa do seu silêncio. Essa, de ordem subjetiva-objetiva. O papa, sendo um implacável anticomunista, um aristocrata de família toscana, nascido em Roma em 1876, tendo por um irmão um conde, encarnava os valores últimos de uma nobreza européia agonizante. Viu no nazismo, como tantos outros da sua casta, a oportunidade de liquidar com os bolcheviques ateus (versão contemporânea dos jacobinos, que tantos padecimentos fizeram sofrer a nobreza e a igreja nos tempos modernos), mesmo que o preço a pagar fosse moralmente monstruoso. Somente eles, os super-homens de Hitler e de Mussolini, com sua política de total impiedade, colocando-se bem "acima do bem e do mal", poderiam abatê-los. A pavorosa morte dos judeus era o tributo moral que exigiam dele. A política do Vaticano de sustentação incondicional do Reich, "excluía emocionar-se por suas vítimas".

O neutralismo de Pacelli

pioxiiCoerente, refugiando-se num suspeitíssimo neutralismo, o Papa Pio XII negou-se a condenar as atrocidades praticadas pelos nazistas contra judeus proposta pelos Aliados, alegando que ela não incluía um repúdio às perseguições religiosas movidas por Stalin contra os cristãos na União Soviética. Uns tempos antes, à época do Massacre das Fossas Ardeatinas em Roma, onde 335 reféns civis italianos, 75 deles judeus, foram executados pelos SS do major Erich Priebke em Roma, como represália a um atentado dos partisans, ele sobre nada se pronunciou. O mesmo se repetiu quando o Gueto de Roma foi esvaziado por uma operação policial das Waffen SS em outubro de 1943, ordenada por Eichmann. Sacaram os judeus, por assim dizer, da frente da Igreja de São Pedro. A reação da Santa Sé não passou de inócuos telegramas e telefonemas para o embaixador alemão Weiszäcker. Disso resultou que 1060 judeus foram embarcados na estação Tiburtina diretamente para Auschwitz, justo num domingo, 18 de outubro de 1943.

Negligências que serviram bem mais tarde como tema da peça-denúncia "O Vigário"(Der Stellvertreter), escrita em 1963 pelo alemão Rolf Hochhuth, o primeiro clamor partindo do próprio rebanho católico, contra a sistemática omissão do papa. Não hesitou, porém, Pacelli, ao término da guerra, em mobilizar os quadros da Igreja Católica espalhados pela Europa. para facilitar a fuga de milhares de criminosos de guerra e colaboracionistas dos nazi-fascistas, dando-lhes passes, salvos-condutos, passaportes, e até pequenas somas de dinheiro, para que eles alcançassem as terras seguras da Espanha, do Paraguai, ou da Argentina de Perón.

A história e o Papa

Num esforço, ainda que indireto, em desvendar a política de omissão de Pio XII, o monge Georges Passelecq, e o dr.Bernard Suchecky, publicaram recentemente "A Encíclica escondida de Pio XI" (L 'encyclique cachée de Pie XI - une occasion manquée de l'Église face à l'antisémitisme, Ed. La Découverte. Paris, 1995), que expõe a existência da Humani Generis Unitas, uma encíclica mandada redigir por Pio XI a dois jesuítas (o alemão Gustav Gundlach e o americano John LaFarge), em 1938. O documento, que somente foi descoberta em 1972, era uma aberta denúncia do culto ao estado totalitário e do racismo anti-semita delirante dos nazistas, muito mais vigorosa que a encíclica do ano anterior, a de 1937. Eugênio Pacelli, porém, a engavetou.

Mais recentemente, o mundo católico foi abalado por um outro livro, o do inglês John Cornwell (Hitler's Pope: the secret history of Pius XII, N.Iorque, 1999), que, preocupado em aliviar as crescentes suspeitas que eram lançadas de todos os lados sobre Pacelli, resolveu ir consultar diretamente nas fontes documentais dos arquivos do Vaticano. O resultado estarreceu-o. A ele e aos simpatizantes da causa Pacelli. Cornwell, um homem do Colégio de Jesus de Cambridge, revelou que o conúbio do papa com os nazi-fascistas foi muito mais além do que se imaginava. Para ele o que mais ligou o papa aos nazistas era o antijudaísmo de ambos.

Um arrependimento formal

A Comissão do Vaticano para Relações Religiosas com os Judeus, por sua vez, instituída pelo papa João Paulo II, finalmente chegou a uma conclusão e a um documento. Tocando no peito e com o olhar constrangido, o Cardeal australiano Edward Cassidy pediu perdão à comunidade judaica pela inexplicável omissão dos católicos. Observe-se porém que não há menção especifica de responsabilidade. O Vaticano resolveu assumir um arrependimento coletivo, da comunidade católica no seu todo, da Igreja e dos fiéis, sem mencionar o peso de Pacelli na adoção daquela política. Para sentir-se como esse tema é embaraçoso até hoje para a Igreja Católica, notou-se que o gesto oficial, público, deu-se por meio de um hierarca menor da Igreja, e não de uma declaração direta do Papa, como por exemplo, quando ele pessoalmente desculpou-se com pela condenação de Galileu, ocorrida no século 17. É que, de certa forma, todos em Roma ainda sentem e sofrem os embaraços do inexplicável silêncio do Papa Pacelli.

 

Historiador Defende Que Papa Pio XII Não Foi "Cúmplice" do Nazismo


2002 - O Papa Pio XII não pode ser considerado "como um cúmplice voluntário e activo do nazismo", considera o historiador Bruno Cardoso Reis, que se manifesta contra muitas das afirmações do livro "Hitler's Pope", de John Cornwell. Esta obra, traduzida em português ("O Papa de Hitler", ed. Terramar), está "cheia de erros factuais em aspectos-chave", diz Bruno Reis.

Pelo contrário, o Papa Pacelli ajudou judeus perseguidos, esteve em contacto com a oposição alemã e denunciou várias vezes o nazismo. Uma delas foi perante o representante português na Santa Sé, Vasco Quevedo, a quem afirmou: "A Igreja não pode aplaudir qualquer orientação política que se pareça com o nazismo."

O investigador fez estas afirmações num colóquio realizado sexta-feira passada, promovido pelo Centro de Estudos de História Religiosa, da Universidade Católica. Dedicado ao tema "A Santa Sé e os conflitos mundiais no século XX - Polémica e História", o colóquio partiu da publicação de obras recentes dedicadas a questões que se enquadram naquele tema. Nomeadamente, a obra de Cornwell e, agora, o livro "Pio XII e a Segunda Guerra Mundial - Que Dizem os Arquivos do Vaticano?", de Pierre Blet, que foi apresentado no final do colóquio - e com o qual Bruno Reis se considera mais de acordo.

Bruno Reis admite que a sua afirmação sobre o papel de Pio XII não significa que o Papa Pacelli "não seja alvo de críticas várias e apropriadas". Mas estas não devem referir-se tanto às suas "decisões" - já que o próprio não acreditava que "elas tivessem grande peso na situação", nem sequer à "bondade das suas intenções", mas antes a outros factores: "O seu formalismo, a sua crença no peso da diplomacia como forma de resolver os conflitos internacionais, a sua tendência para uma retórica demasiado rebuscada, a sua personalidade sensível e pouco dada a rupturas."

Tão pouco se deve ignorar que Pio XII e a sua diplomacia desempenharam um papel "inegável a salvar muitas pessoas perseguidas pelo nazismo - há numerosas cartas de agradecimento de organismos judaicos logo após a II Guerra Mundial a Pio XII". O que não significa que Pacelli esteja "acima de críticas". O próprio Papa exprimiu várias vezes dúvidas sobre o acerto das suas decisões. "O que não se pode é deixar de referir também o muito que se fez pelas vítimas do nazismo", afirma Bruno Reis, que recorda que as cartas que chegavam ao Vaticano diziam, muitas vezes, que aquela seria a última oportunidade de apelo, depois de já terem seguido cartas para a Cruz Vermelha, o Presidente Roosevelt e os outros líderes ocidentais.

Muito crítico com as "omissões inaceitáveis", as "análises simplistas e claramente insatisfatórias" e a falta de coerência do livro de Cornwell - "pejado que está de contradições com o autor a subscrever afirmações opostas à distância de algumas páginas" - Bruno Reis recorda factos que, a partir dos documentos, não podem ser ignorados quando se discute este tema: Pio XII teve um papel pessoal "como intermediário entre a oposição alemã ao nazismo e o governo britânico, em 1940"; o Vaticano teve informações de uma ofensiva da oposição alemã contra Hitler, em Maio de 1940, que o Papa Pacelli decidiu fazer chegar às chancelarias aliadas; e o seu secretário particular mantinha relações intensas com a oposição alemã a Hitler.

São exemplos destes que levam Bruno Reis a perguntar como é que "o suposto peão no jogo de xadrez de Hitler" poderia estar "a jogar no sentido de derrubar o seu próprio rei"?

No colóquio, o historiador e bispo Manuel Clemente falou da "neutralidade activa" da Santa Sé e do Papa Bento XV (1914-22) durante a I Guerra Mundial. A Igreja Católica perante o judaísmo e a guerra israelo-árabe foi o outro tema. Sobre ele, Adriano Moreira defendeu que, para o problema de Jerusalém, "a solução lógica e prudente" será dotar a cidade de um estatuto internacional e autónomo. E o historiador António Matos Ferreira acrescentou que as religiões devem entrar na lógica de construir "sociedades pacificadas".

PAPA - Pio XII - Plano de Sequestro e Morte.


noticia_79292009 - Revelam detalhes do Plano deHitler para matar Pio XII - ROMA, 17 Jun. 09 / 04:15 am (ACI).- O jornal Avvenire da Conferência Episcopal Italiana publicou esta terça-feira um artigo no que revela alguns detalhes do plano de Hitler para seqüestrar ou matar o Papa Pio XII, como uma maneira de expressar seu rechaço e "castigar" os italianos pela detenção de Mussolini. O jornal precisa que já tinha informação sobre este assunto de uma fonte direta, quando em 1972 o filho de um dos personagens chave envolvido com este assunto, Niki Freytag von Loringhoven, deu seu testemunho sobre este assunto em Munique. Entretanto, Avvenire precisa agora alguns detalhes do plano nazista. Segundo o relato de Freytag von Loringhoven, os dias 29 e 30 de julho de 1943 se realizou em Veneza um encontro secreto para informar ao chefe da contra-espionagem italiana, o general Cesare Amè, das intenções de Hitler de castigar os italianos pela detenção do Mussolini com o seqüestro ou o assassinato de Pio XII e do rei.

Para tal ocasião chegaram desde Berlim o chefe da contra-espionagem alemã, almirante Wilhelm Canaris, e dois coronéis da seção II (sabotagem), Erwin von Lahousen e Wessel Freytag von Loringhoven (o pai de Niki).

Ao voltar para Roma, o general Amè divulgou a notícia para bloquear os planos de Hitler.

Papa Pio XII mandou salvar judeus do nazismo


2009 Nov- Vaticano divulga documento em que Pio 12 mandou salvar judeus do nazismo

O papa Pio 12 (1939-1958) ordenou que os mosteiros dessem cobertura aos judeus perseguidos pelos nazistas, segundo um documento de 1943 achado num convento de freiras agostinianas de Roma, informou a Rádio Vaticano nesta quarta-feira. Grupos judaicos acusam o papa que comandou a igreja durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) de não atuar firmemente contra o Holocausto.

Segundo a rádio, uma nota extraída do "Memorial das Religiosas Agostinianas do Mosteiro dos Quatro Santos Coroados de Roma" traz a seguinte mensagem: "O Santo Padre quer salvar todos os seus filhos, também os judeus, e ordena que os mosteiros deem hospitalidade a estes perseguidos".

O documento inclui ainda os nomes de 24 pessoas que foram recebidas pelo convento.

"Trata-se de um documento muito importante, já que é escrito" à mão, o que confirma os vários testemunhos orais sobre o trabalho de Pio 12 a favor dos judeus durante a perseguição nazista, destacou à Rádio Vaticano o jesuíta Peter Gumpel, postulante da causa de beatificação de Pio 12, processo que pode levar o antigo pontífice a ser declarado santo pela igreja.

Historiadores e líderes judeus acusam Pio 12 de antissemitismo por, segundo eles, não ter enfrentado com força suficiente o regime de Hitler, algo sempre negado pelo Vaticano.

Gumpel acrescentou que, nos anos de perseguição do nazismo, nas "situações como as que eram vividas em Roma, uma pessoa prudente não colocava muitas coisas por escrito, já que havia o risco de elas caírem nas mãos dos inimigos e de serem adotadas medidas ainda mais hostis contra a Igreja Católica".

"A obra de salvamento de Pio 12, confirmada também por fontes judaicas, foi feita mediante mensagens pessoais, mediante sacerdotes que eram enviados a instituições e casas católicas de Roma, à universidade, aos seminários, às paróquias e aos conventos de freiras, sempre com a mensagem 'Abram as portas a todos os perseguidos pelo nazismo'", o que significava "primeiro, os judeus", afirmou Gumpel.

O jesuíta reiterou que o novo documento desarma todos aqueles "que de maneira persistente querem denegrir Pio 12 e toda a Igreja Católica". Além disso, declarou esperar que o papa Bento 16 assine o decreto que abrirá caminho para a beatificação de um de seus antecessores.

Autoridades israelenses e grupos judaicos disseram que, enquanto os arquivos do Vaticano sobre o papado de Pio 12 permanecem fechados para os pesquisadores, a questão sobre o que o pontífice fez ou não fez para salvar os judeus continua sem solução.

No ano passado, o papa Bento 16, em uma homenagem a Pio 12, insistiu que o antecessor trabalhou silenciosamente nos bastidores para salvar o maior número possível de judeus. Ele manifestou esperança de que o antigo papa fose elevado a santo, mas também determinou o congelamento do processo até que os arquivos do Vaticano do período da guerra sejam abertos aos pesquisadores.

Outros episódios

A controvérsia em relação ao papel de Pio 12 no auxílio aos judeus é apenas um dos pontos de atrito entre o Vaticano e grupos judaicos. Em janeiro deste ano, a reabilitação do bispo britânico Richard Williamson, cuja excomunhão foi suspensa junto às de outros três bispos tradicionalistas expulsos da igreja nos anos 80, deu origem a uma polêmica que ainda não terminou. Depois de anunciado o perdão papal, foi ao ar uma entrevista em que Williamson negou a extensão do Holocausto.

Segundo ele, os nazistas teriam matado cerca de 300 mil judeus, e não 6 milhões como é amplamente aceito pelos historiadores. Williamson também disse não acreditar que câmaras de gás tivessem sido usadas para matar os prisioneiros judeus nos campos de concentração.

Em meio a uma forte reação internacional, o papa exigiu que Williamson se retratasse, dizendo que negar o Holocausto é "totalmente inaceitável".

No último dia 26, após ser expulso da Argentina, Williamson pediu perdão pelas declarações sobre o Holocausto

Pio XII e o Nazismo

papa_pacelli1Everth Queiroz Oliveira - O nome do Papa é Eugenio Pacelli, mais conhecido como Pio XII. Por alguns é considerado – e erroneamente – o Papa de Hitler. Para outros, porém, mais um grande Sumo Pontífice da Igreja Católica. A realidade é que opiniões divergem dos fatos. E os fatos mostram que a Igreja e Pio XII nunca deixaram de condenar o Nazismo e as atrocidades por ele cometidas. Aquilo que diverge de fatos são mentiras. Sim: assim intitulamos a suposta “opinião” daqueles que pensam que a Igreja não foi contrária à Guerra e ao Holocausto. O primeiro fato é que a Igreja nunca se calou diante dos crimes abomináveis do Nazismo. Nunca. Seja por meio de cartas apostólicas, encíclicas ou outros documentos, a Santa Sé deixou bem claro que Igreja e Nazismo são incompatíveis. É nítida essa mensagem no documento do Papa Pio XI Mit brennender Sorge, em que ele condena expressamente os erros do nazismo. Nessa encíclica, Pio XI enfatiza principalmente o erro do paganismo e do preconceito, ideologias declaradas por Hitler em seus discursos ideológicos. Escreve:

“Se a raça ou o povo, se o Estado ou uma forma determinada do mesmo, se os representantes do poder estatal ou outros elementos fundamentais da sociedade humana têm na ordem natural um posto essencial e digno de respeito, contudo, quem os arranca da alta escala dos valores terrenos elevando-os à suprema norma de tudo, até mesmo dos valores religiosos, e, divinizando-os com culto idolátrico, perverte e falsifica a ordem criada e imposta por Deus, está longe da verdadeira fé e de uma concepção de vida conforme esta.

(…)

“Nós damos graças, veneráveis irmãos, a vossos sacerdotes e a todos os fiéis que, defendendo os direitos da Divina Majestade contra um provocador neopaganismo, apoiado desgraçadamente com freqüência por personalidades influentes, têm cumprido e cumprem seu dever de cristãos. Essa gratidão é particularmente íntima e cheia de reconhecida admiração para todos os que, no cumprimento deste dever, se têm feito dignos de sofrer por causa de Deus sacrifícios e dores.” 1

Essa carta de Pio XI gerou imediata reação na Alemanha. Nunca se encontrou tão forte contestação ao nazismo como durante o período que sucedeu a leitura do documento nas igrejas alemãs. Mas Hitler não deixou barato e impôs perseguição violenta aos católicos. Em maio de 1937, 1100 padres e religiosos foram lançados nas prisões do Reich. Organizações católicas foram dissolvidas; escolas confessionais, interditadas 2. Além disso, afirma-se que, até a definitiva queda do Nazismo, “cerca de onze mil sacerdotes católicos (quase metade do clero alemão dessa época) foram atingidos por medidas punitivas, política ou religiosamente motivadas, pelo regime nazista, terminando muitas vezes nos campos de concentração.” 3

Então, é falso o pensamento não só daqueles que afirmam que a Igreja foi conivente com o Nazismo ou se calou diante dos seus erros e crimes; pecam por mentira também aqueles que dizem que a reação da encíclica de Pio XI na Alemanha quase não foi significativa. Quem pensa desta forma acredita numa mentira e não é digno de consideração em suas palavras.

O segundo fato – e que também reafirma a realidade de que Pio XII nunca se calou diante do Nazismo – é que o Cardeal Pacelli, quando ainda era Secretário do Estado do Vaticano, ajudou na elaboração do documento Mit brennender Sorge, o qual falamos anteriormente. O Cardeal Tarcisio Bertone, por ocasião do 50º Aniversário da morte do Papa Pio XII, discursou:

“Com a ajuda determinante do Cardeal Pacelli e dos seus colaboradores alemães da máxima confiança (Mons. Ludwig Kaas e os Padres jesuítas Robert Leiber e Augustin Bea), chegou-se deste modo à Mit brennender Sorge (“Com profunda preocupação”), a Carta Encíclica que em 1937 condenava a ideologia racista e pagã, que já se tinha afirmado no Reich alemão.” 4

O que foi afirmado pelo Cardeal Bertone nesse discurso é muito importante para compreendermos a posição do Papa Pio XII sobre o nazismo. O seu comportamento durante o pontificado não foi diferente, seja frente às atrocidades nazistas seja diante dos crimes de guerra cometidos por ambas as alianças bélicas.

Daí segue o terceiro fato, que são justamente as atitudes tomadas pelo Papa Pio XII no seu pontificado para condenar a ideologia nazista. Muito embora se diga o contrário, Pio XII não se calou… As provas estão em documentos assinados pelo Sumo Pontífice, em que é visível e a sensibilidade e o sentimento de revolta do Santo Papa diante da perseguição aos inocentes imposta pelo regime nazista. Em um, publicado no Natal de 1942, o Pontífice demonstra sua solidariedade “às centenas de milhares de pessoas que sem culpa nenhuma da sua parte, às vezes só por motivos de nacionalidade ou raça, se vêem destinadas à morte ou a um extermínio progressivo”. 5

Há quem diga que palavras não valem muita coisa. Por isso historiadores já deixaram claro que durante o pontificado de Pio XII foram salvos milhares de judeus. O rabino David Dalin, autor do livro “The Mith of Hitler’s Pope”, escreveu: “Na cidade [Roma], 155 conventos e mosteiros abrigaram cerca de 5 mil judeus durante a ocupação alemã. E outros 3 mil se refugiaram em Castel Gandolfo, a residência de verão do papa” 6. Na mesma linha, judeus como Albert Einstein, Golda Meir, Paolo Mieri, também deixaram claro 7 que Pio XII ajudou muitos judeus a se livrarem do extermínio nos campos de concentração.

Mas por que – perguntar-se-á – o Papa Pio XII não condenou tão veementemente o nazismo? Por que não massacrou objetivamente as idéias desse cruel regime totalitário? Porque Pio XII bem sabia que uma condenação mais objetiva e clara ao nazismo de nada ia adiantar para salvar almas do Holocausto ou diminuir o número de “católicos” que aderiam ao nazismo na Alemanha. As coisas, pelo contrário, só iriam piorar. Robert Kempner, advogado judeu que participou do processo contra Hitler e Frick na Alemanha, escreveu: “Qualquer movimento de propaganda da Igreja Católica contra o Reich hitlerista não só teria sido um ’suicídio voluntário’ (…) mas teria também acelerado a execução capital de um maior número de judeus e sacerdotes”8.

O historiador e diplomata israelense, Pinchas Lapide, ex-cônsul de Israel em Milão, também defende Pio XII nesse ponto. Afirma que se o protesto da Igreja contra o nazismo fosse maior, haveria também maior retaliação. Em seu livro “Three Popes and the Jews”, usou como exemplo a Holanda. No país, em cada igreja foi lido um documento que condenava abertamente o nazismo. O resultado não foi consolador: “Enquanto os bispos protestavam, mais judeus, cerca de 110 mil, ou 79% do total, eram deportados aos campos de extermínio”9.

Ora, deveria então a Igreja insistir em condenar objetivamente o nazismo assim como muitos historiadores expuseram, ardendo em um tremendo ódio contra a Igreja Católica e sua Verdade? Claro que não, uma vez que isso só traria mais dor e sofrimento para os judeus massacrados na Guerra… Além disso, afirmar que uma declaração muito explícita do Papa condenando o nazismo pudesse influenciar de maneira definitiva na mentalidade dos católicos alemães não passa de conversa sem fundamento. Se com a encíclica de Pio XI e a radiomensagem de natal de 1942 do Papa Pio XII os “católicos” nazistas não tomaram a iniciativa de mudar, outra carta refutando a ideologia nazista muito pouco adiantaria. Só traria – como foi dito anteriormente – mais mortes e extermínios aos católicos e judeus nos campos de concentração.

Quando falamos da falta de documentos objetivos e explícitos, não falamos, contudo, que o Sumo Pontífice Pio XII se omitiu diante das atrocidades do nazismo. Já deixamos aqui palavras do Papa na Radiomensagem de Natal de 1942, em que ele deixava claro que a Igreja não pode aceitar os crimes cometidos por aqueles que se julgam no direito de eliminar a vida de outrem por puro preconceito ou discriminação. Em outra radiomensagem, no ano anterior (1942), Pio XII deplorava as conseqüências desastrosas da Guerra:

“Nós todavia com a angústia, que nos oprime a alma, ponderamos, e vemos, como num sonho mau, os terríveis embates de armas e de sangue deste ano que agora finda; a infeliz sorte dos feridos e dos prisioneiros; os sofrimentos corporais e espirituais, as mortandades, destruições e ruínas, que a guerra aérea leva e despenha sobre grandes e populosas cidades, sobre centros e vastas regiões industriais; as riquezas dilapidadas dos Estados, os milhões de pessoas que o imane conflito e a dura violência vão lançando na miséria e na fome.

(…)

Quem poderá hoje maravilhar-se, se esta oposição radical aos princípios da doutrina cristã veio enfim a converter-se em ardente choque de tensões internas e externas, que levou a esse extermínio de vidas humanas e destruição de bens, que estamos vendo e a que assistimos com profunda pena? A guerra, funesta conseqüência e fruto das condições sociais descritas, bem longe de lhes sustar o influxo e o desenvolvimento, promove-o, acelera-o, amplifica-o, com tanto maior ruína, quanto mais se prolonga, tornando a catástrofe cada vez mais geral.” 10

Mas a Igreja, mesmo condenando as terríveis causas e conseqüências da guerra, assim como as falácias e absurdos do nazismo, preferiu cumprir com maior empenho aquela santa exortação do Apóstolo: “O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos” 11. Então salvou almas de milhares de judeus refugiados da guerra, ajudando-os a se livrarem do extermínio promovido pelos nazistas.

Fatos: é o que buscamos apresentar. Ao contrário das mentiras anticlericais constantemente pregadas a esmo por historiadores acatólicos, apresentamos aos católicos aquilo que a Igreja verdadeiramente fez durante a Segunda Guerra Mundial. Chega de preconceitos anticristãos e de falácias anti-religiosas. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará!

 

 


Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/papa_pacelli.htm
http://www.paroquias.org/noticias.php?n=2211
http://pioxiicaluniado.blogspot.com/2009/06/papa-pio-xii-plano-de-sequestro-e-morte.html
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/noticia.php?it=12164
http://beinbetter.wordpress.com/2009/10/29/pio-xii-e-o-nazismo/