RELIGIÃO, CULTOS E OUTROS

Ku Klux Klan - Parte 1

klan1Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) é o nome de várias organizações racistas dos Estados Unidos que apóiam a supremacia branca e o protestantismo (padrão conhecido também como WASP) em detrimento a outras religiões. A KKK, em seu período mais forte, foi localizada principalmente na região sul dos E.U.A., em estados como Texas e Mississipi. História - A primeira Ku Klux Klan na verdade foi fundada por 6 amigos da cidade de Pulaski, Tennessee, em 1865 após o final da Guerra civil americana. Seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por exemplo, adquirir terras, .ter direitos concedidos .aos outros cidadãos, como votar. O nome, cujo registro mais antigo é de 1867, parece derivar da palavra grega kuklos, que significa "círculo", "anel", e da palavra inglesa clan (clã) escrita com k. Devido aos métodos violentos da KKK, há a hipótese de o nome ter-se inspirado no som feito quando se coloca um rifle pronto para atirar.

Em 1872 o grupo foi reconhecido como uma entidade terrorista e foi banida dos Estados Unidos. O segundo grupo que utilizou o mesmo nome foi fundado em 1915 (alguns dizem que foi em função do lançamento do filme O Nascimento de uma Nação, naquele mesmo ano) em Atlanta por William J. Simmons. Este grupo foi criado como uma organização fraternal e lutou pelo domínio dos brancos protestantes sobre os negros, católicos, judeus e asiáticos, assim como outros imigrantes. Este grupo ficou famoso pelos linchamentos e outras atividades violentas contra seus "inimigos". Chegou a ter 4 milhões de membros na década de 1920, incluindo muitos políticos. A popularidade do grupo caiu durante a Grande Depressão e durante a Segunda Guerra Mundial.

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Decadência

A perda de respeitabilidade da Ku Klux Klan, unida a divisões internas, levou à degradação de seu público, apesar de a organização continuar a realizar expedições punitivas, desempenhando por exemplo o papel de supervisora de uma agremiação de patrões contra os sindicalistas, cuja cota estava em alta depois da crise de 1929.

 

 

Na década de 1930, o nazismo exerceu uma certa atração sobre a Ku Klux Klan. Não passou disso, porém. A aproximação com os alemães foi bruscamente encerrada na Segunda Guerra Mundial, depois do ataque japonês à base estadunidense de Pearl Harbor, quando muitos membros se alistaram no exército para lutar contra o "perigo amarelo". Só faltava o tiro de misericórdia ao império invisível. Em 1944, o serviço de contribuições diretas cobrou uma dívida da Klan, pendente desde 1920. Incapaz de honrar o compromisso, a organização morreu pela segunda vez.

Apesar de diversas tentativas de ressurreição (num âmbito mais local que nacional), a Ku Klux Klan não obteve mais o sucesso de antes da guerra. As mentalidades evoluíram. A ameaça de crise estava a partir de então descartada, tendo o soldado negro mostrado que era capaz de derramar tanto sangue quanto o branco. Finalmente, o Stetson Kennedy contribuiu para desmistificar a organização, liberando todos os seus segredos no livro "Eu fiz parte da Ku Klux Klan". Alguns klanistas ainda insistiram e suscitaram, temporariamente, uma retomada de interesse entre os WASP (sigla em inglês para protestantes brancos anglo-saxões) frustrados, que não compunham mais a maioria da população estadunidense.

Na década de 1950, a promulgação da lei contra a segregação nas escolas públicas despertou novamente algumas paixões, e cruzes se acenderam. Seguiram-se batalhas, casas dinamitadas e novos crimes (29 mortos de 1956 a 1963, entre eles 11 brancos, durante protestos raciais). Os klanistas tentaram se reciclar no anticomunismo, combatendo os índios ou atenuando seu anticatolicismo fanático.

As quimeras de Garvey tinham quebrado a solidariedade dos negros num tempo das mais pesadas ameaças; num tempo em que a Ku Klux Klan depois de 50 anos de pausa retomava a sua atividade, e quem sabe se não preparava ainda comoções mais terríveis do que aquelas a que tinha recorrido meio século antes. A primeira guerra mundial tinha também provocado nos Estados Unidos uma radicalização das condições políticas e novas correntes de ideais universalistas; acima de tudo incitou a Klan para um novo e perigoso estribilho. As tropas negras estadunidenses tinham adquirido em Paris,gosto especial por mulheres brancas; seria portanto de se esperar que indivíduos de cor viriam igualmente a importunar mulheres brancas nos Estados Unidos e que até mesmo as violentariam. Com o requinte psicológico de que o nosso século deu provas no capítulo da propaganda e no campo publicitário, estas conjeturas foram moldadas em todas as formas e com as particularidades plásticas descobertas na Europa, e depois de bem escovadas, introduzidas nos Estados Unidos. Numerosas mulheres e algumas das mais evidentes associações femininas começaram a tremer e a sentir-se ameaçadas; cada um dos negros que na Europa e no exército, de fato, se habituou a maneiras mais livres e maior segurança própria, passou a ser considerado um libidinoso errante propenso a atos de violência.

Os homens a quem dificilmente se poderia convencer de que eles também se deixariam cativar pelas negras acharam razão na propaganda da Klan por outros motivos; recordaram-se cheios de inveja de tudo aquilo que tinham ouvido e lido sobre a proverbial potencialidade de muitos negros; contaram as crianças negras de cabelo encarapinhado que viam nas ruas e quando na volta ao lar, de regresso da guerra, encontravam na sua banca de trabalho um negro ou um judeu como seu superior, na maioria dos casos não hesitaram mais e correram a alistar-se na Klan.

Os métodos da Ku Klux Klan não se haviam modificado de maneira sensível; agora, como antes, se balanceava (processo pelo qual se fazia deslizar uma vítima manietada por uma estreita barra de aço, dolorosamente, para cima e para baixo, a toda velocidade para criar atrito), espancava, extorquia, boicotava, exilava, linchava e assassinava.

Mas nada surtiu grande efeito e o declínio da Klan já tinha começado desde o fim da década de 1960, época em que só contava com algumas dezenas de milhares de membros. Depois, podia-se tentar distinguir os "Imperial Klans of America" dos "Knights of the Ku Klux Klan", ou ainda dos "Knights of the White Camelia", alguns dos vários nomes das tentativas de ressurgimento. Mas os klanistas não eram mais uma organização de massa. Apesar das proclamações tonitruantes e de provocações episódicas, as "Klans" não reuniam mais do que alguns milhares de membros, comparáveis assim com outros grupelhos neonazistas com os quais às vezes mantinham relações. A organização não parece estar perto de renascer uma segunda vez.

Klan e daquilo que pudessem os noviços do século vinte idear em horrores, mercantilismo secreto, ameaças e compromissos de maior responsabilidade. Os infernos passaram a chamar-se cavernas e as reuniões passaram a realizar-se em grandes locais muitas vezes sob o céu aberto. Não raro milhares de autos vinham reforçar, guardas a cavalo e a pé cercavam o local e estavam presentes os utensílios com que se entusiasma qualquer bom estadunidense: a bandeira das estrelas, a Bíblia aberta e o punhal desembainha do a fazer pano de fundo, uma cruz em fogo, na noite, projetava uma luz estranhamente tranqüilizadora sobre as filas dos agora uniformiza-dos homens dos capuzes brancos.

De início a Klan só admitia como membros aquelas pessoas oriundas de pais brancos estadunidenses, nascidas nos Estados Unidos; além disso, os pais não podiam comungar na religião católica nem pertencer à raça judaica. Mais tarde deixou-se caducar a exigência de que os pais já deviam ser de nacionalidade estadunidense pois este ponto prejudicara em muito a solícita procura de membros para a Klan e a afluência de meios de contribuição de sócios. O candidato a aceitação era submetido do coração aos rins a interrogatórios e em seguida instruído de que os Estados Unidos não tinham sido, como se supunha, descoberto pelo judeu católico Cristóvão Colombo, mas, sim, pelo navegador nórdico Leif Ericson, e que a Klan exigia de todos os seus membros obediência cega. Seguia-se o juramento, batismo, ordenação e apostasia, com a leitura dos parágrafos da fé da Klan em que muito se tratava da raça branca e da religião cristã.

Os crimes que a nova Ku-Klux-Klan até a sua recente proibição cometeu, sobretudo nos estados do Sul dos Estados Unidos, são tão variados e numerosos, tão cuidadosamente velados e tão intimamente amalgama dos com as singularidades da vida pública naqueles estados, que nunca seria possível abrangê-los a todos. A simples crônica ou mesmo pequena revista, como nós aqui tentamos oferecer, nunca seria capaz de exprimir como o que aconteceu foi caprichoso e horrível. O mundo teve conhecimento aqui e ali de um registro especialmente alusivo nos jornais, mas depressa ele caiu no esquecimento da consciência mundial, ainda que esta fatalidade passe à posteridade, pois que não houve nenhum dos grandes escritores estadunidenses que alguma vez deixasse passar em branco atuação tão vergonhosa.

Hoje, a Ku Klux Klan conta apenas com um efetivo de 3 mil homens em todos os antigos "estados confederados", apesar do baixo número de associados, muitos não associados apoiam a organização.

Uma Brincadeira

Começou como uma brincadeira. Em 1865, 6 jovens da cidadezinha americana de Pulaski, Tennessee, resolveram espantar o tédio de um jeito diferente: fundar uma microssociedade secreta, tipo uma maçonaria particular. Bem-humorados, decidiram que os membros receberiam títulos engraçados. Então o chefe seria o "Cíclope Máximo"; o secretário, o "Grande Escriba". E por aí vai. O nome da irmandade precisaria ser algo indecifrável, imaginavam. Um deles sugeriu a palavra grega kyklos - que quer dizer círculo (de amigos, no caso). Outro achou que isso cairia bem com a palavra clã. E ficou Ku Klux Klan. A curtição deles era cavalgar à noite, incógnitos sob lençóis e fronhas brancas, para desconcertar os vizinhos. Nada demais. Só que aí a sociedade de brincadeira foi juntando cada vez mais membros.

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E a coisa degringolou. O movimento racista estava no auge, já que os escravos acabavam de ser libertados pelos vencedores da Guerra Civil Americana, os estados do Norte. E as cavalgadas noturnas viraram perseguições a negros. Em um ano a Klan já tinha virado uma organização assassina. Presente em vários estados, tinha ex-generais sulistas entre os cabeças e contava com o financiamento de agricultores, prejudicados pela alforria. Depois de inúmeros linchamentos, estupros, castrações, incêndios e enforcamentos, a Klan finalmente foi reconhecida como uma entidade terrorista e acabou banida pelo governo americano em 1872. Voltaria em 1915, mas foi perdendo prestígio ao longo do século 20. Hoje, ela tem uns 3 mil membros, que se dedicam a distribuir panfletos racistas. Ah, claro: é apenas um entre os mais de 700 grupos dedicados ao ódio em atividade nos EUA.

Terror virtual

Houve mais linchamentos de negros nos EUA quando a Klan estava proibida do que quando ela voltou em 1915. Foram cerca de 2 mil entre 1890 e 1909; e "só" 400 entre 1920 e 1939. É que a imagem da KKK já metia tanto medo que eles nem precisavam agir muito para deixar a população negra aterrorizada .

Ave, César

A saudação tradicional da KKK parece a dos nazistas. Mas é só coincidência: as duas têm origem romana. Mas não é por acaso que a Klan tenha se associado a grupos neonazistas dos EUA. Hoje eles também são contra judeus, árabes, hispânicos...

Com que roupa eu vou?

Hoje há pouca unidade na Klan, e o poder, na prática, é descentralizado. O que resiste são os modelitos feitos para destacar as hierarquias mais altas da massa de lençóis brancos: o manda-chuva local veste vermelho; a polícia secreta, preto.

A vida imita a arte

O cineasta D.W. Griffith enche a bola da KKK na superprodução O Nascimento de uma Nação (1915), que pinta a Klan como um grupo de nobres cavaleiros que salvaram o Sul dos EUA da "anarquia negra". Turbinada pelo sucesso do filme, a organização voltou na hora à ativa, após 43 anos de ostracismo.

Nonsense

A Klan tradicional louvava a Deus e ao Diabo. Hoje os membros se dizem "cristãos brancos". Mesmo assim, o nome de seu livro sagrado faz uma alusão ao Alcorão, islâmico. É o Kloran (ou "Klorão").

Nação fantasma

A bandeira dos 13 estados separatistas do Sul virou símbolo racista. É reverenciada pela Klan, e por mais gente do que se imagina: em 2001, um plebiscito apontou 65% de votos pela manutenção dela como bandeira do estado do Mississippi.

A Ku Klux Klan e a segregação racial nos Estados Unidos

INTRODUÇÃO

Entre abril e maio de 2001 a questão racial esteve presente em importantes diários e semanários do mundo, em razão de dois acontecimentos ocorridos nos Estados Unidos: o julgamento e condenação por crime racista de um ex-membro da Ku-Klx-Klan e o plebiscito no Mississipi que decidiu manter em sua bandeira um símbolo associado à defesa da escravidão

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EX-MEMBRO DA KKK É CONDENADO POR CRIME RACISTA

No dia 15 de setembro de 1963 um atentado a bomba destruiu uma igreja batista na cidade de Birmingham, no estado do Alabama provocando a morte de Cynthia Wesley, Carole Robertson, Addie Mãe Collins e Denise McNair. Eram quatro meninas negras entre 14 e 11 anos de idade. O caso, considerado um dos crimes mais chocantes da história dos Estados Unidos, também provocou ferimentos em mais de 20 pessoas que estavam reunidas no local, conhecido por ser um dos principais centros de militantes da causa negra na cidade. Naquela época as autoridades locais eram facilmente corrompidas pelas famílias brancas mais reacionárias, que manipulavam e camuflavam as investigações, já que estavam articuladas em grupos racistas que lutavam pela supremacia branca, como a Ku Klux Klan. Inclusive, o caso não foi julgado antes porque as autoridades, incluindo um ex-diretor do FBI, não acreditavam que Thomas Blanton pudesse ser condenado por um júri do Alabama.

Agora, após 38 anos a cidade de Birmingham sente-se um pouco mais redimida. No dia 1 de maio de 2001 o júri do Estado do Alabama condenou à prisão perpétua o ex- membro da KKK, Thomas Blanton, acusado de ter participado do atentado que matou as quatro meninas em 1963. Dos quatro autores da explosão, somente Thomas Blanton permaneceu vivo e sua condenação está sendo considerada muito significativa para uma cidade que já chegou a ser chamada de BoMbingham, devido aos constantes atentados de que foi palco.

ELEITORES DO MISSISSIPI MANTÉM SÍMBOLO RACISTA

Se a justiça do Alabama está fazendo uma espécie de "mea culpa", com a condenação de Thomas Blanton, a população do Mississipi parece justificar o escritor William Falkner, que uma vez chamou sue Estado natal, o Mississipi, de o "lugar onde o passado nunca morre".

Através de um plebiscito realizado no dia 17 de abril de 2001, a ampla maioria dos eleitores do Estado do Mississipi optou em manter sua bandeira de 107 anos de idade, que ostenta, em seu canto superior esquerdo, o símbolo utilizado pelos sulistas (confederados) na Guerra Civil norte-americana, a Guerra de Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865, que deixou um salde de 600 mil mortos. A cruz azul contendo 13 estrelas brancas é considerada uma referência ao passado racista dos Estados Unidos, já que os sulistas lutavam pela manutenção da mão-de-obra escrava, que sustentava a riqueza dos latifundiários agro-exportadores de tabaco e algodão.

A decisão faz do Mississipi o único Estado americano a preservar um sinal da luta separatista em seus símbolos oficiais. A preferência pela velha bandeira alcançou 65% do eleitorado, contra 35% que preferiam trocá-la por uma bandeira contendo no canto superior esquerdo um circulo de estrelas.

Durante décadas, políticos e membros da comunidade negra tentaram se livrar da cruz, considerada uma apologia ao racismo. Os negros representam cerca de 1/3 do eleitorado no Mississipi e mesmo seu apoio mássico à mudança não teria sido suficiente. Muitos inclusive, não chegaram a se empolgar com a campanha e nem apareceram para votar, o que demonstra uma certa frustração diante de algo tão abominável e ainda presente no mundo de hoje, como a segregação racial.

A GUERRA DE SECESSÃO: ORIGENS E DESDOBRAMENTOS

Ao formalizar a criação de uma República Presidencialista e Federalista, a Constituição norte-americana de 1787, concedia autonomia para cada Estado decidir por seu destino em vários aspectos, inclusive no tocante à mão-de-obra. Nesse sentido nem a independência dos Estados Unidos em 1776 e nem a Constituição, irão representar algum avanço para população negra nos estados sulistas, que permanecem com mão-de-obra majoritariamente escrava. A manutenção da escravidão no sul (atual sudeste), associada ao latifundiário, contrastava-se cada vez mais com o norte (atual nordeste), industrial e abolicionista.

Durante a primeira metade do século XIX a integração de novos territórios através de aquisição ou de guerras transformou os Estados Unidos num grande país. O crescimento foi intenso e acompanhado de um rápido aumento da população, muitos imigrantes europeus atraídos pela facilidade de adquirir terras. Esse cenário torna ainda mais flagrante, o antagonismo entre o norte e o sul.

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No norte, o capital acumulado durante o período colonial, criou condições favoráveis para o desenvolvimento industrial cuja mão-de-obra e mercado encontravam-se no trabalho assalariado. A abundância de energia hidráulica, as riquezas minerais e a facilidade dos transportes contribuíram muito para o progresso da região, que defendia uma política econômica protecionista. Já o sul, de clima seco e quente permaneceu estagnado com uma economia agro-exportadora de algodão e tabaco baseada no latifúndio escravista. Industrialmente dependente, o sul era ferrenho defensor do livre-cambismo, mais um contraponto com o norte protecionista.

O Acordo de Mississipi em 1820 proibia a escravidão acima do paralelo 36o40â??. Em conseqüência, o presidente Monroe, que assinara o tratado, foi homenageado com a denominação de "Monróvia", para capital do Estado da Libéria, fundado na África em 1847, para receber os escravos libertados que quisessem voltar à sua terra.

Em 1852, Harriet Beecher Stowe publicou a romance abolicionista A Cabana do pai Tomás, que vendeu 300 mil cópias só no ano de sua edição, sensibilizando toda uma geração na luta pelo abolicionismo. Dois anos depois surgia o Partido Republicano, que abraçou a causa do abolicionismo. Em 1859 um levante de escravos foi reprimido na Virgínia e seu líder John Brow foi enforcado, transformando-se em mártir do movimento abolicionista.

Em 1860 o ex-lenhador que chegou a advogado Abraham Lincoln, elege-se como primeiro presidente pelo Partido Republicano. O Partido Democrata, apesar de mais poderoso, estava dividido entre norte e sul, o que facilitou a vitória de Lincoln. Apesar de sempre ter assumido posições apenas moderadas em relação à escravidão, Lincoln era visto pelos latifundiários escravistas do sul como um verdadeiro revolucionário e em 20 de dezembro de 1860 iniciava-se na Carolina do Sul um movimento separatista, que seguido por outros seis Estados, reuniu-se no Congresso de Montgomery no Alabama, decidindo pela criação dos "Estados Confederados da América".

A secessão estava formalizada e o norte não poderia aceitar. Iniciava-se assim em 1861 a maior guerra civil do século XIX, a Guerra de Secessão, também conhecida como "Guerra Civil dos Estados Unidos" ou ainda como "Segunda Revolução Norte-Americana", que se estendeu até 1865 deixando um saldo de 600 mil mortos.

Enquanto o sul possuía apenas 1/3 dos 31 milhões de habitantes do país e somente uma fábrica de armamentos pesados, o norte já contava com um sólido parque industrial, uma vasta rede ferroviária e uma poderosa esquadra. Mesmo com esse contraste totalmente desfavorável, foi o sul que lançou a ofensiva, criando uma nova capital -- Richmond -- e elegendo para o governo Jefferson Davis, que a 12 de abril de 1861 atacou o forte de Sunter. Inicialmente, a guerra mostrava algumas vitórias do Sul, que em 1862, instituiu o serviço militar obrigatório e convocou toda população para guerra.

A Guerra de Secessão é considerada a primeira guerra moderna da história, fazendo surgir os fuzis de repetição e as trincheiras, que irão marcar de forma mais acentuada, a Primeira Guerra Mundial entre 1914 e 1918. As novas técnicas eliminam o sabre e o mosquete, pois a luta corpo a corpo tornava-se cada vez mais difícil. No mar surgiam os couraçados, modernas embarcações responsáveis pelo decisivo bloqueio naval que o norte impôs sobre o sul.

Em setembro de 1862 foi abolida a escravidão apenas nos estados rebeldes. A abolição efetiva só ocorreu em 31 de janeiro de 1865. Em 9 de abril de 1865 o general sulista Robert Lee oficializa o pedido de rendição ao general nortista Ulisses Grant. Alguns dias depois Lincoln é assassinado pelo fanático ator sulista John Wilkes Booth.

Com um saldo de 600 mil mortos e o sul devastado, a guerra radicalizou a segregação racial surgindo associações racistas como Ku-Klux-Klan, fundada por brancos reacionários em Nashville no ano de 1867.

A KU-KLUX-KLAN

Com origem na atuação de veteranos confederados sulistas desde 1865, a fundação da Ku-Klux-Klan ocorre dois anos depois em Neshville, com o objetivo de impedir a integração dos negros como homens livres com direitos adquiridos e garantidos por lei após a abolição da escravidão.

Como sociedade secreta racista e terrorista, a Ku-Klux-Klan, também conhecida como "Império Invisível do Sul", era presidida por um Grande Sacerdote, abaixo do qual existia uma rígida hierarquia de cargos dotados de nomes sinistros como "grandes ciclopes" e "grandes titãs". O traço característico de seus membros era o uso de capuzes cônicos e longos mantos brancos, destinados a impedir o reconhecimento de quem os usava.

A intimação contra os negros atingia também em menor escala brancos que com eles se simpatizavam, além de judeus, católicos, hispânicos e qualquer forasteiro que se posicionasse de forma contrária aos interesses da aristocracia sulista. A prática de terror dava-se desde desfiles seguidos por paradas com manifestações racistas, até linchamentos, espancamentos e assassinatos, passando ainda por incêndios de imóveis e destruição de colheita.

Proibida em 1877, em decorrência de seus atentados racistas, a Ku-Klux-Klan foi reorganizada em Atlanta, tornando-se um numeroso grupo de pressão com cerca de 1 milhão de membros em 1922. Decadente às vésperas da crise de 1929, fortaleceu-se na década de 1960 em oposição à política democrata de integração racial, sendo fortemente combatida pelo presidente Lyndon Johnson (1963-69). Destaca-se na luta contra o racismo os líderes negros como Martim Luther King e Malcom X, além de organizações como os Panteras Negras.

Apesar do congresso norte-americano ter tentado extinguir a atuação da Ku-Klux-Klan com a aprovação de leis, manifestações racistas ainda fazem parte da rotina de várias regiões dos Estados Unidos nesse início de milênio.

As muitas vidas da Ku Klux Klan

A organização racista nasceu após a Guerra de Secessão, mas seus fantasmas assombram até hoje os Estados Unidos.

Estamos em 1865. Em um sul devastado, arruinado pelo desemprego e pela miséria, jovens veteranos da confederação sulista, o conjunto de estados que se separou da união, inventam algo para passar o tempo.

No dia 24 de dezembro, em Pulaski, obscuro centro administrativo do Tennessee, seis deles - Calvin Jones, Frank McCord, Richard Reed, John Kennedy, John Lester e James Crowe - se reúnem para fundar uma associação. Nada de política. A idéia era apenas prolongar a fraternidade das armas. Respeitando a tradição dos clubes de estudantes, os colegas batizaram a comunidade com um nome cercado de mistério.

Egresso do center college do kentucky, kennedy adotou a palavra grega kuklos, que significa "círculo". Crowe a dividiu em dois e mudou o final, chegando a "ku klux". Observando que os fundadores eram de origem escocesa, lester propôs acrescentar ao nome uma evocação ao "clã", em harmonia com a ortografia adotada. Crowe achou divertida a idéia de fantasiar os membros, assim como seus cavalos, com panos e capuzes roubados da casa de seus hóspedes. Assim nascia a ku klux klan.

O que começou como uma brincadeira logo mudou de natureza. Os desfiles mascarados, realizados pelos seis amigos, tinham como objetivo aterrorizar os negros, sem instrução e supersticiosos, que acreditavam cruzar com os fantasmas dos confederados mortos em combate. Instrumentalizavam, portanto, o medo do além. Os sulistas empobrecidos viram nisso uma oportunidade de trazer de volta para o trabalho nas plantações os 4 milhões de negros que Abraham Lincoln tinha liberado com a Proclamação da Emancipação de 1o de janeiro de 1863. Não precisava de mais nada para os encapuzados seguirem com sua perseguição. Sob o pretexto de manter a ordem, divertiam-se em aterrorizar os negros, utilizando diversos dispositivos para dar credibilidade a seus poderes sobrenaturais: ossos de esqueletos escondidos sob os tecidos com que se cobriam, para apertar a mão dos antigos escravos alforriados, abóboras habilmente recortadas, que colocavam e retiravam rapidamente, para evocar a lenda do cavaleiro sem cabeça etc.

A Klan adquiriu, assim, uma sólida notoriedade na região. Para evitar as denúncias, o segredo se tornou um componente essencial da pequena comunidade, ajudado pelo anonimato garantido pelo capuz e reforçado pelo uso de títulos esotéricos e ritual iniciático: numa seleção impiedosa, o infeliz candidato a membro era punido por sua curiosidade, sendo fechado em um tonel e empurrado para rolar de um barranco.

Tentados pela perspectiva de aplicar, impunemente, trotes contra negros, candidatos das cidades vizinhas afluíam. Os de Athens, no Alabama - onde os professores do Norte tratavam os alunos negros em igualdade com os brancos -, foram os primeiros a introduzir o castigo físico, ao mergulhar numa fonte gelada um negro que viram montar a cavalo com uma professora. Em menos de um ano, os "Atenienses" foram seguidos por centenas de outros grupos mais ou menos autônomos. Quanto mais a Klan se desenvolvia, mais a gama de violências aumentava. No começo de 1867, em Nashville, no Texas, o núcleo de Pulaski, sentindo-se ultrapassado pelos acontecimentos, tentou retomar o controle das operações.

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Adotou uma proclamação dos princípios fundamentais da Klan, definidos como uma "instituição cavalheiresca, humanitária, misericordiosa e patriótica". Estipulou-se um organograma - um tipo de hierarquia medieval fantasiada, que estabelecia diferentes filiais. Foram redigidos o regulamento e as dez questões colocadas aos postulantes. Cada estado tornou-se um reinado governado por um Grande Dragão; cada distrito era um domínio, dirigido por um Grande Titã; cada condado ou província ficava sob a autoridade de um Grande Gigante. Tudo constituía o "Império Invisível", dominado pelo Grande Feiticeiro. As funções mais modestas eram ligadas a títulos como Grande Monge, Grande Escriba ou Grande Turco.

O dever sagrado de qualquer klanista era "a manutenção da supremacia da raça branca na república". Um objetivo justificado pela sacrossanta "psicologia" (os negros são verdadeiramente homens?) e por uma teologia rudimentar: "O Criador, nos elevando dessa forma acima do nível ordinário dos humanos, quis nos dar, sobre as raças inferiores, um poder que nenhuma lei humana pode nos retirar de maneira permanente". Corolário político: apesar de jurar fidelidade à Constituição americana, da qual se vê herdeiro exclusivo, por ser branco, o klanista prestava juramento de "se preservar" das leis do governo federal, cujo poder era declarado "arbitrário e ilícito". A ruptura com a legalidade foi, assim, consumada. A Klan se tornou um contrapoder clandestino. Sustentada pela maioria dos brancos do Sul e composta por "tipos incômodos" recrutados em todas as classes sociais, a Klan devia sua eficácia sobretudo a seus altos dignitários, dos quais a maior parte eram antigos oficiais confederados. Previsto para ser o primeiro Grande Feiticeiro da KKK, o general Robert Edward Lee, ex-comandante-chefe dos exércitos do Sul, declinou o convite, mas aceitou ser o presidente "invisível".

Para a presidência efetiva designou, em 1867, outra estrela lendária, o general Nathan Bedford Forrest. Ele havia acumulado uma fortuna como mercador de escravos e suas tropas massacraram os soldados negros que se renderam em Fort Pillow, aos gritos de "Matem os negros!". Era o homem de que a Klan precisava. Uma de suas manobras consistiu, em 1869, em proceder à dissolução solene da organização. Na realidade, Forrest blefava e sua intenção era colocar o "Império" numa clandestinidade cada vez maior.

PARTE 2