CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Porque a TV digital nao emplaca no brasil

digitaltopoPor Marco Gomes (2009) - Conversores caros e complicados, áreas de sombra, poucas opções de canais e até a falta de interatividade atrapalham o caminho da TV digital no Brasil. Iniciada em meados de 2007, a TV digital (DTV) no Brasil já tem dois anos e ainda engatinha, lentamente. Preço alto dos conversores, atraso no cronograma de implantação, não padronização da transmissão, perda de sinal e dificuldade de instalação são alguns dos empecilhos enfrentados pelos telespectadores. A penetração da TV digital neste um ano de operação não atingiu as expectativas.

Contribuiram para isto o preço dos conversores, as dificuldades de cobertura e a quantidade limitada de programas. O preço dos conversores se mostrou um desafio para a popularização da TV digital no Brasil.

Os set-top-boxes tiveram preço médio avaliado entre R$ 700,00 e R$ 800,00. (Teleco Consultoria) Com uma média de 3,5 usuários por aparelho, o Brasil tem 40 milhões usuários de TV, destes, apenas 250 mil, 0,3% do total, recebem o sinal digital implantado em 2007.

Concordo com Gustavo Gindre, um dos representantes da sociedade civil no Comitê Gestor da Internet no Brasil e integrante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, a baixa atratividade da TV digital é causada pelo modelo equivocado adotado aqui.

O uso do padrão japonês de modulação, juntamente com a opção da nova tecnologia feita pelas emissoras, não oferece ao telespectador interatividade automaticamente integrada com o aparelho.

A única vantagem da DTV brasileira é a imagem com alta qualidade e, por isso, enfrenta concorrência de outras mídias que oferecem mais canais e funcionalidades interativas, como a TV por assinatura, IPTV e a internet.

“A TV digital aberta no Brasil é a velha TV aberta analógica, apenas com uma imagem melhor – e, mesmo assim, somente onde não há áreas de sombras”, nas palavras de Gindre.

Grandes oportunidades de transformações foram negligenciadas em por conta dos interesses dos radiodifusores e não há razão para que o cidadão deseje comprar um set top box.

Se quer serviços interativos, o usuário tem a internet. Se quer muitos canais, vai para a TV paga ou para a TV a Gato. Por essas e outras, a penetração da TV digital aberta ainda é baixíssima e não há perspectivas realistas da curva de adoção mudar nos próximos anos.

Mesmo nos principais centros urbanos a cobertura de antenas é deficiente, seja por características topográficas, comuns em áreas com acidentes geográficos como o Rio de Janeiro, ou por extensão de área e mistura de sinais, comuns em São Paulo.

Isso se deve, principalmente, pelo fato que as antenas, emissoras e receptoras, precisam ter visibilidade direta entre si para otimizar a recepção do sinal digital. Se há prédios, árvores ou outros obstáculos entre as antenas o sinal pode ser anulado.

A escolha e a instalação da antena são complicadas, podendo ser de diferentes modelos UHF, com ou sem uso de amplificadores, externos à residência fazendo uso de mastros para elevá-la, evitando obstáculos entre ela e a transmissora.

É preciso ficar claro que não existe fórmula mágica nem antena que sirva duas pessoas ao mesmo tempo, em nenhum lugar deste país.

A antena que funcionou muito bem na casa do seu vizinho do prédio do lado não irá funcionar necessariamente igual ou melhor na sua.

Paulo Roberto Elias

Após instalar a antena, a escolha do receptor é o novo obstáculo a ser vencido pelos usuários. Os modelos são variados, não padronizados, e a atualização de software só pode ser feita em uma loja autorizada.

Existem dois tipos físicos de conversores disponíveis para o mercado brasileiro, os externos, que são acoplados a TV que o usuário já tem, e o que vem já embutido na TV, recurso presente principalmente nos aparelhos mais modernos com tela LCD. O uso de conversores externos é mais comum porque o preço é mais competitivo, e, caso o modelo escolhido não seja satisfatório, a troca é menos dispendiosa.

A DTV brasileira aparentemente não teve tempo suficiente para um beta-test. Os chamados set-top boxes, que são conversores externos instalados para converter o sinal digital para o sinal que pode ser interpretado pela TV, constantemente estão incompletos ou vêm com bugs de fábrica.

É necessário reescrever o software embarcado em cada um e disponibilizá-los aos usuários, mas a atualização do firmware só pode ser feita em manutenções autorizadas pelo fabricante, dificultando o upgrade massivo.

Não existem conversores à venda hoje com funcionamento totalmente perfeito, e se dependesse das opiniões negativas divulgadas por vários sites na internet, o usuário indeciso não compraria nenhum.

Paulo Roberto Elias

A TV digital no Brasil ainda tem um longo caminho pela frente antes de se tornar interessante para ações interativas, principalmente porque o padrão japonês não traz interatividade integrada.

Além disso precisamos melhorar a distribuição do sinal e a qualidade do material transmitido, padronizar e amadurecer os set-top boxes, viabilizar sinal via satélite e multiprogramação, e, principalmente, baratear os conversores.

“Comprei o conversor e vi TV digital por um dia”, relata aposentado

DIÓGENES MUNIZ - Editor de Informática da Folha Online

Empolgado com o que ouviu falar sobre as belas imagens da TV digital, o ferroviário aposentado José Carlos Lage, 58, da Barra Funda (zona oeste de SP), comprou no fim do mês passado um conversor para receber a TV digital. Optou pelo modelo mais barato, o DigiTV da Positivo –R$ 499, em três parcelas. “Funcionou só um dia”, relata.

Num primeiro instante, ele avaliou ser um problema no controle remoto do “set-top box”. Comprou pilhas. Nada. Depois, foi incentivado por um vendedor a adquirir uma antena da Philips “própria para a TV digital”. “Compramos por R$ 39. Colocamos no lugar mais alto da sala e conectamos no conversor, como orientaram. Aí [o conversor] parou de funcionar de vez, nem ligava mais a ‘luzinha’ do equipamento.”

Segundo o presidente da Positivo Informática, alguns aparelhos conversores da companhia já precisam ter o sistema “atualizado”

O aposentado resolveu então levar o produto para a loja, mas os sete dias previstos para a troca já haviam expirado. “Eles disseram também que não tinham mais no estoque.” A Positivo suspendeu temporariamente a produção dos aparelhos, alegando ter estoque suficiente para mais “alguns meses”.

“Mesmo quando [a TV digital] estava pegando, vários canais não apareciam direito”, conta Lage. Sua saga, até onde relatou à reportagem, acaba na assistência técnica, na última segunda-feira (2). Ele entregou o aparelho para o conserto, sem previsão de entrega. “Uma pena, porque a gente que é aposentado acaba ficando na TV, mesmo”, lamenta.

Infortúnios digitais semelhantes são relatados por dezenas de consumidores em fóruns da internet. Para algumas pessoas, poucos canais funcionam, por conta das sombras na transmissão ou pela potência irregular dos transmissores. Para outras, nem o conversor funciona.

Segundo Hélio Rotenberg, presidente da Positivo, a companhia teve “algumas devoluções, mas nada significativo”. Ele diz que alguns aparelhos precisam ter seu sistema atualizado, “mas funcionam normalmente”.

Juliano Castilho, diretor da área de TV digital do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), defende que o consumidor tenha acesso, no momento da compra, a um mapa padronizado com os problemas que pode enfrentar na recepção.

“A indústria não se preparou para vender o conversor”, cutuca o ministro Hélio Costa (Comunicação), em entrevista à Folha Online

“O varejo deveria ter os mapas das transmissões, com zonas de sombra [onde o sinal não chega]. Isso já acontece no próprio Japão. Mesmo porque, só vou comprar um negócio se souber que vou levar pra casa e vai funcionar”, diz Castilho.

A Philips mantém em seu site um mapa –restrito e contestado por técnicos– sobre a recepção da TV digital na capital paulista. Nele, a região onde mora o aposentado José Carlos Lage tem sinal “bom”.

Segundo ministro das Comunicações, Hélio Costa, a falta de orientação prejudicou os consumidores. “Vendeu-se o conversor, mas não se vendeu a antena UHF. Isso fez um verdadeiro estrago na TV digital brasileira. De repente ficou, parecendo que a transmissão é que é fraca, que há problemas com TV. Quando, na verdade, o problema está entre o vendedor dos aparelhos e o local onde a TV está”, afirma.

Os perigos da TV Digital, no Brasil....

Convencido pelos moderadores que não há demanda suficiente para criar um fórum para discutirmos TV digital, acredito também que não há necessidade de se criar um tópico ENORME explicando o que é TV digital pois se você digitar TV Digital no google há centenas de milhares de tópicos explicando o mesmo assunto em diferentes lugares.

Mas eu acho interessante criar um tópico explicando os perigos que estão por vir com a TV Digital, não ninguém vai morrer fisicamente, mas poderá morrer de desgosto.

Antes da copa do mundo, uma TV de plasma custava cerca de R$15.000,00 para mais, mêses antes da copa do mundo as lojas, especialmente as Casas Bahia, começaram a oferecer o mesmo aparelho de TV da LG por cerca de R$10.000,00 e o preço foi baixando cada vez mais. Como eu já tinha experiência do que era Tv de alta definição eu via amigos meus caindo nessa arapuca de aproveitar os baixos preços para comprar um telão de plasma, digo arapuca pois ao ver aquelas imagens todas borradas mesmo em DVD eu fiquei surpreso de chamarem aquilo de "HDTV READY".

Eu avisei que era besteira investir em um produto que se dizia "HDTV READY" sendo que na época o sistema brasileiro de transmissão digital sequer estava definido, ele apontava para este ou aquele sistema mas nada até então foi definido. Mesmo assim os "amigos" achavam mais interessante dar ouvidos para as promoções e parcelamentos acessíveis para ter uma nova TV em casa do que escutar um amigo dizendo que compensava esperar mais um pouco.

O Problema dessas "HDTV READY" é que elas são "Prontas para HDTV", HDTV=Televisão de Alta Definição, elas não são HDTV pois será necessário usar um adaptador para receber os novos sinais de transmissão digital para que a sua "HDTV READY" possa exibí-las. Notém porém que como será vendido um adaptador, qualquer TV que nós já temos é "HDTV READY", inclusive aquela TV antiga que você aposentou para comprar um novo telão só porque ele era "HDTV READY" caiu do cavalo, pois esses aparelhos nada mais são do que EDTV com resolução nativa de 480i/p e através de interpolação conseguem 720p, interpolação a leigos termos significa que através de "truques eletrônicos" você duplica a quantidade de linhas.

Então agora o mercado abandonou o termo "HDTV READY" para adotar o novo "jargão" chamado Full HD que significa Full High Definition. A LG já começou a um tempo atrás a publicar isso, muitos outros virão, a SONY estava vendendo um produto equivalente até semana retrasada por R$45.000,00 por "algum motivo" removeu ela do site. E ainda assim essa TV da LG não tem em sua especificação se ela é compatível com o novo sistema digital brasileiro.

Eu encontrei com os amigos que compraram na época aquelas "HDTV READY" dá para notar a cara de desgosto quando eles viram que hoje tem uma TV muito superior a que eles compraram na época e mais barato, conheço gente que ainda estão pagando a TV e tem gente pensando em comprar uma mais nova, ou seja aqueles R$10.000,00 que eles pagaram antes foi jogado pela janela.

Passado a questão da TV agora tem o problema da TV digital, todo mundo já se preparando para comprar uma TV nova para desfrutar da nova transmissão digital brasileira É apenas eu que não está tão animado?

Procurem nos sites da época da copa que se falava muito do Sistema de Alta Definição, TV de Alta Definição.... Hoje se fala apenas em TV Digital
http://www.dtv.org.br/

A TV Digital está relacionada apenas com a transmissão, não significa que será em alta definição, será que deixaram o antigo jargão de lado para evitar processos? Já que se você fala aos quatro ventos que vai ser "Alta definição" o mínimo que se espera é 720p pra cima.

E mesmo aqueles que compraram as TV's "HDTV READY", quando (e se) houver mesmo alguma transmissão em alta definição, os adaptadores que serão vendidos nada mais serão que conversores que vão pegar um sinal digital e converter para analógico, para conectar estes aparelhos nas TV's provávelmente você vai conectar com cabos de vídeo composto, S-VIDEO ou RF(antena), o problema dessas conexões é que o sinal fica limitado a 480i.

E o que nós perdemos com isso?
Veja as imagens abaixo como exemplo, as imagens não serão reduzidas para que seja possível uma comparação lado a lado delas:

 

digital1

 

Essa imagem é um exemplo do que é uma transmissão digital em alta definição, já a imagem abaixo é o que você vai ter usando o adaptador:

 

digital2

 

Como vocês podem ver a qualidade é bem diferente daquilo que foi prometido. Para nível de comparação, veja o tipo de sinal que recebemos hoje em dia:

 

digital3

 

A imagem acima foi capturada da TVA DIGITAL com sinal S-VIDEO, já dá para ter idéia da discrepância que é a coisa. E não é problema da placa de captura pois eu não utilizo nenhuma, utilizo um conversor de normas ou conversor de vídeo da CANOPUS ADVC-300 através de conexão IEEE1394, para quem está acostumado com captura desse tipo sabe que o sistema captura a imagem como ela é, se a imagem é boa a captura é boa e vice versa.

É com essa qualidade que o sistema captura vídeo usando a mesma conexão S-VIDEO para demonstrar que não foi perda na captura:

 

digital4

 

A captura acima foi feita de uma filmagem que eu fiz no Japão para mostrar ao pessoal aqui do Brasil como são as casas por lá.

Pelos exemplos acima acredito que deu para deixar claro que a TV Digital não vai ser aquela coisa como todos esperam, pois as emissoras pretendem usar mais de um canal que a transmissão digital oferece, o problema é que para transmitir um canal em Full HD (1080 linhas progressivas ou não) o sinal precisa usar toda a banda.

Além disso para quem perdeu, o adaptador que será vendido é limitado segundo reportagem da Folha de São Paulo:
O receptor de TV digital fabricado pela Encore do Brasil, um dos modelos com preço na faixa de R$ 200, anunciada pelo Ministério das Comunicações será limitado, ou seja, não terá a capacidade máxima de resolução da TV digital: 1.080 linhas.

Segundo essa outra reportagem da Folha:
"Muita gente acha que ter uma TV de plasma ou LCD qualquer com um receptor digital embutido já dá para receber o melhor conteúdo em alta definição, quando, na verdade, você precisa de uma Full HD para ter a alta definição total", explica Amaral.

Mas ninguém explicou isso à população naquela época do "HDTV READY", eu não tenho bola de cristal, pode ser que que realmente haja canais em alta definição, porém, pelo jeito que a coisa está indo não estou tão animado em comprar uma TV Full HD ou com a TV DIGITAL pois da mesma forma da onda do "HDTV READY" os mais apressados vão cair do cavalo novamente.

De quê adianta uma TV DIGITAL sendo que o maior atrativo dela é a alta definição de imagem e o governo investiu 6 Milhões para desenvolver "software de interatividade":
O ministério disse que não investiu na produção de receptores para a televisão digital, somente destinou quase R$ 6 milhões para o desenvolvimento do software que vai permitir a interatividade.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/d...1u335049.shtml

Então cuidado com a pressa para não trocar os pés pelas mãos e ser enganado mais uma vez, se não houver nenhum canal interessante em alta definição, compensa mais você continuar com a sua TV e investir apenas no conversor, a não ser que comecem a aparecer os aparelhos Blue Ray e HD-DVD a preços mais acessíveis ainda não compensa investir em uma TV Full HD e não se animar muito com a TV Digital Brasileira.

Só complementando:

1- Inicialmente serao vendidos conversores com saidas s-video, RF e afins, visando o mercado low-end.

2- Conversores com saidas HDMI e componente (capazes de exibir sinais 720p, 1080i ou 1080p sairão em uma proxima etapa, custando mais caro.

3- A NET, TVA satelite e afins usam sistema digital DVB, baseadas no sistema digital europeu. Porém, transmitem em resolucao EDTV, logo , apesar de ser digital, a qualidade de imagem vai ser praticamente igual ao sinal analogico.

4- DVD em TVs LCD e plasma só ficam prestáveis usando cabo HDMI ou video componente, preferencialmente usando aparelho de DVD que suporte upscalling. Se usar cabos RCA ou s-video, a imagem vai ficar uma caca mesmo...

5- Essa tabela comparativa mostra as resoluçoes de TVs, qualquer coisa acima de 720i/p já é considerada HDTV. A maioria das TVs LCD e plasma vendidas por aqui são 720p.
http://en.wikipedia.org/wiki/Template:TV_resolution
480i - The picture is 704x480 - (60/2 interlaced frames per second)
= 30 complete frames per second.
480p - The picture is 704x480 - 60 complete frames per second.
720p - The picture is 1280x720 - 60 complete frames per second.
1080i - The picture is 1920x1080 - (60/2 interlaced frames per second)
= 30 complete frames per second.
1080p - The picture is 1920x1080 - 60 complete frames per second.
6- Apesar de 720p e 1080i parecer uma diferença gritante, essa diferenca de imagem só é perceptivel vendo a imagem muito próxima a tela. E dependendo do tamanho da tela e da distancia, voce não percebe a diferença entre um sinal EDTV ou HDTV, só pagando mais caro por um produto que não lhe retornará um bom custo-beneficio:
http://www.carltonbale.com/2006/11/1080p-does-matter/


A complexa implantação da TV digital no Brasil

Roberto Andrade - Jornalista e aluno do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Jornalismo Digital da Universidade Estácio de Sá


Poucas tecnologias foram tão aguardadas nos ambientes mundiais de consumo como a TV Digital. Em uma primeira instância, seria a tão prometida convergência entre duas das mais fantásticas invenções do homem: a televisão e o computador. Um super terminal de lazer e serviços on line e interativo. Sob esta ótica, o novo produto representaria uma milionária reserva de mercado e de lucro. Mas não foi o que ocorreu. A implantação mundial da TV Digital pode ser considerada um case contemporâneo de fracasso comercial.

Presenciei o lançamento da TV Digital em 1996 na MIP TV em Cannes, até hoje a maior feira mundial de produção e programação de televisão. Na época fomos informados da revolução tecnológica que o novo produto representaria. Um protótipo nos foi apresentado em um luxuoso stand de uma TV japonesa em parceria com a Sony. A informática e a Internet estavam engatinhando no Brasil e no mundo. De lá para cá quase nada mudou em relação à TV Digital. Nos países onde se desenvolveram formatos e padrões próprios, o usuário não transformou a empolgação tecnológica em vendas. Pelo contrário, muito se investiu nos últimos anos e, até agora, pouco se colheu. E o poderoso e fechado clube da indústria digital odeia não lucrar.

Este conflito na viabilização de um produto com enorme potencial mercadológico começa agora a ser analisado e compreendido. Os problemas surgiram junto com as primeiras idéias de solução, ao se imaginar que bastaria escolher entre um dos três padrões existentes: americano (ATSC), europeu (DVB) ou japonês (ISDB). No Brasil, os estudos para implantação da TV Digital foram conduzidos pela Anatel e CPqD, ligados ao Governo federal. E pela SET/Abert, entidade representativa das empresas de comunicação. No final do governo Fernando Henrique Cardoso, o Ministério das Comunicações já sentenciava que não havia consenso em relação ao assunto: “a penetração da TV Digital está menor que a esperada nos EUA e na Europa. Porque nós, brasileiros, devemos acelerar esta decisão?”, afirmou em outubro de 2002 o ministro Juarez Quadros. Politicamente, a decisão sobre formatos e legislação foi repassada para o novo governo.

De fato, as plataformas existentes de TV Digital representam os interesses de grupos privados internacionais apoiados por forte lobby dos seus governantes. São padrões técnicos desenvolvidos para atender mercados próprios que não estão obtendo sucesso nos países de origem. Nos Estados Unidos, existem mais transmissores digitais que receptores. Na Inglaterra, a emissora de TV Digital ITV fechou as portas em maio deste ano. E no Japão, a transmissão digital pelo ar ainda não começou e a por satélite é um fracasso comercial.
A aplicação dos sistemas existentes, o mercado potencial de equipamentos, a consequente prestação de serviços, a geração de uma nova infra-estrutura industrial, os compromissos de isonomia e reciprocidade tecnológica e a expectativa dos usuários brasileiros em relação à TV Digital são os pontos-chave da discussão sobre que sistema deve ser adotado em nosso País.

Uma primeira pergunta deve ser feita: quem vai pagar a conta da implantação da TV Digital no Brasil? Inicialmente as emissoras de televisão, que terão que investir U$ 1,7 bilhão em dez anos destinados à substituição de transmissores e antenas, equipamentos de gravação e edição bem como recursos técnicos e de produção oriundos da oferta de novos serviços. Esta é a opinião dos grupos empresariais de comunicação e da indústria de equipamentos e de aparelhos receptores. Mas não é o que pensam representantes de entidades e associações ligadas à sociedade civil. E muito menos o Governo Federal, que já se posicionou pela adoção de um padrão nacional de TV Digital, que evite dependência tecnológica com o pagamento de royalties e licenças e que permita o desenvolvimento da indústria tecnológica nacional através da pesquisa e desenvolvimento voltados para a fabricação de equipamentos e prestação de serviços técnicos. O documento que oficializa a posição governamental, chamado Política Para Adoção de Tecnologia de TV Digital no Brasil, foi entregue pelo Ministério das Comunicações ao Presidente Lula no início de abril.

O Governo entende que a conta da implantação da TV Digital no Brasil será paga pelos usuários. São mais de 60 milhões de aparelhos de televisão que deverão ser substituídos ou adaptados com unidades conversoras (Set Top Box), para compatibilizar a recepção digital com aparelhos analógicos. Um mercado potencial de U$ 10 bilhões. Neste sentido, a política governamental determina objetivos para a TV Digital brasileira. Ela deve ser aberta, livre e gratuita para o usuário final na modalidade exclusiva de radiodifusão. Deve oferecer interatividade ao menor custo de produção de equipamentos, programas e serviços. E deve permitir a pluralidade nos conteúdos das programações.

O documento entregue à Casa Civil sugere ainda a promoção da inclusão digital, o desenvolvimento de tecnologias brasileiras, a otimização do uso do espectro, a contribuição para a convergência tecnológica e o desenvolvimento de um sistema que atenda às necessidades sociais e econômicas dos outros países da América Latina.

Ao assumir publicamente este posicionamento, o Brasil toma a dianteira em um processo arrojado de gestão pública sobre a área tecnológica. Principalmente ao combinar esta posição à decisão já tomada de apoiar a implementação de recursos de plataformas e softwares livres para a estrutura administrativa governamental. Hoje, dividimos com a China, Índia, Rússia e outros países, a vanguarda na pesquisa de formatos e padrões digitais próprios bem como a adoção de programas não proprietários na administração pública. A implantação de um padrão brasileiro de TV Digital vai incentivar a criação da infra-estrutura necessária de softwares e hardwares, acelerando de forma diferenciada o desenvolvimento da indústria de tecnologia no Brasil.

As autoridades responsáveis pela definição de políticas públicas federais na área tecnológica devem aproveitar este momento para promover um amplo debate sobre a diversificação de conteúdos na TV Digital. Em uma população de analfabetos tecnológicos como a nossa, menor importância terá a sofistificação na qualidade de imagem e som ou na interatividade de serviços que a possibilidade de multiplicar o alcance de canais e opções de programação. A quase totalidade dos telespectadores nunca teve como usufruir as vantagens da TV por assinatura.
Para os brasileiros das classes C, D e E acessar centenas de canais através dos seus próprios aparelhos de televisão analógicos adaptados aos conversores set top box interessa muito mais que a possibilidade de abrir e-mails ou fazer compras pela TV. O telespectador não tem o mesmo perfil do usuário do PC. E a TV Digital terá que refletir sobre como envolver as pessoas com seus novos serviços e como não ofuscar o bem sucedido mercado do entretenimento.

Fundamental para a indústria, para o setor público e para a sociedade é a compreensão que em nosso País o computador vive um estágio mercadológico muito diferente da televisão. Estima-se que existam hoje no País cerca de 16 milhões de computadores. Não se sabe quantos estariam nas residências. No entanto, contamos com mais de 60 milhões de aparelhos de TV instalados dentro das casas e em todo tipo de lugar. O debate para viabilizar a TV Digital no Brasil terá, portanto, muito mais elementos ligados à satisfação das demandas da mídia televisiva que os da conectividade e interatividade.

Governo e sociedade deveriam aproveitar esta oportunidade de transformação tecnológica para finalmente criar um mercado de televisão plural e democrático, que incentive as produções audiovisuais em todas as regiões e afirme nosso País como pólo soberano de criação cultural e intelectual. A implantação da TV Digital deve permitir o surgimento de uma nova televisão. E não, apenas, de um novo eletrodoméstico


Quais os problemas da TV Digital no Brasil?

Por FRederick Montero(FEV 2009) - Em primeiro lugar, o fato de ninguém levar à sério o mercado de entretenimento no Brasil, com exceção da Rede Globo. E quando eu digo à sério, quero dizer como uma fonte viável de negócios lucrativos.

A TV Digital brasileira foi pensada de modo perfeito como meio de educação, de integração à cidadania e de ligação com serviços do governo. Até também como forma de melhorar a propaganda de produtos através de recursos interativos. Até aí não há problema com ela, porque todas essas áreas são sempre muito esquecidas e precisam de vez em quando de um incentivo extra. Porém faltou visão para enxergar a TV Digital como um meio de entretenimento do século XX. Nessa área, pensou-se na TV Digital como se pensava a TV no século passado. Aí então provavelmente as redes de TV tem sua parcela de culpa ou por miopia, ou por ganância.

Em uma época tão multimídia como a atual, a TV ficou isolada. E isso é o resultado de não se perceber as tendências mundiais da comunicação e do entretenimento durante o seu desenvolvimento. Porque hoje em dia, não é possível pensar em entretenimento sem pensar em valores como mobilidade, flexibilidade e multiplicidade de acessos aos conteúdos. Apostar em apenas um único caminho para assistir a um bom filme ou capítulo da série favorita é ignorar os anseios dos espectadores por uma maior liberdade no contato com o entretenimento.

Em resumo, o problema da TV Digital brasileira não é o sistema em si, porque em verdade, o seu princípio é excelente. O que lhe falta é uma perspectiva que permita ver a questão de uma forma mais ampla e além do atual estágio. Porque não se pode agora acreditar que o trabalho está terminado já que o sistema foi lançado ao público. O comportamento e o hábito dos espectadores mudam constantemente e durante os anos de desenvolvimento da TV Digital no Brasil, o público deixou de aceitar passivamente a programação que as redes de televisão aberta lhe impunham.

Primeiro com a oferta de canais à cabo ou via satélite. E agora com a disponibilidade de filmes e séries de TV através da internet e da pirataria, o público constroi a sua programação à revelia do que a TV aberta oferece. Mas como a TV Digital brasileira está atrelada ao perfil antigo que as redes imaginam que os espectadores ainda tem, o ganho de qualidade de imagem e som proporcionado pelo modelo não supre a demanda por uma programação mais diversificada e específica para cada público.

E não apenas isso, ela também não satisfaz a atual pluralidade de meios de apreciação de conteúdos digitais, como iPods e telefones celulares, e muito menos o intercâmbio desses conteúdos entre diferentes gadgets. A TV fica isolada em um amplo ecossistema de aparelhos eletrônicos.

Neste contexto, a principal vantagem do sistema de TV Digital brasileiro, que é a interatividade e a linguagem Ginga, se perde por completo, porque exerce um papel secundário e menor. Os Set-top boxes que deveriam ser o centro do entretenimento digital nas casas, ficam restritos à função de apenas garantir uma recepção limpa e de melhor qualidade da mesma programação a qual os espectadores já estão acostumados. Isso pelo mesmo preço a que se paga por um produto com mais funções e importado como o AppleTV.

Acontece que o público atual não quer mais qualidade para as mesmas novelas as quais estão acostumados a ver durante décadas. Este público, que é capaz de comprar DVDs piratas em camelôs, filmados com câmeras amadoras em salas de cinema, não se importa mais tanto com qualidade, do que se importa com variedade e quantidade. Portanto, a TV Digital não agrega valor às necessidades atuais dos espectadores. Ainda mais se levarmos em conta que apenas uma parcela ínfima da população pode comprar uma televisão de alta-qualidade para perceber o ganho de imagem. Deste modo, sem um foco nas necessidades e nos hábitos dos espectadores, o sistema de TV Digital demora para se popularizar e coleciona críticas, muitas vezes injustificadas. E o pior, um dos bons projetos feitos no Brasil na área de comunicação, a linguagem Ginga para conteúdos interativos, fica presa a um peso morto que a puxa para o fundo. Todas as boas idéias e escolhas, como o Ginga e a adoção do h.264, são jogadas no mesmo saco do fracasso, como se fossem também responsáveis pela impopularidade do sistema de TV Digital brasileiro.

 

Fonte: http://webinsider.uol.com.br/index.php/2009/10/12/por-que-a-tv-digital-nao-emplaca-no-brasil/
Folha On-line
http://www.guiadohardware.net/comunidade/tv-digital/793350/
http://www.comunicacao.pro.br/setepontos/4/tvdigital.htm
http://www.dicas-l.com.br/filosofiadigital/filosofiadigital_20090224.php