CIÊNCIA E TECNOLOGIA

As trincheiras na Primeira Guerra Mundial - Parte 3

trinchei19A guerra química nas trincheiras - Como ataques diretos dificilmente conseguiam conquistar o terreno onde o inimigo estava entrincheirado ou conseguiam a um grande custo de vidas, era necessário desenvolver novas estratégias e armas para vencer o impasse criado pela guerra estática e defensiva. Os ingleses realizaram experiências sigilosas com tanques, enquanto os alemães se dedicaram no desenvolvimento do gás cloro (CI2). O gás cloro foi proposto como arma pelo cientista alemão Fritz Harber, Prêmio Nobel de química de 1912, ...

e usado pela primeira vez na tarde de 22 de abril de 1915, pelos alemães, no início da Segunda Batalha de Ypres, atingindo 15 mil combatentes, matando 5 mil e incapacitando temporariamente 7 mil. As primeiras vítimas do gás, os argelinos que lutavam com os franceses e canadenses, recuaram cambaleantes da linha de combate, tossindo e apontando para a garganta. Os soldados ingleses e franceses da retaguarda foram surpreendidos por uma neblina verde-claro que se transformava numa nuvem branca com nuances azuladas à medida que se aproximava das tropas.

Com o uso do gás, a Alemanha infringia a Convenção Internacional de 1889, que proibia o emprego de substâncias tóxicas como armas militares. O gás foi uma arma muito útil para obrigar a saída dos soldados das trincheiras. O gás cloro é asfixiante, provocando irritação e ressecamento nas vias respiratórias, chegando a ser fatal se inalado por tempo prolongado, sendo necessária a inalação de oxigênio líquido e até uma traqueotomia (corte na parte da frente do pescoço e na traqueia para permitir a chegada de ar aos pulmões) para normalizar a respiração – manobras impossíveis em grande escala nos campos de batalha.

A máscara contra gases passa a ser acessório obrigatório para os soldados desde então, sendo adaptada também, em menor quantidade, para cavalos e cães. Ataques de gás eram realizados preferencialmente em noites e manhãs com neblina, para disfarçar a chegada da nuvem tóxica. Os vigias de ambos os lados passaram a fazer seus turnos sempre equipados com máscaras e, se possível, próximos a gaiolas onde ficavam presos pássaros, camundongos e ratos, por conta de ataques com o gás Fosgênio, que era incolor e inodor, impossível de ser percebido até que começasse a causar sufocação e queimadura nas mucosas. Diante de sinais de intenso sofrimento e morte dos animais nas gaiolas, o vigia acionava o sinal de ataque de gás e todos na área, inclusive as tropas de reserva em seus alojamentos, colocavam suas máscaras até que fosse verificado se o ar estava ou não contaminado.

Os lança-chamas eram eficientes na defesa das trincheiras, formando paredes de fogo para aqueles que conseguissem romper o arame farpado, mas foi também muito eficiente nas invasões das trincheiras inimigas, matando rapidamente grande quantidade de defensores e impedindo a aproximação dos reforços, mesmo nas trincheiras cavadas em ângulo reto, pois o fogo resvalava na parede e deslocava-se para os lados, impedindo um ataque direto inimigo por conta do calor. As guarnições de lança-chamas só eram vencidas por ataques de granadas de mão, geralmente lançadas acima das curvas da trincheira atacada ou a partir da trincheira de apoio na retaguarda. Nenhum dos lados ganhou a guerra pelo uso de armas químicas, mas estas fizeram a vida nas trincheiras ainda mais tensa e desagradável, tornando-se um dos mais temidos e lembrados horrores da guerra.

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Infantaria australiana com máscaras para gás( Ypres - 1917 )

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Guarnição alemã de lança-chamas atacando uma trincheira ( 4 de abril de 1917 )

 

As armas nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial

 

O soldado de infantaria típico era armado com rifle, baioneta e granada de mão. Armas improvisadas eram comuns nos combates iniciais nas trincheiras, como medievais maças de metal e madeira, facas de caça, porretes de madeira, martelos e soqueiras de punho. À medida que a guerra avançou, equipamentos específicos para o combate corpo a corpo foram produzidos em grande escala e as armas improvisadas foram descartadas.

Com o tempo e a necessidade, adaptaram-se treinamentos e ferramentas específicas para o combate nas trincheiras. Pequenos grupos especializados chamados “varredores de trincheiras” invadiam as trincheiras inimigas para reunir informações e eram os responsáveis por matar ou capturar os inimigos sobreviventes em trincheiras recentemente invadidas.

Os militares destes grupos eram isentos de participar de ataques frontais em grande escala e de trabalhos rotineiros como encher sacos com areia, drenar as trincheiras e reparação do arame farpado na Terra de Ninguém. Nas incursões às trincheiras inimigas, usavam pistolas ao invés de fuzis e afiadas facas ou adagas em vez das longas baionetas, uma vez que as últimas tendiam a ficar presas nos corpos dos inimigos nos combates corpo a corpo, além do comprimento mais curto das facas e adagas torná-las de manuseio mais fácil e eficiente nos estreitos espaços das trincheiras.

A granada de mão passou a ser uma das principais armas da infantaria na guerra de trincheira. Ambos os lados foram rápidos para treinar grupos especializados de granadeiros. A granada de mão oferecia a vantagem de atacar ou defender pequenas áreas ao invés de alvos individuais, permitindo também que fosse lançada de dentro das trincheiras sem a necessidade de expor o atirador ao fogo inimigo. Os alemães e os turcos estavam equipados com granadas desde o início da guerra, mas os britânicos, não prevendo guerras de cerco, haviam cessado de usar granadeiros desde a década de 1870, e entraram no conflito praticamente sem granadeiros, por isso seus soldados tiveram que improvisar bombas com as pequenas latas usadas na distribuição da comida.

No final de 1915, os britânicos já produziam e distribuíam para suas tropas, em grandes quantidades, uma granada de mão chamada “Bomba Mills” e, até o final da guerra, 75 milhões destas granadas haviam sido utilizadas. Dispositivos mecânicos foram inventados para lançar granadas de mão em trincheiras inimigas. Os alemães usavam pequenas catapultas de metal alimentadas por mola para atirar uma granada de mão até a cerca de 460 metros. Os franceses responderam com dispositivos parecidos que alcançavam 200 metros. A partir de 1916, as catapultas para lançamento de granadas de mão foram em grande parte substituídas por granadas de fuzil e morteiros leves, que possuíam maior alcance e eram capazes de arremessar petardos mais potentes.

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Grupo alemão de granadeiros e um lançador de granada "Granatenwerfer"( 1917 )

 

As doenças mataram mais do que os tiros

 

Como em muitas outras guerras, o maior assassino da 1ª Guerra Mundial foi a doença! As condições sanitárias nas trincheiras eram muito pobres e eram comuns infecções por disenteria (doença inflamatória do intestino que resulta em fortes dores abdominais, ulceração das mucosas e diarreia, sempre acompanhada de muco e sangue, ocasionada pela contaminação de mãos, alimentos e água com fezes ou resíduos fecais), tifo (doença epidêmica transmitida por parasitas comuns no corpo humano, como piolhos, que causa febre alta, vômitos e diarreia) e cólera (transmitida através de água e alimentos contaminados, causando diarreia, náuseas e vômitos). Muitos militares sofriam com parasitas e infecções relacionadas. A falta de higiene também levou a fungos, tais como a “boca de trincheira” (inflamação necrosante na gengiva causada por baixa no sistema imunológico devido a precárias condições de higiene ou estresse prolongado) e “pé de trincheira” (exposição prolongada dos pés fechados dentro de um calçado à umidade ou ao frio intenso, causando a diminuição da circulação sanguínea, dormência, inchaço e feridas por morte celular, culminando numa necrose que torna necessária a amputação). Outro assassino comum foi o congelamento, uma vez que a temperatura dentro de uma trincheira no inverno poderia facilmente cair abaixo de zero e a situação era agravada pela umidade da neve, das chuvas e alagamentos.

Os serviços médicos eram primitivos e os antibióticos ainda não haviam sido descobertos. Ferimentos relativamente pequenos podiam ser fatais através de infecções e gangrena. Entre os alemães, registrou-se que 15% das feridas das pernas e 25% das feridas nos braços resultaram em morte, principalmente por meio de infecção. Entre os norte-americanos registrou-se que morreram 44% das vítimas que desenvolveram gangrena, 50% dos feridos na cabeça, 99% dos feridos no abdômen e 75% dos ferimentos por estilhaço de artilharia. Um ferimento resultante de um fragmento de artilharia era mais traumático do que uma ferida de bala, pois geralmente introduzia detritos no corpo, tornando mais provável que a ferida infeccionasse. Um soldado tinha três vezes mais chance de morrer por um ferimento de estilhaço do que de um ferimento a bala. As explosões de artilharia também matavam por concussão (danos microscópicos ao cérebro causados pelo deslocamento de ar ou trauma causado pelo lançamento do corpo contra um obstáculo).

Em adição aos efeitos físicos do fogo de artilharia, houve o dano psicológico. Os homens que tiveram de suportar prolongados bombardeios e contínuos ataques muitas vezes sofreram debilitante choque traumático. Alguns militares julgados, condenados e fuzilados por covardia ou deserção estavam sob efeito de trauma de guerra, uma condição pouco conhecida na época e que só foi mais estudada e compreendida ao fim da guerra, diante do crescente número de homens com variadas sequelas emocionais após o conflito.

Um dos maiores tormentos nas trincheiras era a umidade, causada por chuvas, derretimento de neve ou algum lençol de água subterrâneo. As condições de sobrevivência eram piores nas trincheiras em regiões perto do mar, com lençóis aquáticos rasos que deixavam o terreno permanentemente com lama. Os drenos quase nunca eram eficientes o suficiente ou eram destruídos por artilharia e granadas inimigas, sendo necessária constante manutenção ou reconstrução. As trincheiras desmoronavam sob a pressão da terra encharcada e os homens, em geral, viviam com os pés molhados ou úmidos.

Na época das chuvas, os túneis ficavam inundados e os soldados lutavam, comiam e dormiam encharcados. Botas sem furos e rasgos eram itens necessários para evitar o “pé de trincheira”. Inspeções esporádicas nos pés eram realizadas pelos sargentos e oficiais nos tempo de calmaria, pois bastava manter os pés secos e limpos para evitar a enfermidade. Uma conduta simples e eficiente foi designar duplas em que um soldado era responsabilizado por verificar o pé de seu companheiro, assim diminuía a possibilidade de esquecimento ou preguiça em tirar e limpar meias e calçados durante tempos chuvosos ou frios.

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Inspeção sanitária em tropa inglesa verificando a existência de pés de trincheira

Outros grandes fatores de desconforto e doenças eram os piolhos e ratos. Por trás das linhas de combate, os encarregados da limpeza se esforçavam – com tinas a vapor e banhos de água quente – para retirar os piolhos das roupas e dos homens, sem êxito duradouro. Os ratos se alimentavam dos corpos de homens e cavalos mortos, depois invadiam as trincheiras, consumindo qualquer coisa que encontrassem, contaminando alimentos e água, atacando feridos e animais domésticos (geralmente pássaros e camundongos) usados para detecção de gás. Em alguns lugares os ratos chegaram a matar os gatos trazidos às trincheiras para caçá-los!

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Alemães caçando ratos em suas trincheiras

 

Comunicações

Uma grande dificuldade enfrentada pelas forças de ataque nas batalhas de trincheiras era dispor de comunicações confiáveis e rápidas. As comunicações estavam ainda em seu início, de modo que os atacantes levavam consigo fios para telefone ou telégrafo, além de utilizar sinalização por lâmpadas coloridas, foguetes, pombos-correio e cães ou homens mensageiros. Mensagens frequentemente não conseguiam ser transmitidas ou eram transmitidas com demora, fora do tempo útil para bons resultados.

Consequentemente, o resultado de muitas batalhas nas trincheiras foi decidido pelos comandantes de pelotão e companhia em meio à luta. Generais e comandantes de batalhão, que ficavam à retaguarda, pouco influenciavam na batalha pela falta de informações e incapacidade de transmitir ordens para as tropas durante os ataques. Oportunidades foram perdidas porque reforços não foram enviados no momento ou lugar necessários e o apoio da artilharia não foi usado na ocasião que a situação exigia.

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Cão mensageiro alemão

 

As estratégias na guerra de trincheiras

 

A estratégia fundamental da guerra de trincheiras era defender fortemente a própria posição e tentar conquistar terreno inimigo, numa guerra de atrito contínuo, gastando aos poucos as reservas humanas e materiais do adversário. Isso não impediu que comandantes ambiciosos adotassem estratégias de aniquilação em ataques frontais de grande escala, que se mostraram quase sempre ineficazes para conquistar terreno ou incapazes de mantê-los, ao custo de enormes quantidades de vidas.

O ataque de grandes grupos de soldados saindo da proteção de suas trincheiras e correndo para as trincheiras inimigas com as baionetas armadas para luta corpo a corpo foi o método padrão de combate no início da guerra, com poucos exemplos de sucesso. A tática mais comum era atacar através da Terra de Ninguém ao fim da noite, partindo de um posto avançado, tendo cortado o próprio arame farpado de antemão para permitir rotas de ataque. Este arame farpado defensivo era reconstruído na noite seguinte ao ataque.

Em 1917, os alemães inovaram com táticas de infiltração, onde pequenos grupos de soldados bem treinados e equipados contornavam os pontos fortes e atacavam os pontos vulneráveis das trincheiras, passando por esta pequena área sem tentar conquistar toda a trincheira e dirigindo-se profundamente nas áreas de retaguarda. Estes ataques normalmente eram executados à noite e a distância do avanço era limitada pela capacidade de comunicação e abastecimento. Esse tipo de ação causou transtorno e preocupação aos aliados que, não sabendo a quantidade de inimigos infiltrados em seu terreno, tiravam do descanso grandes contingentes das forças de reserva para executar buscas nas áreas atrás das trincheiras.

Foi duplo o papel da artilharia durante a guerra de trincheiras. O primeiro objetivo de um bombardeio era preparar o terreno para um ataque de infantaria, matando ou desmoralizando a guarnição inimiga e destruindo suas defesas e comunicações. A duração desses bombardeios iniciais variaram de alguns segundos a dias (chegou a durar 7 dias, de 25 de junho a 1º de julho de 1916, durante a batalha de Somme). O problema com bombardeios de artilharia antes de ataques de infantaria era que eles eram muitas vezes ineficazes em destruir as defesas adversárias e forneciam ao inimigo o aviso que um ataque era iminente, o que permitia mobilizar as tropas de reserva e deixá-las em prontidão para contra-ataques.

O segundo objetivo da artilharia era proteger a infantaria de ataques, fornecendo uma “barragem” em locais calculados anteriormente quando da passagem nestes pela tropa inimiga durante seu ataque ou uma “cortina de fogos” para prevenir um contra-ataque inimigo. Com o tempo, as barragens estáticas de fogo evoluíram para "barragem de elevação" ou “barragem de rolamento”, onde se bombardeava intensamente primeiramente o local que era o objetivo do ataque e depois os tiros, sem interrupção, eram regulados para distâncias gradualmente maiores, para permitir o ataque da infantaria no objetivo, enquanto as explosões depois deste local dificultavam a vinda de reforços para a defesa.

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Linha inglesa de arame farpado sendo bombardeada

Os comandantes bombardeavam com artilharia as linhas de arame farpado antes dos ataques da infantaria para limpar o caminho, mas nem sempre isso era eficiente, deixando trechos intactos que retardavam o avanço ou afunilavam o ataque para determinados trechos que passavam a ser defendidos com metralhadoras e granadas de mão. Os soldados retidos nas redes de arame farpado eram atacados também pelo fogo dos lança-chamas vindos das trincheiras.

A força de ataque tinha de avançar não só com as armas necessárias para capturar a trincheira, mas também com as ferramentas (sacos de areia, picaretas, pás e arame farpado) para fortalecer e defender as paredes traseiras da trincheira recém-conquistada de um contra-ataque. Um avanço bem sucedido levaria os atacantes além do alcance de sua própria artilharia, deixando-os vulneráveis até que parte de seus canhões pudessem ser puxados e fixados mais à frente.
Os alemães davam grande ênfase ao imediato contra-ataque para recuperar rapidamente o terreno perdido. Esta estratégia lhes custou caro a partir de 1917, quando os britânicos começaram a limitar seus ataques a curtos avanços, posicionando parte de sua artilharia logo atrás da linha de partida das tropas, não tomando parte no bombardeio inicial, de modo a ter alcance para apoiar imediatamente sua infantaria quando esta conquistasse o objetivo planejado. As baixas alemãs aumentaram consideravelmente quando as tropas vindas da retaguarda, na ânsia de retomar o terreno perdido, passavam pelos fogos dessa artilharia britânica adiantada.

Os alemães estudaram a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e desenvolveram a ciência de projetar e construir trincheiras fortificadas. Eles usaram concreto armado para a construção, a prova de artilharia de profundidade, abrigos ventilados, bem como vários pequenos pontos estrategicamente fortificados espalhados ao longo das trincheiras, ao invés de poucas e grandes fortalezas. Eles estavam mais dispostos do que os seus adversários em fazer uma retirada estratégica para uma posição defensiva melhor preparada à retaguarda e dali iniciar um contra-ataque. Eles também foram os primeiros a aplicar o conceito de "defesa em profundidade", em que a zona da linha de frente estava a centenas de metros de profundidade e continha uma série de redutos independentes que se apoiavam através de fogo cruzado de metralhadora e granadas de mão, em vez de uma vala de trincheira contínua, repleta de soldados.

Ao longo da guerra, os britânicos acabaram por adotar uma estratégia semelhante, mas foi implementada de forma incompleta, com guarnições menores e com menor poder de fogo em cada reduto, que se mostraram ineficazes quando os alemães lançaram uma grande ofensiva na primavera de 1918. A França, por outro lado, contava com artilharia e reservas não entrincheiradas.

As redes de arame farpado variavam de profundidade, chegando a áreas com 5 metros de profundidade. O fio alemão era de calibre mais pesado e os cortadores de fio britânicos, distribuídos aos soldados no início da guerra, eram projetados para fios mais finos, não sendo capazes de cortar o arame farpado e causando a morte dos militares que ficavam retidos no local sob fogo de metralhadora e fuzil. Cortadores maiores foram distribuídos aos aliados a partir do segundo ano da guerra.

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Tropa francesa rompendo defesa de arame farpado ( Batalha de Verdun - 1916 )

 

O fim da guerra de trincheiras

 

Apesar de algumas iniciativas de grandes ataques por ambos os lados, a imobilidade no front ocidental durou até o último ano da guerra e foi quebrada por um grande e desesperado ataque por parte dos alemães, que teve como resposta uma série de ataques de menores proporções por parte dos aliados.

Após a revolução comunista no Império Russo em 1917, este teve sua monarquia deposta e iniciou-se uma guerra civil entre os que desejavam a imposição de um governo comunista e os que desejavam manter o regime monarquista. Os comunistas, vitoriosos, assinaram em 3 março de 1918 um tratado de paz (Tratado de Brest-Litovski ) com as Potência Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Otomano e Reino da Romênia). Esta trégua interessava a todas as desgastadas nações envolvidas e permitiu aos alemães deslocarem rapidamente grande quantidade de suas tropas do front oriental para um último grande ataque no ocidente, antes que a crescente quantidade de tropas e material bélico chegando à Europa, oriundos dos Estados Unidos (que entrou na guerra ao lado dos aliados em 7 de dezembro de 1917), tornassem impossível uma vitória alemã.

Em 21 de março de 1918 os alemães iniciaram um ataque em grande escala, conhecido como Ofensiva da Primavera, contando com 50 divisões (aproximadamente 688 mil homens) enfrentando aproximadamente 851 mil aliados. Os alemães não conseguiram conquistar seus principais objetivos estratégicos e também se mostraram incapazes de reforçar as operações com mantimentos e tropas de forma rápida e eficiente, não conseguindo manter a vantagem das vitórias iniciais. No final de abril de 1918, uma decisiva vitória alemã não era mais possível. O Exército Alemão tinha sofrido pesadas baixas e ocupava agora terreno de pouco valor estratégico que se mostrou impossível de manter com os poucos recursos humanos então disponíveis.

Em 8 de agosto de 1918, os aliados iniciaram uma contra-ofensiva utilizando tanques em grande escala apoiados pela força aérea e novas técnicas de artilharia com canhões ingleses montados sobre chassis de tanques que permitiam maior mobilidade e rapidez para acompanhar e apoiar a infantaria. A Ofensiva dos Cem Dias resultou numa série de batalhas vencidas pelos aliados, com a retirada ou expulsão dos alemães de todos os terrenos ganhos na Ofensiva da Primavera, na queda do sistema alemão de defesa da Linha Hindenburg e na rendição do Império Alemão em 11 de novembro de 1918, colocando um fim à Primeira Guerra Mundial.

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Óleo sobre tela "Inferno" ( Georges Leroux )
Tela: 114,3 x 161,3 centímetros - Acervo do Museu Imperial da Guerra, em Londres (Inglaterra)

O francês Georges Paul Leroux (1877-1957) lutou como soldado na Primeira Guerra Mundial, no norte da França e na Bélgica. O pintor afirmou que a inspiração para esta tela ocorreu quando, retornando de uma missão de reconhecimento durante a Batalha de Verdun (1916), viu um grupo de soldados franceses se protegendo de um ataque de artilharia dentro de uma cratera cheia de água. Mais tarde, durante a noite, desenhou os esboços e ao longo de 1917 e 1918 terminou a obra, na qual usou as cores que representam, em sua opinião, a realidade da guerra.

A introdução de centenas de tanques ingleses e franceses ao longo da frente de batalha foi uma inovação fundamental que os aliados desenvolveram durante quase 2 anos, a fim de vencer o impasse da guerra de trincheiras na frente ocidental, e para a qual os alemães não se prepararam devidamente, produzindo apenas 21 tanques durante a guerra, por não acreditarem em sua importância tática.

Os tanques de guerra foram criados pelos ingleses para oferecer proteção e poder de fogo móvel para avançar sobre as trincheiras inimigas e, apesar dos iniciais problemas mecânicos e táticos, causaram impacto sobre o moral das tropas alemãs e mostraram-se a arma decisiva para colocar um fim à guerra de trincheiras.

Os tiros de metralhadora e fuzil eram inúteis contra a blindagem dos tanques e não existiam armas anti-tanque durante os primeiros ataques dos blindados. Cercas de arame farpado e trincheiras não conseguiam deter os veículos e uma vez conquistado o terreno, os tanques não eram facilmente desalojados através de um contra-ataque de infantaria. Os primeiros tanques eram consideravelmente lentos, chegando a no máximo 6 Km/h, além de serem bastantes difíceis de manobrar. Dos 49 tanques de guerra da primeira geração que foram usados na Batalha do Somme, em 1916, poucos retornaram a seus postos de origem. Grande parte deles foi abandonada no caminho em função de panes no motor ou na esteira de rodagem ou acabou atolada em algum buraco ou lamaçal profundo. Nove destes tanques foram destruídos pelos alemães.

Depois de vencer o susto inicial, os alemães passaram a atacar os tanques com granadas de mão e, ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos, alguns conseguiram subir nos tanques e tentaram matar sua tripulação, procurando escotilhas ou fendas e atirando com revólveres e pistolas nas frestas. Apesar da bravura, os ataques aos tanques conseguiram poucos resultados.

Nos primeiros combates, os tanques foram usados em pequenas quantidades e avançavam sozinhos, tornando-se vulneráveis quando aconteciam falhas mecânicas ou ficavam atolados, além de serem mais fáceis de serem atacados porque não contavam com proteção aérea ou das tropas em terra. Na medida em que os problemas mecânicos foram solucionados e táticas de proteção mútua foram desenvolvidas pelos aliados, os tanques mostraram-se decisivos para superar o poder defensivo das trincheiras. 

A Batalha de Amiens, iniciada em 8 de agosto de 1918, foi a primeira batalha da história a usar grande quantidade de veículos blindados quando os aliados, atacando com 462 tanques pesados e 72 leves, venceram as defesas alemãs e alcançaram uma sucessão de vitórias das tropas britânicas, francesas e americanas, quase todas lideradas por tanques. Essas vitórias foram decisivas para terminar rapidamente com a guerra.

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Tanque francês Renault FT ultrapassando uma trincheira

A combinação estratégica utilizada pelos aliados nos últimos 100 dias da Primeira Guerra Mundial, com unidades de infantaria acompanhadas por tanques e apoio aéreo aproximado foi aprendida e aperfeiçoada pelos alemães, sendo colocada em prática como “Guerra-Relâmpado” (Blitzkrieg) durante a Segunda Guerra Mundial.


Fonte: http://historiasylvio.blogspot.com.br/