CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Da cicuta à ricina, substâncias naturais são usadas como venenos há milênios

venri topo06/05/2016 - Nesta quarta-feira, uma carta contendo uma substância suspeita foi enviada ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Interceptada antes de chegar ao destinatário, ...

os testes iniciais dizem que ela continha ricina, um potente veneno derivado da mamona. A substância é produzida facilmente e apenas 500 microgramas do veneno – porção do tamanho da cabeça de um alfinete – pode matar uma pessoa.

A mamona faz parte de uma grande lista de vegetais que produzem substâncias tóxicas, como a cicuta e nós-vómica, e são usadas há séculos pelo ser humano como armas que podem levar à morte de adversários. “O termo veneno é muito antigo, e está relacionado ao uso das toxinas, substâncias produzidas por plantas e animais, pelos homens”, diz Eduardo Mello de Capitiani, pesquisador do Centro de Controle de Intoxicações de Campinas, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Os venenos podem ser produzidos pelo ser humano e usados tanto para atacar animais, durante uma caçada, quanto outros homens, durante guerras. Seu uso é ancestral e, atualmente, estão disseminados pelo mundo, como no caso dos pesticidas. Uma das principais preocupações das autoridades de segurança é seu uso como agente de bioterrorismo, por seu potencial de atingir e matar rapidamente um grande número de pessoas. “No terrorismo internacional, geralmente as mortes em massa estão ligadas a gases tóxicos, tanto pela facilidade de produção dessas substâncias, quanto pelos sérios danos que elas causam”, diz Capitiani.

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1. Toxina Botulínica

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Origem: Clostridium botulinum

A toxina botulínica é a proteína mais tóxica conhecida pelo ser humano. Normalmente, ela é produzida pela bactéria Clostridium botulinum quando esta se encontra em ambientes de pouco oxigênio, como comidas enlatadas, e é responsável pelo botulismo, uma doença que paralisa os músculos e pode levar à morte. A toxina afeta o modo como os neurônios transmitem suas informações, e seus sintomas incluem problemas de visão, dificuldades de fala, boca seca e fraqueza muscular. A paralisação dos músculos respiratórios pode levar à morte por asfixia. Normalmente a doença é adquirida ao se alimentar de comida contaminada, mas a toxina também pode ser administrada na forma de aerossol em ataques de bioterrorismo. Segundo o governo americano, uma série de países ao redor do mundo estuda seu uso como arma de guerra. Além disso, a toxina também tem

2. Cicuta

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Origem: Conium maculatum

Produzida a partir do arbusto europeu Conium maculatum a cicuta é usada há milênios como veneno. Na Grécia antiga, era aplicada na execução de prisioneiros políticos. Em seu livro Fédon, Platão relata a morte do filósofo Sócrates, que foi condenado a ingerir a substância. A cicuta ataca o sistema nervoso central, causando uma grande estimulação seguida de depressão, causando convulsões, dificuldades de respiração, paralisia e morte. Ela é consumida na forma oral, como pó ou líquido.

3. Ricina

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Origem : Mamona

A ricina é obtida a partir da mamona e pode ser encontrada em forma de pó, pastilha ou dissolvida em água. É muito difícil entrar em contato com essa substância involuntariamente, os modos mais comuns de contato são o envenenamento intencional ou o consumo do fruto. A exposição à ricina pode acontecer por meio da inalação, ingestão, injeção ou contato com a pele. Uma vez no corpo, essa substância entra nas células e impede que elas produzam as proteínas necessárias para funcionarem e viverem. Os sintomas do envenenamento por ricina podem incluir dificuldade para respirar, febre, tosse, edema pulmonar, baixa pressão arterial, vômitos, diarreia, vermelhidão na pele e irritação nos olhos. A morte por envenenamento de ricina pode ocorrer dentro de 36 a 72 horas, dependendo da forma de contato e da quantidade da substância exposta.

A ricina costuma ser usada para envenenar uma única pessoa — como foi tentado com a carta enviada ao presidente Obama. "Ela não é uma substância fácil de se obter porque é extraída de uma planta. Isso limita a sua quantidade de produção. Em apenas uma planta, pode ser encontrada uma quantidade suficiente de ricina para matar uma pessoa. Mas, mas para atingir várias, com fins de destruição em massa, seria necessário uma quantidade bem maior", diz Eduardo Mello de Capitiani, pesquisador do Centro de Controle de Intoxicações de Campinas, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

4. Estricnina

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Origem: Strychnos nux-vomica

A estricnina é um pó branco, sem odor e cristalino, que pode ser absorvido pela boca, respiração ou misturado em uma solução e aplicado em injeções. A substância é um veneno poderoso, e mesmo doses pequenas podem levar à morte. Os sintomas aparecem depois de 15 a 60 minutos da intoxicação. A substância impede a operação própria dos químicos que controlam os sinais que são emitidos pelos neurônios aos músculos, levando a fortes espasmos. A morte pode acontecer por asfixiam por causa da dificuldade de respiração. A estricnina é extraída da planta Strychnos nux-vomica, encontrada no sul da Ásia e Austrália. A substância foi sintetizada no século XIX, mas as propriedades venenosas da planta já eram conhecidas antes disso. Hoje, a principal aplicação da substância é como pesticida, para matar ratos.

5. Saxitoxina

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Origem: Alexandrium tamarense

A saxitoxina é uma das substâncias mais tóxicas já conhecidas pelo homem — uma dose de apenas 0,2 miligramas pode matar um homem. A toxina é produzida por uma série de algas planctônicas microscópicas como o Alexandrium tamarense, Gymnodinium catenatum, e Pyrodinium bahamense. Essas algas, por si só, não costumam afetar os seres humanos. Os problemas surgem quando elas são consumidas por moluscos, que concentram a substância em seu corpo e a transmite aos homens quando são consumidos na forma de comida.

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Quando isso acontece, os seres humanos sucumbem rapidamente aos seus efeitos, que bloqueiam a passagem do sódio pelas membranas dos neurônios. A mucosa bocal é amortecida em menos de 30 minutos e, logo em seguida, os sintomas evoluem para formigamentos pelo corpo, fraqueza muscular e vertigem. Em menos de 3 horas a pessoa pode morrer por causa da paralisia. Não existe cura, mas um homem pode sobreviver a seus efeitos com a ajuda de respiração artificial. A substância pode ser usada como arma biológica dessa, forma, pode ser até mil vezes mais tóxica do que gases sintéticos como o Sarin. Seu efeito é tão conhecido, que diz-se que a toxina é carregada por agentes secretos na forma de cápsulas, para consumir caso sejam capturados pelo inimigo.

Fonte: https://veja.abril.com.br