QUALIDADE DE VIDA

Casa de terra ensacada é sustentável e econômica

sacar12012 - Construir uma casa pode ser mais simples do que se imagina. Com a técnica de bioconstrução chamada de hiperadobe, sacos com terra compactada viram paredes de residências sustentáveis, baratas e resistentes. “A bioconstrução busca a harmonia entre a edificação e o meio ambiente com melhor aproveitamento dos recursos, uso de materiais locais e redução dos resíduos e do gasto energético”, explica o extensionista. Élcio Pedrão, da Epagri/Escritório Municipal de Frei Rogério. 

A casa de terra ensacada pode ser construída em qualquer região, pois independe do tipo de solo. “A terra pode ser da terraplanagem do local onde será executada a obra”, diz o extensionista, que aconselha separar a camada superficial para usar no jardim e o subsolo para construir. As paredes são erguidas rapidamente por uma equipe de pelo menos cinco pessoas, que devem ser assessoradas por alguém experiente nessas construções. “O uso de materiais naturais e não tóxicos permite que qualquer pessoa participe da obra, em mutirão, inclusive os futuros moradores”, diz Élcio.

Reciclável e segura

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Além de terem baixo impacto ambiental, as casas são recicláveis, pois podem ser demolidas para reaproveitar o material. A técnica permite reduzir o valor da obra em cerca de 30%, dependendo da região. Em Frei Rogério, uma casa de 100m2 custa de R$25 mil a R$30 mil. As construções exigem pouco investimento em material de suporte, como madeira, não utilizam ferro e, no máximo, 10% de cimento. “Para prepará-las, necessita-se apenas de 1% a 2% da energia despendida com uma construção similar em concreto armado ou tijolo cozido”, acrescenta. As paredes de terra também oferecem conforto térmico e acústico. Por serem mais largas que as convencionais, elas isolam melhor o som e retardam a entrada de calor no verão e a perda de calor no inverno. A segurança é outro ponto forte: a construção resiste a terremotos, vendavais e fogo.

Da guerra para o lar

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A técnica de hiperadobe foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, que buscava uma solução para abrigar refugiados de guerra e de desastres naturais. O método se popularizou na década de 1980, quando ganhou um concurso da NASA, que procurava a técnica mais apropriada para construir uma base na Lua. Hoje, as casas de terra ensacada estão espalhadas pelo mundo e são encontradas em vários estados brasileiros. A tecnologia foi introduzida no País pelo Ecocentro IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado). Em Santa Catarina, há construções em hiperadobe em municípios como Descanso, Seara, Coronel Martins, Coronel Freitas, Paial, Arabutã, Pinhalzinho, Araquari, Camboriú, Florianópolis, Jaguaruna e Frei Rogério.


Superadobe ou terra ensacada

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2010 - A história da criação dessa técnica de bioconstrução remete ao arquiteto iraniano Nader Khalili (1936-2008), que desenvolveu o superadobe como opção para construções na Lua ou em Marte, utilizando-se apenas de solo local e sacos de plástico. Estranho? Um tanto, mas sabe que a Nasa publicou seus estudos e que a técnica de Khalili virou uma espécie de alternativa para o planejamento e desenvolvimento de casas para sem-teto pelas Nações Unidas? Pois é, e a coisa não para por aí.

Vale muito a pena visitar o site do Cal-Earth e conhecer mais detalhes sobre o superadobe. Aqui no Brasil já tem muita gente testando a técnica, especialmente os grupos de permacultura e bioconstrução. Há até uma versão tupiniquim, que utiliza sacos de cebola ou batatas, opção que reduz custos e simplifica ainda mais o processo de construção.

É verdade que o jeitão da arquitetura em superadobe pode soar estranha para muitos de nós. Originalmente, as casas construídas em superadobe eram circulares, com abóbadas que possibilitavam a construção da casa inteira com um único material e técnica. Se imaginarmos a dificuldade de levar materiais para a lua, por exemplo, fica mais fácil conceber a ideia. Bastaria incluir na nave espacial uma grande bobina de saco plástico e, na Lua, preencher sacos e mais sacos com solo do nosso satélite natural. Ficou mais simples?

Bom, outra vantagem é a possibilidade de construções baratas e ecológicas para reduzir o déficit habitacional na Terra. E é aí que entram as inovações feitas a partir da ideia original: é possível construir casas, digamos, mais convencionais, em formato quadrado ou retangular, por exemplo. Os sacos podem ser queimados com maçarico para aceitar revestimento de terra e pintura natural, deixando a obra com um acabamento mais ?normal? ? para quem gosta de uma arquitetura mais discreta…

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O fato é que a novidade (para nós, porque em muitos lugares ela já é usada há tempos) vem ao encontro de muitas necessidades do nosso século: dar conta de tirar das ruas ou de moradias insalubres milhões de pessoas, reduzir o custo socioambiental da construção civil e oferecer alternativas de construção que cabem em processos de mutirões organizados por comunidades, gerando autonomia para populações em situação de risco. Quer mais?

Ok, vamos lá: construir com terra gera habitações saudáveis, que não expõem os moradores a produtos químicos tóxicos que agem devagar e continuamente, causando doenças como dores de cabeça, problemas respiratórios e até câncer. Há muitos estudos que tratam dos danos provocados pelo aumento da diversidade de materiais industrializados que colocamos, cada vez mais, em nossas casas. Casas de terra respiram, trocam ar com o ambiente externo, são termicamente confortáveis e muito duráveis e seguras também.

É claro, temos uma montanha de preconceitos para transpor até que consigamos realmente enxergar a técnica como viável ou minimamente pensável. Mas se aceitamos incluir produtos tão pouco testados em nossas vidas (alimentos, produtos químicos, cosméticos, ondas eletromagnéticas e tudo mais), por que abrir mão de algo tão inofensivo e interessante? Faço um convite a todos para que procurem se informar e ajudem a divulgar essa técnica. Acredito no mix entre soluções high tech e ideias muito simples para compor a lista de boas práticas que farão diferença no nosso século. Que tal, vamos nessa?


Fonte: http://www.uagro.com.br/
           http://planetasustentavel.abril.com.br/