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Segredos Subterrâneos: A Fascinante Jornada ao Poço Santa Cristina na Ilha da Sardenha

sardeilha12022 - A Sardenha constitui uma ilha situada no mar Mediterrâneo ocidental, sendo uma região autônoma da Itália insular, com uma população de 1.648.758 habitantes, conforme o censo de 2017. Localizada a ocidente da península itálica, ao sul da Córsega e ao norte da Tunísia, esta ilha é banhada pelo mar Tirreno na costa oriental e pelo mar da Sardenha na costa ocidental, destacando-se como a segunda maior ilha do Mediterrâneo. A história da Sardenha remonta ao Paleolítico Inferior, com vestígios humanos datados de 150.000 a.C. e os mais antigos sinais de presença humana remontando a 500.000 anos. No entanto, presume-se que o povoamento estabilizou-se de maneira consistente no Neolítico Inferior, aproximadamente 6.000 a.C. Antes da chegada dos fenícios, a partir do décimo século antes de Cristo, prosperaram na ilha três civilizações ...

autóctones: Bonuighinu, originada no quarto milênio a.C.; a enigmática população Shardana; e a renomada cultura nurágica, que floresceu a partir do século 16 a.C., se não antes. Dentre os vestígios mais imponentes, destacam-se os mais de 7.000 nuragues, denominados localmente nuraghes no norte e nuraxis no sul. Essas são torres defensivas em forma cônica, construídas com grandes blocos de pedra talhada e trabalhada, espalhadas por toda a ilha. A cultura nurágica legou à Sardenha numerosos monumentos datados do 2º ao 1º milênio a.C., tais como os "túmulos dos gigantes", sepulturas, torres circulares e cabanas. Estas foram construídas através do método de alvenaria seca, utilizando blocos de pedra, encontrando-se em várias partes da ilha. Contudo, entre as construções mais enigmáticas pertencentes à cultura nurágica, destacam-se os poços sagrados, disseminados por toda a ilha.

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Aproximadamente setenta poços na região da Sardenha remontam ao período Nurágico. Acredita-se que tais construções não apenas viabilizavam o acesso a uma fonte hídrica, mas também ostentavam propósitos espirituais e astronômicos. Entre os poços mais notáveis destaca-se o poço Santa Cristina, situado no município de Paulilatino, na província de Oristano, região centro-oeste da Sardenha. Diferenciando-se notavelmente dos demais poços sardos, este apresenta interesse histórico singular, além de constituir uma atração turística.

O local que abriga o poço Santa Cristina (denominado em homenagem à igreja camponesa nas proximidades) é composto primariamente por duas partes. A primeira, mais conhecida e estudada, compreende o templo poço, com estruturas anexas como cabanas de reunião, recinto e outras construções menores. A segunda parte do complexo, situada a cerca de duzentos metros a sudoeste, engloba uma única torre nurágica, algumas cabanas alongadas de pedra de datação incerta e uma vila nurágica, ainda não totalmente escavada, da qual apenas alguns elementos afloram.

O poço sagrado, cuja construção possivelmente ocorreu por volta do século XI a.C., encontra-se delimitado por um témenos, um recinto elíptico que separa a área sacra da profana. Esse recinto circunda uma espécie de "fechadura", dentro da qual o próprio poço está situado. A estrutura assemelha-se a outros poços sagrados encontrados na Sardenha, mas destaca-se pelo excelente estado de conservação das partes internas, bem como por suas dimensões amplas e bem proporcionadas.

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O poço se encontra antecedido por uma área de entrada onde, presumivelmente, ocorriam as cerimônias rituais. Após essa antessala, segue-se uma escadaria que conduz a um compartimento de formato trapezoidal. A escada consiste em uma única série de 25 degraus, que se estreitam progressivamente de aproximadamente 3,50 metros na parte superior a 1,40 metros na base, à medida que se aproxima da câmara que abriga o poço propriamente dito. A estrutura da escada reflete-se nas vigas do teto, compostas por blocos uniformes que criam uma notável impressão de "escada invertida" com largura constante. O poço sagrado em si é composto por uma câmara circular, com um diâmetro de cerca de 2,5 metros, coberta por uma abóbada ogival que atinge quase sete metros de altura. Essa abóbada é construída com blocos de basalto habilmente trabalhados, dispostos em fileiras. A partir do lintel da porta de entrada, situada no final dos degraus, o diâmetro diminui, formando um orifício de aproximadamente 35 centímetros ao nível do solo. A questão sobre se essa abertura era originalmente fechada por uma pedra circular ainda é motivo de debate.

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A totalidade da composição do poço é confeccionada mediante técnicas altamente precisas; todos os blocos de basalto, com dimensões médias de aproximadamente sessenta centímetros de comprimento por trinta centímetros de espessura, passaram por processo de elaboração e acabamento minuciosos. Posteriormente, foram dispostos em fileiras horizontais, com especial atenção para que o bloco inferior se projetasse cerca de um centímetro além do bloco superior. Tal disposição visa criar um perfil entalhado, resultando em um efeito arquitetônico intricado e eficaz. O notável estado de preservação da estrutura confere ao poço uma significativa relevância arqueológica e histórica. Até os dias atuais, a água continua a fluir para o poço a partir de um aquífero perene, possibilitando o preenchimento do tanque circular esculpido na base de rocha e alcançando o primeiro degrau da escada. O nível da água é mantido constante por meio de um canal de descarga presumivelmente instalado.

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Na estrutura considerada sagrada e em seus arredores, eram realizadas cerimônias aquáticas que congregavam toda a comunidade, evocando os aspectos nurágicos presentes em diversas regiões da Sardenha, possivelmente atraindo devotos de além da ilha. De acordo com algumas conjecturas, o poço de Santa Cristina também pode ter servido como um local dedicado à observação e análise astronômica. De fato, em determinadas épocas do ano, como durante os equinócios da primavera e do outono, a lua projetava seu reflexo nas águas do poço, iluminando-o. Este fenômeno ocorria quando a lua alcançava o ponto mais alto no céu local, conhecido como zênite.

No entanto, no poço de Santa Cristina, a lua não se alinhava perfeitamente com a vertical do zênite, mas proporcionava uma iluminação que se refletia na água, gerando um efeito reflexivo. Algum desacordo foi expresso por arqueólogos em relação a essa hipótese, argumentando que o poço pode ter sido originalmente coberto, impedindo assim a entrada da luz lunar. Especificamente, mencionam a ausência de uma estrutura elevada, característica presente na maioria dos poços sagrados.

Para além de Santa Cristina, dois outros poços merecem destaque: os poços de Santa Vittoria e o do Prédio Canopoli. Estes, assim como o de Santa Cristina, apresentam revestimento em blocos habilmente trabalhados e cuidadosamente encaixados. É altamente provável que esses três poços tenham sido construídos no final do período nurágico, evidenciando uma qualidade superior no processamento do material e na própria construção, quando comparados aos demais poços.

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