SÍMBOLOS E OBJETOS

Mistérios Antigos Resgatados: A Fascinante Descoberta do Ídolo de Shigir

idolco1Muito se comenta sobre a expressão artística e os conceitos transmitidos por cada obra. O que o criador quis comunicar com sua obra, qual mensagem ele pretendia transmitir, que reações ou emoções ele almejava evocar. Contudo, qual seria o significado oculto por trás de uma escultura com mais de 10 mil anos de existência? No desfecho da última Era Glacial, período em que mamutes perambulavam pelas planícies e leões da caverna percorriam a Terra, um grupo de indivíduos na Sibéria abateu uma árvore e iniciou o processo de esculpi-la em uma figura humana. A justificativa por trás dessa estátua permanece envolta em mistério, mas uma recente investigação revelou que o ídolo de madeira é duas vezes mais antigo que as grandiosas pirâmides de Gizé.

O mais recente estudo, divulgado pela revista Antiquity, não apenas aprimorou a estimativa de idade do enigmático ídolo, mas também pode indicar a finalidade para a qual a estátua foi empregada. A descoberta da estátua remonta a janeiro de 1890 (algumas fontes sugerem que ocorreu em 1884) na região de Sverdlovsk, localizada nos limites ocidentais da Sibéria, Rússia. Ela estava sepultada sob 4 metros de turfa no pântano de Shigir, conferindo-lhe o nome comum de "ídolo de Shigir". As camadas de lama com mínima concentração bacteriana preservaram a escultura de madeira. O ídolo resistiu à degradação devido ao efeito da lama e à temperatura constante; fria e seca dentro de sua envoltura.

Quando os mineiros a encontraram, o ídolo estava fragmentado em diversas partes. Os descobridores não tinham certeza do que haviam achado e supunham tratar-se de um fardo contendo pedaços de esquis ou um trenó primitivo. O material estava armazenado em uma espécie de saco rústico de couro coberto de lama. Por pouco, os mineiros não destruíram as peças e as utilizaram como lenha. O que os deteve foi a identificação da "cabeça", suscitando a dúvida sobre a natureza daquela coisa misteriosa enterrada nas profundezas da mina com considerável zelo e devoção.

Um educador chamado Dmitry Lobanov foi convocado para avaliar a descoberta que permaneceu armazenada num depósito por aproximadamente seis meses. Os indivíduos não apreciavam aquela peça e somente seu receio primal impediu que a estátua fosse aniquilada. O professor registrou algumas imagens, mas não dedicou grande atenção à estátua, considerando-a meramente um exemplar da expressão artística de povos itinerantes. A escultura foi devidamente embalada e transferida para a cidade de Ecaterimburgo, onde ficou aguardando alguém que reconhecesse sua importância.

No virar do século XIX, várias peças curiosas começaram a ser descobertas na mesma mina, chamando a atenção de arqueólogos. A estátua foi então submetida a uma análise mais detalhada, e Lobanov uniu as partes, elevando a altura da estátua para 2,80 metros. Eventualmente, ela foi apresentada como uma obra de arte significativa, embora a verdadeira idade ainda permanecesse desconhecida. Em 1914, o arqueólogo siberiano Vladmir Tolmachek conduziu uma nova análise nas peças e identificou outras partes que não haviam sido utilizadas no modelo de Lobanov. Ao incorporar essas partes ao conjunto, a estátua atingiu impressionantes 5,30 metros de altura.

Durante os anos tumultuados da Revolução Bolchevique e do caos político, o Museu de Ecaterimburgo foi saqueado, resultando em danos à estátua. A porção montada por Tolmachek foi removida, supostamente devido à sua má reputação entre os revolucionários, que desacreditaram suas credenciais e seu trabalho. Algumas partes da estátua foram posteriormente destruídas, mas, pelo menos, os desenhos e fotografias feitos pelo estudioso foram preservados.

A estátua permaneceu no Museu de Ecaterimburgo, também conhecido como Sverdlovsk após uma homenagem a um dos heróis revolucionários. Em 1948, Tolmachek, que faleceu em um gulag siberiano, teve seu trabalho reabilitado e reconhecido. Hoje, o ídolo de Shigir, ou o que resta dele, está em exposição em uma ala especial dedicada exclusivamente a essa peça enigmática.

Ainda envolto em mistério

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No entanto, apenas um século após, os avanços tecnológicos permitiram que os estudiosos, finalmente, submetessem a notável obra de arte a testes e determinassem sua idade aproximada. Através da aplicação da técnica de datação por radiocarbono em duas seções do ídolo, constatou-se que possuía cerca de 9.800 anos. Naquela época, tal revelação era extraordinária, e muitos acadêmicos resistiram a aceitar tal descoberta, considerando-a excessivamente antiga para um artefato esculpido em madeira.

Entretanto, a datação por radiocarbono daquela época era imprecisa e pouco refinada. Associado ao fato de que os primeiros testes envolveram apenas duas porções do ídolo de Shigir, os pesquisadores optaram por uma nova análise da estátua. Amostras de núcleos da madeira foram coletadas para garantir sua integridade ao longo do último século. Através de métodos modernos, foi revelado que o ídolo foi esculpido a partir de um único tronco de lariço há 11.600 anos, superando em mais do que o dobro a antiguidade das pirâmides do Egito, representando, assim, a mais antiga obra de arte em madeira conhecida.

A superfície de madeira do ídolo de Shigir é adornada com símbolos Mesolíticos e ornada por motivos geométricos, tais como divisas, intercessões, linhas paralelas, espirais e outros símbolos abstratos, nenhum dos quais foi identificado até o presente momento. Segundo os estudiosos, esses símbolos não são meramente decorativos, mas presumivelmente possuem significados para seu(s) criador(es). Há conjecturas de que os símbolos gravados no peito da estátua contenham uma forma de código que possa representar uma das primeiras tentativas de comunicação de conhecimento através de um objeto. Se esta hipótese for precisa, poderíamos estar diante do que possivelmente seria o primeiro código escrito no planeta, com uma antiguidade superior a 9.500 anos.

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Estudiosos e teóricos têm se dedicado, ao longo de anos, à análise meticulosa dos padrões e entalhes presentes na madeira. Uma tarefa dessa natureza certamente demandaria meses, e mesmo um artífice munido de ferramentas de qualidade (o que não era o caso) precisaria exibir grande destreza para esculpir alguns dos símbolos mais sutis. O que se destaca na obra é a minuciosidade das insígnias, sugerindo que cada uma delas possui uma finalidade, um propósito, uma norma. Supõe-se que a criação da obra tenha demandado anos, o que é notável, considerando que os povos antigos não costumavam estabelecer residência fixa, dedicando-se a uma vida nômade. Devido ao tamanho do ídolo, seria dificilmente transportável de um lugar para outro.

Uma das hipóteses é que o ídolo representasse um Deus, um Herói ou uma figura notável cuja memória se buscava preservar. Se tratando de uma entidade, a figura poderia ser, portanto, um dos primeiros deuses venerados em uma era envolta em mistério. O que intriga é que se trata de uma representação de conceito humano. Há conjecturas de que a figura poderia servir como um tipo de totem religioso, mas não há certeza quanto a essa suspeita.

O grande enigma do ídolo, no entanto, está relacionado às informações que alguns sugerem que ele contém. Os trechos de símbolos organizados em padrões verticais parecem ter sido entalhados por diferentes indivíduos ao longo de um período específico. Algumas teorias sugerem que o ídolo pode ter passado pelas mãos de diversos artistas, cada um deixando sua marca distintiva.

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Os estudiosos mais audaciosos sugerem até mesmo a presença de uma forma primitiva de escrita, o que a tornaria a mais antiga na história humana. Um dos pesquisadores da Academia Russa de Ciências e do Instituto de Arqueologia, o Professor Mikhail Zhilin, encarregado da estátua, a considera uma obra singular que guarda em si um mistério ancestral:

"Estamos diante de uma obra de arte incomparável. Ela carrega uma carga emocional imensa. No âmbito da arte pré-histórica, não há nada tão refinado e elaborado no mundo. Os ornamentos que adornam a superfície são singulares. Os homens pré-históricos estavam transmitindo o seu conhecimento."

Outros sugerem que o Ídolo de Shigir poderia funcionar como um tipo de mapa primordial, onde as linhas retas, paralelas e setas indicam um local ou um destino final para algum tipo de jornada realizada nos primórdios do tempo. De acordo com essa teoria controversa, certos símbolos poderiam representar montanhas, lagos, o curso de rios, ravinas e outros pontos de importância. Contudo, se essa for a hipótese correta, qual seria o destino final desse mapa? O que esses homens pretendiam identificar com tanto cuidado?

Outra teoria sugere que os símbolos poderiam servir como um mapa celestial, retratando o posicionamento de estrelas e astros visíveis no céu pré-histórico. Nesse contexto, seria necessário decifrar os símbolos para compreender o que se desejava marcar - uma conjunção? Um alinhamento?

Em 2014, o governo russo permitiu pela primeira vez na história que pesquisadores estrangeiros, alemães neste caso, tivessem acesso ao ídolo. Até então, a obra nunca havia sido estudada por especialistas que não fossem russos. Essa abertura alimentou teorias conspiratórias de que os russos buscavam reter qualquer descoberta contida na estátua que pudesse representar um segredo ancestral.

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Esta representa uma descoberta notável, com implicações mais abrangentes para a criação de grandes obras de arte pelos primeiros seres humanos que emergiram do período glacial. Alguns especialistas sugerem que o estilo e as representações do ídolo de Shigir guardam notável semelhança com outras estátuas monumentais da Era do Gelo encontradas no complexo de Göbekli Tepe (veja mais sobre este antigo templo clicando AQUI), localizado na Turquia. A única distinção marcante reside no material utilizado na confecção das estátuas. Isso aponta para a possibilidade de que a prática de produzir essas obras de arte imponentes, simbólicas e presumivelmente rituais, não tenha surgido de forma exclusiva em um único local com o recuo da Era do Gelo, mas tenha se manifestado em diversos centros simultaneamente. Os fatores que impulsionaram esse rápido desenvolvimento e a eclosão de devoção artística ou religiosa ainda não são completamente compreendidos, lançando questionamentos fascinantes sobre a natureza de nossa cultura e crenças.

 REFERENCIAS:  AVENTURAS NA HISTÓRIA

                          SEGREDOS DO MUNDO

                          FILOSOFIA IMORTAL

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