RELIGIÃO, CULTOS E OUTROS

O Concilio de Nicéia - Parte 4

niceia515 - Concílio de Viena-França(1311-12) O Papa Clemente V (1305-1314) teve que enfrentar o rei da França Filipe IV o Belo, que representava, na época, o surto do absolutismo dos monarcas independentes do Sacro Império Romano. O rei cobiçava os bons da Ordem dos Templários. Esta era constituída por cavaleiros que, mediante votos religiosos, se consagravam a Deus a se comprometiam a defender os peregrinos de Terra Santa. No fim do século XIII os Templários haviam perdido a sua finalidade específica de cavaleiros; enriquecidos por doações, começaram a provocar a ambição do rei. 

Este então pôs-se a pressionar o Papa, levando-lhe acusações contra os Templários, a fim de obter a extinção da Ordem. Clemente V, não querendo assumir a sós a responsabilidade de tal atitude, convocou para 16 de outubro de 1311 o Concílio Ecumênico de Viena (França); o local se deve ao fato de que os Papas residiam em Avinhão desde 1305. - A assembléia se reuniu até 6/05/1312.

Acabou cedendo as instâncias de situação criada pelo rei, declarando supressa a Ordem dos Templários. Estiveram na pauta conciliar também os Franciscanos, dos quais uma corrente, dita “dos Espirituais”, alimentava idéias exageradas ou mesmo heréticas sobre a maneira de viver a pobreza. O franciscano Pedro Olivi foi outrossim condenado por sua doutrina, que admitia no ser humano elementos intermediários entre a alma e o corpo. O Papa Clemente V confirmou as decisões do Concílio.

16 - Concílio de Constança (1417) , A crescente ingerência da França na história do Papado levou não somente ao exílio de Avinhão (1305-1378), já mencionado anteriormente, mas também ao Grande Cisma do Ocidente. Com efeito, quando o Papado voltou a fixar residência em Roma no ano de 1378, o primeiro conclave realizado na Cidade Eterna elegeu o Papa Urbano VI (1378-89), ao qual um grupo de Cardeais, influenciado pelo rei da França, opôs o antipapa Clemente VII (1378-94), que ocupou a sede de Avinhão. Houve então, daí por diante, duas obediências na lgreja: a de Roma, autêntica, e a de Avinhão, espúria. Desejosos de remediar a este mal, vários Cardeais e bispos se reuniram em Pisa num “pseudo-Concílio Ecumênico” de 1409; declararam depostos o Papa e o antipapa a elegeram Alexandre V, que se tornou o segundo antipapa, com sede em Pisa. A situação perplexa assim oriunda foi superada aos poucos pela intervenção do lmperador Sigismundo (1410-37). Este resolveu convocar um Concílio para Constança em 1414. Tal assembléia não era legítima, pois se reunia sem a aquiescência do Papa ou do bispo de Roma; os bispos e teólogos reunidos começaram por afirmar o conciliarismo ou declarar (ilegitimamente) a supremacia do Concílio Ecumênico sobre. o Papa, de tal modo que o Romano Pontífice deveria submeter-se às decisões do Concílio. Em conseqüência, depuseram o antipapa João XXIII. Quanto a Gregório XII, o Papa legítimo, resolveu convocar os Padres Sinodais reunidos em Constança, para que doravante pudessem constituir autêntico Concílio Ecumênico; tendo os referidos bispos aceito o mandato, Gregório XII renunciou as funções papais, de modo que a cátedra de Pedro ficou vacante. Por sua vez, Bento XIII, o antipapa residente na Catalunha, foi deposto pelo Concílio. Estava assim aberta a via para a legítima eleição do sucessor de Gregório XII. O novo Papa foi finalmente escolhido aos 11/11/1417 com o nome de Martinho V. O Concílio de Constança só se tornou legítimo a partir de sua 36a. sessão, ou seja, depois que Gregório XII lhe conferiu autoridade para agir. Donde se vê que a apologia de conciliarismo feita anteriormente não tem valor teológico ou jurídico. Após a eleição de Martinho V, os padres conciliares ainda condenaram a doutrina de João Wiclef, João Hus e Jerônimo de Praga, que eram precursores de Lutero. Tomaram medidas relativas à disciplina do clero a estipularam que periodicamente se realizariam Concílios Ecumênicos para atender ao governo de Igreja.

17 - Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) Martinho V, desejoso, de continuar a obra dos Concílios anteriores, convocou um Concílio Ecumênico para Basiléia (Suíça) em 1431. Eis, porém, que os padres em Basiléia reafirmaram o conciliarismo, rejeitado anteriormente - o que provocou conflitos entre a assembléia de Basiléia e o sucessor de Martinho V, que era Eugênio IV. Em conseqüência, este Papa resolveu dissolver o Concílio de Basiléia e convocar outro para Ferrara em 1438; esta assembléia teria por principal objetivo promover a reunião de gregos e latinos.O Concílio de Ferrara, aberto aos 10/01/1438, contou com a presença do lmperador bizantino João o Paleólogo e de sua comitiva. Desabonou as resoluções do Concílio de Basiléia. A peste tendo surgido em Ferrara, o Papa Eugênio IV transferiu a assembléia para Florença. O tema principal dos estudos foi a extinção do cisma: após prolongadas conversações, os conciliares puseram-se de acordo sobre os pontos teológicos e disciplinares controvertidos, assinando a Bula Laetentur caeli de 06/07/1439. Também voltaram à unidade da lgreja cristãos monofisitas (coptas, etíopes a armênios). Em fins de 1442, já tendo partido os gregos, o Papa transferiu o Concílio para Roma. Neste cidade, ainda voltaram a unidade da lgreja os monofisitas da Mesopotâmia, alguns grupos de nestorianos (caldeus) e de maronitas (monotelistas) da ilha de Chipre. Infelizmente, a união com Bizâncio foi efêmera, pois os prelados do Patriarcado de Constantinopla se recusaram a aceitá-la.

18 - Concílio do Latrão V (1512-1517) A vida da Igreja, após o Concílio de Ferrara-Florença, viu-se agitada por causas de diversas: persistência de correntes conciliaristas, que eram fomentadas pelos monarcas desejosos de criar lgrejas nacionais independentes de Roma..., além do que, havia necessidade de sérias medidas disciplinares. Diante disto, o Papa Júlio II convocou mais um Concílio Ecumênico que foi inaugurado aos 03/05/1512 e só se encerrou aos 16/03/1517 sob o pontificado do Papa Leão X. Condenou a Pragmática Sanção de Bourges, declaração que favorecia a criação de uma Igreja Nacional de França. Com isto o conciliarismo foi mais uma vez rejeitado. Em lugar de tal documento, a Santa Sé e a França assinaram uma Concordata que regulamentava as relações entre os dois Estados. No setor doutrinal, o Concílio tomou posição de grande importância, condenando a tese segundo a qual a alma humana é mortal e uma só para todos os homens; tal tese, segundo o seu autor Pietro Pomponazzi, seria verídica no plano filosófico, ainda que falsa no plano teológico. - Foram outrossim tomadas medidas disciplinares relativas ao clero (seus estudos a sua formação) e a pregação; exigiuse o Imprimatur para livros que versassem sobre fé ou teologia; seria queimado todo livro não munido de devida permissão. Infelizmente, as resoluções do Concílio, oportunas como eram, não encontraram eco nos diversos países católicos, pois o clima da época, bafejado por cultura pagã, dificultava uma séria e profunda conversão dos cristãos. Como quer que seja, o Concílio do Latrão V preparou a grande Reforma da lgreja, promulgada pelo de Trento.

19. Concílio de Trento (1545-47, 1551-52, 1562-63) Este foi o mais importante Concílio de toda a história, importância esta que se explica pela problemática que enfrentou (a Reforma protestante) e as soluções que adotou. Pouco depois de lançar o seu brado de protesto contra a lgreja em 1517, Lutero apelou para a realização de um Concílio Ecumênico que considerasse os pontos por ele lançados em rosto à Igreja. Todavia este apelo só começou a encontrar resposta sob o pontificado de Paulo III (1550-55). As razões do adiamento eram várias: o Papa Leão X não deu grande importância ao gesto de Lutero; além disto, havia certa resistência, de parte dos clérigos, a uma reforma dos costumes na Igreja; ademais a situação geral da Europa era de agitação política. Foi precisamente a agitação religiosa e política da Europa que cindiu a realização do Concílio em três etapas na cidade de Trento: A primeira fase (1545-47) definiu mais uma vez o cânon das S. Escrituras a declarou a Vulgata latina isenta de erros teológicos. Abordou as questões discutidas sobre o pecado original, a justificação, os sacramentos, a residência dos bispos nas respectivas dioceses. A peste tendo começado a grassar em Trento, o Papa transferiu o Concílio para Bolonha. O Imperador Carlos V tendo-se oposto a esta determinação, foi necessário suspender o Concílio. A segunda fase continuou em Trento (1551-52) sob o Papa Júlio III (1550-55). Promulgou longa exposição a cânones sobre a Eucaristia (presença real, transubstanciação, culto ... ). Algo de semelhante ocorreu no tocante ao Sacramento da Penitência (necessidade, partes essenciais, satisfação) e a Unção dos Enfermos (origem, efeitos, ministro, sujeito...). O Concílio, aos 28/04/1552, foi mais uma vez suspenso por motivo de pressões políticas. O Papa Pio IV (1559-1565) reabriu o Concílio aos 18/01/1562. Esta terceira fase reafirmou as verdades referentes ao S. Sacrifício da Missa, aos sacramentos da Ordem, do Matrimônio, ao purgatório, e invocação dos santos, as imagens e as indulgências. Promulgou também resoluções a respeito dos Religiosos e das monjas. Pela Bula Benedictus Deus (26/01/1564) Pio IV confirmou todos os textos conciliares, dando por encerrado o Concílio que havia de marcar profundamente o catolicismo dos tempos modernos.

20 - Concílio do Vaticano I (1869-70) Após o Concílio de Trento, a tendência ao esfacelamento dos valores de ldade Média mais a mais se fez sentir. A Revolução Francesa (1789) significou o brado de razão e do nacionalismo contra a fé. Seguiu-se-lhe o século XIX, que foi marcado pelo materialismo e o ateísmo fora de Igreja, e dentro da lgreja pelos ecos das tendências conciliaristas e do separatismo, que solapavam a autoridade papal e a unidade da lgreja. Foram estes fatores que induziram o Papa Pio IX (1846-78), aconselhado por eminentes figuras do episcopado e do laicato católicos, a convocar o 20º Concílio Ecumênico para o Vaticano. A grande assembléia de 764 padres conciliares se reuniu de 8/12/1869 a 20/10/1870, tendo por objetivo fazer frente ao racionalismo do século XX, como o Concílio de Trento fizera frente ao protestantismo do século XVI. Infelizmente o Concílio foi suspenso (não encerrado, porém) prematuramente por causa do início da guerra franco-alemã em setembro de 1870. Promulgou, porém, duas Constituições Dogmáticas de real importância: - uma, a Dei Filius, sobre a fé católica ensina que Deus se revela através da criação como também através de Jesus Cristo; por conseguinte, pode ser reconhecido tanto pela razão como pela fé, as quais não podem estar em desacordo entre si; - a outra, a Pastor Aeternus, referente a Igreja, definiu a infalibilidade do Pontífice Romano quando fala ex cathedra sobre assuntos de fé e de Moral. O Concílio trataria também dos bispos e dos demais membros da lgreja se não tivesse sido interrompido abruptamente. Tal tarefa haveria de ser a do Concílio do Vaticano II.

21 - Concílio do Vaticano II (1962-65) Como dito, o Concílio do Vaticano I ficou incompleto, deixando em suspensão diversas questões teológicas e pastorais. Os Papas desde São Pio X (1903-14) pensaram em reativar os trabalhos do Concílio: todavia as circunstâncias não favoreciam tarefa de tal envergadura. Foi a coragem do idoso Papa João XXIII (1958-63) que convocou o 21º Concílio Ecumênico da história aos 25/01/1961. Este certame foi inaugurado aos 11/10/1962 sob João XXIII, e encerrado aos 7/12/1965, sob o Papa Paulo VI. Tinha em mira, de modo geral, realizar o aggiornamento ou a atualização da lgreja numa época em que os costumes e as mentalidades evoluem com rapidez surpreendente. O alcance deste Concílio foi enorme: sem perder o contato com a Tradição, os padres conciliares promulgaram dezesseis documentos (Constituições, Decretos, Declarações), que levaram em consideração os principais temas que se impunham à reflexão da Igreja. O Concílio teve índole eminentemente pastoral, isto é, visou a vida cristã e a sua disciplina, em vez de se voltar para definições de fé ou de Moral. A abertura equilibrada dos documentos conciliares pode ser percebida em seus traços marcantes: - renovação da Liturgia, que deveria ser celebrada em estilo mais comunitário e acessível aos fiéis; - reafirmação da lgreja como Sacramento, estruturado por Pedro e a hierarquia, sem deixar de responsabilizar, na medida precisa, todo o povo de Deus; - abertura para os demais cristãos (protestantes, ortodoxos e outros) que não se acham em plena comunhão com a Igreja de Cristo entregue a Pedro a seus sucessores; - declaração sobre as religiões não cristãs, nas quais os padres conciliares realçaram a existência de elementos positivos; - declaração sobre a liberdade religiosa, que significa o direito, inerente a todo homem, de formar livremente a sua consciência diante de Deus e da fé; - tomada de posição da Igreja frente as diversas facetas que o mundo de hoje Ihe apresenta: família, comunidade política, economia, cultural, paz e guerra... Em síntese, pode-se dizer que o Concílio do Vaticano II foi uma das mais significativas realizações da lgreja nos tempos modernos, portadora de amplas conseqüências (das quais algumas foram menos felizes em virtude de falsa compreensão dos textos e da mente dos padres conciliares).

CONCLUSÃO


Quatro observações parecem oportunas à margem da história dos Concílios:

1) Os Concílios refletem nitidamente a história da Igreja a seus embates. Foram solenes assembléias em que a Igreja comunitariamente se voltou para os desafios que a caminhada através dos tempos Ihe suscitava. As decisões dos Concílios, por isto, hão de ser lidas e compreendidas sempre à luz do respectivo contexto histórico,

2) Os primeiros Concílios eram convocados pelos Imperadores e não pelo bispo de Roma ou o Papa. A lgreja, em seus primeiros séculos, embora fosse confiada a Pedro, não podia ter governo tão centralizado como o teve a partir da Idade Média, visto que as comunicações eram outrora difíceis entre Oriente e Ocidente. Contudo, para que as definições dos Concílios tivessem autoridade, foi sempre necessário que o bispo de Roma as aprovasse e confirmasse. Nenhum Concílio tem poder de decisão sem a participação e o apoio do Papa, ainda que esta aprovação Ihe seja dada depois de realizado o Concílio.
3) A teoria conciliarista, que pretendia estabelecer os Concílios

acima dos Papas, não representava o pensamento tradicional da lgreja e, por isto, não prevaleceu.- Violava o conceito de Igreja, sacramento e dom de Deus, em favor da concepção de Igreja, sociedade meramente humana ou “república”.

4) Quem estuda a história dos Concílios (infelizmente a que vai proposta nestas páginas, teve de ser resumida ao extremo), tem a ocasião de reconhecer a ação de Deus entre os homens. A Igreja subsiste até hoje não por causa dos valores dos homens que a integram (estes valores existiram e existem, sem dúvida! ), mas por causa da presença eficaz de Deus que a sustenta através dos séculos.

 


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Conc%C3%ADlio_de_Niceia
http://biosofia.net/2005/09/21/o-concilio-de-niceia/
http://www.veritatis.com.br/article/1341
http://www.cleofas.com.br/