VERDADES INCONVENIENTES

Crianças sem limites e com coleira, pais omissos e cães no berço !!! Parte 2

sem limites 8Agressividade ou falta de limites? - Onde começa uma e onde termina a outra? Quem sabe? É difícil de se precisar...Mas podemos buscar um significado para este comportamento (obviamente, após descartado algum problema médico), se o entendermos, não como uma doença, mas sim como uma reação de saúde a um ambiente em desequilíbrio, quer seja este conflituoso, ou carente de limites. Parece complicado, não? Mas, calma aí, já vamos explicar. Primeiro, imagine uma criança que viva num ambiente conflituoso, em que os pais não se entendem. Ou estão sempre tão ocupados, que a família não consegue se reunir. Ou se já se separaram, mas continuam brigando.

Ou ainda, numa casa que até parece a "casa da mãe Joana", e os pais não conseguem exercer seu papel de donos da casa, todos se intrometem, dando palpites, e a criança fica sem saber o que é certo, o que é errado, ou a quem obedecer.

Difícil imaginar? Viver, então, hein!

Agora, volte no tempo e imagine o nascimento dessa mesma criança na sua família. Você há de concordar que, independente do clima ou das condições para sua chegada, os olhares voltam-se todos para ela, certo?

À medida que ela vai crescendo, todas as vezes que ela chora: atenção para ela! Todas as vezes que ela cai ou se machuca: atenção para ela! E as gracinhas? Ah, encanta a todos, não é verdade?

Não podemos negar. Esta "escola" dá, à criança, um aprendizado e tanto. Ela se torna "mestre em ser o centro das atenções"! E esta bagagem vai se transformando, gradualmente, num recurso disponível para ela utilizar nas novas situações de vida que forem surgindo.

Na verdade, apesar de um vocabulário restrito e ainda em expansão, a criança tem uma sensibilidade aguçada e uma grande capacidade de percepção do que está se passando ao seu redor. Preocupa-se e, acredite , tenta buscar soluções: à sua maneira, de acordo com seu nível de maturidade e da bagagem que traz das experiências relacionais adquiridas anteriormente.

Enfim, o que nós acreditamos e que afirmamos agora para vocês, é que a reação de agressão e da falta de limites, nos diferentes graus em que se apresenta, torna-se um pedido de socorro da criança aos seus pais. Porque, ao chamar atenção para o seu comportamento, ela faz com que, pelo menos naquele momento, os outros problemas que estão acontecendo sejam esquecidos, ou deixados de lado. Não é assim que acontece na maioria das vezes?

Portanto, você pai e você mãe, vamos lá, fujam dos rótulos. Tirem os óculos que os fazem enxergar sua criança com preocupação ou mesmo irritação, e apropriem-se de um novo olhar: um olhar de "com-paixão". Procurem decifrar o que ela está tentando dizer, indiretamente, com seu comportamento agressivo ou sem limites. Nenhuma criança faz nada à toa, há sempre um "para que" por trás das situações nas quais ela chama as atenções para si. Conversem! Reflitam sobre estas e outras questões pertinentes ao ambiente em que sua família está vivendo. Às vezes, até a situação da chegada de um irmãozinho, faz com que ela apenas esteja pedindo para ser vista, cuidada e incluída. E, se estiver difícil para vocês, procurem a ajuda de um profissional da área; nada melhor do que ser ajudado para sair de uma situação de sofrimento. O sofrimento é desnecessário, e não precisamos ficar agarrados a ele, ou sermos arrastados por ele.


Pais que tudo permitem e o futuro dos filhos

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Por João Luís de Almeida Machado 06/03/2009 - O personagem de Antônio Calloni na novela Caminho das Índias, apresentada em horário nobre da Rede Globo, é um exemplo vivo criado pela dramaturgia daquilo que vem acontecendo no país há pelo menos 20 anos, com sensível piora ao longo da última década. Não há mais limites para os filhos de inúmeras famílias de classe média (principalmente) no Brasil. E os responsáveis por este fato lamentável são os pais. Sei que isso irá gerar muitas reclamações condenando a veemência com que trago à tona esta afirmação. Porém, são mais que urgentes não somente uma reflexão séria sobre o fenômeno como também ações que permitam levar a respostas práticas para enfrentar o problema.

Antônio Calloni, mais uma vez desempenhando com maestria o seu papel, interpreta um advogado casado pela segunda vez, pai de três jovens que, a despeito das inúmeras ocorrências praticadas pelo filho e denunciadas por diferentes pessoas e instituições, teima em lhe passar a mão na cabeça e defendê-lo, ainda que o ocorrido realmente se revele uma falta de média ou séria implicação.

Utiliza da prerrogativa de bacharel em Direito, num país em que os advogados ainda se julgam doutores mesmo que não tenham complementado os estudos em tal nível, para adentrar delegacias e escolas e intimidar, sob a ameaça de processar qualquer pessoa que em algum momento ponha em risco as liberdades por ele concedidas ao filho.

Para o personagem, a lei existe para garantir-lhe direitos individuais, mesmo que em detrimento de outras pessoas, agredidas ou vilipendiadas por seu filho e também por seu comportamento arrogante, impulsivo e agressivo. É claro que, por se tratar de uma peça de ficção televisiva, o que se espera é que com o decorrer da trama de Glória Perez a justiça seja feita e que tanto o jovem infrator quanto seu pai venham a pagar por seus erros tão evidentes.

E na vida real? Basta olhar para casos e mais casos que se avolumam nos arquivos das escolas, demonstrando o descaso, o desrespeito, o desacato e a violência perpetrada por um crescente número de estudantes contra colegas, professores, funcionários e até mesmo contra o patrimônio público ou privado. O que fazer? Que caminhos tomar se os principais parceiros no combate a fenômenos como o bullying ou a depredação de bens, no caso os próprios pais, se tornam coniventes e, em defesa dos filhos, resolvem virar as costas para a justiça? A escola por si só é capaz de solucionar tais problemas? Que encargos devem ser assumidos pelos educadores e até que ponto podem agir se os pais se mostram ausentes ou coniventes com tudo isso?

Certa vez ouvi o depoimento de um delegado de polícia para um grupo de pais em que o representante da lei, ao abordar o assunto, afirmava: "Se seus filhos cometem erros e vocês não os repreendem e os orientam quando ainda são crianças, a tendência é que eles se sintam cada vez mais livres para novas tentativas e ações, em idades mais avançadas - como na adolescência -, só que com implicações mais graves. Se também nesta fase os pais fecham os olhos a tudo ou mostram-se coniventes, a perspectiva futura é ainda pior. Caso nada tenha sido feito nessas faixas etárias, quando jovens e maiores de idade os corretivos tendem a ser aplicados pela lei, com implicações graves tanto para os filhos quanto para os pais."

A resposta da Justiça seria o encarceramento, a abertura de processos judiciais, a inserção de dados no histórico que poderiam afetar o futuro pessoal e profissional do implicado ou ainda outras medidas severas. O recente caso envolvendo o megacampeão olímpico da natação Michael Phelps, flagrado em uma festa universitária consumindo maconha, com a divulgação de foto em jornais e na Internet, levou a uma retração pública do atleta e ilustra a questão dos limites que temos que estabelecer para que possamos ter o devido reconhecimento e respeito.

Ninguém está acima da lei ou do direito individual alheio. Portanto, ao não traçar claras fronteiras entre o que é possível ou não fazer, os pais criam e estimulam a prevalência da ideia de que tudo no mundo é possível, até atos ilícitos que prejudicam outras pessoas.

A situação de Phelps, por exemplo, a despeito de sua retratação, ficou ainda pior com a divulgação da informação de que alguns de seus "representantes" tentaram impedir a publicação da foto dando dinheiro ao jornal que trouxe a notícia a público. Tal ação reforça a ideia de que os erros, quando não conhecidos, não inferem à pessoa que os cometeu nenhum prejuízo. Enfatiza ainda que o dinheiro pode apagar tais rastros e, literalmente, purificar a pessoa implicada em tais "pecadilhos".

Para atenuar a responsabilidade dos pais, há artigos que retratam comportamentos semelhantes ao do pai personificado por Antônio Calloni em "Caminho das Índias", como resultado de uma liberalização excessiva vivida por estes progenitores que teriam, em suas infâncias ou adolescências, vivido sob a égide de famílias patriarcais tradicionais, daquelas em que tudo o que o pai diz é lei. Outros argumentam que tais ações são respostas à opressão vivida no Brasil durante a ditadura militar. As pessoas tenderiam então a radicalizar suas próprias vidas rumo a uma liberdade irresponsável e sem fronteiras.

Pessoalmente acredito que essas afirmações podem até ter, no fundo - bem lá no fundo-, algum fundamento, mas não creio que possamos continuar nos apoiando nessas desculpas esfarrapadas por mais tempo enquanto vemos membros da atual geração de adolescentes e jovens destruir suas vidas futuras por conta de ações desmedidas e sem limites.

Alguns estudiosos afirmam que o fato de os pais (tanto o pai quanto a mãe) estarem envolvidos com suas carreiras e, portanto, ausentes na formação dos filhos, os levam a compensar seus rebentos com benefícios materiais e liberdade extremada. Tendo a pensar que tal afirmação tem mais lógica. Entretanto, ainda assim creio que não podemos mais procurar subterfúgios, mas desenvolver ações conjuntas.

Neste sentido as escolas podem ajudar e muito. Devem desde o princípio, por exemplo, definir suas regras de funcionamento interno em comum acordo com a comunidade e deixar todos cientes delas. Outra medida é esclarecer que o papel que compete à escola inclui noções de cidadania, ética e civilidade - mas que esses saberes são complementares ao processo de escolarização e dependem, essencialmente, de um trabalho em conjunto com as famílias.

A própria participação dos pais na escola e no acompanhamento dos filhos - não só no que se refere ao rendimento escolar -, acompanhando o seu processo de inserção social e participação em ações culturais, é de grande importância. Outra questão primordial para as escolas é a revisão de seus métodos, para que as aulas se tornem mais motivadoras para os estudantes. Dessa forma, podem também ser atenuadas situações de conflito ou depredação no ambiente escolar.

Tais ações são prementes. Penso que o debate deve ser ampliado para que todos possam participar com opiniões e ações que efetivamente permitam aos jovens uma inserção respeitosa, útil e solidária na sociedade.

*João Luís de Almeida Machado é editor do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br); doutor em Educação pela PUC-SP; mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte - Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).


Crianças sem limites, adultos prá lá de complicados

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Tem coisa mais chata que estar parado num lugar, aguardando sua vez na fila, e ter aquela criança chata, pirracenta, gritando e perturbando, ultrapassando a linha de limite, sendo agressiva, desrespeitosa... saindo do bonitinho e entrando no chatinho? Um olha para outro na fila e faz aquela carinha agradável... Aí, você olha para a mãe ou quem estiver com a criança, e a pessoa está com aquele ar impotente, aquele sorriso amarelo, como quem diz: o que eu posso fazer? Esta criança é impossível...

De quem é a culpa? Da criança? Claro que não...

Hoje em dia, é muito comum encontrarmos casos, onde crianças estão sendo levadas a exercerem papéis, atividades e hábitos que nem seu corpo nem sua mente estão preparados apara assumir. Outro dia, na TV, foi exibida uma reportagem sobre o beijo, mostrando que crianças "modernas" a partir dos 5 anos já iniciam o primeiro beijo na boca.

É claro que essa é uma idade que a criança, sequer compreende o significado de um beijo desse tipo, mas essa realidade gera uma grande preocupação. Até que ponto, este tipo de reportagem como essa ajudam o desenvolvimento das crianças? O beijo na boca faz parte do ritual do amor, ou até do início de uma relação sexual. Quando tratamos das descobertas na infância, devemos levar a situação com muita naturalidade, e sempre estar presentes, aconselhando-as a todo momento.

Torna-se cada vez mais inútil negarmos esta realidade que está presente: as pessoas têm perdido sua identidade, seus valores, e muitos pais seguem se conformando e dizendo: “o mundo está mudando e temos que acompanhar esas mudanças deste mundo moderno”. A conformidade é traço de quem diz: “não há como lutar, melhor me adaptar”. Mas tem jeito sim...

Princípios, contidos no pacote de educação que recebemos dos nossos pais, devem se estender pelas futuras gerações. Valores como entendimento, obediência, respeito aos pais, disciplina, respeito às pessoas, devem ser mantidos. É mais fácil ser levado seguir a boiada e deixar o barco ir com a maré, do que enfrentá-la e nadar contra ela. Que tipo de legado estamos deixando para os nossos filhos?

Filhos sem limites, adultos limitados

Crianças que são criadas sem limites, possuem grande tendência a serem adolescentes extremamente problemáticos. E, consequentemente, com grande probabilidade de serem adultos frustrados, com caráter duvidoso, ou outros desvios graves quaisquer.

Criar um fiho não é fácil, mas mantê-lo e educá-lo é muito mais difícil e desafiador. Pois, requer dos pais, não apenas palavras e conselhos, mas exemplos práticos de vida no dia-a-dia, doação total, com dedicação para aconselhamento, para diálogos, para ensiná-los sobre diversos assuntos, como: sexualidade, respeito, amizade... E isso requer tempo e afinco, o que parece que os pais atualmente não dispõem. Diante disso, e outros motivos, a depressão infantil, torna-se cada vez mais presente e comum.

Com a, cada vez maior, entrada da mulher no mercado de trabalho, grande parte das crianças são criadas em creches, por babás (empregadas do lar muitas vezes), tios, avós, entre outros agentes... E isso faz com que os pais, sentindo-se culpados todo tempo, com o objetivo de compensarem sua "falta" no dia-a-dia da criança, realizam desejos e curvam-se a todas as vontades dos filhos, acabando por dar tudo o que podem para elas.

A novela, em cenas diversas do cotidiano, é outro grande fator que tem influenciado as crianças a hábitos e costumes cada vez mais degenerados. Temas e cenas corriqueiras e inadequadas de nosso cotidiano, que são voltadas a adolescentes, como por exemplo: "transar", "ficar", "BV", etc... são avidamente absorvidos por crianças, que começam a ouvir desde cedo e querem exercer tais atitudes, sem estarem prontas.

A internet, através dos diversos sites de relacionamento, que são uma grande febre, possuem diversas situações que deixam a criança exposta, como se em uma vitrine estivessem. O acesso é livre e, em muitas vezes patrocinado pelos próprios pais. Muitas vezes, os pais "acham bonitinho" expor o filho pequeno em determinados ambientes virtuais, como já vi em alguns casos. Mas, é um grande desgaste de imagem que a criança sofre, além de inseri-la num mundo virtual perigoso para seu desenvolvimento. Há de se acompanhar muito de perto o acesso da criança ao ambiente cibernético.

Segundo a delegacia da infância e da juventude, já há ambientes públicos hostis (shoppings, praças...) com a presença de crianças, formando gangues, com prostituição infantil, com crianças a partir de 9 anos. E os pais, dizendo-se modernos, deixam seus filhos em lugares como esses sem a menor preocupação. Já existem casos de alcoolismo, por exemplo, com meninos na faixa dos 10 anos de idade.

Ainda, segundo pesquisa daquela delegacia, os shopping centers são convite fácil para a "perdição". Escolas começam a se tornar antros perigosos, onde o buyling é praticado abertamente. Onde, sem o devido acompanhamento dos pais, as crianças se isolam em seu mundo, distanciando-se cada vez mais, do mundo da família.

Com a agenda cada vez mais comprometida dos pais e responsáveis, as crianças iniciam desde cedo a coisa da inversão de valores, e aprendem, em suas vivências cotidianas, com os coleguinhas mais "descolados", o que deveriam ter aprendido através dos pais.

Com esta enxurrada de eventos em competição com a educação caseira e acadêmica, proliferam-se os aliciadores, corruptores de menores e a grande praga do momento: o pedófilo, que anda cada vez mais ousado e cruel

Está soando a sirene e o sinal de alerta máximo está dado! É mais que urgente que nós, pais, despertemos para a difícil e dura realidade, onde verdadeiros e horrendos monstros, como drogas, prostituição e violências de todos os tipos, tomam, a cada dia, mais espaço na vida de nossas crianças. É preciso agir agora, com vigor e muito amor, para blindarmos tais práticas e retomarmos a educação de nossos filhos. Sem culpa e com limites.


Coleira para criança, berço para cachorro

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18/03/2011 - Por Cristiane Segatto. Na última semana, tão fortemente marcada pela dor dos japoneses e pelas tentativas de evitar um desastre nuclear, uma notícia menor, à primeira vista sem maiores consequências, também mexeu comigo. Em reportagem publicada na Folha de São Paulo, Mariana Versolato descreve a mais nova onda entre as mães de crianças pequenas: colocar os filhos na coleira.

A guia para conter crianças émais uma invensão neurótica importada dos Estados Unidos. Ela começa a ganhar adeptas nas ruas, os shoppings centers, nos aeroportos brasileiros. O argumento para usá-la, tipicamente americano, é a garantia de conforto e segurança. A coleira não é colocada no pescoço. É um objeto de repressão travestido de acessório fofinho e infantil. A criança coloca uma mochila nas costas (alguns modelos vêm com um bichinho de pelúcia acoplado). Da mochila sai uma cordinha que a mãe segura para evitar que a criança se afaste demais. Como os cachorros espoletas, as crianças amarradas à coleira arrastam as mães.

Ainda não vi essa cena, mas posso imaginar o quanto de bizarrice há nela. Um garoto correndo pelo shopping obriga a mãe adar pinotes enquanto ela grita, em vão: "Pare. Não corra. Aqui não. Eu disse para parar". Se a mãe não consegue controlar o filho sem coleira porque ele deveria obedecê-la justamente na hora em que a situação parece perseguição de desenho animado? Imagino que a criança só poderia dizer: "De novo. Mais rápido. Outra vez". E a cara da mãe quando o shopping inteiro comentar o vexame? Como dizem as meninas de 20 anos, isso "é muito vergonha alheia." Mico total.

A vergonha é o que menos interessa nessa história. O que esta implícito na decisão de comprar uma coleira? Os pais querem ter comodidade para olhar outras coisas sem se preocupar se os filhos estão por perto? É recurso para quem não consegue estabelecer limites?" A coleira é um instrumento ideal para quem não sabe dizer o que pode e o que não pode?", diz a psicoterapeuta Maria Teresa Lago. Se tivessem construído a autoridade que precisamter, bastaria que os pais dissessem "não corra", "fique quieto", "aqui não é lugar para isso". Essa autoridade é desafiada pelas crianças o tempo todo, mas é o tipo de embate do qual não se pode abrir mão. Dele depende a formação de um cidadão que aprende o que é aceitável e o que não é.

Segurar na mão da criança não seria mais simples, barato e natural? "Não pegamos os filhos pela mão só por pegar", diz Maria Teresa. "Fazer isso é uma tentativa de tê-los conosco no sentido afetuoso da coisa." A segurança que a mão do pai ou da mãe nos dá é um patrimônio emocional que não deve ser desprezado. Quem teve pai e mãe desempenhando seu verdadeiro papel provavelmente vai se lembrar, décadas depois, da mão que conduzia à sorveteria numa tarde de domingo ou que ajudava a atravessar a rua movimentada num dia cinza.

Enquanto o contato entre pais e filhos é substituido pela coleira, os cachorros ocupam o espaço que até há pouco tempo era exclusivo das crianças. A tentativa de humanizar os animais é estimulada pelo lançamento de produtos que - se não fossem tão pequenos - poderiam ser vendidos em lojas de produtos para bebês. Há berço e carrinho de passeio para o pet para quem precisa ter uma garantia na relação", afirma Maria Teresa. "A garantia de afeto é total: quando o dono chega em casa o cachorro sempre vem pular no colo."

Não vejo nenhum problema no amor destinado aos animais. Mas quem gosta deles deve amá-los pelo que são. Cachorro temque ser amado como cachorro. Gato como gato. E não como o filho que não existiu ou que se foi. Ao tentar humanizar os bichos, os donos produzem aberrações. Sinto pena do cão quando o vejo vestido com roupinhas, enfeites de cabeça e outras peruices que o transformam numa cópia desajeutada da dona. Fico mais aflita ainda quando percebo que sofreram intervenções radicais ao bel-prazer dos donos.

Como se não bastasse cortar as unhas e arrancar as sobrancelhas dos bichos, chegam ao cúmulo de castigá-los pelos latidos. Vi na internet uma coleira antilatido que me deixou assustada. Ela funciona por meio do condicionamento pavloviano clássico. Quando o cachorro late, a coleira emite um sinal sonoro. Se ele latir outra vez nos trinta segundos seguintes, o aparelho apita e o coitado recebe um choque suave. A cada latido adicional, o choque se intensifica até ficar cinco vezes mais forte que o primeiro.

O cão é é condicionado a ficar calado, aprende a não exibir nenhum sinal revelador de sua natureza. os bem comportados ganham comida e afagos. E dependendo do gosto e do exibicionismo da dona, ganha também uma coleira Louis Vutton. "Vi num shopping do Leblon um cachorro que exalava perfume e tinha o pelo mais brilhante que o cabelo da dona. Ficava solto, deitado ao lado dela como se fosse uma criança", diz Maria Teresa. "A humanização dos bichos é patológica, mas parece que ninguém reflete sobre isso."

O mundo me espanta, me surpreende. Tenho mania de observar e refletir sobre pequenos sinais que parecem não dizer nada, mas que podem significar muito. Inversões de papéis me intrigam. Assim como invenções estranhas que prometem comodidade e vão se imiscuindo na nossa vida até parecer absolutamente normais. Alguma coisa esta fora do lugar quando colocamos a criança na coleira e o cachorro no berço.


Fonte: http://vilamulher.terra.com.br
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