VERDADES INCONVENIENTES

Fábrica da Foxconn - Escravidão contratada? - Parte 3

foxconn4Fábrica do iPhone na China terceiriza  quartos após série de suicídios - Empresa diz que funcionários querem "ter uma vida na cidade em que trabalham". A Foxconn Technologies, empresa de Taiwan criticada por suas políticas trabalhistas após uma série de suicídios de funcionários, vai terceirizar o gerenciamento dos dormitórios de sua força ...

de trabalho em Shenzhen, no sul da China. Dez suicídios ocorridos neste ano no enorme complexo industrial da Foxconn ...

levantaram intensas críticas e investigações sobre a companhia, que produz iPhones e outros produtos da Apple e que também conta com a Dell e a HP entre seus clientes.

A controladora da Foxconn, Hon Hai, informou que vai terceirizar a administração dos dormitórios, que abrigam cerca de 450 mil trabalhadores – a maioria migrantes de regiões mais pobres do interior da China. Terry Cheng, vice-presidente corporativo da empresa, diz que "fornecer aos empregados condições básicas, incluindo um lugar seguro e conveniente para morar no local de trabalho pode ter sido o bastante no passado, mas essa organização não satisfaz mais as necessidades dos jovens trabalhadores migrantes de hoje".

– Eles também querem ter uma vida na cidade em que trabalham. É por isso que companhias, governos e comunidades precisam trabalhar juntos para ampliar as redes de apoio para que os funcionários tenham um senso mais forte de inclusão e possam se integrar melhor na comunidade.

Os suicídios desencadearam uma série de protestos entre os trabalhadores na China, que buscam melhores condições trabalhistas.

Desafiando as agressões da polícia, trabalhadores da Foxconn na Índia continuam em greve

07/10/2010 - Milhares de trabalhadores continuam em greve em uma fábrica de propriedade da empresa Foxconn sediada em Sriperumbudur, Taiwan, no sul do estado indiano de Tamil Nadu, apesar dos ataques violentos por parte da polícia. Em 24 de setembro, a polícia desmantelou uma ocupação por parte dos trabalhadores das instalações, espancando dezenas e prendendo de 1.200 trabalhadores durante um dia inteiro antes de liberá-los à noite.

Esta foi a segunda ocupação em Sriperumbudur reprimida pela polícia nos últimos meses. Em junho, a polícia agrediu e prendeu 300 trabalhadores que realizavam uma greve com ocupação da fábrica na cidade de propriedade da montadora de automóveis coreana Hyundai.

A Foxconn Corporation, que tem 920 mil funcionários no mundo, recentemente ganhou notoriedade internacional pelas condições brutais dentro de suas fábricas depois que 10 trabalhadores na sua fábrica chinesa de Shenzen cometeram suicídio. (Veja no wsws.org "Foxconn suicides highlight China's sweatshop conditions")

Com 7.000 trabalhadores, a Foxconn da Índia é o terceiro maior empregador industrial em Tamil Nadu, após a Hyundai e a Nokia. Trabalhadores da fábrica começaram uma ocupação em 21 de setembro. Eles exigiram que a administração negociasse um aumento salarial e aumentasse o reconhecimento de seu sindicato, Thozilalar Sangam (FITS), que é afiliado ao stalinista Partido Comunista da Índia (Marxista).

Antes desta greve, a administração, de maneira provocativa, declarou que somente reconhecia o sindicato rival, Thozilalar Munnetra Sangam (FITMS), que é filiado ao partido Dravida Munnetra Kazhagam (DMK), que atualmente governa Tamil Nadu no governo de coalizão. O DMK também faz parte do partido que lidera o Congresso, a Aliança Progressiva Unida (UPA), coligação que comanda a Índia.

O DMK abertamente se posicionou ao lado da chefia em todas as disputas dos trabalhadores no estado e não hesitou em usar táticas brutais para romper as lutas dos trabalhadores.

Dada a natureza completamente degenerada dos sindicatos filiados aos partidos políticos regionais e nacionais, o CITU stalinista foi capaz de ganhar um papel de liderança em uma série de greves. No final, no entanto, funciona como uma válvula de segurança para dissipar a raiva dos trabalhadores. O CITU chamou várias greves e empregou sua retórica militante somente para isolar essas lutas e levá-las à derrota.

Essa tática foi claramente demonstrada quando o sindicato filiado ao CITU cancelou a greve um dia após a luta começar, em 21 de setembro. Determinada a ensinar uma lição aos trabalhadores, a gestão da Foxconn recorreu a medidas punitivas, incluindo um aviso de que os grevistas teriam 8 dias de salário descontados de seu pagamento.

Em resposta a esta provocação, trabalhadores do turno da noite começaram outra greve em 23 de setembro. A empresa, então, ameaçou os trabalhadores com graves repercussões legais, emitindo uma declaração pública dizendo que "obteve uma liminar judicial proibindo os trabalhadores de realizarem tal greve ilegal, assembleias, manifestações, obstrução de pessoas, impedindo a circulação de homens e materiais, e de outros métodos e práticas destrutivos num raio de 100 metros das suas instalações."

Os trabalhadores não desistiram e aumentaram a sua luta ocupando a fábrica, levando ao ataque da polícia na sexta-feira, 24 de setembro.

Um oficial sênior da Foxconn justifica a agressão alegando que a greve era ilegal. "Os trabalhadores deveriam ter dado 8 semanas de pré-aviso para unidades localizadas em zonas econômicas especiais (ZEE), ao passo que o Sindicato do Centro Indiano (CITU) deu-nos em torno de 2 semanas de aviso."

A elite indiana criou as ZZE para atrair investimentos empresariais. Nestas zonas são oferecidos financiamento público de infra-estruturas, normas de segurança negligentes ou mesmo inexistentes, benefícios fiscais e, sobretudo, mão-de-obra barata às empresas nacionais e multinacionais. Embora as condições de trabalho na Índia, em geral, sejam brutais, as condições que confrontam os trabalhadores nas ZEE são particularmente chocantes.

Em julho, 250 trabalhadores vizinhos de uma fábrica da Foxconn precisaram ser hospitalizados depois de adoecerem na planta. Suspeita-se que os trabalhadores ficaram doentes após a inalação de inseticidas e pesticidas que a empresa pulverizava livremente nas áreas de trabalho, apesar dos perigos de saúde. A planta também não tinha ventilação adequada, expondo assim, os trabalhadores não só ao ar poluído, mas também ao calor escaldante pelo qual a região é conhecida.

Há uma crescente preocupação entre trabalhadores sobre o aumento do preço dos alimentos, cortes de empregos, privatizações e a crescente desigualdade social. Os stalinistas procuram limitar a resistência às ações do sindicato e a protestos isolados que tem como objetivo pressionar este ou aquele partido burguês.

Em Tamil Nadu, o stalinista CPM tem oscilado para frente e para trás em uma aliança entre os dois partidos reacionários que dominam a política estadual: o DMK liderado pelo clã Karunanidhi e seu rival, o All India Anna Dravida Munnetra Kazhagam (AIADMK), liderado por uma atriz que virou política, Jayalalitha.

O CPM tem aproximado Jayalalitha para montar lutas conjuntas em "questões do povo", embora ela seja uma furiosa política contra a classe trabalhadora. Em 2003, Jayalalitha demitiu centenas de milhares de funcionários do Estado depois de terem entrado em greve para exigir maiores salários e benefícios. (Veja no wsws.org "India: Tamil Nadu government continues witchhunt of strikers"). Isso não impediu que o CPM buscasse um bloco eleitoral com o AIADMK nas eleições futuras para a assembleia estadual em 2011.

A massiva resposta da classe trabalhaora indiana, a greve geral de 7 de setembro, foi uma prova de sua raiva e militância crescentes. Enquanto a imprensa indiana e estrangeira acompaham a ascensão econômica da Índia, as condições já precárias de vida da classe trabalhadora foram sufocadas pelos duplos golpes de aumento descontrolado dos preços dos alimentos e a renda em queda.

Os repórteres do World Socialist Web Site visitaram a fábrica da Foxconn, onde milhares de trabalhadores se reuniram em frente aos seus portões. O ambiente era intimidante, com uma forte presença policial, incluindo policiais à paisana. Por causa disso, os trabalhadores usavam apenas seus primeiros nomes.

Srikanth, 24, disse ao WSWS: "Tenho trabalhado nesta empresa há 4 anos. Sou pago com.4.800 rupias (104 dólares) por mês. Os salários na empresa variam de Rs. 2.900 (63 dólares) à Rs.4.800. Com o aumento da inflação, os salários estão muito baixos. O sindicato que a empresa quer é um sindicato pelego. Nós não acreditamos nele. A administração está insistindo em falar com esse sindicato."

O jovem trabalhador também falou sobre as péssimas condições no interior da planta. "A fim de explorar o trabalho barato eles trazem os trabalhadores de ônibus de muitas aldeias. Os trabalhadores são provenientes de famílias de pobres fazendeiros ou trabalhadores agrícolas. Eles gastam um prazo adicional de 6 horas de viagem todos os dias. Não há nenhuma cantina disponível para os trabalhadores dentro das instalações da usina."

"Há cerca de 400 trabalhadores contratados que vão trabalhar apesar de nossas greve por tempo indeterminado."

Srikanth disse que a gestão suspendeu 23 funcionários por participação em atividades sindicais. "Nós não temos quaisquer outros benefícios, exceto Previdência Social e Seguro Social aos Trabalhadores (ESI)."

Kasi, 23, disse: "Eles nos fazem trabalhar duro pela definição de metas. Nossa principal reivindicação é um aumento salarial e o reconhecimento de nosso sindicato. Nós exigimos um salário mensal de Rs.15.000 (326 dólares), para, após as deduções, levar para casa um pagamento de Rs.10.000 (217 dólares). Pretendemos continuar a nossa luta, senão, nosso sindicato não será reconhecido."

Susila, uma trabalhadora de 20 anos de idade disse ao WSWS: "Durante a greve, fui agredida pela polícia. Outro trabalhador começou a sangrar depois que a polícia atacou. Eu fui presa." A polícia, segundo o que a jovem trabalhadora disse, havia a assediado, perguntando provocativamente: "se eu vim para o trabalho ou outra coisa?"

Outra trabalhadora disse: "Tenho trabalhado nesta empresa há 4 anos. Eu recebo um salário mensal de Rs.3.000 (65 dólares). Meu marido trabalha em outra empresa e recebe Rs.5.000 (108 dólares) de pagamento por mês. Com o crescimento da inflação, é difícil manter nossa família com nossos salários combinados. Estou assustada com esta situação."

Apesar do ânimo militante e dos sentimentos dos trabalhadores, há todo o perigo de que o CPM stalinista e CITU irão abortar a luta, permitindo a que a chefia imponha sua vontade.

(traduzido por movimentonn.org)

China: Relatório expõe o opressivo regime de trabalho na Foxconn

18/11/2010 - Um relatório publicado no mês passado, sobre as condições de trabalho dentro das fábricas da gigante eletrônica chinesa Foxconn, fornece detalhes esclarecedores sobre o regime opressor que tolhe milhares de jovens operários.

A investigação vem depois da temporada de revolta na China em função dos suicídios nas plantas da Foxconn, que aconteceram este ano. Suas descobertas foram amplamente divulgadas na mídia estatal chinesa, indicando um certo grau de aprovação oficial. Ao fazer isso, o Partido Comunista Chinês (PCC) tenta se desvincular das práticas opressoras nas fábricas de super-exploração do país - práticas que vêm das condições criadas pelo Estado e que são mantidas através de seus métodos policialescos.

Embora limitado em suas conclusões, o relatório representa uma indiciação contra as condições de exploração sob as quais vivem os trabalhadores chineses, e principalmente os milhões de jovens trabalhadores rurais migrantes nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Foram essas as camadas que iniciaram uma onda de greves em maio e junho em plantas automotivas e eletrônicas, exigindo a melhoria de salários e de condições de trabalho.

A investigação, conduzida de junho até agosto, foi realizada por 60 acadêmicos e estudantes de 20 universidades da China, Hong Kong e Taiwan. Envolveu pesquisas feitas com 1.736 trabalhadores em 12 fábricas, baseadas em nove cidades diferentes, e 19 membros da equipe investigativa que trabalharam na Foxconn por vários meses.

A Foxconn é a maior empresa subcontratada para a produção de eletrônicos do mundo, e produz para grandes corporações mundiais como Apple, Dell e Nokia. Em 2009, a companhia exportou US$59,3 bilhões em produtos manufaturados - uma quantia maior que o montante de exportações anual de alguns países de economia de médio porte, como Finlândia e Portugal.

A vasta maioria dos mais de 900 mil empregados da Foxconn está na faixa etária de 16 a 24 anos. O relatório descobriu que muitos trabalhadores são também estudantes estagiários, apontando para o papel das escolas como agentes de força de trabalho para as fábricas do país. No complexo da Foxconn na cidade de Kunshan, por exemplo, havia 10 mil estudantes presentes durante as férias de verão, em um total de força de trabalho de 60 mil.

A maioria dos estagiários vem de escolas técnicas. Com idade de entre 16 e 18 anos, eles são forçados a trabalhar na linha de montagem por até 2 anos. Sem contrato ou direitos legais, os estagiários contam com o mais baixo salário mensal de 1,200 yuan (US$180). Os estudantes são ilegalmente forçados a fazer horas-extras e turnos da noite. Jornadas de 10 horas, sem pagamento de hora-extra, são comuns.

Em 2006, o ministério da educação implementou uma medida regulatória que dava passe livre para que os empregadores explorassem estudantes estagiários em nome da "combinação do estudo com o trabalho". Sob condições nas quais os gastos em educação pública foram cortados, muitas escolas correram para mandar estudantes para o trabalho como forma de conseguir renda adicional. A escolas recebem uma contribuição por sua "cooperação" com as empresas privadas.

Os estudantes estão entre os mais explorados trabalhadores da Foxconn. As pesquisas mostram que 73,3% dos empregados trabalham 10 horas, ou mais, por dia. A média individual de horas-extras totais é de 83,2 horas por mês - um óbvio desrespeito às leis oficiais do trabalho, que limitam em 36 horas o montante de horas-extras mensal.

Além disso, ao estabelecer metas de produção irrealizáveis para cada turno, a Foxconn força os trabalhadores a fazer a chamada "hora-extra voluntária", sem pagamento até que as cotas sejam atingidas. A investigação descobriu que desde o escândalo dos suicídios, a Foxconn somente intensificou as cargas de trabalho, em nome do corte das horas-extras.

Um trabalhador do gigante complexo de Longhua, em Shenzhen, explicou: "É simples: você precisa terminar em cinco dias o que antes era feito em seis, porque a companhia não é burra de atrasar os pedidos para diminuir as horas-extras dos trabalhadores. Em outras palavras, a quantidade de pedidos é a mesma, o tempo de produção desses pedidos foi diminuído, e naturalmente nossa produção aumentou num dado período de tempo. A exploração se intensificou."

O relatório analisou o impacto dessa intensificação. Sob elevada pressão, 12,7% dos trabalhadores tiveram desmaios, 24,1% dos trabalhadores do sexo feminino tiveram irregularidades em seu ciclo menstrual e 47,9% dos trabalhadores reclamaram de estresse psicológico.

Como resultado do baixo salário, a maioria dos trabalhadores é forçada a viver em dormitórios fabris superlotados. Em média, cada trabalhador tem um espaço de cerca de dois metros quadrados. Eles raramente conversam uns com os outros porque estão exaustos demais. A comida é de má qualidade. Nas palavras de um trabalhador, "você precisa aprender que comer é pra encher o estômago, não pelo sabor". Diarréia causada pela higiene comprometida é um problema comum.

A maioria dos trabalhadores não pode pagar pela celebrada estrutura de entretenimento da companhia, que inclui piscinas e cinemas. Eles gastam seu pouco tempo livre na internet. De acordo com um relatório, o resultado é a "alienação dos trabalhadores, que causa danos psicológicos coletivos aos trabalhadores" e causando suicídios.

PARTE 4