TEMAS INEXPLICADOS

Segredos Obscuros do President Hotel: O Enigma de Roland T. Owen

quartoestranho102/2020 - Após a virada do ano, no dia 2 de janeiro de 1935, às 13h20, um gentleman adentrou o President Hotel, localizado no coração da cidade de Kansas, carregando apenas um pente e uma escova dental em suas mãos.

Vestindo um impecável terno negro, apresentava uma constituição física robusta, orelhas com pequenas deformações que lembravam as de um pugilista e uma cicatriz horizontal branca no lado esquerdo de sua cabeça. Sua idade aparente ultrapassava os 25 anos. Durante o processo de check-in, Roland T. Owen, como se identificou, envolveu-se em uma conversa amigável e solicitou um quarto isento de janelas para a rua. Recebendo a chave do quarto 1046, situado no décimo andar do edifício, partiu do hotel. Não houve observações notáveis sobre seu comportamento na ocasião, considerando que o hotel era frequentado, em sua maioria, por viajantes a negócios que apreciavam a companhia noturna.

O enigma no recôndito No dia 3 de janeiro, por volta do meio-dia, a camareira Mary Soptic bateu à porta do quarto 1046, com a maioria dos hóspedes já ausentes, presumivelmente desfrutando o dia fora. Ao abrir a porta, deparou-se com Roland, que permanecia sentado na cama, a qual ainda estava meticulosamente arrumada. O quarto estava envolto em penumbra devido à solitária lâmpada de abajur e às persianas cuidadosamente fechadas que bloqueavam a luz solar brilhante. O hóspede aparentava estar agitado e apreensivo. Mary ofereceu-se para voltar mais tarde, mas Roland insistiu em sua presença. Enquanto a camareira realizava suas tarefas de limpeza, o homem envergou seu casaco e solicitou que a porta permanecesse destrancada após a conclusão da limpeza, alegando que um amigo estava prestes a chegar. Mary consentiu e atendeu ao pedido.

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Às 16h, Mary retornou ao 1046 para fornecer toalhas limpas. A porta permanecia desbloqueada, conforme deixada anteriormente, e, ao entrar, deparou-se novamente com Roland. No entanto, desta vez, ele estava deitado sobre a cama meticulosamente arrumada, aparentando estar em um estado de sono. Um bilhete na mesa de cabeceira informava: "Don, estarei de volta em quinze minutos. Por favor, aguarde."

Em 4 de janeiro, às 10h30, a situação continuou intrigante. A porta do quarto de Roland estava trancada pelo lado de fora, como geralmente ocorria quando os hóspedes se ausentavam. Para surpresa de Mary, o homem estava sentado em uma cadeira, imerso na escuridão do cômodo. Pouco depois, o telefone tocou, e Roland atendeu. Mary pôde escutá-lo dizendo: "Não, Don, eu não tenho fome. Não quero comer. Por favor, Don, não insista."

Após desligar, houve um breve momento de silêncio, seguido pelo questionamento de Mary sobre sua programação de trabalho e horários. Embora Roland tenha feito essas perguntas, não demonstrou qualquer curiosidade em seu tom. Mais tarde naquele dia, após o anoitecer, Mary retornou com toalhas adicionais para o 1046. Ao bater à porta, foi recebida por uma resposta agressiva de um homem que não era Roland, recusando as toalhas e ordenando que ela fosse embora e não retornasse.

O indivíduo na escuridão

Na mesma data, às 23h, um residente da vizinhança chamado Robert Lane avistou um homem correndo pela rua, vestindo apenas calças e uma fina camisa, apesar do clima frio. Mais tarde, Robert identificou esse homem como Roland T. Owen. Robert parou para oferecer assistência, e Roland prontamente pediu uma carona de volta ao President Hotel. Quando observou de perto, percebeu que seu passageiro estava sangrando de um grande ferimento no braço e apresentava hematomas. Meses depois, Robert relatou à polícia ter ouvido Roland murmurar: "Eu vou resolver isso... amanhã."

Durante a madrugada, Jean Owen, uma hóspede do quarto 1048, relatou ter ouvido vozes elevadas vindas do 1046, incluindo a voz de uma mulher. Embora tenha considerado relatar o incidente à recepção do hotel, optou por não fazê-lo. Por volta das 2h, uma profissional do sexo que procurava por um cliente no quarto 1026 acabou erroneamente no mesmo andar que abrigava o quarto 1046. Foi nesse momento que ela escutou ruídos perturbadores, possivelmente indicando alguém em agitação, gemidos, o som de água e, em seguida, um silêncio. Na manhã de 5 de janeiro, às 8h30, a equipe da recepção do hotel notou que o telefone do quarto 1046 estava fora do gancho desde a noite anterior. Considerando que isso poderia ser um descuido, um mensageiro foi enviado para notificar Roland. Como o homem não respondeu ao bater na porta, o mensageiro optou por usar a chave mestra para entrar.

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Havia vestígios sanguíneos nas paredes, pelo chão e respingos até no teto. A sala apresentava semelhanças com um espaço de abate. No recinto de banho, Roland T. Owen encontrava-se desprovido de vestimenta, ajoelhado, com a cabeça apoiada à margem da banheira repleta de água e sangue. Uma corda estava amarrada em torno de seu pescoço e pulsos. O indivíduo havia sofrido múltiplos ataques com faca, incluindo um golpe profundo no peito, diretamente acima do coração. O mensageiro, apavorado, fez uma chamada para as autoridades policiais, que responderam em questão de minutos e conseguiram registrar os últimos suspiros de Roland enquanto ele se aproximava da inconsciência. Questionado sobre a identidade do agressor, Roland respondeu: "Ninguém." Acrescentou que havia escorregado e caído contra a banheira, negando qualquer tentativa de autoagressão. Roland T. Owen perdeu a consciência e faleceu antes de ser transportado ao hospital.

Ligações inexistentes

A autópsia revelou que muitos dos ferimentos, incluindo as punhaladas fatais, foram infligidos a Roland no final da madrugada e no início da manhã. Dado que o hotel não mantinha um registro rigoroso das pessoas que entravam ou saíam, exceto os hóspedes registrados, não foi possível fornecer informações conclusivas. Uma investigação minuciosa abarcou todos os cantos do quarto 1046, mas nenhum elemento se encaixava de maneira coerente. A arma utilizada no crime permaneceu desaparecida. O guarda-roupa não continha roupas, e não havia traços de produtos de higiene ou roupas de cama. Não foram identificadas pegadas no local, e as impressões digitais femininas presentes no telefone, manchadas pelo sangue de Roland, não puderam ser associadas a nenhuma pessoa conhecida. Os únicos objetos retirados da cena do crime consistiram em uma gravata, um grampo de cabelo, um cigarro parcialmente consumido, um pequeno frasco de ácido sulfúrico diluído e um copo de água quebrado sobre a pia.

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Pouco tempo depois, foi revelado que Roland T. Owen era uma identidade fictícia, inexistente em qualquer registro. No entanto, à medida que o incidente ganhava destaque nos veículos de comunicação e as autoridades apelavam ao público por informações, várias testemunhas, sobretudo proprietários de estabelecimentos como hotéis, arenas de luta livre, bares e restaurantes, afirmaram tê-lo visto. Curiosamente, em cada encontro, ele se apresentava sob diferentes nomes.

Contudo, a questão que pairava no ar era: quem era o indivíduo conhecido como Don, e quem seria a mulher cujos gritos foram escutados por Jean Owen no quarto? Como esses detalhes se relacionavam ao crime? Ainda mais intrigante, por que o misterioso homem não usou o tempo que lhe restava para identificar seus agressores? Meses depois, diante da escassez de informações, a mídia noticiou que a polícia finalmente sepultaria o corpo de Roland T. Owen em uma sepultura sem identificação. No dia seguinte, uma florista entregou à delegacia um buquê de treze rosas, acompanhado de um bilhete indicando que as flores deveriam ser colocadas no topo do caixão e que o dinheiro fornecido seria destinado ao funeral. O bilhete terminava com a mensagem: "Amor eterno - Louise."

Cartas para Ruby

Durante a primavera de 1935, Ruby Ogletree começou a suspeitar que algo estava errado quando passou a receber correspondências com gírias, erros e palavras que não condiziam com o estilo de escrita de seu filho, um jovem de apenas 17 anos que havia deixado o lar em 1934 para viajar pelo mundo. Contudo, em agosto do mesmo ano, ela recebeu uma carta de um homem chamado Jordan, informando que seu filho, Artemus, havia salvado a vida dele e agora vivia feliz com uma mulher abastada no Cairo. Além disso, a carta mencionava que Artemus havia perdido um dedo, o que o impedia de continuar escrevendo. Ruby tentou localizar Artemus procurando o consulado egípcio nos Estados Unidos, porém, sem sucesso.

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Até o ano de 1936, Eleonor Ogletree, a filha de Ruby, deparou-se casualmente com um artigo sobre o homicídio de Roland T. Owens no periódico The American Weekly. Com base na descrição e na imagem do indivíduo em seu leito de óbito, sobretudo na marca na cabeça, que era resultado de uma queimadura durante a infância, ela identificou incontestavelmente o seu irmão, Artemus Ogletree. A família encaminhou uma fotografia dele às autoridades do estado do Kansas, que confirmaram que, na realidade, Roland era o filho viajante de Ruby.

Em vez de encerrar-se, mesmo diante do caso e do corpo do jovem já terem esfriado, mais indagações se acrescentaram ao enigma: Quem estava enviando as correspondências para a mãe de Artemus e com que propósito? Quem eram Jordan e Louise? Ademais, uma questão emergiu, imensa como uma sombra, a pairar sobre todas as demais: o que Artemus poderia ter feito?

REFERENCIAS: MEGA CURIOSO

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