HISTÓRIA E CULTURA

Mokomokai: O Relato das Cabeças Conservadas dos Maoris

mokomokai1Pense na surpresa de chegar à residência de alguém para uma visita amigável e deparar-se com uma impressionante coleção de cabeças humanas adornadas com intricadas tatuagens, cuidadosamente exibidas em um lugar de destaque! Esse hábito peculiar foi apenas um dos muitos que chamaram a atenção dos primeiros europeus que exploraram a Nova Zelândia e interagiram com os Maoris, os habitantes originais daquelas terras distantes. A narrativa das cabeças preservadas está intrinsecamente ligada à prática ancestral das tribos maori de adornar seus rostos com tatuagens cerimoniais conhecidas como Moko.

Geralmente, eram os homens que recebiam essas tatuagens, e tanto a quantidade quanto os padrões utilizados serviam como indicadores do status social desses indivíduos. Normalmente, os líderes das tribos, guerreiros de renome e figuras destacadas na comunidade ostentavam uma maior quantidade de tatuagens, enquanto as mulheres pertencentes às classes mais elevadas também adotavam desenhos em seus rostos, embora esses fossem geralmente limitados aos lábios e à área de pele entre a boca e o queixo.

 

 

As marcações exibidas por cada integrante da sociedade eram distintas e adquiriam progressivamente novos contornos e detalhes com o passar dos anos. Como resultado, as tatuagens não apenas espelhavam sua posição na hierarquia social, mas também os eventos significativos vivenciados por esses indivíduos. Assim, quando esses membros faleciam, suas cabeças eram separadas do corpo e passavam por um elaborado e minucioso procedimento de preservação, a fim de garantir sua perenidade.

Preservadas para a posteridade

O processo começava com a decapitação do falecido e a extração dos olhos e do cérebro. Em seguida, os orifícios eram preenchidos com fibras de linho e goma e selados hermeticamente. A cabeça era então submetida a um método de "cozimento", frequentemente usando vapor, e, posteriormente, submetida a um processo de defumação sobre uma fogueira. A etapa subsequente envolvia deixar a cabeça secar ao sol por vários dias, sendo, por fim, cuidadosamente revestida com uma camada generosa de óleo de tubarão. Embora tenhamos brincado no início da matéria sobre a possibilidade de chegar à residência de alguém e se deparar com uma coleção de cabeças preservadas, a realidade era que os mokomokais eram reservados apenas para cerimônias sagradas e ocasiões extraordinárias. Essas peças desempenhavam um papel crucial na homenagem aos falecidos membros da tribo e eram mantidas em elaboradas caixas de madeira durante o restante do tempo.

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Outra peculiaridade acerca dos mokomokais reside no fato de que, além de conservar as cabeças de líderes e outros indivíduos destacados da comunidade, os maoris também submetiam as cabeças de guerreiros pertencentes a tribos rivais ao mesmo procedimento de preservação. Essas cabeças eram então exibidas como troféus de guerra em residências comuns, onde muitas vezes se tornavam motivo de escárnio. Caso as comunidades eventualmente reconciliassem suas diferenças, ocorria o intercâmbio de mokomokais como um gesto de boa vontade.

Comércio de Cabeças

No século 18, quando os britânicos estabeleceram presença na Nova Zelândia, eles ficaram maravilhados com as cabeças preservadas e prontamente tentaram negociar com os maoris para levá-las de volta à Europa. Contudo, dado que os mokomokais eram considerados objetos sagrados ou despojos de guerra, os nativos hesitavam em se separar deles. Em 1807, as Guerras dos Mosquetes eclodiram, marcando uma série de conflitos que envolveram várias tribos maoris e se estenderam até 1845, tornando os mokomokais uma moeda de troca. Durante esses conflitos, os maoris tiveram seu primeiro contato com mosquetes e começaram a permutar as cabeças preservadas de seus adversários por armas.

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O mercado de mokomokais prosperou, e muitas tribos chegaram até a se envolver em roubos de cabeças uns dos outros para posterior venda aos súditos britânicos. Os maoris chegaram a um ponto onde tatuavam as cabeças de escravos e adversários a fim de criar réplicas de mokomokais, tudo com o objetivo de adquirir mais mosquetes. Os principais adquirentes dessas cabeças eram colecionadores, naturalistas e estudiosos britânicos encantados com esses artefatos. O comércio apenas foi proibido em 1831, por ordem do governador de Nova Gales do Sul, General Sir Ralph Darling. Como resultado, a maioria dos mokomokais encontra-se hoje em exposição em museus ao redor do mundo ou em coleções particulares, ao invés de permanecer na Nova Zelândia, sua terra de origem.

REFERENCIAS: AVENTURAS NA HISTORIA

                       MDIG

                       MEGA CURIOSO