VERDADES INCONVENIENTES

A Enseada (The Cove) - Parte 1

golf01 topoAntes da transcrição desse ótimo (e triste) documentário algumas considerações. É incrível que um pais tão desenvolvido e antigo como o Japão ainda aceite que uma barbárie insana como esta continue sendo praticada impunemente, em nome da TRADIÇÃO e da GASTRONONOMIA japonesa. É insano e cruel demais sequer discutir uma argumentação são suja, absurda e canalha como esta. Agora um texto de Claudia Sarmento de "O Globo" sobre essa loucura e depois a transcrição do documentário: O principal personagem do filme "The Cove" - documentário sobre a matança de golfinhos no Japão que ganhou o Oscar de 2010 - decidiu não ir à cidade de Taiji este ano para acompanhar a temporada de caça dos cetáceos, que acontece a partir de setembro no Japão. Ric O'Barry, um ex-treinador que se transformou no principal nome da campanha contra a captura e matança dos golfinhos, ...

foi alvo de ameaças de morte de grupos da extrema direita japonesa, que consideram o filme uma ofensa ao país. Para evitar violência, o ativista contou que preferiu seguir o conselho da polícia local e não pisar em Taiji. A pequena cidade de 3.400 habitantes, no entanto, está sendo monitorada por outros grupos ambientalistas e pela imprensa, mas O'Barry admite que talvez a pressão apenas irrite ainda mais os pescadores.

- Talvez seja a hora de recuar e deixar os japoneses enfrentarem esse problema e abraçarem essa causa - disse o ativista em Tóquio, onde faz campanha para evitar a matança a golpes de arpão, registrada de forma impressionante no documentário de Louie Psihoyos, um fotógrafo da "National Geographic". Os pescadores de Taiji alegam que matar golfinhos e comer sua carne é uma tradição milenar, mas O'Barry - o homem que treinou os golfinhos da série "Flipper" antes de virar um ativista - não aceita essa explicação. Segundo ele, a prática só começou em 1933 e, além disso, o fato de a carne de golfinho ser contaminada por mercúrio, como mostra o documentário, deveria pesar mais do que qualquer questão cultural.

- A carne já foi retirada da merenda escolar das crianças de Taiji por causa da contaminação, mas continua sendo vendida no mercado sem nenhuma advertência. Isso deixou de ser uma campanha de proteção dos animais para se tornar um problema de direitos humanos. Os japoneses têm o direito de saber o que estão comendo - defendeu.

O ex-treinador, no entanto, condenou a tática de grupos como o Sea Shepherd, que persegue a frota japonesa no Ártico para impedir a caça de baleias, o que já levou a choques em alto-mar. Membros da organização estão em Taiji, mas O'Barry teme que seus métodos sejam contraproducentes.

- Nós precisamos trabalhar com os japoneses e não contra eles - afirmou, acrescentando que "The Cove" não é um filme contra o Japão. - O povo de Taiji é inocente. A matança é feita por uma minoria. São 13 barcos, com dois homens em cada um. Estamos falando de 26 caras que conseguiram denegrir a imagem de um país - declarou.

Por enquanto, não há sinais de sangue nas águas de Taiji neste início da temporada de caça, mas ativistas relataram a captura de pelo menos 20 golfinhos nos últimos dias, que provavelmente serão vendidos a parques aquáticos. A cada ano, cerca de 1.500 cetáceos são mortos na região, a sete horas de trem de Tóquio. Na capital japonesa, O'Barry entregou à Embaixada dos EUA uma petição pelo fim da caça com 1,7 milhão de assinaturas de 151 países. O ex-treinador quer que o governo americano pressione o Japão a proibir a prática, mas apesar de "The Cove" ter mostrado ao mundo o que acontece na isolada baía de Taiji, o assunto ainda não é um debate de grandes proporções entre os japoneses.


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- A mídia japonesa não tem muito interesse no assunto. Alguns repórteres me disseram que gostariam de relatar toda a história, mas ela dificilmente será publicada - acusa O'Barry, que agora estrela também um programa no canal de TV a cabo "Animal Planet".

A minissérie "Blood Dolphins" mostra a luta dos ativistas em Taiji e nas Ilhas Salomão, na Oceania, onde matar golfinhos é uma prática de 400 anos e até o dente do cetáceo é considerado valioso.

- Ensinamos aos pescadores atividades alternativas e, pela primeira vez, eles estão dispostos a interromper o massacre. Se isso é possível nas Ilhas Salomão, acredito que também será no Japão - disse o ativista americano, de 70 anos.


Pela primeira vez jornal japonês critica a caça de golfinhos em Taiji

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08/02/2014 - Apesar da indignação mundial em relação à caça de golfinhos em Taiji, a prática recebe pouca cobertura da mídia dentro do Japão. Esta semana, no entanto, o principal jornal em inglês do país, o Japan Times, publicou um artigo condenando a matança, pedindo ao governo para “defender os golfinhos” e não a “tradição”. As informações são do The Dodo.

Foi a primeira vez que uma fonte de notícias japonesa criticou explicitamente a caça. O governo japonês – e, consequentemente, o povo japonês – ficou na defensiva sobre os acontecimentos em Taiji, e a cobertura nacional das capturas na costa japonesa tem sido limitada e superficial. Segundo Kiki Tanaka, um cidadão japonês envolvido nos protestos locais, a maioria dos relatórios se centraram na resposta linha dura do governo à indignação global.

As autoridades do país têm sido rápidas em defender a caça, chamando a matança de “uma das formas de pesca tradicional do nosso país ” e afirmando que a caça “é realizada de forma adequada, de acordo com a lei”. Mas, como observa o Japan Times “seu argumento de que a força da tradição justifica a captura e morte de golfinhos é muito fraco. Muitas práticas culturais do passado, como a escravidão e decapitação foram interrompidos por razões éticas. Tradição e cultura são forças que mudam de acordo com o novo entendimento científico e evolução de padrões éticos. Além disso, a caça em Taiji nem era sequer institucionalizada em larga escala até 1969, de modo que as suas raízes são bastante superficiais. Além disso, a base jurídica para a caça que os funcionários também continuam defendendo é igualmente questionável”, relata o artigo.

O editorial levanta pontos importantes que, até agora, foram deixados de fora da conversa nacional do Japão. Martin Fackler, chefe da sucursal do New York Times em Tóquio, diz que isso pode ser devido à forma como o jornalismo é praticado no país, ao contrário de outras partes do mundo. ”Em geral, os grandes meios de comunicação aqui não tendem a ver algo como uma história a não ser que o governo ou algum outro órgão oficial esteja respondendo a isso”, disse Fackler. ” Em outras palavras, as autoridades constituem uma história, mas um problema sem solução, não. Assim, desde que o governo japonês ou algum outro grupo oficial não tomar medidas contra a caça Taiji, não é interessante.”

Finalmente, porém, esse paradigma parece ter mudado. A resposta do Japan Times à falta de ação do governo em relação ao que acontece com os golfinhos indica uma mudança positiva, que também pode sinalizar um diálogo mais aberto – e vontade de mudar a perspectiva – sobre os méritos da “tradição” de Taiji.


Agora o Documentário


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Gostaria de dizer que tentamos fazer a história legalmente. Pensei em todas as possibilidades do que poderia acontecer e manteve-me acordado a noite. A História que Ric mostrou-me no início era só a ponta do iceberg. Esta é a cidade de Taiji. A pequena cidade com um enorme segredo. É engraçado dirigir por Taiji. Parece a série "Além da Imaginação".

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É tão bizarro pois, se você não soubesse o que estava acontecendo aqui, acharia que esta é uma cidade que venera golfinhos e baleias. Da primeira vez que fomos ao Japão, Ric O"Barry ficou incirvelmente frustrado. Ele dise que tínhamos que usar máscara, do contrário saberiam que estamos aqui.

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Há cerca de 3 anos meu amigo Jim Clark e eu começamos esta organização: A Oceanic Preservation Society, OPS. Mergulhamos há mais de 35 anos, e você pode voltar ao mesmo ponto, ano após ano e literalmente ver a degradação dos oceanos bem diante dos seus olhos. Há grandes extinções acontecendo agora na nossa vida. Jim teve a idéia de tentar fazer algo a respeito para acabar com isso, então, comecei a documentar recifes ao redor do mundo.

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Richard O'Barry

Fui a uma conferência sobre mamíferos marinhos, em San Diego. Havia 2000 dos maiores cientistas do mundo sobre mamíferos mamíferos, e Ric O'Barry deveria ser o orador principal, e, no últmo minuto, o patrocinador do programa proibiu sua entrada. Eu pensei: "interessante, quem será o patrocinador?" Disseram: Sea World.

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Muitos cientistas de mamíferos marinhos recebem dinheiro do Hub Research Institute, que é o braço sem fins lucrativos do Sea World. Eles não gostam de mim. Não gostam de minha mensagem sobre o cativeiro e tiraram meu nome da lista. Não me deixaram falar sobre esta matança de golfinhos em Taiji.

Louie Psihoyos: "Eu disse: Matança de golfinhos? O que é isso? Ele disse: Bem, estou partindo semana que vem,quer vir?"

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Agora nos aproximamos da área mais importante. O pior pesadelo de um golfinho. Centenas de milhares de golfinhos morreram ali. Você verá placas: AFASTE-SE, PERIGO. Há pescadores com facas rodeando esses morros. É um parque nacional. Os pescadores me disseram: SE O MUNDO DESCOBRE O QUE SE PASSA AQUI, NÓS SEREMOS MORTOS ! SAbíamos que, para chegar lá, e filmarmos exatamente o que acontece, precisaríamos saber a verdade.

Quando voltamos ao Hotel Urashima (Katsuura, Japão), um grande spa hotel, com pessoas passeando de roupão e três policiais disfarçados falando com Ric.

Policial: Você veio ao Japão contra a caça de baleias e golfinhos?

Ric: Não.

Policial: Contra a atividade de pesca de baleias e golfinhos?

Ric: Não.

Louie Psihoyos: "Ao fundo, víamos estes "barcos golfinhos" passando na janela, e era tão surreal. Eu não conseguia, eu queria rir e gritar, ao mesmo tempo.

Policial: Espero que você não entre no local proibido.

rIC: Não, Não.

Policial: Absolutamente não entre!

Ric: Eu não entro, não, não.

Policial: Muito Obrigado, nos veremos de novo.

Ric: Certo, até logo.

Eu nunca planejei ser um ativista. Uma coisa leva a outra, e agora se há um golfinho em apuros em qualquer lugar do mundo, meu telefone toca.

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Ric é mundialmente famoso por seu trabalho com golfinhos. O primeiro contato que tive com ele, recentemente, foi em uma viagem a Nicarágua. Havia dois golfinhos em uma piscina cheia com seus próprios excrementos. Ric de alguma forma aliciou as forças militares da Nicarágua. Os golfinhos foram colocados em um helicóptero e então seguimos para o mar, e os golfinhos foram soltos.

Em março desse ano (2009), O'Barry foi preso três vezes na Flórida por tentar libertar golfinhos em cativeiro. No Dia da Terra, ele foi preso pela mesma coisa na ilha de Bimini. Um golfinho no lugar certo pode fazer um milhão de dólares por ano. Há muito dinheiro envolvido.

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A Ativista Jane Tipson foi assassinada, é a segunda colega comque trabalhei, que foi assassinada. A outra foi Jenny May. Estavamos tentando deter o tráfico de golfinhos russos, e entramos em greve de fome. Pelo décimo dia, eu desmaiei, e fui a um hospital local. Seguiram-na pela praia e a estrangularam com o próprio cinto.

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Me sinto um pouco responsável pois foi a série de TV Flipper que criou esta indústria multibilionária, que criou este desejo de nadar com eles, beijá-los, protegê-los, abraça-los e amá-los até a morte. E o que criou todas estas capturas. Havia cinco golfinhos fêmeas que coletivamente fizeram o papel de Flipper. Capturei os cinco golfinhos pessoalmente.

Quando Flipper estreou em 1964, Ric O'Barry se tornou o mais famoso treinador de golfinhos do mundo. Quando ele começou a treinar golfinhos, nao havia nenhum manual. Ele recebia um escript, que dizia: Flipper passa pela doca, pega a arma e sai nadando em zigue-sague. Ele tinha que traduzir aquilo em ação, de alguma forma. O que realmente o surpreendeu é que eles são mais espertos do que pensamos que são.

PARTE 2