CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Técnica inovadora para as investigações forenses: Reidratação de cadáveres - Parte 1

reidra110/04/2015 - ATENÇÃO! Este texto contém imagens fortes, recomanda-se CUIDADO ! O mexicano Alejandro Hernández Cárdenas é dentista, trabalha no laboratório de Ciência Forense da Ciudad Juárez e revolucionou a história da criminalística com a criação de uma técnica sem precedentes. Trata-se da reidratação de cadáveres, método que permite recuperar características da condição original dos corpos, como se estivessem vivos. Essa técnica, que pode trazer avanços enormes na investigação forense, conta com uma espécie de “jacuzzi”, uma banheira com produtos químicos nos quais os cadáveres são submersos para a reidratação. Dessa maneira, são reveladas lesões, e os órgãos internos ficam quase do mesmo estado que antes ...

da morte, permitindo um conhecimento da história do corpo que poderá ser de grande utilidade em investigações policiais e em casos criminais. Sua importante utilidade é poder devolver a identidade a cadáveres encontrados em estado avançado de putrefação ou cujos sinais de reconhecimento tenham desaparecido em decorrência de uma morte violenta.

Conforme explica Hérnández Cárdenas, “é muito recompensador quando, graças a esse método, conseguimos identificar uma pessoa e entregar seu corpo à família, evitando que seja sepultada como uma desconhecida, e que essa família continue na incerteza”.

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"Levo meu trabalho muito a sério.Sei que faço meu trabalho com a melhor das intenções de ajudar as vítimas e de ajudar suas famílias. Acredito que, com o meu trabalho, vou ajudá-lo a voltar a sua família."

Cidade Juarez, México

A cidade está familiarizada com a morte. Durante anos esta cidade fronteiriçã tem sido assolada pela sombra de assassinatos e desaparecimentos. A violência aqui gerou um grande frenesi na mídia internacional e atingiu seu ponto mais alto entre 2006 e 2011, quando os cartéis de tráfico deixaram a população de 1,5 milhao de pessoas banhada em sangue. E ainda assim há sinais de que a violência esteja diminuindo.

Em 2013, pouco mais de 500 homicídios foram registrados em Juarez. Compare iso com 2010, quando mais de 3000 pessoas foram assassinadas aqui e fica claro que a cidade está agora arrefecendo. Mas isso não quer dizer que Juarez esteja completamente segura. Em 2013 a cidade aind estava entre as 20 mais perigosas do mundo.

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Autoridades americanas e mexicanas ainda encontram com frequência corpos em decomposição emlotes vazios ou nos desertos dos arredores. A maioria desses cadáveres estão decompostos e não identificáveis, e são enterrados em valas comuns. De acordo com o governo do México, 26 mil vítimas continuam desaparecidas.

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O ponto positivo é que violência gerou um crescimento em pesquisas forenses como em nenhum outro lugar do planeta. Juarez é lar de muitos especialistas forenses, alguns dos quais envelheceram bem ao longo dos anos.

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"Acho que praticamente durante todo o tempo em que estive aqui fiz quase mais de 4000 autópsias."

A vivência que tivemos durante os períodos violentos da cidade de Juarez fez com que aqueles que trabalham com investigação criminal e forense tenham adiquirido mais experiência e conhecimento e também aprendido métodos mais científicos para determinar causas de homicídios e mortes violentas. Imunes ao derramemento de sangue, eles se tornaram mestres em tudo, desde balística e análise de corpos, à odontologia forense. Deste rol de especialistas, um homem criou algo revolucionário. O Dr Alejandro Hernandez Cárdenas, odontologista forense:

"É consenso que em tempos de guerra a ciência e a tecnologia avançam bastante. Aqui na Cidade de Juarez vivemos uma situação de guerra entre os cartéis de drogas, nos deixa algo de positivo em meio a todo o horror."

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Dr Cardenas é um dentista forense por formação, mas ele foi pioneiro ao identificar os não identificados com uma substância química que está revolucionando a criminologia como a cohecemos. Alguns dizem que a sua mistura traz os mortos de volta a vida. Com esta fórmula podemos fazer com que um cadáver que esteja num estado inicial de desidratação ou mumificação possa permitir que a pele, o tecido, todos os tecidos finos, permitam que a água seja resbsorvida, e isso permite também que se perca aquela aparência escurecida e rígida que apresentam os cadáveres, devolvendo-lh a aparência mais próxima ao normal do corpo, natural ou normal. Pequenas verrugas, cicatrizes novas e antigas por trumatismos ou cirurgias, tatuagens e outras características. E as características faciais, o nariz, a boca, as orelhas, as recuperam quase por completo a sua aparencia normal.

Cardenas criou esta solução para dar nmes aos assustadores volumes de corpos sendo enterrados nas valas comuns de Juarez. Ele passou os últimos 20 anos tentando desfazer esses nós. Mas foi só quando os corpos comearam a fazer pilhas no necrotério que o médico pode aperfeiçoar sua receita.

"Investiguei e decobri outras fórmulas que eram desconhecidas e publicadas em livros e revistas de ciência. Então passei a experimentar as combinações de algumas dessas fórmulas até que um dia vi um dedo apresentr condições perfeitas. Foi um grande supresa."

Ele começou pequeno, reidratando dedos que ele guardava em potes de comida para bebê.

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"Quando vi que estava funcionando com os dedos, usei uma mão, então usei um braço, depois uma orelha, depois achei uma pele que encontrei separada de um corpo. Numa determinada ocasião, me pediram um rosto, uma cabeça e duas mãos e sugeraram ao procurador, "porque não usar o corpo inteiro?."

Até aqui, ele ja realizou uma dúzia de reidratações de cadáveres, e esta desenvolvendo a infraestrutura para expandir sua técnica. Ele recebe ajuda e aprendizes com Ivan. Com apenas 25 anos, Ivan ja viu coisas que muitos especialistas forenses jamais irão encontrar.

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"Tive a experiência de executar autópsias em dois membros diretos da minha família, meu irmão e meu tio-avô. Fiz isso porque era o meu turno e não havai mais ninguém. Então, sim, foi um pouco doloroso fazer aquilo em uma pessoa com que se vive."

Trabalhar próximo ao médico deu a Ivan conhecimento de causa em inovação forense.

"Trabalho para ele há alguns anos já, mais auxiliando do que trabalhando em si. Auxiliá-lo no que ele diz, acho que é muito interessante e extremamente benéfico, não só para o México, mas para a sociedade como um todo."

Ivan é apenas mais uma personagem no espectro da medicina legal que está se inspirando em Cárdenas.

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"Como um ótimo amigo, como um cientista de alto nível no México, sua fórmula nos permite fazer nosso trabalho com 70% mais eficácia, porque podemos encontrar, buscar, até mesmo levantar mais evidências desse tipo de processo que o o doutor faz."

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Alfredo velasco, analista criminal: " Por eemplo, a análise crimina nos dá informações sobre a linha do tempo, comportamento criminal, informações sobre a vítima. O que o Dr Cardenas esta alcançando aqui esta quebrando tabus e estabelecendo novas diretrizes no campo da investigação forense."

Eberth Castanon Torres, geneticista: "Os resultados destes trabalhos me parecem muito impressionantes, porque ele basicamente traz um corpo de volta a vida."

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"Nós brincamos dizendo que enquanto ele esta trabalhando nos corpos, ele próprio toma umas doeses da fórmula, porque ele continua igual, nunca muda."

Mas apesar de todos os elogios, o médico é uma pessoa bastante modesta.

"Considero todos os meus colegas como verdadeiros especialistas por conta desta infeliz questão que é tão triste para a nossa cidade. Mas agora que a cidade esta pacífica, e que o estado geral está pacífico, e espero que o país também muito em breve, poderemos dizer que possuimos pessoas altamente capacitadas disponíveis para ocasiões que apresentem um nível semelhante de violência."

Juarez talvez não seja a cidade mais violenta do mundo,um título que manteve até pouco tempo, em 2009. Assim, na primeira manhã em que fomos visitar o Dr Cardenas em ação nos foi dada a desagradável lembrança, bem aqui no estacionamento do necrotério, de que Juarez ainda tem seus problemas.

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Estas marcas de balas são o resultado de um tiroteio entre a polícia local e traficantes. Seis corpos foram parar no necrotério. Esta cena estaria fora de contexto em 2010, no ápice da violência. HOje em dia, nos disseram que é praticamente normal. Enquanto os cadáveres do macabo tiroteio são preparados para autópsia, do outro lado do corredor o médico se prepara para reidratar um corpo.

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"Temos que encher o ataúde plástico que chamamos de jacuzzi, e enche-lo com aproximadamente 200 a 250 litros água tridestilada."

Seu proceso está com a patente pendente, ja que ninguem sabe ao certo o que acontece, ou exatamente como funciona. A água tridestilada foi o único componente da solução que o médico nos permitiu filmar.

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Vamos acompanhar este corpo no decorrer de uma semana enquanto ele está imerso na solução do médico. E com sorte, teremos uma idéia de quem era essa pessoa. De acordo com o Dr Cardenas, este homem foi vítima de atropelamento seguido de fuga aqui na cidade. As autoridades encontraram seu corpo num estágio avançado de putrefação. Depois de dois anos num freezer, seu corpo é agora uma múmia.

Quando se morre, o corpo passa por sete estágios de decomposição?

- POLLOR MORTIS

- ALGOR MORTIS

- RIGOR MORTIS

- LIVOR MORTIS

- PUTREFAÇÃO

- DECOMPOSIÇÃO

- ESQUELETIZAÇÃO


O Trabalho do médico supostamente reverte estes dois estágios. A putrefação, estágio 5, é quando as proteínas do corpo se decompôem a um ponto que os tecidos e órgãos começam a apodrecer. E então há a decomposição, estágio 6, que suga a umidade restante do corpo. As condições desérticas nos arredores de Juarez mumifica os restos mortais.

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Dr Cardenas: "Podemos observar que o cadáver apresenta um estado de desidratação. Nos primeiros estágios de mumificação por causa da desidratação. A cor da pele é bem escura e está rígida, está dura, colada ao osso, parece uma camada bem fina de pele, como se fosse uma pessoa muito magra. Afinal percebe-se que não era assim tão magra, a pele ganha um pouco de volume. Acabo de colocar o corpo no ataúde. Nos primeiros dois dias, a cada 12 horas, porque chega um momento em que está em seu ponto preciso. Se deixar mais tempo, o corpo pode sofrer alterações. Então é preciso estar bem atento e revisando frequentemente, e saber observar as mudançad na pele, saber que a pele não pode mais abserver liquidos, porque se absorver demais, a pele vai ficar com uma aparência inflada ou inchada, e isso vai alterar a aparência normal da pele. Então ha um momento exato, e é preciso estar revisando frequentemente isso. O corpo foi encontrado num estado inicial de putrefação. Porque foi conservdo em um refrigerador por muito tempo, a temperaturs muito baixas, o frio excessivo para a putrefação, e depois a pele começa a se desidratar. Por isso fica com este aspecto de mumificação. Depois de alguns dias os dedos ficarão flexíveis e suaves, e poderemos tirar as impressões digitais. É possível que se possa identificar o corpo com isso. Além disso outas características irão aparecer. A forma do nariz, os lábios, a forma completa do rosto e das orelhas, a cor exata da pele, e se tem uma verruga, ou cicatriz, ou tatuagem, também deve aparecer por causa da solução.

Quando eu comecei a trabalhar para o Serviço Médico Forense, percebi que haviam muitos corpos que entravam mumificados e não era possível identificá-los e eles acabavam na vala comum. Isso chamou a minha atenção e me preocupou. E também me tocou trabalhar com muitos corpos de jovens mulheres que apareciam vítimas de feminicídios e que estavam naquelas condições. Na realidade, isso foi que mais me motivou, as jovens que não podiam ser identificadas. Então decidi começar a experimentar com técnicas que me ensinaram quando tirei especialidade forense.

Na minha fómula vai água, bem, são produtos químicos que são bastante comuns. Realmente eu sempre disse que não entendo porquie mais ninguém fez isso. O que acontece é que não tiveram o interesse, que não se sentiram impactados como eu pelos corpos das jovens garotas e homens sendo jogados naquelas valas comuns só porque não era possível identificá-los. Não sei porque. A fórmula é muito simples. Infelizmente não posso te contar mais o que ela contém, mas o principal elemento é a água."

Cardenhas mantém a boca fechada sobre sua inovação, o que não é uma surpresa. Se seu pedido de patente for aprovado, ele poderá se tornar o pai de uma nova era em medicina legal e ganhar muito dinheiro. Ainda assim, Cardenas não possui o monopólio no negócio de reidratação. Pesquisadores forenses americanos conseguiram aprovação de patente em 2005, para um método similar utilizado em reidratação de tecidos.

A poucas horas a oeste de Juarez, nas mesmas condições desérticas que rapidamente decompôe restos mortais, esta o Escritório de Examinadores Médicos de Pima County, Tucson, Arizona. É aqui que nos encontramos com o Dr Bruce Anderson, um antropólogo forense cujo laboratório desenvolveu uma técnica inovadora de reidratação de mãos para identificação.

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"Quanto mais tempo a pessoa estiver aorelento, menos carne haverá e eventualmente menos ossos. Essa não é na verdde uma má representação de um corpo da cabeça aos joelhos."

Dr Anderson passa a maior parte do seu tempo estudando ossos. Mas, se o caso requer, seu laboratório irá reidratar parte de corpos, pricipalmente mãos para identificação.

Dr. Anderson: "Estamos reidratando digitais aqui desede pelo menos os 13 anos em que estou aqui. Há muitos remédios populares para inchar e amolecer dedos, tudo, desde amaciante a água quente. Nossa técnica, a técnica PCOME, utiliza hdróxido de sódio para amaciar as mãos para que possam ser digitalizadas. Para o nosso tipo específico de reidratação, mumificação, dessecação de digitais, o método do hidróxido de sódio, que acho que este laboratório desenvolveu há 15 ou 20 anos, e agora acho que estamos mais ou menos perfeitos, esta funcionando para nós."

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