CIÊNCIA E TECNOLOGIA

"Utopia dos Ratos": Experimento previu a extinção da Humanidade?

utoratos topo08/09/2020, por Julio Cesar de Araujo - Em 1947, analisando o aumento vertiginoso na densidade demográfica dos Estados Unidos, o etólogo John B. Calhoun decidiu dar início a um experimento comportamental com foco em uma análise psicopatológica realizada com ratos para exemplificar como a superpopulação das áreas urbanas poderia contribuir para o fim da humanidade.

O primeiro experimento começou em uma fazenda em Rockville (Maryland, EUA), depois que o vizinho de Calhoun permitiu que ele erguesse um cercado para ratos em uma pequena floresta que havia atrás de sua casa. O etólogo construiu um cercado de aproximadamente 1 mil metros quadrados, com capacidade para abrigar até 5 mil ratos. Intitulada “cidade dos ratos”, ele adicionou cinco ratazanas grávidas e deu início a sua observação.

Em 2 anos de experimento, por incrível que pareça, a população de ratos nunca ultrapassou de 200, muito embora tivesse espaço o suficiente para que alcançasse a população de no mínimo 1 mil animais. Intrigado e sem saber o que havia acontecido, ele refez o estudo por mais 24 vezes.

A utopia dos ratos

Em 1954, quando Calhoun começou a trabalhar no Laboratório de Psicologia do Instituto Nacional de Saúde Mental, ele decidiu refazer o experimento pela 25ª vez, só que focando em como os roedores se comportariam em um ambiente controlado, livre de predadores, esterilizado, com pouca margem para doenças, e com água, comida e abrigos suficientes. O projeto foi chamado por ele mesmo de “utopia dos ratos”, pois os roedores remontavam um tipo de estrutura social que os homens jamais alcançariam.

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Também nomeado de Universo 25 devido à quantidade de vezes que tentou realizar com sucesso o experimento, Calhoun visava analisar o efeito da densidade populacional sobre os padrões de comportamento dos ratos. Para isso, ele construiu um tanque de 2,7 m², com 1,5 metros de altura e uma temperatura constante de cerca de 20º C. Equipado com 256 abrigos e 16 canaletas, o cientista deu tudo aos roedores em um espaço que abrigaria uma população máxima de 2.200 animais.

O experimento começou com quatro pares de camundongos saudáveis, que foram soltos para dar início à nova sociedade. Nos primeiros 104 dias, identificado como "fase de estrutura" ou "período de luta", os roedores se ajustaram ao habitat e construíram seus ninhos. Quando a "fase de exploração" começou, em que os animais se encontravam e acasalavam, a cada 55 dias a população passou a dobrar de tamanho.

Um inferno até à morte

Em 315 dias de experimento, a utopia já havia se tornado um pequeno inferno, com uma população de 620 ratos. Calhoun percebeu que os "ratos ômegas", que eram tímidos e faziam parte da base da hierarquia, interromperam o acasalamento quando se viram rejeitados pelas fêmeas. Sem terem mais um papel na sociedade, eles se afastaram dos grupos maiores e passaram a comer, dormir e às vezes brigar com os demais marginalizados.

Os "machos dominantes" adotaram um comportamento muito agressivo, atacando os demais ou os provocando sem motivo aparente. Alguns se tornaram homossexuais, pansexuais ou hipersexuais, chegando a se deslocarem em grupos que atacavam as fêmeas e estupravam qualquer rato, independentemente do sexo. Por vezes, os alfas lançavam episódios de violência que terminavam em canibalização, apesar de haver comida o suficiente.

Uma vez que os machos abandonaram seus papeis designados dentro da colônia, as fêmeas tiveram que cuidar de seus ninhos, por isso adquiriram um comportamento agressivo, que acabava sendo transferido em forma de violência contra os próprios filhotes. Algumas chegaram a abandonar as ninhadas, gerando uma taxa de mortalidade de 90%, que Calhoun definiu como “fase de estagnação” devido ao colapso dos papeis sociais e à aglomeração excessiva.

Uma previsão social?

Em 560 dias de experimento, por fim, os roedores perderam a capacidade de agir como ratos e ficou claro que a mudança seria permanente. Com uma taxa de mortalidade de 100%, Calhoun decretou que a colônia entrava na “fase de morte”, na qual o Universo 25 se encaminharia para a sua extinção.

A geração jovem de ratos cresceu em meio a um ambiente anormal, sem exemplos de como deveriam se comportar, sem molde de paternidade e maternidade, instrução para acasalamento e marcação de território. Portanto, eles apenas comiam, bebiam e se higienizavam. Nomeados “belos” pelo cientista, esses eram caracterizados por uma apatia social, perda de propósito de vida e reclusão, sendo os responsáveis por ocasionar a “primeira morte” da colônia — o fim do desejo de um futuro. A “segunda morte”, como observou Calhoun, aconteceu com a extinção total do Universo 25.

Publicada na edição de 1962 da Scientific American, a conclusão do cientista foi de que os ratos, assim como os humanos, só prosperam em um senso de identidade e propósito estabelecidos dentro do mundo em geral e que o estresse, ansiedade, tensão e instinto de sobrevivência tornam necessário o engajamento na sociedade.

Ou seja, para Calhoun, quando todo o senso de necessidade é retirado da vida de um indivíduo, a vida deixa de ter propósito, uma vez que ela não é apenas apoiada em aspectos básicos – moradia, água, conforto e comida. Apesar de ter recebido muito apoio da comunidade científica, o estudo de Calhoun também foi questionado e classificado como perigoso. Para o médico e historiador Edmund Ramsden, "os ratos podem sofrer com aglomerações, mas os seres humanos podem lidar com isso. A decadência moral pode surgir não da densidade, mas da interação social excessiva. Nem todos os ratos ficaram furiosos. Aqueles que conseguiram controlar o espaço levaram vidas relativamente normais”, observou o médico.

Em 1972, o conceito do Universo 25 apavorou as pessoas nos Estados Unidos e causou uma histeria em massa quando os índices de densidade populacional nos centros urbanos estouraram — e as taxas de homicídio alcançaram 135% com relação à década anterior. A ideia de um iminente "apocalipse social" em que as pessoas se autodestruiriam despertou a ideia de migração para os campos ou subúrbios, onde havia espaço suficiente e uma vida tranquila e natural. Apesar de tudo, ao lado de Freud e Skinner, o experimento de Calhoun entrou para os “Quarenta Estudos que Mudaram a Psicologia".

 

Experimento Universo 25: a utopia dos ratos

 

Já imaginou viver em um ambiente com comida disponível quando desejasse e água para beber à vontade? Um pesquisador fez essa experiência utilizando ratos. O Universo 25 reuniu inicialmente quatro animais da espécie, que foram se multiplicando até chegar aos 600.

Universo 25 – Experimento

O experimento Universo 25 foi desenvolvido para identificar como é o comportamento de animais vivendo em superpopulações num espaço inadequado. Esse teste durou dois anos, servindo de alerta para a humanidade que vem crescendo de forma desenfreada, enquanto o espaço onde vivemos continua sendo o mesmo.

O que é Universo 25?

Universo 25 era o nome de uma caixa gigante, projetada para ser a “utopia roedora”. Seu criador, John B. Calhoun tinha uma mente maquiavélica. Esse foi o seu 25º projeto envolvendo ambientes para ratos. Essa era uma construção complexa, dividida em níveis, contando com rampas, até chegar ao tal Universo 25, um ambiente cheio de comida, que uma hora ficou superlotado.

Quem foi John B. Calhoun?

O norte-americano John B. Calhoun nasceu no dia 11 de maio de 1917 e morreu em 7 de setembro de 1995. Psicólogo e etólogo, ganhou fama ao longo da vida devido aos estudos sobre a densidade demográfica, na maioria da vezes utilizando ratos de laboratório. Acreditava que os modelos utilizados em suas pesquisas representavam o que poderia acontecer com a população mundial. Ele criou o termo ralo comportamental, que descreve comportamentos estranhos realizados quando superpopulações estão presentes, para identificar os indivíduos isolados da sociedade. Conforme foi se destacando, passou a realizar conferências no mundo inteiro, atuando inclusive como consultor para grupos da Nasa. Seus experimentos serviram para diversas teorias.

O ralo comportamental

John B. Calhoun utilizou esse termo para descrever o colapso resultante da superlotação das populações. Foi criado no dia 1º de fevereiro de 1962, junto com o lançamento do artigo Densidade Populacional e Patologia Social, em uma revista semanal. Não demorou para que esta ideia de sociologia urbana passasse a ser utilizada ligada a conceitos de psicologia. Conforme analisou, as ratas não conseguiam manter a gravidez ou não conseguiam dar à luz. As que conseguiam parir, perdiam suas funções maternas. Os machos poderiam até se tornar canibais. “Nos experimentos, quando o ralo comportamental se desenvolvia, a mortalidade infantil chegava a altas porcentagens de 96% entre os grupos mais desorientados da população”, escreveu.

Como era o Universo 25?

Esse foi o experimento mais complexo de John B. Calhoun. Em 1972 ele construiu um ambiente perfeito para os ratos. Era uma área de três metros quadrados, com paredes medindo um metro e meio e uma área de “ninhos”, que poderiam ser acessadas por meio de rampas. Se atingissem o topo, encontrariam um ambiente com água abundante, comida e sem predadores. Inicialmente ele colocou oito camundongos de laboratório, sendo quatro de cada sexo. Com o passar do tempo eles passaram a se reproduzir. A cada 55 dias a população dobrava. Atingindo nada menos do que 620 ratos no dia 315. Ele aguardava pelo dia que o colapso aconteceria, já que a população não tinha um líder. Alimentação não faltaria, apenas espaço.

O aumentou continuava

Como era de se esperar, a cada ciclo de reprodução o número de ratos era maior. De acordo com o criador, que sabia muito sobre o que estava fazendo, os problemas apareceriam quando fossem quatro mil ratos. Porém, quando a população chegou aos 600 ratos, ainda havia bastante espaço disponível, mesmo assim, eram 145 dias até dobrar novamente. Esse foi o limite máximo de animais encontrados no ambiente. Um pouco mais da metade do espaço foi preenchida. Após o pico, os ratos foram morrendo aos poucos e com quase nada de reproduções, dois anos depois nenhum sobreviveu. Desde o começo havia uma intensa briga pelas fêmeas, territórios e proteção aos filhotes.

Como era a vida com 600 ratos?

O auge do Universo 25 foi de 600 ratos. Nesse momento o responsável pelo projeto percebeu alterações nos comportamentos. Os machos se tornaram mais passivos e já não ligavam tanto para as fêmeas. As ratas passaram a expulsar os filhos dos ninhos antes do momento adequado, um processo que gerou problemas devido a rápida maturação dos novos animais. Os filhotes que eram inseridos na sociedade dos ratos antes da hora, precisavam lidar com a hostilidade e a violência. Assim, muitos ratos chegavam na idade adulta já com problemas físicos e muitos arranhões. Os ratos novos eram cada vez mais passivos e não queriam saber de interação social. É bom frisar que estamos falando de animais e não de crianças.

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Ratos homossexuais

Um dos principais fatores identificados pelos pesquisador foi o aumento de casos homossexuais envolvendo os ratos. As fêmeas passaram a ser mais agressivas, até mesmo com os seus filhotes. Quando eram ameaçados por outros bichos, conseguiam proteger apenas metade. Os machos não conseguiam manter as relações com as fêmeas e nem os seus territórios. E esses que não conseguiam dominar eram cada vez mais passivos, alguns se tornando homossexuais.

Quem eram os belos?

Calhoun começou a chamar alguns ratos de belos. Acontece que alguns dos animais não faziam nada o dia inteiro, no máximo se alimentavam. Receberam esse nome porque não possuíam cicatrizes alguma, diferente de outros que viviam por lá. Não faziam sexo, não tinham agressividade e nem outros interesses. Mal sobreviviam.

Para que servia o Universo 25?

O maior objetivo do experimento Universo 25 era determinar qual seria o limite máximo de indivíduos num mesmo espaço. Mas, infelizmente não foi possível chegar a este limite, já que os animais entraram em colapso antes disso. Após o fim da reprodução, foi um passo para o fim dos testes.

Esse pode ser o fim da humanidade?

O experimento Universo 25 concluiu que mesmo havendo comida para todos, a falta de espaço pode acabar com uma população. Anos depois, pesquisadores indicaram que o ambiente tinha espaço adequado, porém, com poucas passagens e aberturas pequenas, alguns ratos acabavam sendo bloqueados em alguns “quartos”. Os mais dominantes não permitiam as passagens.

Fonte: https://www.megacurioso.com.br/
           https://kingolabs.com.br/