CURIOSIDADES

Prédio de luxo em Nova York terá ‘Porta dos Pobres’

dorpobre22014 - A aprovação de um plano de construção de um prédio de luxo em Nova York vem causando polêmica. O projeto da construtora americana Extell Development, aprovado pelos governo da cidade, prevê a construção de um prédio de luxo no bairro de classe alta Upper West Side, em Manhattan, com entrada separada para os residentes de baixa renda, a chamada “porta dos pobres”. De acordo com a Extell, o prédio de luxo teria 33 andares, com um total de 219 apartamentos. As unidades mais caras, para os residentes “da elite” terão vista para o rio Hudson, enquanto as mais baratas – um total de 55 apartamentos – vão ter frente para a rua. A aprovação desse projeto, no endereço, causou indignação nas redes sociais, que está sendo chamado de “uma versão atualizada da segregação.”

As questões envolvendo residentes mais pobres em edifícios de luxo incluem a proibição do uso da piscina e da academia e costumam  afetar mais os negros, aponta o site ThinkProgress. A revista Brooklyn Magazine afirma que tal diferenciação não é incomum. Já a New York Magazine explica que a entrada especial, vulgo “Porta dos Pobres”, poupa os residentes mais abastados do constrangimento de encontrar regularmente pessoas com estilos de vida diferentes dos seus.


Em Nova York, prédio terá entrada separada para moradores pobres

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29/07/2014. por Ginia Bellafonte - Mesmo com tantas crises perturbando o mundo recentemente, a notícia de que um projeto imobiliário no Upper West Side em Manhattan levará adiante um modelo de engenharia social muito desagradável conseguiu chamar atenção internacional. O edifício, chamado Riverside South, que abrange um terreno que chega até a Rua 72 e parece amplamente um local que surgiu repentinamente para pessoas que nunca ouviram falar do Katz’s Delicatessen ou da linha G do Metrô, teve aprovação da prefeitura da cidade para ter duas entradas separadas – uma para os moradores ricos e outra para aqueles que ganham bem menos e que ocuparão as unidades mais baratas do projeto, numa ala separada.

O efeito “os de cima e os de baixo” foi possível com base numa mudança da lei de zoneamento durante a administração Michael Bloomberg que deu às incorporadoras com projetos residenciais a preço de mercado o poder de decidir quanto a esses detalhes, além de isenções fiscais consideráveis. Embora a configuração do edifício seja um anátema em relação aos valores adotados pelo prefeito atual, Bill de Blasio, obrigar a incorporadora a abandonar o projeto envolveria um processo caro e não inteiramente sustentável juridicamente, disse a prefeitura. O foco agora é reverter aquela mudança da lei, disse a vice-prefeita, Alicia Glen, o que deve levar cerca de um ano.

A “porta para os pobres”, como é chamada, é uma odiosa resposta a um problema cuja solução não é nem óbvia nem facilmente encontrada por meio de mecanismos políticos: como e até que ponto deve a cidade ordenar uma integração econômica? O projeto Riverside South é inusitado, e até um pouco radical, no sentido de que suas unidades luxuosas são condomínios, e não apartamentos de aluguel. Basicamente, edifícios como este, que combinam apartamentos mais acessíveis a preço de mercado, não colocam nenhum apartamento à venda. Neste caso, um edifício em que os apartamentos são negociados em torno de US$ 22.000 o metro quadrado, também conterá 55 apartamentos para famílias com renda em torno de US$ 35.280 a US$ 50.340 ao ano.

Quase que todo o Upper East Side, da Avenida Lexington até a 5ª Avenida, é testemunha disto: pessoas ricas gostam de viver entre pessoas ricas. Uma incorporadora construindo uma estrutura com apartamentos a US$ 3 milhões vai se preocupar, não sem razão, que tais apartamentos serão menos comercializáveis se estiverem ao lado daqueles que estão sendo alugados a US$ 1.000 por mês.

Não se trata apenas que as pessoas ricas consideram as pessoas mais pobres asquerosas, embora em alguns caso isso possa ser verdade, mas o fato é que os proprietários normalmente preferem viver junto com outros proprietários, acreditando que isto protege melhor o valor do seu ativo. A locação tem a pecha da transitoriedade, menor estabilidade, etc. (Embora somente um terço dos nova-iorquinos seja proprietário de um imóvel, cerca de 60% que ganham mais de US$ 500.000 estão nessa situação, de acordo com o Furman Center da Universidade de Nova York).

Então, como associar as coisas quando isto parece tão contrário às preferências e justificativas básicas de uma classe social inteira? Alguns alegam que a integração deve se subordinar a um objetivo maior de construir um imóvel residencial ao preço mais barato possível, o que seria mais fácil de realizar em partes da cidade onde o terreno é mais distante do centro da riqueza e poder e portanto mais barato. Apesar de este enfoque ser mais economicamente eficaz, e até tem seu mérito do ponto de vista ético, é difícil considerá-lo mais objetivo do ponto de vista social.

Num universo ideal, líderes progressistas possuiriam habilidades de marketing tão profundas que poderiam alterar e reformular nossa definição de status, de maneira a haver uma mistura estreita e agressiva de populações diferentes que tem sua própria distinção e valor apreciável. A chamada gentrificação (processo de recuperação do valor imobiliário e de revitalização de região central da cidade após período de degradação, o enobrecimento de locais anteriormente populares) quando não resulta num deslocamento total, realiza isto até certo ponto. Os bairros de Chelsea, em Manhattan, e Boerum Hill, no Brooklin, viram aumentos enormes nos preços dos imóveis nos últimos anos, embora as duas áreas abriguem enormes conjuntos habitacionais bancados pelo poder público. Apartamentos e casas de tijolinhos multimilionários dão vista direta para prédios onde moram famílias muito pobres.

Talvez seja mais sensato concentrar os esforços de construção de imóveis a preços acessíveis em áreas onde pelo menos haja um interesse orgânico na diversidade econômica, mais do que forçar isto em locais menos receptivos. No final, a construção do Riverside Boulevard vai gerar muita controvérsia e debate político, e tudo em benefício de menos do que cinco dezenas de famílias numa cidade onde mais de 50.000 pessoas estão desabrigadas.

Fonte: O Globo
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