QUALIDADE DE VIDA

Sibutramina: culpada ou inocente?

sibu topoPor Andre Bernardo - Para uns, a sibutramina é a arma mais eficaz que existe na guerra contra a obesidade. Para outros, os riscos desse inibidor de apetite ainda são maiores que os benefícios. VivaSaúde ajuda você a descobrir quem tem razão. Se você é daqueles que vivem em briga com a balança, tentou tudo o que é tipo de dieta para emagrecer e sonha em fechar o zíper da sua calça favorita, já deve ter ouvido falar em sibutramina. Para quem não associou o princípio ativo ao medicamento, sibutramina é o inibidor de apetite mais receitado (e vendido!) no Brasil.

Segundo relatório da IMS Health, instituto que faz auditoria na indústria farmacêutica, só em 2009, foram vendidas 6,9 milhões de unidades no Brasil. Ou seja, o consumo da substância cresceu mais de dez vezes desde 2005.

Os médicos que prescrevem sibutramina para os seus pacientes garantem que ela é a principal arma que existe no arsenal terapêutico contra a obesidade. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), até pouquíssimo tempo atrás, pensava diferente. Segundo alguns de seus membros, os riscos da sibutramina superavam, e muito, os seus benefícios. No dia 4 de outubro, por três votos a um, a diretoria da Anvisa decidiu manter o remédio no mercado, mas sob um controle ainda maior de venda e de uso. No meio desse impasse, a VivaSaúde resolveu ouvir alguns dos maiores especialistas no assunto e perguntou: "Afinal de contas, a sibutramina é inocente ou culpada?".

A endocrinologista Cintia Cercato, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), é uma das primeiras a sair em defesa da substância. "O principal benefício da sibutramina é induzir maior perda de peso aos pacientes obesos. Além disso, esse medicamento auxilia na manutenção da perda de peso por longo prazo. Como se não bastasse, ainda traz uma série de benefícios, como redução da glicemia e melhora do perfil lipídico do paciente", enumera Cintia.

O presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Durval Ribas Filho faz um alerta para quem pensa que a sibutramina não passa de uma "pílula mágica". "Os pacientes devem saber que a obesidade é uma doença multifatorial e que, a partir do momento em que uma pessoa se torna obesa, o tratamento será para sempre. Devem saber também que todas as doenças crônicas, como a obesidade, requerem tratamento crônico. Se você interromper o tratamento, a doença tende a voltar", adverte.

Mas, e os riscos a que se referem os que recomendam cautela? Quais seriam eles? Com a palavra a endocrinologista Rosana Radominski, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). "A maioria dos efeitos colaterais, como cefaleia, nervosismo e distúrbios do sono, são bem tolerados. Geralmente, esses sintomas são leves e atenuados com a continuidade do tratamento. A sibutramina não causa dependência química, mas pode elevar a frequência cardíaca e aumentar a pressão arterial", alerta Rosana. A Anvisa aumentou o controle sobre a prescrição do remédio: agora ele só pode ser vendido com receituário azul, com numeração controlada.

Estudo da discórdia

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Um estudo com 10 mil pacientes - o Sibutramine Cardiovascular Outcomes (SCOUT) - mostrou que, após seis anos, a sibutramina aumentava em 16% as chances de enfarte e AVC em pacientes com histórico de doenças cardiovasculares. Logo, a European Medicine Agency (EMA) proibiu a venda da droga nos países da União Europeia. Nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) exigiu que a bula fosse alterada para tornar explícito o alerta de que hipertensos e cardiopatas não deviam tomar a sibutramina.

A Anvisa aumentou o controle sobre a prescrição do remédio. Agora, o medicamento só pode ser vendido com receituário azul, com numeração controlada. Ele é contraindicado em pacientes com transtornos alimentares, distúrbios psiquiátricos, doenças cardiovasculares, entre outros.

A endocrinologista Cintia Cercato participou do estudo SCOUT como investigadora no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (FMUSP). Segundo ela, não é possível extrapolar os resultados dos obesos. "A população do estudo era formada por doentes idosos. Muitos sofreram enfarte ou derrame ou fizeram cirurgias", diz. Ela acredita que a medicação é segura para obesos e diabéticos que não tenham doença cardiovascular ou hipertensão arterial não controlada.

Sem a sibutramina, os obesos não teriam muitas alternativas. Uma delas seria o orlistat, que reduz a absorção da gordura no intestino. "O custo é alto e sua eficácia, moderada e não serve para todos os obesos", pontua Rosana. Outra opção seria o liraglutide, droga antidiabetes que tem mostrado resultados na perda de peso. "Mas, seu uso ainda não está liberado para obesos", diz.

Os especialistas preveem um aumento no número de cirurgias bariátricas. Só em 2010, foram feitas 60 mil procedimentos para reduzir o estômago no país. "A cirurgia é vista como um milagre por muitos, mas alguns recuperaram todo o peso", alerta Cintia.

Segundo Rosana, a diferença da sibutramina aos demais é sua ação no organismo. "Ela inibe o apetite e aumenta a saciedade. Já os outros anorexígenos apenas inibem a fome", destaca. Para ele, o remédio emagrece mais porque aumenta o gasto energético.

Discriminação contra obesos

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Para ele, a polêmica envolvendo o uso da sibutramina apenas encobre uma questão ainda mais grave: os pacientes obesos são vítimas de preconceito pelo simples fato de serem obesos. "O paciente obeso ainda é discriminado, inclusive, no seu tratamento farmacológico. Para muitos, os portadores de obesidade ainda são considerados glutões que não praticam atividade física. Infelizmente, os obesos ainda são vítimas de discriminação no aspecto ético, social, psíquico e ambiental", lamenta.

Diante disso, cabe a pergunta: é possível tratar obesidade só com uma dieta balanceada e realizar exercícios físicos? Quem responde é Durval Ribas Filho. "Como forma preventiva, sim. Mas, a partir do momento que a obesidade se estabelece, não. Dieta e exercício físico não são suficientes para que o indivíduo retorne ao peso anterior. Para piorar a situação, taxas metabólicas mais baixas dificultam ainda mais a perda de peso em faixas etárias avançadas." Ou seja, um jovem de 15 anos emagrece mais facilmente que um adulto de 45", exemplifica.

Sim, mudança de estilo de vida é a forma mais segura que existe para emagrecer. No entanto, essa tática aparentemente infalível pode falhar na maioria dos casos. Segundo Cintia, quando fazemos dieta, vários gatilhos são acionados para que nosso organismo recupere o peso perdido o mais depressa possível. "Um desses mecanismos é a redução da leptina, um hormônio produzido pela gordura que inibe a fome. E o indivíduo passa a sentir mais fome do que antes", afirma.

De acordo com os médicos, a sibutramina é indicada como fator coadjuvante nos casos em que medidas saudáveis como manter uma dieta balanceada e exercícios físicos, entre outras, não alcançam os resultados desejados em prazos razoáveis. "Hoje em dia vivemos em um mundo obesogênico, onde é muito difícil adotar um estilo de vida saudável. A maioria dos pacientes até conseguem iniciar um tratamento, mas não são capazes de mantê-lo por muito tempo, ressalta Rosana. Segundo a especialista, apenas 20% dos portadores de obesidade conseguem alcançar êxito com as medidas não medicamentosas.


Entenda como a sibutramina age no corpo humano

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05/10/2011 - Por Tadeu Meniconi. Remédio para emagrecer age sobre o cérebro e dá sensação de saciedade. Medicina ainda não sabe explicar por que risco cardiovascular cresce.Com a proibição de três medicamentos – anfepramona, femproporex e mazindol – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a sibutramina é hoje a única droga usada para emagrecer que atua sobre o sistema nervoso. Além dela, só há mais um remédio disponível para esse fim, o orlistate – cujo nome de mercado é Xenical – que age sobre a absorção de gordura no intestino.

O farmacêutico Ivan da Gama Teixeira, diretor técnico e vice-presidente da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais (Anfarmag), contou que a substância surgiu como um antidepressivo. “Viram que a diminuição do apetite era um efeito colateral e o remédio passou a ser usado como emagrecedor”, explicou.

Contudo, o que a sibutramina faz no cérebro não é exatamente inibir o apetite, como é o caso dos remédios que foram proibidos. Na verdade, ela estimula a saciedade. “Na prática, o paciente fica satisfeito com menos comida”, resumiu o endocrinologista Walmir Coutinho, pesquisador que participou da pesquisa “Scout”, a maior já feita sobre o remédio, que acompanhou pouco menos de 10 mil pacientes durante um período médio de 3 anos e 5 meses.

Os especialistas consultados pelo G1 explicaram que a sibutramina age sobre dois neuro transmissores: a serotonina e a noradrenalina. Esses neurotransmissores funcionam entre os neurônios, levando informações de um para o outro. Nesse processo, geram a sensação de saciedade.

Normalmente, isso ocorre num curto período de tempo, e eles retornam para dentro das células – o que é chamado de recaptação. O que a sibutramina faz é retardar essa recaptação, ou seja, a serotonina e a noradrenalina ficam por mais tempo fazendo a ligação entre os neurônios e deixam o indivíduo saciado.

Efeitos colaterais

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Coutinho afirmou que os cientistas ainda estão tentando entender mais detalhes sobre o funcionamento da substância. Por isso, ainda não se sabe explicar por que ocorrem os efeitos colaterais, que, segundo ele, podem ser boca seca, taquicardia e insônia.

A pesquisa “Scout” registrou ainda que, entre pessoas que já têm alto risco de doenças cardiovasculares – como enfarte e derrame –, esse risco aumenta. No entanto, ainda não há explicação de como isso acontece no corpo humano.


Risco da sibutramina supera benefício, diz Anvisa

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Por Angela Pinto - 23/02/2011. Utilizada para inibir o apetite e ajudar no emagrecimento, a sibutramina pode trazer riscos ao coração e ao sistema nervoso central, afirmaram técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em audiência pública nesta quarta-feira. De acordo com Murilo Freitas, gerente de farmacovigilância da agência, há também relatos de psicoses, depressão e até suicídio relacionados com o uso do medicamento.

Por outro lado, de acordo com ele, embora a sibutramina de fato auxilie a moderar o apetite, uma parcela pequena dos pacientes consegue perder mais de 10% do peso, percentual que a Anvisa considera que de fato auxiliaria no tratamento da obesidade.

Seguindo o que foi feito na Europa e nos Estados Unidos, a Anvisa quer proibir a sibutramina e outros emagrecedores derivados das anfetaminas (anfepramona, femproporex e mazindol), que além de causar riscos de reações adversas graves, não trariam redução de peso significativa.

Antes da decisão final da Anvisa, foi convocada a audiência que acontece nesta quarta em Brasília, com a presença de especialistas e do público em geral.


Sibutramina pode ser proibida pela Anvisa ainda este mês

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Por Cândida Hansen, 18/01/2013 - A polêmica da sibutramina está de volta. Utilizada como inibidor de apetite para combater a obesidade, a droga representa um dos únicos tratamentos medicamentosos para a doença disponíveis hoje no país e corre o risco de ser proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deve apresentar um novo parecer sobre seu uso ainda este mês.

Protagonista de uma ampla discussão, a sibutramina escapou por pouco da proibição em 2011, mas ganhou uma série de restrições para a sua prescrição. Na época, a Anvisa sinalizou que tiraria o produto do mercado brasileiro, o que causou uma forte reação das entidades médicas, que alegaram a sua importância no tratamento da obesidade. Diante da repercussão e após dois adiamentos, a Anvisa optou, em novembro daquele ano, por manter a permissão do uso da substância, mas tirou do mercado as drogas anfetamínicas anfepramona, mazindol e femproporex, usadas também como inibidores de apetite.

Entre as restrições impostas pela Anvisa, está o perfil dos pacientes que estão aptos a receber o tratamento: somente pessoas com Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30 e que não sofram de problemas cardíacos (informações que já estavam, inclusive, na bula do medicamento). Além disso, os médicos são obrigados a notificar a agência reguladora sobre casos de pacientes com reações adversas, como uma forma de monitorar o uso do medicamento. A partir dessas informações, colhidas e analisadas pela Anvisa ao longo de todo o ano passado, é que será apresentada a revisão da decisão de manter ou não a substância em uso no país.

Proibida em toda a Europa e nos Estados Unidos desde 2009, a sibutramina age no sistema nervoso reduzindo a sensação de fome, o que favorece a perda de peso. Um estudo chamado SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial), concluído naquele ano, foi o principal motivador da decisão de tirar o medicamento de circulação nesses países, pois a pesquisa apontou um maior risco de doenças cardíacas em pacientes tratados com a substância. Entretanto, este estudo foi realizado somente com pessoas com alto risco ou com doenças cardíacas já estabelecidas, o que leva muitos médicos a questionarem a dimensão alcançada pelo seu resultado.

Entre os especialistas, as opiniões são divergentes. O cardiologista e presidente da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul, Justo Leivas, alega que a droga apresenta risco para a população e que deveria ser proibida no país.

— Esta é uma questão que nos preocupa muito, pois a sibutramina aumenta consideravelmente os riscos de doenças cardiovasculares. Considero mais prudente proibir essa substância, pelo menos até termos um estudo mais definitivo.

A endocrinologista do Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital São Lucas da PUCRS, Jacqueline Rizzolli, afirma que o medicamento contribui para o tratamento da obesidade e não apresenta riscos quando o paciente é bem avaliado.

— A obesidade é uma das doenças que mais crescem no mundo todo, com resultados extremamente frustrantes ao tratamentos convencionais (mudanças de estilo de vida, controle alimentar e atividade física), e atualmente dispomos de pouquíssimo arsenal terapêutico medicamentoso para os ajudar os pacientes obesos.

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Os argumentos para proibir

Risco para o coração

Um estudo publicado em 2009 chamado SCOUT mostrou que a sibutramina auamenta o risco de doenças cardiovasculares nas pessoas com predisposição

O exemplo mundial

A sibutramina já foi proibida na Europa e também em outros países.

A associação de outros medicamentos

A associação da sibutramina a outros medicamentos, muitas vezes resultado da má prescrição médica, eleva consideravelmente os riscos de doenças cardiovasculares

Os argumentos para manter a liberação

Risco só em alguns

O estudo SCOUT foi realizado apenas com pacientes de risco, para os quais o uso não é indicado. As outras pessoas poderiam usar o remédio sem risco

Aumento da obesidade

A proibição da sibutramina pode levar a uma elevação do número de obesos, pois sem o medicamento o tratamento da doença é ainda mais difícil. Com o aumento do índice de obesidade, poderia ocorrer um aumento das doenças cardiovasculares

Falta de opções de medicamentos

A subitramina e o orlistat (medicamento que age no intestino reduzindo em até 30% a absorção de gorduras em uma refeição) são os únicos trtamentos para obesidade permitidos no Brasil. Outros medicamentos podem ter algum efeito no controle do peso, mas ainda não são aprovados especificamente para o combate da doença.

 

Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br
          http://g1.globo.com
          http://zerohora.clicrbs.com.br/