QUALIDADE DE VIDA

Tecnologias e Crianças

cri2A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria afirmam que crianças de 0 a 2 anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia, crianças de 3 a 5 anos devem ser limitadas à uma hora de exposição por dia e crianças e adolescentes de 6 a 18 anos devem ser restritas a duas horas por dia (AAP 2001/13, CPS 2010).

Crianças e jovens usam de quatro a cinco vezes a quantidade de tecnologia recomendada, provocando consequências graves e, em muitos casos, colocando suas vidas em risco (Fundação Kaiser 2010, Active Healthy Kids Canada 2012). Aparelhos eletrônicos móveis (telefones celulares, tablets, jogos eletrônicos) aumentaram muito o acesso e uso de tecnologia, especialmente por crianças muito pequenas (Common Sense Media, 2013).

Como terapeuta ocupacional pediátrica, convoco pais, professores e governos a proibir o uso de todos os mobiles para crianças com menos de 12 anos. Seguem dez razões, todas apoiadas em pesquisas, para justificar essa proibição. Para ter acesso às pesquisas com referências, procure o Zone'in Fact Sheet no site zonein.ca.

1. Crescimento cerebral acelerado

Entre 0 e 2 anos de idade, o cérebro da criança triplica de tamanho, e ele continua em estado de desenvolvimento acelerado até os 21 anos de idade (Christakis 2011). O desenvolvimento cerebral infantil é determinado pelos estímulos do ambiente ou a ausência deles. Já foi comprovado que o estímulo a um cérebro em desenvolvimento causado por superexposição a tecnologias (celulares, internet, iPad, TV) é associado ao déficit de funcionamento executivo e atenção, atrasos cognitivos, prejuízo da aprendizagem, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de se autorregular, por exemplo, acessos de raiva (Small 2008, Pagini 2010).

2. Atraso no desenvolvimento

O uso de tecnologia restringe os movimentos, o que pode resultar em atraso no desenvolvimento. Hoje uma em cada três crianças ingressa na escola com atraso no desenvolvimento, o que provoca impacto negativo sobre a alfabetização e o aproveitamento escolar (HELP EDI Maps 2013). A movimentação reforça a capacidade de atenção e aprendizado (Ratey 2008). O uso de tecnologia por menores de 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento e aprendizado infantis (Rowan 2010).

3. Obesidade epidêmica

Existe uma correlação entre o uso de televisão e videogames e o aumento da obesidade (Tremblay 2005). Crianças às quais se permite que usem um aparelho digital no quarto têm incidência 30% mais alta de obesidade (Feng 2011). Uma em cada quatro crianças canadenses e uma em cada três crianças americanas são obesas (Tremblay 2011). 30% das crianças com obesidade vão desenvolver diabetes, e os obesos correm risco maior de AVC e ataque cardíaco precoce, resultando em grave redução da expectativa de vida (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 2010). Em grande medida devido à obesidade, as crianças do século 21 talvez formem a primeira geração da qual muitos integrantes não terão vida mais longa que seus pais (Professor Andrew Prentice, BBC News 2002).

4. Privação de sono

60% dos pais não supervisionam o uso que seus filhos fazem de tecnologia, e 75% das crianças são autorizadas a usar tecnologia no quarto de dormir (Fundação Kaiser 2010). 75% das crianças de 9 e 10 anos têm déficit de sono em grau tão alto que suas notas escolares sofrem impacto negativo (Boston College 2012).

5. Doença mental

O uso excessivo de tecnologia é um dos fatores responsáveis pelas incidências crescentes de depressão infantil, ansiedade, transtorno do apego, déficit de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento infantil problemático (Bristol University 2010, Mentzoni 2011, Shin 2011, Liberatore 2011, Robinson 2008). Uma em cada seis crianças canadenses tem uma doença mental diagnosticada, e muitas tomam medicação psicotrópica que apresenta riscos (Waddell 2007).

6. Agressividade

Conteúdos de mídia violentos podem causar agressividade infantil (Anderson, 2007). A mídia de hoje expõe as crianças pequenas cada vez mais violência física e sexual. O game "Grand Theft Auto V" retrata sexo explícito, assassinato, estupros, tortura e mutilação; muitos filmes e programas de TV fazem o mesmo. Os EUA classificaram a violência na mídia como Risco à Saúde Pública, devido a seu impacto causal sobre a agressividade infantil (Huesmann 2007). A mídia informa o uso crescente de restrições físicas e salas de isolamento para crianças que exibem agressividade descontrolada.

7. Demência digital

O conteúdo de mídia que passa em alta velocidade pode contribuir para o déficit de atenção e também para a redução de concentração e memória, devido ao fato de o cérebro "podar" os caminhos neurais até o córtex frontal (Christakis 2004, Small 2008). Crianças que não conseguem prestar atenção não conseguem aprender.

8. Criação de dependência

À medida que os pais se apegam mais e mais à tecnologia, eles se desapegam de seus filhos. Na ausência de apego parental, as crianças podem apegar-se aos aparelhos digitais, e isso pode resultar em dependência (Rowan 2010). Uma em cada 11 crianças e jovens de 8 a 18 anos é viciada em tecnologia (Gentile 2009).

9. Emissão de radiação

Em maio de 2011 a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares (e outros aparelhos sem fios) como risco de categoria 2B (possivelmente carcinogênico), devido à emissão de radiação (OMS 2011). Em outubro de 2011, James McNamee, da Health Canada, lançou um aviso cautelar dizendo: "As crianças são mais sensíveis que os adultos a uma série de agentes, porque seus cérebros e sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento." (Globe and Mail 2011). Em dezembro de 2013 o Dr. Anthony Miller, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Toronto, recomendou que, com base em pesquisas novas, a exposição a frequências de rádio seja reclassificada como risco de categoria 2A (provavelmente carcinogênico), não 2B (possivelmente carcinogênico). A Academia Americana de Pediatria pediu uma revisão das emissões de radiação de campo eletromagnético de aparelhos de tecnologia, citando três razões relativas ao impacto sobre as crianças (AAP 2013).

10. Insustentável

O modo em que as crianças são criadas e educadas com a tecnologia deixou de ser sustentável (Rowan 2010). As crianças são nosso futuro, mas não há futuro para crianças que fazem uso excessivo de tecnologia. É necessária e urgente uma abordagem de equipe para reduzir o uso de tecnologia pelas crianças.

As Diretrizes de Uso de Tecnologia para crianças e adolescentes, vistas abaixo, foram desenvolvidas por Cris Rowan, terapeuta ocupacional pediátrica e autora de Virtual Child; o Dr. Andrew Doan, neurocientista e autor de Hooked on Games; e a Dra. Hilarie Cash, diretora do Programa reSTART de Recuperação da Dependência da Internet e autora de Video Games and Your Kids, com contribuições da Academia Americana de Pediatria e da Sociedade Pediátrica Canadense, no intuito de assegurar um futuro sustentável para todas as crianças.


Crianças reféns da tecnologia

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As novas tecnologias e formas de comunicação estão isolando as crianças nos mundos virtuais e com isso estão sendo formadas gerações narcisistas e despreparadas para o convívio social no mundo real. Quem tem mais de 25 anos talvez tenha notado o quanto sua infância foi bem diferente da de hoje. Brincadeiras comuns daquela época, como pega-pega, queimada ou qualquer atividade coletiva saíram de moda. A tecnologia contribuiu radicalmente para a mudança no comportamento infantil. O que se vê hoje é uma legião de crianças isoladas em seus “mundinhos”, entretidas com aplicativos eletrônicos e desinteressadas pelas coisas reais.

O norte-americano Jim Taylor, PhD em psicologia, é um crítico ferrenho da influência tecnológica no mundo infantil. Ele analisou a relação criança x tecnologia e lista os prejuízos causados pelo excesso de tecnologia nos primeiros anos de vida do pequeno. Uma das constatações do médico: a geração atual de criança está menos altruísta. Ou seja: menos preocupada em ajudar ou oferecer coisas boas ao próximo (altruísmo). Simples: o profissional constatou que as crianças atuais ficam conectadas por horas no computador, no videogame, celular e outros aplicativos, deixando de lado interesses de terceiros. As crianças também estão deixando de desenvolver a empatia, instrumento fundamental para a construção de amizades e confiança.

“A tecnologia parece estar minando o desenvolvimento das crianças nesses relacionamentos fundamentais nesta fase de vida. Tem havido aumento grande no narcisismo e declínio na empatia entre os jovens. Embora não podemos atribuir uma relação direta com a tecnologia, é nítido que o surgimento de novas mídias e o maior alcance junto à cultura popular trouxeram prejuízos”, relata Jim Taylor.

Quando a criança está entretida com seus joguinhos eletrônicos, ela não quer saber o que acontece ao seu redor, sendo indiferente aos assuntos de casa. Uma cena comum em recreio de colégios nos tempos atuais é a de várias crianças em silêncio, sentadas uma ao lado da outra, sem qualquer interação, mexendo rapidamente os dedos diante de pequenas telas. Uma criança que não desenvolve a relação interpessoal pode se tornar um indivíduo inseguro e despreparado para enfrentar pressões, provocações e situações adversas. O distanciamento de atividades físicas também aumenta o risco de obesidade.

Como enfrentar esse problema real (e virtual) - Não há como vetar a tecnologia ou querer que tudo volte como era 25 anos atrás. A tecnologia existe e pode ser benéfica caso seja bem usada. A questão é como evitar que seu filho também se torne um refém de aplicativos eletrônicos. Estabeleça limites SEMPRE. A criança precisa saber que existe regras e horários para uso. Evite facilitar o manuseio de aparelhos tecnológicos. Não leve à mão da criança cada tecnologia nova lançada. Estimule a prática de exercícios físicos. Lembre-se que os filhos veem os pais como seus ídolos e heróis.

É cada vez mais comum pais ligarem o laptop com desenhos infantis em frente ao bebê enquanto fazem refeição "em paz" por alguns minutos. O pequeno fica hipnotizado, imóvel, dentro do carrinho de bebê enquanto assiste ao desenho. Perguntas: vale introduzir a eletrônica tão cedo na vida do filho? Será que não há um passatempo mais comunicativo e interessante para apresentar? Você se sentirá culpado caso seu filho anos mais tarde venha a ficar horas à frente da TV como foi ensinado logo quando ele era pequenininho? É importante frisar que as crianças da nova geração são vítimas e não vilãs. Cabe aos pais impedir que seu filho seja uma pessoa que só funciona quando está “plugada”. Pense duas vezes antes de entupir seus filhos de joguinhos e coisas do gênero. Reúna força para dizer “não” e invista no oferecimento de práticas mais saudáveis e humanas.


As Novas Tecnologias e as Crianças...

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Com frequência se enfatiza os supostos benefícios que a moderna tecnologia pode nos proporcionar. Mas precisamos compreender que tudo precisa ser usufruído com sabedoria, com inteligência e sensatez. Se os benefícios são indiscutíveis, os malefícios, de forma intencional, quase nunca são mencionados. Mas, se colocarmos tudo numa balança usando como medida o bom senso podemos ver a coisa de outra forma, com mais inteligência, o que poderá nos proporcionar melhores resultados.

Se de um lado o mundo da informação digitalizada nunca nos ofereceu tantas possibilidades, por outro, há um lado obscuro que precisa ser avaliado, estudado, esclarecido, ponderado, para que os supostos “avanços” e benefícios não se transformem em malefícios. É bom lembrar sempre do adágio: “Um tijolo, nas mãos de um pedreiro serve para construir, nas mãos de um malfeitor, como arma de destruição”. Ao final vale a ponderação e o bom senso. "Criança sem bom senso em terra de ninguém, acaba encontrando aquilo que não convém". Enfim, a seguir eis algumas considerações que podemos pautar com ponto de partida para nossa reflexão.

"A internet aproxima as pessoas através de uma maior interação"

Isso não é verdade. Um número cada vez maior de usuários se isola, se contentam com o contato virtual, e de fato passam a conhecer mais pessoas, mas de forma completamente impessoal, do mesmo modo como também lidamos com nossos vultos famosos, ou ícones pessoais. Saber que as pessoas existem não é a mesma coisa que vivenciar o contato pessoal, a interação física, o diálogo olho no olho. Amizade não se firma no mundo virtual, mas no físico. Afinal de contas, uma boa conversa presencial ainda é o melhor remédio para fortalecer e potencializar uma amizade, já no mundo virtual, isso não se aplica. Uma grande quantidade de amigos virtuais, muitos nem existem de fato, não significam muitas amizades. Amigos existem no mundo real, presencial, e apenas o convívio de fato faculta a criação de vínculos que podem, depois, se transformar em amizades, o resto é eufemismo, uma forma que a indústria do entretenimento encontrou para controlar, cativar, escravizar, manipular e fazer lavagem cerebral em seus infelizes consumidores, ou usuários.

E o resultado desse isolamento mascarado de interação é a alienação, o fanatismo, a dependência cada vez maior por drogas, uma vez que são usadas para compensar a solidão, a angústia e a depressão causada pela clausura, pela falta de contato físico. Há ainda uma geração inteira que passa os dias em ambientes blindados, fechados, onde a única luz do sol que vêem é a virtual. E uma das consequências é o sedentarismo e a carência de vitamina D. A vitamina D, na verdade não é vitamina, trata-se de um hormônio, é responsável pelo controle de 229 funções do nosso corpo, e com sua falta, o que ocorre pela heliofobia, ou medo da luz solar, ou pela falta de exposição ao sol, favorece a tendência do aumento das doenças crônicas motoras, tais como, as patologias reumáticas, a esclerose múltipla, os cânceres, a deficiência visual, melancolia e depressão, e a pior de todas, a insensatez, ou arrogância de julgar que inteligente é todo aquele capaz de saber operar bugigangas eletrônicas.
"A criança aprende mais com a grande quantidade de informação"

Isso é um mito dos mais importantes e mesmo antiético, que infelizmente se transformou em uma falsa verdade, e o pior de tudo, largamente apoiada pelos seus criadores, os senhores da comunicação virtual, uma poderosa indústria cujos axiomas são seguidos e cultuados como verdadeiras doutrinas religiosas. De fato existe muita informação, mas, grande parte desta é desqualificada, ou simplesmente lixo, o que acaba por causar mais confusão que esclarecimento. Há um excesso de desinformação. Ali é uma terra de ninguém, onde qualquer um escreve o que bem entende, onde a ética não é uma regra. Má informação numa mente infantil sem discernimento tem o mesmo peso de uma verdade. Saber filtrar o que serve daquilo que não serve ainda não faz parte do repertorio cognitivo de uma criança, logo, ela estará sob jugo das inúmeras correntes negativas que proliferam no meio virtual.

"A criança cada vez mais cedo se torna madura..."

Isso é um mito. Maturidade não se consegue com informação, mas com vivência, experiência de vida. Informação sem discernimento, ou cujo significado não se conhece, não se pode medir, é a mesma coisa que semente que é plantada sobre pedra. Além disso, a criança passa a maior parte do seu tempo “brincando” e fofocando no meio virtual, motivada mais pela curiosidade das muitas bobagens que circulam nas redes sociais, do que pela possibilidade de aprender alguma coisa que lhe seja útil de fato. Logo, há de fato um intenso intercâmbio, mas entre fontes igualmente imaturas e desinformadas, resultado, mais desinformação e confusão que erudição e cognição.
Bom, isso não é tudo, mas bem que pode servir como um primeiro passo para nossas reflexões sobre o assunto. E por último, não acredite em nada que você mesmo não seja capaz de experienciar, comprovar pela vivência, nem nesse texto. Experimente, descubra em si mesmo, transforme a ideia em coisa prática, e tudo isso em um viver com dignidade.


Especialistas orientam como restringir o uso de tecnologia pelas crianças

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2014, por Karine Wenzel - Uma boneca, um carrinho, um novo par de tênis, um tablet ou celular: na lista de pedidos para esse Dia das Crianças itens tecnológicos disputam espaço com velhas brincadeiras. Apesar do desejo dos pequenos, os especialistas fazem um alerta — é fundamental estabelecer limites no uso dos aparelhos para conquistar o equilíbrio e o amplo desenvolvimento.

Antes um aparelho restrito ao universo adulto, os celulares já fazem parte do mundo infantil. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada em setembro, revela que 58,7% de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos na região Sul têm o aparelho. Mas antes dessa idade, as crianças já começam a ter contato com o dispositivo. É o caso de Yasmin, de 3 anos. Ela sempre jogava no celular da mãe, que é médica em Florianópolis, e chegava a ligar sem querer para pacientes. Diante do impasse, a solução encontrada pelos pais foi comprar um tablet para ela. O dispositivo, habilmente manipulado pela pequena, é mais utilizado em viagens, restaurantes ou à noite, principalmente para assistir a filmes infantis.

A mãe, Mirian Felicio Fernandes, explica que não precisou impor limites, pois a filha opta naturalmente por outras brincadeiras, como desenhar ou correr com os primos. Ainda assim, a médica tomou alguns cuidados, como fazer um perfil próprio para a filha no Netflix — assim só aparecem opções próprias para a idade, além de bloquear conteúdos da internet.

Algumas famílias optam por restringir o acesso. para as irmãs Laura, 8 anos, e Sofia, 10, também de Florianópolis, videogame, smartphone e tablet não fazem parte do cotidiano. Até os 6 anos, elas não assistiam televisão. Hoje, o aparelho da casa é utilizado somente em dias de chuva para ver filmes selecionados pela mãe.

— Uma coisa é estar vendo algo na tela, outra coisa é a experiência verdadeira. Optamos por essa linha para que elas tenham um desenvolvimento sadio, que estejam em movimento, além de terem contato com o verdadeiro e estabelecer interações sociais — explica a mãe das meninas, a professora Claudia Rosas.

O pai, o consultor Fabio Dazzi, reforça que isso torna a vida mais simples e menos estressante, além de aumentar a espontaneidade de relacionamento das duas.

— O maior desafio de limitar a tecnologia é dos pais. Eles têm de saber dizer não — afirma.

Dazzi tem smartphone e computador em casa, mas usa apenas para trabalho. Os pais explicam que quando elas tiverem cerca de 14 anos terão seu próprio computador. Mas até lá, como as próprias meninas afirmam, preferem brincar ao ar livre.

Equilíbrio é fundamental

O uso de tecnologia pelos pequenos é motivo de dúvidas para os pais e gera debate entre especialistas. Para Gilka Ponzi Girardello, professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é uma questão muito complexa e deve levar em conta muitos fatores, um deles é a idade dos pequenos e a qualidade do cotidiano deles para que possam se desenvolver harmoniosamente.

— É preciso tomar cuidado para que a presença da tecnologia não acabe desequilibrando ou impedindo que a criança tenha outras experiências.

Gilka cita inúmeros aspectos positivos na tecnologia, como acesso à cultura, participação e pesquisa, mas ressalta a importância da mediação e acompanhamento dos adultos. Para Betina von Staa, autora do livro Eles Sabem (Quase) Tudo: o que ainda é preciso ensinar e o que se pode aprender com nativos digitais, a tecnologia faz parte das ações humanas, mas é fundamental analisar o uso que se faz dela:

— Neste contexto, o papel dos pais é ajudar as crianças a tornar o uso da tecnologia rico e variado. As escolas também podem contribuir muito — avalia.

Ela pondera que, ao invés de limitar, os pais devem incentivar esse uso mais diversificado das tecnologias. Christian Muller, neurologista infantil e um dos autores do Manual de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento, cita que um dos benefícios do uso da tecnologia seria a menor dificuldade de aprendizado. Porém, há outros sintomas que inclusive prejudicariam o desempenho na escola:

— Psicologicamente, os impactos negativos são importantes e consideráveis, pois a maioria do jogos eletrônicos aumentam sintomas de irritabilidade, e, eventualmente, agressividade.

Ele lembra ainda que as crianças, por estarem em desenvolvimento, estão mais frágeis a qualquer dependência.

— O importante é evitar o isolamento dos celulares e tablets e retornar a força e a importância da família. Momentos juntos com os filhos e de brincadeiras têm um potencial infinitamente mais saudável que em um equipamento eletrônico.

>>> Dicas para os pais:

Especialistas afirmam que é necessário estabelecer limites. Veja alguns:

O recomendável é que as crianças permaneçam, no máximo, até 2 horas por dia expostas a tecnologias como televisão, computador e jogos. Abaixo de dois anos não deve haver exposição a jogos, tablet e internet. Não é sugerido que haja TV nos quartos das crianças.

Cuidados com os jogos

Verificar se os jogos e aplicativos são adequados para a idade da criança. Muitos pais se preocupam com a questão da classificação etária somente do ponto de vista da violência, mas também é preciso considerar aspectos cognitivos e motores. Se um jogo apresentar um desafio que está acima do que a criança é capaz de realizar, isso implicará em frustração e também em sentimento de incapacidade que pode ter repercussões para a autoestima. Os pais devem ler a descrição dos aplicativos e assistir vídeos de demonstração para verificar a mecânica de funcionamento, além de buscar informações online.

Acesso a Internet

Requer cuidados como informar às crianças que não devem conversar com estranhos ou divulgar informações. Os pais devem instalar aplicativos com filmes, animações e jogos específicos para crianças ou permitam a definição de perfis de usuário.
Fontes: Christian Muller, neurologista infantil, e Pollyana Mustaro, professora da Faculdade de Computação e Informática (FCI) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).


10 razões pelas quais dispositivos portáteis devem ser proibidos para crianças com idade inferior a 12 anos


Por Cris Leão - A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria atestam que bebês na idade entre 0 a 2 anos não devem ter qualquer exposição à tecnologia, crianças de 3-5 anos devem ter acesso restrito a uma hora por dia e crianças de 6-18 anos devem ter acesso restrito a 2 horas por dia (Fonte: AAP 2001/13 , o CPS 2010). Acontece que hoje as crianças e jovens usam a tecnologia em quantidade de 4 a 5 vezes maior do que esta recomendada, o que está resultando em consequências graves e ameaças vitais. (Fonte: Kaiser Foundation 2010 , Active Healthy Kids Canada 2012).

Os dispositivos portáteis (celulares, tablets, jogos eletrônicos) têm aumentado dramaticamente o acesso e uso à tecnologia, especialmente por crianças muito jovens (Fonte: Common Sense Media, 2013 ). Como terapeuta ocupacional pediátrica, estou convidando os pais, os professores e os governos a proibir o uso de todos os dispositivos portáteis para crianças com idade inferior a 12 anos.

A seguir estão 10 razões baseadas em pesquisa para essa proibição. Para ter acesso às referências da pesquisa, por favor visite zonein.ca para ver o Zone’in Fact Sheet.

1 . Crescimento rápido do cérebro

Entre 0 e 2 anos, o cérebro da criança triplica de tamanho e continua em estado de rápido desenvolvimento até os 21 anos de idade (Fonte: Christakis de 2011). O desenvolvimento inicial do cérebro é determinado por estímulos ambientais ou pela falta dele. O estímulo a um desenvolvimento cerebral causado por exposição excessiva a tecnologias (celulares, internet, iPads, TV) foi mostrado afetar negativamente o funcionamento e causar déficit de atenção, atrasos cognitivos, aprendizagem deficiente, aumento da impulsividade e diminuição da capacidade de auto-regular, exemplo: birras (Fonte: Small 2008, Pagini 2010) .

2 . Atraso no desenvolvimento

O uso da tecnologia restringe o movimento, o que pode resultar em atraso de desenvolvimento. Uma em cada três crianças agora entram na escola com atraso de desenvolvimento, impactando negativamente a alfabetização e o desempenho acadêmico (Help EDI Maps 2013). O movimento aumenta a atenção e a capacidade de aprendizagem (Fonte: Ratey 2008). Com isso, o uso de tecnologia por crianças com idade inferior a 12 anos é prejudicial ao desenvolvimento da criança e da aprendizagem (Fonte: Rowan 2010).

3 . Epidemia de obesidade

O uso de TV e vídeo game está correlacionado com o aumento da obesidade (Fonte: Tremblay, 2005). As crianças que possuem dispositivos eletrônicos em seus quartos têm 30% de aumento na incidência de obesidade (Fonte: Feng 2011). Um em cada quatro canadenses e uma em cada três crianças americanas são obesas (Fonte: Tremblay 2011). 30% das crianças com obesidade irão desenvolver diabetes e os indivíduos obesos têm maior risco de acidente vascular cerebral e ataque cardíaco precoce, encurtando gravemente a expectativa de vida (Fonte: Center for Disease Control and Prevention 2010). Em grande parte devido à obesidade, crianças do século 21 podem ser a primeira geração onde muitos não vão viver mais que seus pais (Fonte: Professor Andrew Prentice, BBC News, 2002).

4 . Privação do sono

60% dos pais não supervisionam o uso de tecnologia de seus filhos e 75% das crianças estão autorizadas a ter tecnologia em seus quartos (Kaiser Fundation 2010). 75% das crianças com idade entre 9 e 10 anos são privados de sono e como consequência, suas notas na escola são negativamente impactadas (Boston College 2012).

5 . Doença Mental

O uso excessivo de tecnologia está implicado como a principal causa das taxas crescentes de depressão infantil, ansiedade, transtorno de apego, déficit de atenção, autismo, transtorno bipolar, psicose e comportamento infantil problemático (Bristol University 2010, Mentzoni 2011, Shin 2011, Liberatore 2011, Robinson 2008). Uma em cada seis crianças canadenses têm uma doença mental diagnosticada, muitas das quais estão em uso de medicação psicotrópica perigosa (Waddell 2007).

6 . Agressão

Conteúdo de mídia violento pode causar agressividade infantil (Anderson, 2007). As crianças estão cada vez mais expostas à crescente incidência de violência física e sexual na mídia de hoje. “Grand Theft Auto V” retrata sexo explícito, assassinato, estupro, tortura e mutilação, como fazem muitos filmes e programas de TV. Os EUA classificou a violência na mídia como um risco à saúde pública devido ao impacto causal sobre a agressão infantil (Huesmann 2007). A imprensa registra aumento do uso de quartos de isolamento com crianças que apresentam agressividade descontrolada.

7 . Demência digital

Conteúdo de mídia de alta velocidade pode contribuir para o déficit de atenção, bem como a diminuição da concentração e da memória, devido ao cérebro eliminar trilhas neuronais no córtex frontal (Christakis 2004 Pequeno 2008). Crianças que não conseguem prestar atenção não podem aprender.

8 . Vícios

Como os pais ficam cada vez mais presos à tecnologia, eles estão se desapegando de seus filhos. Na ausência de apego dos pais, as crianças separadas podem se conectar a dispositivos, o que pode resultar em dependência (Rowan 2010). Uma em cada 11 crianças com idades entre 8-18 anos são viciadas em tecnologia (Gentile 2009) .

9 . Emissão de radiação

Em maio de 2011, a Organização Mundial de Saúde classificou os telefones celulares (e outros dispositivos sem fio) como um risco categoria 2B (possível cancerígeno), devido à emissão de radiação (WHO 2011). James McNamee com a Health Canada, em outubro de 2011, emitiu um aviso de advertência dizendo: “As crianças são mais sensíveis do que os adultos a uma variedade de agentes – como seus cérebros e sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento – então você não pode dizer que o risco seria igual para um jovem adulto quanto é para uma criança”. (Globe and Mail de 2011). Em dezembro de 2013 o Dr. Anthony Miller, da Universidade da Escola de Saúde Pública de Toronto recomendou que, com base em novas pesquisas, a exposição à radiofrequência deve ser reclassificado como 2A (provável cancerígeno) e não um 2B (possível cancerígeno) . A Academia Americana de Pediatria pediu revisão das emissões de radiação electromagnéticas dos dispositivos de tecnologia citando três razões quanto ao impacto sobre as crianças (AAP 2013 ) .

10 . Insustentável

As maneiras pelas quais as crianças são criadas e educadas com a tecnologia já não são sustentáveis ??(Rowan 2010). As crianças são o nosso futuro, mas não há futuro para as crianças com overdose de tecnologia. Cuidar disso é urgente, necessário e precisamos fazer em conjunto, a fim de reduzir o uso de tecnologia por crianças. Por favor, assista e compartilhe os vídeos sobre o uso excessivo de tecnologia por crianças. Em http://www.zonein.ca

Veja abaixo, o Guia de Uso de Tecnologia para crianças e jovens desenvolvido por Cris Rowan, terapeuta ocupacional pediátrica e autora do Virtual Child (Criança Virtual); Dr. Andrew Doan, neurocientista e autor de Hooked on Games e Dr. Hilarie Caixa, Diretor do reSTART Internet Addiction Recovery Program (Programa de Recuperação de Dependência à Internet) e autor de Video Games and Your Kids, com a contribuição da Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria, em um esforço para garantir um futuro sustentável para todas as crianças.

 

Guia de Uso da Tecnologia para Crianças e Jovens

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Abuso da tecnologia causa dependência em crianças; vício atrapalha desenvolvimento infantil


Por Karine Salles, 02/01/2015 - Recentemente, o relato do britânico Guy Adams ao jornal Daily Mail chocou o mundo: seu filho Willian estava em tratamento, aos 3 anos de idade, por causa do vício no uso de tablets. À publicação, o pai afirmou que a criança chegou a agredir sua irmã de poucos meses, porque ela chorava durante um jogo, o que o desconcentrava. Segundo o psiquiatra Richard Graham, da clínica Capio Nightingale, localizada em Londres, os sintomas do vício nas crianças podem ser observados quando o aparelho é tirado delas, fazendo-as reagir com birras e comportamento incontrolável. Foi exatamente o que ocorreu com o pequeno Willian que, segundo o pai, ficou apático e sem fome, sinais que foram confirmados pela professora dele.

"Quanto mais precocemente disponibilizo esse tipo de tecnologia a uma criança, maior é o comprometimento que vai haver", afirmou, em entrevista ao Portal Boa Vontade, o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, 51, coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas do Programa Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, pioneiro nos estudos do tema no Brasil.

A preocupação, portanto, se concentra nos jovens e nas crianças, mais vulneráveis a esse tipo de dependência, principalmente pelo surgimento cada vez mais frequente dos jogos online. Diante dessa situação, o pai citado na abertura dessa matéria não cruzou os braços: buscou ajuda, submeteu o filho a um período longe do aparelho e criou regras para o uso dessa tecnologia. Mas será que essas são atitudes suficientes?

Muitos adultos acham engraçadinhas as crianças que, desde muito cedo, já sabem como desbloquear a tela de um celular, por exemplo. Pesquisas revelam que uma em cada três crianças usa recursos tecnológicos antes que seja capaz de falar corretamente. Mas, para o psicólogo, "isso não é motivo de orgulho, pelo contrário, é motivo de preocupação!". Apesar de ser bastante estimulado o uso da ferramenta entre os pequenos, pois auxiliam no desenvolvimento intelectual, essa utilização tão precoce também traz sérios problemas, inclusive para o desenvolvimento neurológico e fisiológico. "Várias pesquisas já mostraram, por exemplo, que se é dado um texto escrito em papel e o mesmo texto no computador, aqueles indivíduos que leem na tela vão ter um entendimento prejudicado em quase 50% [em comparação aos primeiros]".

COMPARAÇÃO MONSTRUOSA

Os sintomas de abstinência do pequeno Willian foram observados quando, segundo seu pai, ele iniciou um tratamento em que deveria ficar 72 horas sem usar o tablet. Ele lembra que as 24 primeiras horas foram de gritos e descontrole total. Estudos revelam que a reação do cérebro à falta de jogos é similar ao que se nota em casos de dependentes químicos, quando privados do uso de álcool e drogas. Ainda durante a entrevista, o dr. Cristiano explicou que essa sensação de prazer ocorre "quando a pessoa consegue entrar e fazer a conexão".

Segundo o dr. Cristiano, "o que é curioso, embora sejam dependências distintas, é que já existem pesquisas que mostram que o que ocorre nos neurônios de indivíduos dependentes de álcool e drogas também ocorre nos indivíduos de internet. O neurônio é envolvido pela bainha de mielina e, quando o indivíduo usa álcool ou droga, há um desgaste dessa membrana. E é também o que acontece com os indivíduos dependentes de internet".

"Dependendo da intensidade do jogo, mesmo que você esteja num [game] educativo por muito tempo, isso [o uso excessivo] será igualmente prejudicial", explicou, reforçando: "A ideia é que as pessoas [...] tenham bom senso!".

PROBLEMAS EM CADEIA

Pais e responsáveis costumavam reclamar do tempo que as crianças passavam em frente à televisão. Hoje em dia, a reclamação mudou apenas de plataforma. Além de problemas intelectuais, especialistas relacionam o tempo passado diante de telas com problemas de saúde física, que incluem obesidade; colesterol e pressão altos; sedentarismo; e dificuldades para ler e fazer cálculos. Além disso, também decorrem desse transtorno distúrbios do sono e isolamento social. Os aparelhos são tão eficazes em ocupar as crianças pequenas, que muitos pais já usam como uma espécie de babá. "Os pais preferem que eles estejam conectados a estar nas ruas", constatou o psicólogo.

COMO CURAR?

Como os tablets e smartphones se tornaram os novos brinquedos de bebês e crianças, os pais devem estar muito atentos. O que despertou a atenção do pai para procura por ajuda para o pequeno Willian foi quando ele, às 4 horas da manhã, acordou para jogar. Aqui no Brasil, pais e responsáveis podem procurar o Grupo de Dependências Tecnológicas que, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, desenvolve o tratamento por meio de "terapia de grupo, acompanhada por dois profissionais, uma vez por semana, durante uma hora e meia, ao longo de 18 semanas".

Esse trabalho "mostra aos indivíduos em que momento a internet ocupa o lugar na vida deles. Então, eles passam a registrar dias e horários, emoções que eles estão sentindo". Essa é praticamente a mesma definição de um diário, que é um "escrito em que se registram os acontecimentos de cada dia", segundo o dicionário Houaiss. A dica, portanto, é simples: "Se você conseguir dosar minimamente, já está ótimo".

Fonte: BrasilPost
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