CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Os impactos da vacina contra a Covid-19 no ciclo menstrual

impavac1Por Ligea Paixão (colaboradora) 25 ago 2021 - Relatos de irregularidades no ciclo têm se tornado comum, mas especialistas alertam que efeitos não diminuem ou excluem a eficácia das vacinas. Dor no braço, cansaço, dor de cabeça, calafrios e febre. Ainda que cada organismo reaja de uma forma aos imunizantes, pode ser que você ou alguém próximo apresentou alguns desses sintomas após receber a vacina contra a Covid-19.

No entanto, uma outra manifestação pós-vacina não comentada inicialmente por médicos e especialistas, que tem se tornado comum no relato de mulheres, é a alteração do ciclo menstrual. Cólicas, irregularidade no ciclo e fluxos mais intensos e coagulados são as alterações menstruais que mais têm sido apontadas. Somente nos Estados Unidos, o Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) já recebeu cerca de 37 declarações de cidadãs que observaram alguma adversidade na menstruação após a vacina. Além dos sistemas nacionais semelhantes ao do CDC, as redes sociais também se tornaram um mural de exposição mundial, em que as mulheres compartilham os efeitos da imunização na menstruação e se conectam através da paridade dos relatos.

finalmente menstruei depois de tomar a vacina de covid (minha menstruação atrasou um mês

— rebeca (@rebecaoksanaa) August 23, 2021

Eventos semelhantes foram relatados pela jornalista Tainá Goulart (@tainagoulart). Com a imunização completa, ela conta que teve contratempos com a menstruação nas duas doses. “Quando eu tomei a primeira dose da vacina, eu não tive nenhuma reação, só dor no braço. Faltava cerca de duas semanas para minha menstruação começar, mas quando chegou o período que deveria descer, atrasou e atrasou muito, cerca de 15 ou 16 dias”, comenta. 

“Preocupada, eu comecei a pesquisar e alguns artigos científicos diziam que o endométrio, o tecido que reveste o útero, tem participação dentro do sistema imunológico da mulher. Foi aí que eu me dei conta que podia ter a ver com a vacinação”, diz.  A jornalista ainda relata que, depois do longo atraso, ela, que estava acostumada com um fluxo brando, espantou-se ao ter que lidar com um fluxo intenso. “Eu menstruei muito durante sete ou oito dias, sendo que meu período dura, normalmente, de quatro a cinco”, conta. 

“Quando tomei a segunda dose, minha menstruação também atrasou, mas apenas um dia.” Tainá, que está há seis meses redescobrindo o seu ciclo, após encerrar o uso do anticoncepcional que passou cerca de 15 anos tomando, conta que a cólica é um fator genético em sua família, mas que o que foi sentido por ela nesse período, que coincide justamente com a vacina, tal como as outras manifestações, está além do que ela comumente sente e observa.

A jornalista também buscou saber no posto de saúde, quando foi tomar sua segunda dose, se relatos iguais ao dela estavam sendo reportados. “Eu lembro até hoje que, quando fui tomar a segunda dose, perguntei para a enfermeira se estava tendo algum relato sobre atraso na menstruação — que até então era o que eu havia observado de diferente — e ela falou que já tinha tido relatos sim, mas relacionados com cólica e não com atraso menstrual”, diz.

Desinformação

Uma coisa é evidente: de todos os fatores explorados nas análises preliminares dos imunizantes, o impacto dos mesmos na menstruação não foi alvo de estudos e, somente agora, com as resenhas nas redes sociais e demais canais de comunicação, é que tem chamado a atenção dos especialistas.

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Mas vale a pena destacar que esses eventos não diminuem ou excluem a eficácia das vacinas, independentemente de qual seja o seu fabricante. Na realidade, essas reações não passam de uma resposta imunológica do nosso organismo, tal como aponta o médico ginecologista Mauricio Abrão. Professor de Medicina da Universidade de São Paulo e vice presidente da AAGL, principal Sociedade Mundial de Cirurgia Ginecológica, Mauricio indica que há dois possíveis caminhos que podem trazer respostas às manifestações menstruais adversas pós-vacina. 

“O primeiro caminho é baseado na frase de um infectologista que eu respeito muito. Ele fala que a Covid-19 abre o livro da saúde das pessoas, intensificando alguns sintomas que já pré-existem. Então, por exemplo, se a mulher tem cólica, pode aumentá-la. Se ela tem sangramento abundante, pode intensificá-lo. Se ela tem endometriose, os sintomas podem ser acentuados, conforme apontam as minhas observações clínicas e algumas publicações já existentes”, afirma o especialista. “Já o segundo o caminho é o do próprio vírus ou da vacina interferir com a coagulação da paciente e isso gerar, principalmente, um aumento de fluxo menstrual”, explica.

Devo me preocupar?

Mauricio, que também é chefe do setor de endometriose do Hospital das Clínicas e do setor de ginecologia da Beneficência Portuguesa de São Paulo, aponta que essas variações demonstradas pelo corpo após receber o imunizante não devem ser motivo de preocupação, mas sim de atenção. “Até o momento, eu não vi essas situações se tornarem casos graves, mas é preciso levar em consideração também que ainda não houve tempo suficiente para fazer essa observação”, argumenta o médico sobre o pouco tempo das campanhas de vacina no país. “Se os sintomas aumentarem e for muito relevante, obviamente essa preocupação deve existir e deve-se procurar por assistência médica.”

Se o contexto não estiver atrelado ao agravamento do quadro, os sintomas podem ser tratados como de costume: medicações hormonais ou específicas para os sintomas, tal como analgésicos e anti-inflamatórios.

Reporte!

Acredite, o papel social deve existir até mesmo com relação às vacinas. Caso você tenha notado alguma reação adversa após tomar algum dos imunizantes, que não sejam os sintomas comuns, reportá-la aos fabricantes pode ajudar a melhorar a composição ou até mesmo evitar que pessoas com problemas de saúde específicos sejam expostas a compostos prejudiciais a sua saúde.

Fonte: https://claudia.abril.com.br/