CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Estudos corroboram que dispositivos móveis captam suas interações verbais; saiba como evitar a coleta de dados

telefoneouve06/2023 - Uma pesquisa recente desvenda o funcionamento dos "sinais ultrassônicos" que são empregados pelas empresas na geração de anúncios. A questão de os smartphones nos monitorarem e gerarem anúncios com base em nossas conversas é um dos questionamentos mais antigos entre os usuários de dispositivos modernos. Esses dispositivos estão sob o controle de empresas que auferem lucros substanciais ao rastrear todas as nossas atividades, em um ciclo conhecido como "capitalismo de vigilância". Não é incomum notar anúncios relacionados a tópicos de conversas recentes, mesmo por meio de áudio proveniente de TVs ou computadores. O contexto se torna ainda mais preocupante após as revelações de Edward Snowden, que expôs como os governos também têm acesso relativamente fácil a essa coleta de informações.

Recentemente, uma pesquisa encomendada pela empresa NordVPN revelou que 53% dos cidadãos americanos e 45% dos residentes do Reino Unido acreditam que os smartphones realmente captam suas conversas.

De acordo com a empresa, uma das estratégias utilizadas por essas empresas para exibir tais anúncios é denominada "sinais ultrassônicos". Esses sinais consistem em sons de alta frequência, inaudíveis para os seres humanos (com frequências entre 18 kHz e 20 kHz), que transportam dados coletados por aplicativos em outros dispositivos. Por exemplo, um anúncio de uma cadeia de fast-food na televisão pode ser captado pelo seu smartphone, permitindo que o dispositivo receba os sinais ultrassônicos. Minutos mais tarde, um anúncio da mesma marca surge no feed de uma rede social. Isso gera a sensação de que a empresa está em toda parte.

A empresa Sony, inclusive, chegou a patentear uma técnica que sugeria aos usuários que mencionassem o nome da marca a fim de interromper anúncios dela em diversos dispositivos. Um estudo de 2017 realizado pela Universidade Técnica de Braunschweig, na Alemanha, detalhou essa técnica e revelou que 234 aplicativos de Android eram capazes de detectar sinais ultrassônicos e, com base neles, gerar anúncios. Um ano antes, a FTC (Comissão Federal do Comércio dos EUA) emitiu um alerta oficial às empresas que fazem uso desse tipo de técnica, principalmente devido a preocupações com a privacidade e a vigilância sem o consentimento dos usuários.

Agora, a questão é: como limitar a "escuta" dos dispositivos?

A forma mais simples de evitar esse tipo de coleta de informações é revogar as autorizações concedidas a certos aplicativos. Uma das mais significativas é a restrição do acesso de aplicativos ao microfone do dispositivo. Isso pode ser facilmente configurado nas opções de privacidade do aparelho. Além disso, é importante permanecer vigilante quando um aplicativo utiliza o microfone - no sistema Android, um ícone na cor verde aparece no canto superior direito da tela; no iPhone, esse ícone é laranja. Outra medida eficaz é a contratação de uma VPN, que oculta o rastreamento baseado no endereço IP por meio de criptografia.

Frequentemente, os termos e condições dos aplicativos são extensos e tediosos, o que leva muitos usuários a consentirem com a coleta de dados sem compreender totalmente as implicações. Tiago Santos, gerente da escola de tecnologia Ironhack Barcelona, faz um alerta a esse respeito. De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Espanhola de Consumidores e Usuários (OCU), cerca de 9 em cada 10 usuários não revisam as políticas de privacidade antes de aceitá-las. Surpreendentemente, 3 em cada 4 entrevistados não se preocupam com essa questão, embora devessem.

Santos observa que ao conceder acesso aos contatos, estamos compartilhando com o aplicativo os dados dos contatos da nossa agenda, e ao permitir o acesso à nossa localização, estamos permitindo que o aplicativo rastreie todos os nossos movimentos. Outras autorizações comuns incluem acesso à câmera e ao microfone do smartphone, à galeria de fotos, ao calendário de compromissos e ao dispositivo em geral. Santos adverte que muitas dessas permissões não são essenciais para o funcionamento adequado do aplicativo, sendo geralmente utilizadas pelos desenvolvedores para extrair informações dos usuários e direcionar publicidade altamente personalizada.

Em 2016, o Norwegian Consumer Council conduziu um experimento para identificar as principais questões relacionadas aos termos e condições dos aplicativos. A organização imprimiu os termos e condições dos 30 aplicativos mais populares e convidou voluntários a lê-los. O resultado mostrou que levaria cerca de 32 horas para ler todas as políticas. Além disso, a forma de apresentação e a terminologia utilizada tornam a compreensão quase impossível para leigos.

O especialista destaca uma cláusula crítica para a qual os usuários devem estar particularmente atentos: aquela que concede permissão ao aplicativo para vender seus dados a terceiros, outros serviços ou empresas parceiras. Dada a quantidade de informações pessoais que os usuários compartilham e movimentam na internet, é essencial gerenciar esses dados de forma consciente. Para minimizar os impactos dessa exposição, é possível selecionar as opções "sempre", "nunca" ou "enquanto o aplicativo está em uso" oferecidas pela maioria dos aplicativos.

Estamos, de fato, autorizando que muitos aplicativos acessem dados pessoais que, frequentemente, nem mesmo compartilhamos com pessoas conhecidas. A pergunta que todos devemos fazer é: "Será que este aplicativo realmente necessita de acesso a todas essas informações?"

REFERENCIAS: Verdades

                        Uol

                        R7

                        MATRTX DESVENDADA