HISTÓRIA E CULTURA

O Segredo das Sete Irmãs, a Vergonhosa História do Petróleo - Parte 7

petro topo7Francis Perrin, diretor de informação "Arab Oil and Gás Journal": "O Irã tem recursos consideráveis que estão subexplorados, pois o Irã esta sujeito a sançoes internacionais e sanções impostas pelos EUA que estão emparte direcionadas aos setore de petróleo e gás. E isso significa que as grandes empresas petrollíferas ocidentais estão cada vez mais a recusar, legalmente e efetivamente, trabalhar no Irã. O Irã está, pois, cada vez mais isolado e precisa de um enorme investimento estrangeiro para desenvolver o seu considerável potencial de petróleo e gás. O Irã está entre os três primeiros paises, em termos de reservas de petróleo e gás. E isso significa que tem um papel essencial a desempenhar em futuras questões energéticas."

Nas orações de sexta-feira em Teerã, o sermão é maioritariamente político. Os Mulás apelam para uma jihad econômica. Com inflação, desemprego e falta de liberdade, o descontentamento cresce. Receitas petrolíferas financiam projetos para apaziguar as populações mais pobres, os últimos apoiadores do regime. O embargo americano revelou ser uma arma eficaz, a esse nível. Mas, para além do petróleo, o Irã não tem nada pra exportar, exceto pistache e tapetes.

Paro na Praça Azadi, praça da liberdade, mas me proibem de filmar a liberade. E também me proibem de filmar o ministro do Petróleo iraquiano.

Kamil Al Harmi, conselheiro do petróleo Emir Kuwait: "Temos de domar os nossos amigos iranianos. E temos de ser amistosos comeles. Eles também tem...controlam a entrada de Al Hormuz do Golfo Pérsico. E também controlam o fluxo de petróleo para o mundo. Estão no Iraque, em Gaza, no Líbano. Estão em todos os pontos quentes da região. E tem o chamado poderiao nuclear. Estão a perturbar toda a gente. Não só a nivel da região, mas também a nível internacional. Está todo mundo preocupado."

petrol estreito

 

Os EUA também temem a ira de Teerã. O estreito de Hormuz, ao largo da costa do Irã, é um dos lugares do planeta mais estrategicamente importantes e vulneráveis. A 5ª Frota da Marinha dos EUA vigia a passagem marítima mais importante do mundo. Mais de 15 milhóes de barris de petróleo passam pelo estreito todos os dias.

A imprensa foi convidada hoje. Não há Mulás nem censores a vista. O gigantesco complexo de gás e petróleo da South Pars precisa de investimento estrangeiro.É vital. Desde 1996, o embargo americano tem asfixiado o terceiro maior produtor de petróleo do mundo. O cerco aperta-se em torno do regime acusado de desenvolver armas nucleares. Os últimos gigantes do petróleo, Total e Shell, foram-se embora. O embarbo intensifíca-se. As últimas empresas a operarem aqui são chinesas, indianas e malaias.

Dr Doeg Xiucheng, diretor do Centro de Investigação do Petróleo: "As alegações ocidentais que dizem: a china esta se beneficiando com o conflito como Irã e fechando os olhos às armas nucleares para desenvolver boas relações, são toalmente infundadas. Não é porque certos paises estão em desacordo com outro que todos os países devem seguir-lhes o exemplo. A China segue a sua própria diplomacia de forma totalmete legal, sem desobedecer às diretivas das Nações Unidas. É perfeitamene normal. E discordo com as alegações ocidentais que mencionei. Caso contrário, isso significaria que, se os EUA não concordam com um país, o mundo inteiro tem de fazer o mesmo. Isso não é correto."

Kamil Al Harami, conselheiro do petróleo do Emir do Kuwait: "Temo o nosso novo amigo chegando: a China. Sao ambiciosos e querem ver mais. E, se são o número 2 na economia mundial, isso não será por muito tempo, pois querem ser o número 1. E para serem o número 1, tem de ter petróleo"

Beijing, China. Praça de Tiananmen, cenário do sinistro massacre de 1989. Na fachada da cidade imperial, um retrato de Mao Tse Tung e o lema: Viva a República da China. A China precisa de petróleo, para sobreviver. Muito petróleo. Duzentos milhões de barris. Mas não é só a China. Os dois maiores consumidores de petróleo do mundo, China e Estados Unidos, travam uma impiedosa batalha na contínua corrida energética. Por enquanto, está sendo travada nos planos econômicos e diplomático.

Michael Klare, professor e escritor: "Tal como os EUA, a China está muito preocupada com a segurança energética. Coma segurança e as falhas no abastecimento. E esta preocupada, tal como os EUA, em estar excessivamene dependente do Oriente Médio. Existe ai alguma ironia. Por um lado, a China depende dos EUA para garantir a estabilidade do Oriente Médio. E, por outro lado, a China teme ficar sobredependente dos EUA. E que, no caso de um confronto com os EUÂ, a marinha dos EUA possa fechar o Golfo Pérsico aos navios chineses."

70% das importações petrolíferas da China passam pelo Estreito de Malaca, entre a Malásia e a Indonésia. Transporteu que a Marinha americana poderia facilmente interromper. E por isso, Pequim reforça a sua capacidade naval.

Dr Doeg Xiucheng, diretor do Centro de Investigação do Petróleo: "A China está atualmente trabalhando na diversificação das suas fontes de abastecimentoque no passado estavam concentradas no Oriente Médio. Mas a China também ja recebge abastecimento da África, da América Latina, da Ásia Central e da Rússia."

Com uma taxa de crescimento anual de 10%, o apetite da China por petróleo parece ilimitado. O páis partiu para a conquista do mundo: Oriente médio, África e , agora, América do Sul.

Maracaibo, Venezuela. Os primeiros navegadores chamaram à Venezuela: Tierra de Gracia, a Terra da Graça. Durante quase um século, o petróleo da América do Sul fez fortunas para as Sete Irmãs. Carregando nos portos da Venezuela ou México, zarpa para as refinarias de Houston e Port Arthur.

Hermes Gracia, Superintentende terminal petrolífero: "Quando eu entrei para a empresa em 1980, navios das subsidiárias que navegavam no estrangeiro nunca eram sujeitos a controle de impostos pelo petróleo que exportavam. A maioria do petróleo era exportada. Os nossos campos e poços petrolíferos foram explorados pelos maiorais. Era um presente, naõ pagavam impostos ao país. Na verdade, os benefícios do petróleo não se faziam sentir aqui. As grandes multinacioansi permitiam que outros paises lucrassem com ele."

No norte da Venezuela esta o lago Maracaibo. Esta manhã vou numa visita de rotina com trabalhadores da PDVSA, a empresa petrolífera nacional. Foi aqui que começaram algumas das piores pilhagens na História do Petróleo. Na década de 1920, o ditador Gomez abriu aos maiorais as portas da Venezuela. Todos se aproveitaram dos despojos, dando generosos subornos ao ditador e ao seu clã. Apesar da corrupção, valia a pena. As reservas eram colossais. O lago Maracaibo estava coberto de centenas de torres e poços. A Venezuela tornou-se o segundo maior produtor de petróleo do mundo, atrás dos EUA. E as Sete Irmãs mandavam no galinheiro.

Calixto Ortega, deputado: "Não temos a menor dúvida em relação ao fato que os verdadeiros donos do petróleo na Venezuela durante muito tempo, ou pelo menos os que tinham a última palavra sobre como usá-lo, eram as multinacionais. Principalmente as multinacionais americanas. E foi mesmo aqui, nesta cidade de Maracaibo, que começou a produção petrolífera há cerca de um século. Os poços jorravam como uma força da natureza e tornaram este lugar uma zona de importancia mundial."

Fevereiro de 1999.o coronel Hugo Chavez é eleito presidente da Venezuela. Como o seu modelo, o Libetador. o lendário Simon Bolívar, o presidente Chavez sonhava em libertar o seu país e toda a América Latina. Hugo Chavez não tardaria a tornar-se uma grande pedra no sapado dos EUA.

Calixto Ortega, deputado: "Nesse modo de pensar, o pior inimigo é aquele que tem uma visão nacionalista e considera que a soberania nacional tem de ser respeitada. Como a Venezuela abastece os EUA e o pais quis preservar a sua soberania sobre este recurso desde que o presidente Chavez subiu ao poder, é visto como um inimigo pelas empresas multinacionais."

O novo presidente tem ambições: contruir centenas de escolas e milhares de casas, criar cooperativas agrícolas e implementar o acesso abrangente a cuidados de saúde. Produzir 3 milhões de barris díarios e os altos preços do petróleo permitem ao presidente gastar sem parar. O petróleo como combustível de transformação social.

Esta manhã, no coração do bairro, estou visitando a Missão Ribas, um centro social para os mais desfavorecidos, financiado pela PDVSA. Um centro para educação, saúde, ajuda alimentar e cooperativas de trabalhadores. Esta tudo bem organizado e gerido, mas estou um pouco desconcertado; talvez comovido com a força e dignidade destas mulheres.

"Somos líderes de nós próprios. Aqui somos os nossos próprios patrões. Como é uma cooperativa, os donos somos nós. De onde vem tudo isso? Do petróleo. Os lucros conseguidos graças à venda do petróleo voltam para nós. E por isso que temos tudo: cuidados de saúde, educação, comida. Tudo está a ser feito para que o povo evolua." Diz uma coperativada.

O conflito era inevitável. No dia 12 de abril de 2002, foi organizado um golpe de Estado contra o presidente, fabricado por executivos de empresas petrolíferas e apoiado pelos generais, pelos homens de negócios e pela CIA. Hugo Chavez foi preso. Mas, devido a um enorme apoio popular, menos de 48 horas depois ele foi reconduzido.

Mario Sanoya, professor da Universidade Central da Venezuela: "Penso que as empresas petrolíferas, particularmente a Standard Oil ou Exxon, como se chama agora, tiveram influência decisiva em certos golpes de Estado. Como o golpe de Estado de 12/04/2002, por exemplo. Os rumores que circulavam sobre o custo desse golpe de Estado - embora não tenha sido confirmado - diziam que o preço deum general era 100 milhões de dólares."

Uma vez mais a CIA usou as suas armas preferidas: dólares e manipulação. Com um amplo apoio popular, Chavez tomou o controle da empresa petrolífera venezuelana. Vinte mil executivos e funcionários que tinham participado em graves e sabotagem foram despedidos.

Michael Ecoemides, Editor "The Energy Tribune": "Temos um presidente na Venezuela que se acha a reencarnação de Simon Bolívar. E a única coisa que ele faz e pegar no dinheiro da indústria petrolífera, sem sequer a desenvolver. A Venezuela nunca produziu tão pouco petróleo, desde a primeira nacionalização na década de 1970. É um absoluto, o maior desastre mundial no negócio do petróleo atual é na Venezuela. Mas o tipo é popular !"

No dia 1 de maio de 2007, Chavez ocupou os campos petrolíferos do Orinoco, os últimos que ainda estavam nas mãos das Sete Irmãs.

Hugo Chavez: "Agora são trabalhadores e trabalhadoras da Petroleos de Venezuela. O petróleo da Venezuela é venezuelano! A faixa petrolífera do Orinoco é integralmente venezuelana. A Venezuela é livre !!! O nosso petróleo é nosso, graças a revolução bolivariana. Viva a Venezuela Livre! "

O petróleo do Orinoco é pesado e difícil de extrair. Chavez precisa de nova tecnologia. Empresa chinesas, russas e européias são convidadas e aparecem em massa. Chavez pode sorrir. Crê-se que as reservas da Venezuela sejam as maiores do planeta. Desta vez, as empresas americanas perderam a batalha pela Venezuela. Emerge uma nova diplomacia internacional em torno do mercado do petróleo. Preços do crude em alta reforçam a posição financeira e influência de países produtores fora do controle de Washington: Russia, Irã e Venezuela.

Michael Ecoemides, Editor "The Energy Tribune": "Com o petróleo a 100 dólares... Há uma expressão em inglês...Com o petróleo a 100 dólares, Putin e Hugo Chavez são gorilas de 450 quilos; imagens do King Kong. Com o petróleo a 40 dólares ficam reduzidos a chimpanzés. E farão tudo o que puderem para por o petróleo a 100 dólares. Se quisermos converter Chavez e Putin em chimpanzés, é muito simples: encorajar a Aramco saudita a produzir mais petróleo. Isso colapsaria o preço do petróleo para 20 dólares e criaria um grande problema aos países produtores de petróleo que neste momento parecem ser mais fortes do que realmente são."

Washington DC, EUA. O presidente dos EUA vai dar uma conferência de imprensa na Casa Branca. O país acaba de sofrer o seu pior desastre ecológico. No dia 20 de abril de 2010, a Deep Water Horizon, uma plataforma petrolífera da BP, explodiu a 80 quilometros da costa americana. Onze pessoas foram dadas como desaparecidas. A plataforma afundou, dois dias depois.

Golfo do México, EUA, abril de 2010. A uma profundidade de 3960 metros, o poço danificado cuspiu uns 800 milhões de litros de petróleo durante 106 dias; um derramamnto recorde com a BP e a Haliburton vistas como responsáveis.

Vejo a conferência de imprensa de Barack Obama num restaurante no coração de Chinatown de Washington. Ele qualifica a catástrofe como "um 11 de setembro ecológico". As empresas petrolíferas tem de pagar. E o presidente anuncia uma moratória e a suspensão a perfuração ao largo. Mas, poucos meses depois, a moratória foi suspensa. A perfuração foi retomada; ninguém pode parar a corrida por petróleo. Os homens do petróleo procuram ainda mais longe, no longinquo norte e perfurando cada vez mais buracos.

Um autêntico massacre ambiental. As areias betuminosas de Alberta, no Canadá, representam as maiores reservas de energia do planeta. Estão aqui todos os predadores habituais: Exxon, Chevron, Shell, BP, Total e os chineses. Uma nova investida por petróleo sujo.

Francis Perrin, Diretor de Informação "Arab Oil and Gás Journal": "Para as empresas petrolíferas, este é o seu jogo normal; sempre a esticar os limites. Tentar esticá-los ainda mais para produzir mais petróleo para satisfazer as crescentes necessidades petrolíferas mundiais. E,por razões financeiras também, claro, pois quanto mais petróleo produzirem mais vendem e mais dinheiro ganham. É por isso que lá estão; particularmente, as empresas privadas. Mas há limites a nivel de riscos políticos, riscos geopolíticos e consequências para o ambiente e segurança."

Oceano Ártico, agosto de 2007. O Degelo devido ao aquecimeno global está mudando o mapa do mundo. Está se abrindouma nova rota: uma passagem marítima no norte, uma autoestrada merítima comercial que liga os mercados do Sudeste Asiático e da Europa. A Rússia fez do Ártico uma prioridade estratégica. As fábulosas reservas de petróleo e gás que aqui deverão existir são desejadas por todos. EUA, Canadá, Dinamara e Noruega, estão preocupadas com as ambiciosas pretensões da Rússia.

Arthur Chillingarov, presidente-adjunto Duma Estatal - Rússia: "Sim, é o hino necional e a bandeira russa. e porque não faria isso? Sou político e o oceano é nosso. Porque não hastearia a minha bandeira? Estamos interessados no Ártico porque é uma extensão da Rússia. Há petróleo, gás e ouro a ser encontrado aqui. Tudo isso éo Ártico e temos o dever de estar aqui."

No dia 2 de agosto de 2007, uma expedição russa colocou uma bandeira 4267 metros abaixo da superfície do Pólo Norte geográfico. Uma bomba diplomática e um gigantesco bluff. Uma bandeira no fundo do mar como forma de dizer ao mundo: o Ártico é Russo !!!


guy F Caruso, CSIS Energia e Segurança Nacional: "A crescente procura de energia, em particular petróleo, significa que temos que procuar em zonas cada vez mais difíceis para encontrar novas fontes de petróleo, gás e outras formas de energia. Estampos alargando as fronteiras da exploração até águas profundas, até a tundra ártica e até ao Alasca, no caso da Rússia. E tudo isso requer duas coisas: tecnologia muito mais sofisticada para exploar esta fonte de energia e á muito mais dispendioso. A segunda coisa envolve muitas vezes a necessidade de resoler disputas geopolíticas em fronteiras entre paises ou mesmo dentro de um páis."

Cada vez mais longe e mais profundo em direção a novas fronteiras. Para explorar os seus campos no Ártico, a Rússia aliou-se à gigante BP. A empresa responsável pelo desastre do Golfo do México, esta fornecendo financiamento e tecnologia e experiência. Para Putin, o novo czar russo, o petróleo significa riqueza e poder. 25% do petróleo importado na Europa é russo; uma valiosa ligação energética que silencia muitas vozes críticas. ,

Enquanto voo sobre o Atlântico, reflito divertido, ou melhor, chocado, sobre a série de ditadores e monarcas do petróleo cortejada tão cordialmente por Paris, Washington e todas as capitais do mundo. Mas como diz um conhecedor chamado Dick Cheney, ex sercretário da Defesa e diretor da Haliburton, "O senhor não achou por bem dar petróleo a democracias."

Xavier Houzet, comerciante de petróleo: "Penso que para Dick Cheney, se Deus não achou por bem dar petróleo a democracias, os americanos também nunca quiseram criar regimes democráticos em paises ricos em petróleo. È muito mais fácil explorar a riqueza de outros quando temos a cumplicidade de um ditador. "

No dia 17 de setembro de 2010, um jovem tunísino imola-se e acendem-se chamas de revolta por todo o mundo árabe. Caiu um muro de medo. Uma nova geração faz ouvir o seu desejo de liberdade e de uma parte dos direitos petrolíferos confiscados pelas famílias soberanas do Golfo ou clãs estabelecidos. Em março de 2011, irrompe a batalha nos terminais petrolíferos líbios. Kadaffi, o coronel louco, prapara-se para massacrar o seu próprio povo. No dia 19 de março, aviões franceses bombardeiam forças líbias e levanta-se uma questão: as forças internacionais interviriram, se a Líbia não tivesse petróleo?

Xavier Houzet, comerciante de petróleo: "A questão é: incerteza. O "efeito dominó" do que aconteceu na Tunísia e no Egito e as consequências na Líbia. Pode parecer que os americanos se preparam muito rapidamente. Estarão talvez um pouco perplexos, pois esse indivíduo, Muammar Kadaffi, é totalmente imprevisível. E podemos esperar massacres. Podemos esperar dezenas de milhares de vítimas. Podemos esperar bombardeamentos e ficar atolados numa nova situação ao estilo do Iraque."

O mundo árabe revolta-se o mundo inteiro treme.Ditaduras colapsam e monarquias abdicam. Um terrível efeito dominó. Um fogo que parece estar a lavrar até a Arábia Saudita. Poderá o páis conhecido como Banco Central do Petróleo do mundo também incendiar-se?

Pierre Terzian, diretor da revista Petrostratégie: "Se um país como a Arábia Saudita fosse afetado por esta instabilidade atual, ningém escaparia aos efeitos catastróficos, pois ninguém poderia substituir o petróleo saudita. Nem vale a pena pensar nisso. O preço do petróleo subiria para níveis sem precedentes. E não só sofreríamos de um ponto de vista econômico, devido aos aumentos do preço, como teríamos uma grave escassez de petróleo. Haveria uma grande escassez."

Em Hounston, Texas, a capital mundial do petróleo, ninguém imagina uma grave escassez nem nos seus piores pesaldelos. A cidade vive e respira petróleo. As sete Irmãs e quase mil outras empresas tem todas morada em Houston. No múmero 800 da Avenida Bell fica o Edifício Exxon, a catedral e o vaticano da indústria petrolífera. Nos andares 43 e 44 fica o Clube do Petróleo, a aristocracia do ouro negro. 1700 membros, 500 dos quais bilionários. É o clube mais exclusivo do mundo. E, para o Clube do Petróleo no Exxon, é Natal todos os dias.

Esta noite, festejam-se fusões; megacasamentos com megadotes. Exxon e Chevron vão casar-se com Mobil e Texaco, respectivamente. Uma história de amor americana. A BP dá um nó com a Amoco. A francesa total une-se à Elf e a Fina. Mas a anglo-holoandesa Shell prefere manter-se solteira. Como as Sete Irmãs não fazem tenções de morrer, renascem. Uma vez mais, a união faz a força.

Kamil Al Harami, conselheiro do petróleo, Emir Kuwait: "As Sete Irmãs estavam cheias de reservas e eram empresas petrolíferas independentes. Empresas petrolíferas internacionalmente independentes. Não tinham quaisquer ligações com governos. Atualmente, elas tem menos reservas. Estão morrendo. Algumas delas estão morrendo porque estão perdendo reservas. Tem de lutar para acumularem mais reservas. Concordo com isso. Contudo, o núcleo das Sete irmãs perdurará, pois tem a tecnologia. E sabem que tem o conhecimento. Será um jogo novo. Mas creio que, parte das Sete irmãs continuará a existir, intacta."

Que história ! Desde a caçada nas charnecas escocesas e a infame noite de 28 de agosto de 1928 quando foi criado um cartel em segredo absoluto para partilhar o mundo. Foram chamadas Sete irmãs. Sete vorazes irmãs. Exxon, Shell, Chevron, BP, Total ...todo o ano o novo quinteto publica relatórios de lucros récorde. Longe da imundice dos campos petrolíferos, é nos registros da Bolsa que as empresas fazem fortuna. O petróleo é a presa preferida dos especuladores. Todos os dias petróleo que não existe é comprado e vendido ! Este novo mundo é petróleo de papel.

Xavier Houzel, comerciante de petróleo: "As somas de capital que correspondem a transações virtuais domercado petrolífero em papel estão estimadas por alugns como sendo entre 5 a 20 vezes superiores ao real volume de petróleo que é transportado, comprado, vendido e consumido. E isso tem um impacto considerável no próprio preço do petróleo, pois os caprichos desses especuladores, que amiúde recorrem a fórmulas matemáticas mágicas e incríveis sistemas de apostas de duplicação, mudam os preços sem qualqeur base real nas realidades da oferta e procura. É por isso que por vezes vemos o preço do barril subir a pique por razões que nada tem a ver com o mercado. "

Port Arthur, TExas, USA. Em vez de investir em ações meto as minhas ultimas moedas na jukebox. Música Tex-Mex, fajitas e café... A manhã chjeira a cantina de chicanos, nos subúrbios de Houston. Esta manhã vou me encontrar com Juan Parras e o seu filho, os últimos vigilantes da maior refinaria de petróleo do mundo. Uma zona sem lei sacrificada no altar do grandioso petróleo.

Jean Parras, diretor apoio comunitário: "Todos temos sonhos. E um dos nosso sonhos seria ter diretores-executivos da Exxon-Mobil, da Shell, da BP, da Chevron, da Conoco Philips ou de qualquer dessas indústrias de Valero. Adorávmos levá-los numa "visita tóxica" para lhes mostrar as condições de vida das pessoas junto a sua vedação. Só para lhe perguntar o que estão fazendo pelas comunidades. Sei que fazem muito pelos acionistas. Importam-se com os lucros, com eles próprios, com a produção. Mas, sempre que a produção baixa, quem é que paga? É a comunidade. E, mesmo quando a produção é alta, quem é que paga? É a comunidade."

petrol sinal

 

Beco sem saída. No final da minha jornada um último sinal rodivoário a gozar-me descaradamente. Como uma ilha na sombra de fortunas de petrodólares e gases tóxicos, está o Kelley's Kitchen. O seus cleites habituais são os proscritos do sonho americano. O café é amargo; prefiro o sorriso da empregada. Após dois anos no enclaço das Sete Irmãs, esta é a minha última parada. E, com Kelley me diz, o resultado final é assustador.

Hiltom Kelley, associação comunidade no poder: "Vejo o teu fumo a ascender pelos ares. As duas ou três da manhã quando achas que não há olhares. Na calmaria da noite, o meu filho começa a espirrar. Na calmaria da noite, o outro começa a magicar. A tua incandescente tocha tem uma chama eterna. Para me orientar pela casa nem preciso de lanterna. O rugido da tua chama aprendi a ignorar, apesar da sua combustão fazer os meus pés no chão vibrar. Sei que vivo nas traseiras da cidade e devia ficar quieto e calar a dor. Podes achar isto demasiado interior, mas eu e os meus vizinhos temoa a pele preta e castanha de cor. Espero que possa deixar esta ébria espiral e arejar, pois estas idéias que tenho tendem a enxofre e benzeno cheirar. Mas se morresses esta noite, iriam os teus assassinos confessar, os venenos que te meteram dentro e te deitarem para descansar? Me disseram que a tua morte não foi um acidente de trabalho. A minha tóxica realidade. A minha tóxica realiade. A minha tóxica realidade...."

"A Idade da Pedra não acabou por haver falta de pedras", disse-me um dia o xeque Yamani, ex ministro do petróleo saudita. Terá jele querido dizer que um dia talvez emerjamos da Era do Petróleo? Não tenho tanta certeza, pois naquele dia 28/08/1928, entre uma caçada, jantar e charutos, as Sete Irmãs juraram que só abdicariam do seu poder quando a última gota de petróleo tivesse flúido e o último dólcar queimado nas chamas. O segredo foi bem guardadeo e todos nós pagamos o preço.

Fonte: Documentário "The Secret Of The Seven Sisters - The shameful Story of Oil", de Fréderic Tonolli e Arnaud Hamelin. Compilação em forma de texto e imagens, Renato Corrêa Bicca, gestor de conteúdo do portal O ARQUIVO !