HISTÓRIA E CULTURA

Conspiração? A Cia e os Nazistas - Parte 2

nazicia 9Na primavera de 1948 designaram um jovem coronel do exército para investigar sua vasta investigação. A CIA enviou James Critchfield (foto ao lado) para investigar Gehlen. Cristchfield retornou e disse que a CIA deveria assumir a organização de Gehlen. Durante uma entrevista a BBC em 1992 o ex-coronel explicou porque disse a CIA que ainda precisava de Gehlen e sua vasta rede de espionagem: "A razão que consta no meu relatório de dezembro de 1948, para assumir a Organização era a deque não tinhamos escolha. Não tínhamos peritos em assuntos soviéticos."

Mas a CIA estava a par do perigo que Gehlen representava. A CIA notou que a organização crescera tanto que ameaçava a democracia da Alemanha Ocidental. Não se tinha escolha. Podia-se trabalhar com ela, controlá-la e usá-la. Ou ela se voltaria contra os EUA. E mais uma vez a escalada dos ataques soviéticos ajudou a melhorar a situação de Gehlen no exército americano. Em junho de 1948 Stalin impos um bloqueio a Berlim Ocidental com a intençao de deixar a população faminta e impor o regime comunista. Aviões americanos entragavam alimentos e suprimentos médicos na cidade. Quase um ano depois Stalin finalmente recuou. A crise em Berlim espalhou o receio no Ocidente de que a guerra contra o soviético era eminente.

Foi nessa atmosfera que a CIA decidiu manter a organização de Gehlen. O coronel Critchfield exigiu maior controle sobre as práticas de recrutamento, mas logo percebeu que o ex-general do TErceiro Reich tinha uma agenda própria. Gehlen disse: "Ok, vou dar o que quer." Quando ficou claro que a CIA assumia a Organização de Gehlen a máscara caiu e ele disse: "Vocês me entenderam mal. Não posso lhes dar os nomes das pessoas que contrato seria contra a tradição alemã." Gehlen também contestou os supervisores americanos lembrando que eles pouco sabiam sobre como conduzir uma operação de inteligência na Europa. Ele disse: "Vocês são tão ingênuos. Os europeus espionam há séculos. Vocês tem de acreditar que sei dirigir uma organização de inteligência."

No final a tentativa da CIA em controlar a organização de Gehlen foi tão frustrada quanto a do exército. Em 1949 em respota aos ataques de Stalin ao leste europeu os EUA e mais 11 paises europeus, incluindo mais tarde a Alemanha Ocidental, formaram a organização do tratado do atlântico norte, a OTAN. Qualquer agreção a um pais membro seria considerada um ataque a aliança.

Como a organização de Gehlen transmitia informações que fluiam do Oriente para o Ocidente, tornou-se o alvo principal de espiões soviéticos que procuravam infiltrar-se na aliança da OTAN. Era difícil para os soviéticos no pós-guerra penetrar no governo americano. Mas poderiam entrar na organização de Gehlen e conseguir segredos da OTAN. Um método utilizado pelos soviéticos para a acessar os segredos da organização de Gehlen foi chantagear os ex-nazistas, forçando-os a trabalhar para a União Soviética. Eles usaram o que sabiam sobre as pessoas da organização de Gehlen. Eles disseram: "Sabemos o que fizeram na Guerra, se não trabalharem para nós, vamos entregá-los." Como consequêcia, muitos dos homens de Gehlen tornaram-se agentes duplos e espionaram os EUA e a OTAN para os soviéticos.

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O pior deles foi Heinz Felfe (foto acima)cuja traição expôs centenas de espiões. Ele esteve na SS durante a segunda guerra. Ele prosperou na organização de Gehlen, tornou-se chefe de operações contra a URSS e trabalhava para os soviéticos. Isso significa que toda a operaão de Gehlen na zona soviética foi comprometida pro Felfe. Documentos antes confidenciasis, indicam que a CIA espionava a organização de Gehlen desde 1949. Vários agentes da CIA nunca quiseram trabalhar com ele. Continuavam a dizer que Gehlen era um erro.

Embora estivesse ciente dos perigos que Gehlen representava a CIA não fez nada para evitar a contraespionagem na organização dele. Segundo o escritor Timoty Naftah, ambas as partes foram responsáveis pelo fato. A culpa era de Gehlen e da CIA, basicamente pela inépcia em controlar Gehlen. Na verdade a CIA só prendeu Heinz Felfe em 1961 como agente da KGB. No inicio dos anos 1950 a CIA continuava a examinar relatórios sobre a infiltração soviética na organização de Gehlen. No entanto, até o críticos mais severos, reconhecem que Gehlen foi bem sucedido em um ponto: através dos seus esforços a Alemanha Ocidental pode criar o próprio serviço de inteligência.

Em 1956 a organização transformou-se oficialmente no Serviço de Inteligência da Alemanha Ocidental conhecido como BND. Alguns dizem que Gehlen sempre foi um alemão leal e que esse foi o seu objetivo desde o começo. Ele havia conquistado o que queria. Tornou-se uma figura importante na história alemã. Mas o verdadeiro preço de utilizar a organização de Gehlen e cientistas ex-nazistas só seria revelado 40 anos depois.

Nos anos 1970 alguns americanos começaram a questionar a presença de ex-nazistas em seu país. O que essas pessoas fazem nas praias dos EUA? Quantos americanos lutaram na segunda guerra mundial? O sacrifício deles virou piada com os homens de Hitler nos EUA, gozando de segurança e liberdade. Na primavera de 1974 a deputada novaiorquina Elisabeth Holtzman soube da história dos ex-nazistas trazidos aos EUA para trabalhar em projetos de defesa. Um especialista em assuntos de imigração veio Elisabeth e contou a história de que o governo tinha uma lista de ex-nazistas vivendo nos EUA e não fazia nada a respeito. A reação de Elisabeth foi de incredulidade. É loucura...Impossível !

Ela contatou imediatamente o chefe do serviço americano de emigração Leonard Chapman. Ela disse a ele: "É verdade que ha uma lista de ex-nazistas vivendo aqui?" Ele respondeu que sim. Ela quase caiu da cadeira pois não esperava que fosse verdade. Holtzman lançou uma campanha para mudar a lei americana de imigração. Em 1978 o congresso aprovou sua emenda que proibida a entrada de criminosos de guerra nazistas e ordenava a deportação dos que estavam no país. Naquele mesmo ano o Departameto de Justiça americano ganhou uma divisão de investigações especiais a OSI.

O objetivo da OSI é achar evidências de nazistas criminosos de guerra vivendo nos EUA e trazê-los a justiça. Em 1980 o advogado Eli Rosenbaum (foto acima) entrou para a OSI.

Seu primeiro grande caso foi o de Arthur Rudolph (foto acima), ex-engenheiro nazista trazido aos EUA para trabalhar no projeto "Paperclip". Nos EUA Rudolph era quase um herói. Era um dos principais oficiais da NASA responsável pela contrução do "Saturno 5",o foguete que levou o homem a Lua, em 1969. Rosenbaum estava convencido de que Rudolph tinha um passado nefasto. Décadas antes, Rudolph havia explorado os membros do campo de concentração Dora na tentativa de aperveiçoar o foguete alemão V2, usado contra os aliados na europa.

o usode trabalho escravo viola as leis de Nuremberg. É um crime contra a Humanidade. Rudolph deveria tersido processado criminalmente após a guerra, mas não foi. Rudolph e Rosenbaum se encontraram em 4 de fevereiro de 1983. Em uma entrevista gravada, Rosenbaum tentou levar Rudolph a admitir a culpa, a seguir alguns trechos da conversa:

Rosenbaum: "Não lhe ocorreu que poderiam lhe mandar prisioneiros?"

Rudolph: "Podem ter sido prisioneiros, sim.

Rosenbaum: "Deve ter pensado: Quem fará os foguetes? Afinal iam trabalhar para você.

Rudolph: "Sim, mas a situação era confusa na época."

Rosenbaum: "Em Mittelwerk, os que trabalhavam na produção tinhamum tipo de emblema, um pano costurado para distingui-los...

Rudolph: "Por favor, não me lembro."

Rosenbaum: "Não se lembra de uma estrela amarela, como a de David?"

Rudolph: "Não"

Rosenbaum: "Não lembra?"

Rudolph: "Não, não."

Rudolph trouxe essas pessoas para esse "buraco" sabendo das condições cruéis que enfrentariam, não se preocupou com a saúde nem com a vida delas. Apesar das negações de Rudolph, Rosenbaum e a OSI acreditavam possuir evidências suficientes para processar o ex nazista. A OSI processou Rudolph e ele deixou a nação, sendo deportado pelos crimes que cometeu. A OSI continua a caçar nazistas que moram nos EUA, mas a história completa do uso de ex-nazistas na inteligência americana durante a guerra fria permaneceria confidencial por mais 20 anos.

A antiga URSS havia aberto seus arquivos e os EUA, o país da liberdade, da democracia ainda mantinha total segredo. Em meados dos anos 1980, novas questões surgiram sobre o uso de ex-nazistas em operações científicas e de inteligência. A partir de 1984 a escritora Mary Ellen Reese passou seis anos pesquisando Reinhard Gehlen e seus laços com a CIA. Um antigo ofical da CIA disse a ela que tinham documentos sobre Gehlen que queriam que ninguém visse. Na década seguinte, mesmo com a queda do muro de berim e o desmembramento da união soviética a CIA não quis revelar seus arquivos.

Em 1998 o Congresso aprovou a Lei de divulgação de crimes de guerra nazistas apoiada apoiada pela depuda Carolyn Maloney. A Lei determinava que a CIA revelasse detalhes sobre sua relação com ex-oficiais do Terceiro Reich, inclusive REinhard Gehlen. Maloney disse: " Eles insistiram em manter uma cláusula dizendo que tudo que é concernente a segurança nacional não pode ser revelado. Ja passaram 50, 60 anos da II Guerra Mundial." Em 08 de outubro de 1998, a Lei foi aprovada pelo presidente Clinton. Nos seis anos seguintes, 8 milhões de documentos da CIA, Exército e outras agências governamentais foram revelados. Fo a maior divulgação de informações secretas da história americana.

O perito em guerra fria Timothy Naftali examinou documentos relativos a organização de Gehlen e ficou chocado com o que descobriu. Ele disse: "Quando a CIA finalmente analisou suas operações descobriu que 90% delas era lixo. OU eram fraudes, não existiam ou a informação não tinha valor." Naftali e outros acreditam que as informações informações falsas prejudicaram os EUA. Os EUA pagaram um preço algo por acreditar em Gehlen. Parte do preço foi proteger criminosos nazistas e outra foi não cumprir a obrigação do Tratado de processar os criminosos de guerra. Dois terços das informações fornecidas a OTAN vieram da Organização de Gehlen. Eles foram importantes na Guerra fria e tiveram um papel negativo ao influenciar a URSS de uma maneira ruim para ambas as nações, mas útil par Gehlen e os nazistas.

Os críticos também questionam se engenheiros com o ex-nazista Arthur Rudolph realmente contribuiram para o progresso científico americano. Rudolph era um administrador competente de grandes empresas científicas. Ele era um tipo de presidente. Sabia dirigir uma empresa. Ja a alegação de que os EUA precisavam dele, não há evidências disso.

O combatente da resistência francesa e sobrevivente do holocausto Michael Tomas foi recrutado em 1945 pela inteligência americana. Ele estava com a stropas aliadas na libertação do campo de concentração Dachau em 29 de abril de 1945. Ele diz: "Nunca deveríamos er considerado, pensar em trabalhar com os nazistas, com a Gestapo. Era parte da missão prendê-los e ver se finalmente a justiça seria feita. Não sei se há uma jutiça humana para crimes tão desumanos."

Mas para muitos agentes que atuaram sob a real ameaça de guerra comos soviéticos foi um decisão entre os menor dos males. Em 1946, Robert Livingston era membro da divisão de inteligencia do exército, A CIC. Estacionada na Austria sua unidade reunia informações gerais sobre atividades soviéticas. O entuniasta do elo entre Gehlen e a CIA, James Critchefield defendeu a colaboração do ex-general nazista até sua morte em 2003. Critchefild diz: "Foi um período emque informações decidiam vidas. Não houve questionamento sobre o valor delas naquela época." Ele lembrou aos críticos que a organização de Gehlen criou um serviço de inteligência na Alemanha Ocidental que serviu aos aliados durante a guerra fria,

Cristopher Simpson recohece o fato mas contesta o fato de trabalhar com Gehlen. Ele diz: "Muitos dizem que a colaboração dos nazistas não foi ruim, que os EUA ganharam em termos de informações, tiveram vantagens ao lidar com o Leste Europeu e a URSS. Acho que é tudo mentira. A decisão de trabalhar com genocidas é por sí só corrupta. As instituições destinadas a conseguir informações também podem adulterá-las. Temos uma situação em que o governo simultaneamente depende das informações e não pode contar comelas, pois podem estar erradas."

Mas em tempos de guera a necessidade de informações pode derrubar a ética. "Hoje enfrentamos o mesmo problema no Iraque. Para quem trabalhamos? Para os honestos? Há poucos deles. Julgar a posteriori é mais facil do que na hora com um problema concreto. Você é um agente, seu chefe diz que precisa de informações sobe X,Y e Z. Isso é que se tem de fazer neste grande jogo político", diz Linvingstone.

Mais documentos estão sendo revelados graças a Lei de divulgação de crimes de guerra nazistas. Mas a história completa da relação entre Gehlen e a inteligência americana talvez nunca seja conhecida. Timothy Maftali diz:"Se sabemos tudo? Não. Nunca vi os aruqivos da CIA. Nenhum de nós viu."

Fonte: Documentário "Conspiração? A CIA e os Nazistas"
https://www.youtube.com/watch?v=A8S-ESZ9g_c
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