HISTÓRIA E CULTURA

O soldado que não matou Adolf Hitler

soldahitlerA Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais violento da História. Entre 1º de setembro de 1939 (Invasão da Polônia pelos alemães) e 14 de agosto de agosto de 1945 (rendição japonesa), o saldo foi de 59 milhões de mortos (sendo quase 6 milhões de judeus) e cerca de 1,5 milhão de edifícios destruídos. Existe, porém, nessa história um personagem pouquíssimo conhecido: o soldado inglês Henry Tandey. Para conhecê-lo melhor, no entanto, será preciso voltar um pouco mais no tempo, mais precisamente na Primeira Guerra Mundial. 

A data é 28 de setembro de 1918, e a Primeira Guerra Mundial está perto do fim. Na pequena cidade de Marcoing, na França, um pelotão inglês não consegue atravessar um riacho por causa de uma ponte destruída. Para piorar a situação, encontra-se sob fogo cerrado disparado por soldados alemães. De acordo com o historiador brasileiro Warde Marx, o soldado Tandey, em um ato de extrema coragem, correu até o esconderijo dos atiradores inimigos, matou-os, e retornou para consertar a ponte. Horas mais tarde, no mesmo dia, ele seria o autor de uma façanha ainda maior: na companhia de mais oito colegas de batalhão, ele foi cercado por 37 combatentes alemães munidos de metralhadoras.

Portando somente baionetas, Tandey convenceu os colegas a partirem para cima dos inimigos, e acaba por rendê-los. Obviamente, tais atitudes lhe renderam inúmeras condecorações, mas uma delas teria um gostinho especial: a medalha Cruz Vitória, honraria dada pelo rei àqueles que demonstrassem bravura na “presença do inimigo”. Ele vê surgir através da neblina um jovem soldado alemão. Tandey o tem na mira, mas é incapaz de atirar no homem que manquejava devido aos ferimentos – "Eu mirei, mas não consegui atirar em um homem ferido" – lembrou o britânico anos mais tarde. O soldado alemão acenou em agradecimento e desapareceu. Apesar da brilhante carreira militar, o bravo inglês seria conhecido, posteriormente, por outro motivo bastante curioso: ter desperdiçado a chance de matar um soldado alemão. O nome desse soldado? Adolf Hitler.

Sim, o homem que aterrorizou o mundo esteve supostamente bem perto da morte na Primeira Guerra Mundial e, por mais de vinte anos, teve sua identidade ignorada pelo seu ”piedoso salvador”. A história só seria revelada em 1938, quando o primeiro ministro britânico Neville Chamberlain esteve em uma reunião com Hitler na Alemanha. No gabinete do ditador alemão, havia a cópia de quadro, pintado pelo artista italiano Fortunino Matania, que retratava uma cena da Primeira Guerra Mundial. Nela, o herói inglês aparecia carregando um combatente ferido e o ditador alemão era mostrado sentado no canto direito da imagem. Mas como Hitler tinha tanta certeza de que o rapaz registrado na imagem era Tandey?, perguntou Chamberlain.

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Em 1933, ano em que subiu ao poder, o führer viu uma reportagem de jornal anunciando um evento em homenagem ao homem que o deixara viver. Reconheceu o rosto e ordenou a alguns agentes da polícia alemã que viajassem até a Inglaterra para investigar a identidade do sujeito. Os policiais chegaram até o regimento a que Tandey pertencera e, depois de algumas conversas com oficiais ingleses, descobriram o nome que tanto procuravam. De quebra, viram a obra original cuja cópia seria pendurada na parede do gabinete do líder alemão anos depois. Além da revelação bombástica, Hitler também pediu que Chamberlain transmitisse um abraço e seu agradecimento a Tandey.

Se Hitler lembrava com carinho e, até mesmo com gratidão, do episódio, o mesmo não se pode dizer de Tandey. “Se ao menos eu soubesse o que ele iria se tornar… quando eu vejo todas as pessoas, mulheres e crianças que ele tem matado e ferido, peço desculpas a Deus por tê-lo deixado escapar”, teria declarado a amigos em 1940. Na opinião de Warde Marx, porém, o inglês não tinha do que se arrepender. “Embora esta história envolvendo o Hitler e o Tandey provavelmente seja verdadeira, não há como confirmá-la de maneira absoluta. Se ela for real, Tandey adotou a mesma atitude que muitos outros soldados da época, influenciados pelo pensamento tradicional e pelas questões morais do século XIX, adotaram”. Vale lembrar que a Convenção de Genebra, responsável por regulamentar as ações relativas a prisoneiros de guerra, só apareceria em 1929, mais de dez anos depois do término da Primeira Guerra Mundial.

Embora não devesse se sentir culpado, o herói de guerra inglês tentou corrigir o suposto erro anos mais tarde: em 1940, com 49 anos, Tandey implorou às forças armadas inglesas que o deixassem viajar para a Alemanha, com o objetivo de matar Hitler. Devido à sua idade, no entanto, teve sua adesão ao exército britânico recusada. Trabalhando na área de segurança privada, viveria até 1977, quando, aos 86 anos, veio a falecer na cidade inglesa de Coventry , injustamente mais lembrado pela sina de “O homem que não matou Hitler” do que pela heroica carreira militar construída ao longo de sua vida.

A autenticidade do encontro Tandey-Hitler ainda é controversa, apesar de evidências que sugerem que Hitler possuía uma reprodução da pintura Matania, já em 1937, uma aquisição estranha para um homem com sentimentos de vingança e devastado pela derrota alemã para os Aliados na Primeira Guerra. Duas vezes condecorado como soldado, Hitler ficou temporariamente cego após um ataque com gás mostarda na Bélgica, em outubro de 1918, e estava em um hospital militar em Pacewalk, na Alemanha, quando recebeu a notícia da rendição alemã. Suas experiências de batalha e, finalmente, desilusão e desânimo, iriam nortear o resto da sua vida, como ele admitiu em 1941, depois de liderar seu país em novo conflito devastador: "Quando voltei da guerra, eu trouxe de volta para casa as minhas experiências no front; delas, construí minha comunidade nacional-socialista."

Fonte: http://guiadoscuriosos.com.br
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