HISTÓRIA E CULTURA

A Divisão Azul, os espanhóis e portugueses do Exército Alemão

divazul5A 250. Einheit spanischer Freiwilliger da Wehrmacht, mais conhecida como a "Divisão Azul" (Blaue Division, para o exército alemão), foi uma unidade de voluntários espanhóis e portugueses que serviu a partir de 1941 (e oficialmente até 1943) no lado alemão durante a Segunda Guerra Mundial, ...

principalmente na frente oriental contra a União Soviética. Ainda que a Espanha não tenha aderido oficialmente à II Guerra Mundial do lado da Alemanha o general Francisco Franco permitiu que voluntários se incorporassem ao exército alemão. Deste modo, podia manter a neutralidade espanhola enquanto, simultaneamente, recompensava Hitler por sua ajuda durante a Guerra Civil Espanhola. O Ministro de Assuntos Exteriores da época, Ramón Serrano Súñer, sugeriu a criação de um corpo voluntário, no princípio da Operação Barbarossa, e Franco enviou uma oferta oficial da ajuda a Berlim. Hitler aprovou o uso de voluntários espanhóis em 24 de junho de 1941. Os voluntários se apresentaram nos locais de alistamento de todas as áreas metropolitanas da Espanha. Os cadetes da Escola de Oficiais de Zaragoza se ofereceram voluntariamente em grande número.

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Inicialmente, o governo espanhol se preparou para enviar cerca de 4.000 homens, mas mudou de ideia ao descobrir que havia voluntários suficientes para formar uma divisão completa (18.104 homens, dos quais 2.200 eram oficiais e o resto soldados). Segundo estimativas do embaixador alemão, era possível formar 40 divisões nesta convocação. Cinquenta por cento dos oficiais e soldados eram militares de carreira, muitos deles falangistas veteranos da Guerra Civil e estudantes das distintas universidades. O general Agustín Muñoz Grandes foi o designado para conduzir os voluntários, contudo, posteriormente foi Emilio Esteban Infantes quem o substituiu.

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Como os soldados não podiam utilizar o uniforme do exército espanhol, adotaram um uniforme simbólico que abrangia as boinas vermelhas dos carlistas, as calças de cor caqui usadas na Legião e as camisas azuis dos falangistas, por causa disso começou-se a chamar Divisão Azul. Este uniforme peculiar era utilizado unicamente durante o trabalho na Espanha; no campo de batalha, os soldados usaram o uniforme cinza da Wehrmacht, ligeiramente modificado para mostrar na parte superior da manga direita a palavra "España" e as cores nacionais espanholas.

Em 13 de julho de 1941 saiu de Madrid para Grafenwöhr (Baviera) o primeiro trem de voluntários para passar cinco semanas de instrução. O corpo formado por estes voluntários ganhou a denominação de "250. Einheit spanischer Freiwilliger" Divisão de Infantaria do exército alemão, e foi dividido inicialmente em quatro regimentos de infantaria. Para se adequar à organização padrão do exército alemão, um dos regimentos foi eliminado, e seus efetivos se reintegraram nos três restantes.

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Despedida de voluntários da Divisão Azul na estação del Norte em Madrid em 1941 - Martín Santos Yubero/ Archivo Regional de la Comunidad de Madrid

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Voluntários falangistas, 1941

Os regimentos tomaram o nome das três cidades espanholas de onde procedia a maioria dos voluntários: Barcelona, Valência e Sevilha. Cada regimento tinha três batalhões, formados por quatro companhias cada um, assim como um regimento de artilharia dotado de três baterias de 150 mm e de uma bateria pesada de reforço.

Os aviadores voluntários formaram a Esquadrilha Azul, a qual, a bordo de aviões Bf 109s e FW 190s, foi creditada com 156 derrubadas de aviões soviéticos.

Em 20 de agosto, após fazer o juramento (que foi modificado especialmente para mencionar a luta contra o comunismo), a Divisão Azul foi enviada à frente russa. Foi transportada por trem a Suwalki, Polônia, de onde tiveram de continuar a pé. Depois de avançar até Smolensk, se dispersou no assédio de Leninegrado, onde passou a formar parte do XVI Exército alemão.

(Na foto lado, vemos voluntários da Divisão Azul com a bandeira representativa e seu escudo, condecorações e uniforme de campanha)

COMBATES E RESISTÊNCIAS

A Divisão Azul sofreu fortes perdas na batalha em Leninegrado, devido tanto ao combate quanto à ação do frio. A partir de maio de 1942 começaram a chegar da Espanha mais efetivos para cobrir as baixas e substituir os combatentes feridos. Até 46.000 voluntários serviram na frente do Leste, dos quais cerca de 24.000 eram recrutas. Muitos deles foram condecorados pela ação e valor tanto pelo exército espanhol quanto pelo alemão.

Depois da queda da frente em Stalingrado, a situação mudou e mais tropas alemãs foram deslocadas em substituição das espanholas. Isto coincidiu com a mudança no comando da divisão, que foi designada ao general Emilio Esteban Infantes. Eventualmente os aliados começaram a exercer pressão sobre Franco para que retirasse as tropas voluntárias. As negociações iniciadas por ele, no fim de 1943, foram concluídas com uma ordem de repatriação gradual em 10 de outubro.

O número de perdas da Divisão Azul se elevou a 4.954 mortos e 8.700 feridos. Além disso, as forças russas fizeram 372 prisioneiros dessa divisão, da Legião Azul ou dos voluntários da SS 101, conhecidos como a Spanische Freiwilligen Kompanie. Desses, 286 foram mantidos em cativeiro até 1954, quando voltaram para a Espanha no navio Semíramis, fretada pela Cruz Vermelha (em 2 de abril de 1954).

Alguns soldados espanhóis se rejeitaram a voltar (entre 1.500 e 3.000 homens). Houve também voluntários espanhóis em outras unidades alemãs, principalmente nas Waffen-SS, e outros voluntários atravessaram a fronteira espanhola furtivamente por Lourdes, no sul da França. As novas unidades foram chamadas coletivamente para a Legião Azul. Os espanhóis continuavam sendo inicialmente parte da 121 Divisão de Infantaria, mas ainda assim se ordenou a repatriação desta unidade em março de 1944, sendo transportada de novo para a Espanha no dia 21.

O restante dos voluntários foram reagrupados em outras unidades alemãs, como a 3ª Divisão de Montanha e a 357 Divisão de Infantaria. Outra unidade foi enviada à Letônia. Duas companhias se unificaram com o regimento dos Brandemburgueses e a 121 Divisão alemã na Iugoslávia para lutar contra os partisanos de Tito. Cinquenta espanhóis entraram nos Pirenéus para combater a resistência francesa. A 101 companhia Spanische Freiwilligen Kompanie der SS 101, de 140 homens, composta por quatro pelotões de fuzileiros e um pelotão de oficiais, foi unida à 28ª Divisão de Voluntários Granadeiros Valões da SS, lutando em Pomerânia contra o exército soviético.

Mais adiante, como parte da 11 Divisão voluntária Nordland dos SS Panzergrenadier e sob o comando do SS-Haupsturmführer Miguel Ezquerra, lutaram os últimos dias da guerra contra tropas soviéticas na batalha de Berlim. A contribuição militar da Divisão Azul foi extraordinária em comparação com sua força, como pode testemunhar a quantidade de medalhas e condecorações recebidas.

BAIXAS E CONDECORAÇÕES

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Soldado fazendo túmulo de camarada da Divisão Azul

No total, cerca de 47.000 soldados serviram na Divisão Azul na Rússia. Entre 4.500 e 5.000 deles foram mortos, e mais de 8.000 ficaram feridos. 321 foram feitos prisioneiros de guerra pelo exército soviético. Somente alguns poucos conseguiram sobreviver aos longos anos de privações e trabalhos forçados durante o cativeiro. Enquanto a maior parte dos soldados alemães, italianos, romenos e de outras nacionalidades foram postos em liberdade após cinco anos nos campos de internação; os prisioneiros espanhóis da Divisão Azul tiveram de esperar até 12 anos. Os poucos que sobreviveram ao tratamento sub-humano que lhes era dispensado, foram repatriados em 1954, chegando ao porto de Barcelona em 2 de abril de 1954 no agora célebre barco Semíramis. Ao total das honrarias concedidas aos soldados e aos oficiais da Divisão Azul foram:

2 Cruzes de Cavaleiro (uma com Folhas de Carvalho)
2 Cruzes de ouro
138 Cruzes de Ferro de Primeira Classe
2.359 Cruzes de Ferro de Segunda Classe

Portugueses na Divisão Azul

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Portuguese voluntários na Wallonien waffen SS (SS-Sturmbrigade Wallonien)

Escreveu-se, ou tentou-se, sobre o tema da Divisão Azul em mais de 300 Livros, muitos deles publicados no estrangeiro, centenas de artigos à memória de ex-divisionários, portanto através destes depoimentos todos, em nenhum é mencionada a participação de portugueses voluntários na Divisão Azul. Pelas contribuições encontradas, eram antigos combatentes, voluntários, da Espanha nacional que participaram na cruzada de 1936-1939, eram combatentes ativos anti-bolcheviques que não quiseram perder a retribuição da visita feita a Espanha pela Rússia Soviética, querendo assim acompanhar os seus camaradas espanhóis na luta contra um inimigo comum.

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Foto da qual se poder no cortejo fúnebre militar, um caixão com o Estandarte português ladeado por soldados alemães

Em ambos os casos provinham da Legião estrangeira Espanhola, a contribuição que nos deu a conhecer estes factos, sob o ponto de vista, ainda fresco, deve-se a declarações proferidas numa entrevista, executadas no mesmo ano, 1942, a João Rodrigues Júnior, um voluntário Português. Esta entrevista foi executado pela revista Portuguesa AESFERA, a 23 de Agosto de 1942 (esta revista, apesar de Portugal ser um país de influencia anglófila, a citada publicação tinha um carácter totalmente pró Nacional-Socialista, editada periodicamente, com reportagens muito boas, sobre a Guerra mundial e com secções, muito culturais, sobre os diferentes países do Eixo, entre eles a Espanha. O seu ultimo número, dava os pesamos, ao povo alemão pela morte do Führer, Adolf Hitler, e encerrou a 8 de Maio de 1945, após o comité Aliado proceder ao apreendimento de bens de pessoas e empresas ligadas ao Eixo), na entrevista citada, que se transcreve a seguir, cita a existência de outros voluntários Portugueses que caíram nas garras Russas.

Regresso a Frente de Leningrado:

Um legionário Português do Terceiro Reich que esteve na Divisão Azul:

Este rapaz, moreno e frágil, de 26 anos, que temos aqui connosco, tem muito que nos dizer.

Chama-se João Rodrigues Júnior e nasceu em Mafra. É pintor da construção civil, depois de ter cumprido o serviço militar, partiu para Espanha, onde havia começado a guerra Civil, e se ofereceu, para a Legião Estrangeira, no ano de 1936. Depois de se ter alistado, partiu para Melillla, para receber instrução de Legionário e foi incorporado, combateu na terrível luta de Teruel, com temperaturas muito abaixo de zero, e também na batalha do Ebro e Catalunha. Foi ferido várias vezes e uma delas deixou-o cego durante algum tempo.

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O seu contrato com a Legião foi por cinco anos e estava a terminar. Podia renova-lo ou sair, mas…

- Foi então que começou a guerra contra Rússia. E eu, devido aos anos de guerra na Espanha, sabia o que eram os bolcheviques e os seus ideais sobre a pátria, e decidi continuar a minha vida de legionário, lutando contra eles. Quando em Espanha abriram as inscrições para a campanha na Rússia, ofereci-me.

Na Divisão Azul havia mais legionários Portugueses?

- Sim, uns quinze. Julgo que fui o único que sobreviveu.

Na divisão houve muitas baixas?

- Umas sei mil, mas a verdade é que a maioria foi devido ao frio. Imagine o que é lutar com 35,5 graus abaixo de zero!

João Rodrigues, explique-nos a sua vida em Berlim. Vê-se que pertenceu à divisão Espanhola, que na cruzada contra a Rússia comunista tinha o número 250, e também teve, ferido, num hospital de campanha, Alemão.

- Quando a Divisão Azul atravessava a França, o comboio foi atacado por muitos aviões ingleses que não nos acertaram. E quando passamos na parte Francesa não ocupada, um grande grupo, incluindo algumas mulheres, insultou-nos e tentou roubar o comboio. Depois de chegarmos à Alemanha, fomos para a frente de Leninegrado, onde estivemos quase um ano sob o comando de um grande militar: o Major Ramirez de Cartagena. Combatíamos sem parar e com alguma violência. Mas o nosso pior inimigo era o frio - tanto era que algumas vezes tínhamos que lutar só com uma camisa, debaixo de temperaturas inimagináveis, os casacos que nos haviam dado pareciam pedras.

O que pensa da organização da campanha na Rússia, no que toca a cuidados com os combatentes?

- Sobre isso, como em tudo o resto, eu que estive na guerra de Espanha posso dizer que era fantástica. Os alemães organizavam tudo de forma admirável, comida, munições, transportes, assistência a feridos, etc.

E os Russos?

- Os seus ataques eram constantes e muito violentos. Mas "aquilo" é totalmente diferente do que se passa no nosso lado. Atacam sempre muitos, muitas vezes com mulheres, velhos e crianças muito pequenas, e também morreram muitos, porque não utilizavam a nossa táctica de caminhar com alguma distância uns dos outros, em grupos pequenos. Aqueles que nós vimos, não eram bons militares, pois não tinham preparação nem organização militar. Posso dizer que independentemente de muitos que passaram para o nosso lado, muitas divisões Russas foram feitas prisioneiras por grupos nossos muito mais pequenos, como aconteceu no sector do rio Volchov, onde a desproporção entre vencedores e vencidos foi impressionante.

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E que ideia lhe deixaram os russos?

- Horrível. Roupas más, fome, sujos. As mulheres, na sua maioria eram miseráveis. Sem qualquer charme, sem sapatos, muitas usavam "serapilheira" atada aos pés!...

Bom exemplo dos resultados de um estado comunista!

- É verdade. O que era bom seria que fossem lá comprová-lo, os que querem saber o que é o comunismo.

Este português também teria de abandonar o combate quando uma úlcera obrigou à sua evacuação para Espanha. Tratado e recuperado voltou a alistar-se na Divisão Azul. Fez novo treino na Alemanha, mas não voltaria à frente russa. Adoece de novo e é considerado"inútil para o combate". Em Agosto de 1943 está de volta a Espanha. Ainda segundo o investigador Ricardo Silva (investigador da Universidade Nova de Lisboa) Rodrigues Júnior faleceu em Janeiro de 1956.

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Em Junho de 1992 a revista do jornal “O Independente” trazia uma reportagem/entrevista com Jaime Graça, então com 79 anos, que também vestira as fardas do “ Tércio” e da Divisão.

Segundo relatava teria sido recrutado no Rossio, quando foi abordado para “ir trabalhar para Espanha”. Só tarde demais terá percebido que estava a engrossar as fileiras do Generalíssimo Franco. No país vizinho passou pelos campos de batalha de Toledo, Madrid e Ebro entre outros.

Foi ferido por duas vezes. Terminada a guerra civil, foi enviado para o Norte de África onde não ficaria muito tempo. Segundo conta depois de ter sido "enganado" no Rossio, foi obrigado a integrar a Divisão Azul que Franco mandou constituir em 1941. Um sargento tê-lo-à designado como "voluntário".

Queixa-se da comida, do frio e da guerra ao longo do tempo em que percorreu a Estônia, a Letônia, a Lituânia e a Ucrânia. Terminou a sua viagem às portas de Leninegrado onde volta a ser ferido, agora numa perna. Mais tarde adoeceu com um problema nos olhos que vai dar-lhe um bilhete para casa.

Graça também realça a organização germânica em todas as áreas enquanto os soldados russos que viu eram uns “coitaditos”. Já as mulheres de todos os países por onde passou merecem-lhe os maiores elogios…Os 40 graus abaixo de zero fizeram os seus estragos e o problema dos olhos agravou-se, levando a que fosse dispensado.

Em Espanha e levanta alguns milhares de pesetas -cerca de 200 mil, assegura - que tinham sido depositados na sua conta como soldo.

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A revista "VISÃO HISTÓRIA", no seu nº 21, conta a odisseia de 33 Portugueses que, durante a 2ªGM foram combater integrados na Divisão Azul, na cruzada contra o bolchevismo Ricardo Silva relembra estes portugueses caídos no anonimato, até pelo regime do Estado Novo.

Estoura ainda em Espanha a sua pequena fortuna “na batota, nas mulheres, no vinho”. Regressa a Portugal quase como partiu, pregando um susto dos grandes à mãe:

“Eu tinha perdido, há algumas semanas, a chapa que os militares utilizam no pulso (…), e alguém a enviou para a Embaixada espanhola, aqui na rua do Salitre. A minha mãe foi lá saber de mim e disseram-lhe que eu já tinha morrido. Mostraram-lhe a chapa e tudo. Depois quando eu apareci à frente dela, coitada, deu-lhe um chilique. Caiu no chã. Andava de luto e tudo”.

Nos últimos anos da sua vida lutava pela obtenção de um pensão junto dos governos de Espanha e da Alemanha, aparentemente sem grande sucesso.

Fonte: Causa Nacional
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