HISTÓRIA E CULTURA

Inquisição na Espanha e no Mundo - Parte 2

inquisicao2Confissão forçada - Principais métodos de tortura - A Roda: Para forçar a vítima a falar, os inquisidores amarravam-na na parte externa da roda com brasas embaixo. Assim, o corpo era queimado à medida que a roda ia girando. As articulações também sofriam sérios danos. Essa tortura foi muito utilizada na Inquisição medieval, em países como Alemanha e Inglaterra. Outra versão da roda tinha ferros pontiagudos, em vez de brasas, para rasgar a pele. O Potro - O réu ficava deitado sobre uma cama com ripas, com pernas e braços amarrados por cordas. Usando um arrocho, os torturadores apertavam as cordas até dilacerar a carne. Como os métodos de confissão eram mantidos em segredo, os inquisidores evitavam utilizar essa tortura nos 15 dias anteriores ao auto-de-fé, para que o povo não visse as cicatrizes do réu.

O Pêndulo

 

A vítima era amarrada pelos pulsos, atrás das costas, com correias de couro. Em seguida, era levantada por cordas e roldanas, solta bruscamente e segura de novo antes de o corpo alcançar o solo. Os solavancos destroncavam as juntas e podiam aleijar. Esse tormento tinha variações, como a polé: a vítima era amarrada também pelos tornozelos e erguida de barriga para cima.

 

A Tortura d’água

 

Nessa espécie de afogamento, o acusado era preso em uma mesa de barriga para cima. Os inquisidores abriam sua boca e jogavam água por um funil, fazendo-o engolir vários litros. Também colocavam panos molhados dentro da garganta, que podiam causar asfixia. Mas, como nos outros métodos, o objetivo não era matar, e sim forçar a confissão de heresias e a delação.

 


Tribunais no Brasil

 


Inquisição não era oficial, mas funcionava como se fosse

Embora quase não se fale desse assunto, houve, sim, Inquisição no Brasil. E ela disseminou o racismo aqui por mais de 200 anos. “A Inquisição nunca foi oficialmente instituída no país, mas nem precisava. Qualquer religioso regional fazia o papel de inquisidor”, diz a historiadora Neusa Fernandes, autora do livro A Inquisição em Minas Gerais no Século XVIII. “Bispos, padres, párocos, todos eram vigias, todos delatavam. A pessoa era presa, o processo era aberto e ia para Lisboa.” O Tribunal da Inquisição funcionava aqui através de representantes locais, os “comissários”. Eles contavam com a ajuda dos “familiares”, homens influentes que espionavam e faziam denúncias, e dos “visitadores”, funcionários do Santo Ofício que vinham da metrópole para acompanhar os processos de devassa. Estima-se que mais de mil pessoas tinham sido presas e levadas para os cárceres de Portugal e cerca de 30 condenadas à morte na fogueira. A maioria era formada por cristãos-novos, mas também havia acusados de feitiçaria, blasfêmia, bigamia, sodomia, concubinato e até frades apontados como fornicadores. Como o Santo Ofício sempre agiu no rastro dos homens de negócio, que rendiam confiscos mais polpudos, a caçada pegou para valer no século 18 com a descoberta do ouro em Minas Gerais. A Inquisição exigia ainda que candidatos às ordens religiosas brasileiras provassem que não tinham antepassados “hereges”. Documentos arquivados na Cúria Metropolitana de São Paulo mostram, por exemplo, que o poeta Cláudio Manoel da Costa foi recusado por “suspeita de sangue”.

Entre mortos e feridos

Uma estimativa das vítimas da Inquisição moderna*

 

 

Inquisição Espanhola

 


34 1021 – Condenados

31 912 – Queimados

17 659 – Queimados em efígie

 

 

Inquisição portuguesa

 


29 590 – Condenados

1 808 – Queimados

633 – Queimados em efígie

* Levantamentos feitos pelos historiadores Juan Antonio Llorente (referentes à Espanha, entre 1481 e 1808) e Cecil Roth (estimativas sobre Portugal). Não há dados sobre a Inquisição medieval

 


Terror mundo afora

 


Portugal e Espanha “exportaram” o Santo Ofício para suas colônias

Goa

O menor estado da Índia foi conquistado por Portugal no século 15 e se transformou em rota importante do comércio de especiarias. Em pouco tempo, também virou palco da mais sanguinária das inquisições portuguesas, que perseguiu principalmente hindus convertidos ao catolicismo. De 1536 até o fim do século 17, mais de 3 mil pessoas foram julgadas em 37 autos.

 


Cartagena

 


O Tribunal da Inquisição foi criado ali em 1610 para complementar os tribunais de Lima e do México na América espanhola. Nos 201 anos seguintes, essa praia paradisíaca da Colômbia ficou conhecida pelos autos-de-fé contra cristãos-novos, bígamos e feiticeiras. Hoje é possível visitar o Palácio da Inquisição, local das mais de 500 execuções, e conhecer a câmara dos tormentos e o pavilhão das bruxarias.

 


Cabo Verde

 


Nem esse pequeno arquipélago situado a 600 quilômetros da costa africana escapou do Santo Ofício, que atuou na esteira do comércio de escravos. De 1536 a 1821, os visitadores denunciaram 233 por judaísmo, 38 por blasfêmia, 104 por feitiçaria, oito por bigamia, 85 por sodomia e 40 por desrespeito aos sacramentos. Detalhe: a população da época não superava os 10 mil habitantes.

 

 

Objetivos das Inquisições

 


Os objetivos das inquisições eram combater as heresias, consideradas pelo catolicismo como males a serem aniquilados, iam de uma simples comemoração, dita pagã, até estudos científicos.

A espanhola não foi diferente. A Espanha livrou-se dos mouros muçulmanos, a orientação era converter judeus e islâmicos ao Cristianismo.

Iniciada no papado de Xistus IV, induzida pelo bispo de Valência, Rodrigo Bórgia, patrocinado pela Coroa Espanhola, com a promessa de torná-lo papa, e o foi, com o nome de Alexandre VI. O Pontífice Alexandre VI era uma espécie de Al Capone do clero, pai de Lucrécia Bórgia - Paris Hilton do Séc. XVI - e César Bórgia, inspiração para Dante Allighieri escrever O Príncipe. È nesse ambiente santificado, da Santa Sé, que as atrocidades eram decididas.

Para comandar a carnificina foi escolhido o beneditino Tomás de Torquemada, deu conta do recado, nunca se consumiu tanta lenha na Espanha, queimou judeus, mouros e todos que contestavam o domínio da Igreja sobre o Estado, o confessionário foi a arma de delação mais usada. A Inquisição Espanhola iniciou-se em 1478 e terminou 350 anos depois em 1834.

Entre as normas hipócritas impostas aos judeus, pelo Vaticano, há três pérolas do anti-semitismo. Os Judeus, condenados ao fogo do inferno, só poderão exercer as seguintes profissões:

1 – Ser médico. Ao bom cristão não lhe é dado o direito de curar, só Deus cura. Quando um cristão estava á morte com uma crise de apendicite, as promessas não davam jeito, rezas também não, se recorria ao médico judeu que o salvava, muitas vezes não cobrava pelo trabalho.

2 – Artífices. Carpinteiros, pedreiros, pintores, alfaiates, ourives, etc.,eram profissões de utilidade pública.

3- Exercer a Usura. Podiam ser banqueiros, agiotas, cobrar impostos .

Por conta da proibição da usura, os Reis Cristãos mantinham judeus como cobradores de impostos e ministros das finanças. Dinheiro é pecado, administrado por judeu e repassado para a Coroa, não é pecado. A Espanha tinha bancos com capitais judeus, Coroa, grandes comerciantes ibéricos e italianos (Gênova e Veneza), dirigidos por sefaraditas.

Um dos principais colaboradores da Corte Castellana era Isaac Yehuda Abravanel, português, Ministro das Finanças, indicado para o cargo pelo também judeu, D. Abraão Senior, nobre e influente. Isaac Abravanel era um estudioso da Torá (Lei), Velho Testamento, muito rico, filantropo e excelente administrador, gozava de grande prestígio junto á rainha Da. Izabel, morreu em 1508 em Veneza.

A hipocrisia da Igreja levou o mundo cristão a repudiar os judeus, um preconceito que precisa ser revisto, judeu é tão bom ou tão mau como qualquer ser humano.

As restrições impostas aos sefaraditas na Espanha e Portugal são revoltantes, porque tanta perseguição? Só muita fé para suportá-las.

As inquisições espanhola e portuguesa, menos cruel, deixaram marcas da opressão, terror, confisco de bens, morte e humilhações.

- As aljamas ou judiarias eram fechadas após o toque do Ângelus, quem chegasse atrasado pagava uma multa 5.000 cruzados.

- Se um cristão chamasse um médico judeu, á noite, era necessário que o cristão se identificasse usando uma lanterna. Caso contrário poderia ser confundido, seria multado.

- Judeus não podiam entrar em casa de cristão, só se estivesse prestando serviços.

- É proibido judeu tomar vinho em taberna de cristão.

- O judeu era obrigado a pagar a “judenga”, trinta cruzados por cabeça como lembrança pela venda de Cristo.

- Todo judeu tem que pagar o imposto corporal se quiser entrar em qualquer cidade portuguesa.

- Se o judeu for produtor de vinho será obrigado a pagar quatro soldos por pipa.

- Os judeus são obrigados a emprestar dinheiro a infantes empobrecidos, sem remuneração.

 

 

Igreja e Estado

 


A igreja e o estado espanhol caminhavam juntos desde o ano de 587 quando o rei visigodo Recaredo se converteu do arianismo para o cristianismo e que a religião passou a ser encarada como fator de unidade nacional diante das invasões da península ibérica pelos mouros e os sarracenos e devido aos sentimentos dispersivos e autonomistas das regiões como os reinos de Leão, Aragão, Navarra, Sevilha, Castelo, Granada e Valencia e a profusão da população judaica em todo o território espanhol, com isto se estabeleceu uma parceria entre os órgãos eclesiásticos e o poder temporal

Com os monarcas visigóticos submetendo vários de seus códigos legislativos à aprovação de concílios como foi o caso do fuero Juzzo do século X que foi aprovado pelo concilio de Toledo e em vista dos acontecimentos passou a imperar o lema um só reino, uma só religião.

Durante a idade média, a inquisição não teve atuação expressiva na Espanha em virtude de sua localização peninsular e não sofreram de forma ingente a influencia e a penetração de movimento heréticos como o dos cátaros, originários da Macedônia e partidários do neo-maniqueismo herdado de Manu, o dos Albigenses proveniente dos Valdenses fundado por Valdo na Itália, e dos Fraticelli originários dos frades franciscanos, e durante o ano de 1197 o rei Pedro II de Aragão reiterou o edito que seu pai Afonso II houvera baixado contra os inimigos da igreja a quem eram declarados como os hereges e eram expulsos de suas terras, e no ano de 1198 surgiu pela primeira vez na Espanha a menção a pena de morte pelo fogo contra os membros das seitas heréticas, e com o correr do tempo o reino de Aragão fronteiro com a França acabou sendo assediado por incursões heréticas já que o Languedoc estava praticamente dominado pelos Albigenses que eram grandes propagadores de uma postura de culto exclusivamente interior, sem rituais externos e com total rejeição dos sacramentos católicos, e a partir de 1226 o rei de Aragão Jaime I o Conquistador passou a se preocupar com recrudescimento das heresias e ao atender aos pedido do Cardeal francês Saint-Ange, ele repôs em vigor os editos de 1197 e 1198, e no ano de 1232 o Papa Gregório IX queixou-se junto ao Arcebispo de Tarragona que os clérigos locais não se interessavam muito pela repressão aos cátaros e quejandos e por este motivo em 26 de Maio de 1232 o Papa Gregório IX através de uma bula encarregou o Arcebispo de Tarragona para instituir alguns tribunais inquisitoriais como órgão eclesiásticos de execução e que o mesmo funcionasse paralelamente aos tribunais ordinários da igreja.

E no ano de 1233 Jaime I promulgou novo edito contra os Albigense e iniciou as perseguições contra eles, e eram realizadas pelos padres que se socorriam do auxilio de leigos, e no momento que esse edito foi confirmado pelo Papa Gregório IX ele colocou os frades pregadores que eram membros da ordem dos dominicanos que fora fundada por Domingos de Gusmão que ficou encarregado das atividades inquisitorial na Espanha.

E no ano de 1235 o dominicano Ramon de Peñaforte a mando do Papa elaborou um regimento inquisitorial e com o correr do tempo as perseguições contra os cátaros em Aragão foi perdendo as forças apesar dos esforços, por conta disto o Papa Gregório IX em 1238 alertou aos reis e os bispos o dever de perseguir os hereges de acordo com as normas estabelecidas pela santa fé, e no Viscondado de Castelbon em Aragão foi que as atividades inquisitorial sob o comando de Guilherme de Montgrin se tornou mais severas, ao condenar mais de cinqüenta hereges e ao exumar dezoito cadáveres de albigenses para que seus ossos fossem queimados em efígie seguindo a antiga tradição inquisitiva que infligia pelas post mortem, enquanto que no resto da Espanha as atividades anti-hereticas ficaram quase que inexistentes.

E no ano de 1238 sob a supervisão do dominicano Pedro de Leodegaria foi organizada a inquisição em Navarra e no reinado de Afonso X, no seu Fuero Real de 1255 e na lei das Sete Partidas de 1276 ele reproduziu muito da legislação estatuída pelo Papa Gregório IX quando estabeleceu o objetivo da perseguição aos heregeres que deveriam ser levados à abjuração, que os tornava penitentes e os eximia de castigos mais severos.

E caso se recusassem a abjurar, eles se tornavam impenitentes, e eram entregues ao carrasco e sujeito aos suplícios e à morte e seus bens eram confiscados e paralelamente às perseguições anti-hereticas foram gradativamente crescendo nos meios eclesiásticos as preocupações relativas ao crescimento das populações mouras e judaicas.

E entre os anos de 1320 e 1339 o maior expoente da inquisição espanhola foi o dominicano Nicolau Eymerich, o grande inquisidor de Aragão que elaborou o manual dos inquisidores (Directorium Inquisitorum) com algumas características marcantes como o sigilo do processo imposto ao acusado que os autos de fé seriam cerimônias abertas ao publico e festivas onde eram pronunciadas as sentenças contra os hereges, apóstatas, bruxos e os feiticeiros que nesses eventos abjuravam publicamente as heresias, e outros eram fustigados e torturados, e os condenados à morte eram executados na fogueira, e no século XV a perseguição aos mouros que se encontravam acuados em Granada e aos judeus chegou ao auge, com isto muitos mouros com receio de serem expulsos se converteram ao cristianismo ao aceitarem o batismo e de serem chamados de mouriscos enquanto que os judeus que aderiram a tal pratica passaram a cognominar-se de marramos.

E no ano de 1478 os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela que buscavam a meta nacional que ficou conhecida como a reconquista pediram ao Papa Sisto IV o reavivamento da inquisição, no que foram atendidos pela bula Exigit Sincerae Devotionis Affectus com o caráter misto e autônomo no qual o poder civil poderia designar os inquisitores sem prêvia anuência da santa fé e os primeiros inquisitores designados pelos monarcas foram os freis dominicanos Miguel Murillo e Juam de San Martim que se estabeleceram em Sevilha onde a aglomeração judaica era de grande monta, com isto houve um grande pânico entre os mouriscos e os marranos que se refugiaram nos castelos dos grandes senhores feudais, e através de uma proclamação de 2 de Janeiro de 1481 os dois inquisidores ordenaram aos grandes senhores que entregassem os perseguidos sob pena de excomunhão, com isto as prisões acabaram de enchendo de árabes e de judeus batizados, o que levou com que os marrranos se insurgissem e por conta disto decidiram assassinar os inquisidores, porém a conjuração foi abortada em razão da mesma ter sido delatada aos freis inquisidores.

Fato este que levou aos sublevados a perderem os seus bens e a suas condenações a morte por vivicombustão no dia 6 de Fevereiro de 1481 na primeira fogueira da moderna inquisição espanhola, e a partir desta data a atividade inquisitorial recrudesceu em todo o país com o poder civil deixando de ser mero executor das condenações eclesiásticas quando passou a ser coadjuvante e co-participante dos trabalhos clericais e os juizes passaram a ser escolhidos pelo soberano entre os membros do clero secular e foi criada uma segunda instância na própria Espanha com o nome de conselho da suprema e geral inquisição e que ficou conhecida como a suprema e reforçou-se o aspecto político da inquisição na tarefa ingente de preservar a unidade do país contra os setores separatistas que resistiam, e na incessante luta contra os hereges, apostatas, judeus e mouros que foram instados a se batizarem sob pena de exílio e de ficarem sob a jurisdição dos tribunais inquisitoriais como cristãos e não na condição de pagãos.

Com isto muitas cidades acostumadas aos seus privilégios secularmente conferidos pelos soberanos através dos fueros acabaram resistindo à intervenção de estranhos em seus costumes e na autonomia local quando se revoltaram em varias regiões como Navarra, Sevilha, Zaragoza, Granada, Toledo, Barcelona e Valência onde muitos inquisidores foram assassinados em atentados, e diante desses fatos em 31 de Janeiro de 1482 o Papa Sisto IV através de uma bula protestou com veemência, quando ameaçou cassar o poder designatorio dos reis e exigiu que os recursos decorrentes dos confiscos dos bens fossem encaminhados a Roma e que os nomes das testemunhas fossem comunicados aos acusados, porém em virtude das ameaças por parte dos reis católicos, o Papa Sisto IV acabou recuando em vista da imensa importância da Espanha para a propagação do cristianismo e em Outubro de 1483 os reis catolicos nomearam a mais conhecida, odiada, temida e expressiva figura que foi o dominicano Tomas Torquemada que era o prior do convento de Santa Cruz em Segovia como o inquisidor geral de Castela, Aragão, Leão, Catalunha e Valência como o beneplácito do sumo pontificie, que de imediato começou por reorganizar e reformar os tribunais do santo oficio, quando demitiu os inquisidores que tinham dado provas de parcialidade ou que pelo seus caráter eram ineptos para as funções, estendeu as atribuições do santo oficio a numerosos crimes ou delitos como heresia implícita e se esforçou de todas as maneiras para evitar os erros e os abusos cometidos pelos primeiros inquisidores, e a partir de 1484 passou a redigir o regulamento organizacional e os procedimentos da inquisição espanhola que foi completada por Deza em 1500 e por Cisneiro em 1516 e copilada por Alonso Manrique e consolidada no ano de 1561 por Fernando Valdez.

E no dia 31 de Março de 1492 Fernando de Aragão e Isabel de Castela assinaram um decreto no qual todos os judeus que não fossem batizados deveriam ser expulsos do país e terem os seus bens confiscados, e nesta época os tribunais inquisitoriais fixos onde muitos condenados peregrinavam em cumprimento de suas penas estavam localizados nas cidades de Toledo, Sevilha, Valadolhid, Granada, Codoba, Murcia, Cuenca, São Thiago de Compostela, Logroño, Zaragoza, Barcelona, santa Cruz de Tenerife, Valência e Malorca.

E nestes tribunais inquisitooriais os acusados tinham uma preparação terrivel pois eram convidados a confessar mediante suplicas, ameaças e demosntraçao dos intrumentos de suplicio, que não podiam ostentar caráter cruento, por este motivo o mais utilizado era o da água ao lado do polé e dos cordeles, que eram cordas progressivamente apertadas em torno dos braços e das coxas e se confesse o condenado confessasse durante o tormento, seguia-se a condenação e caso o acusado suportasse as dores poderia ser absolvido e comprometendo-se a não declarar nada a terceiros sobre os sofrimentos, e como as torturas somente podia ser infligida uma única vez , os inquisidores recorriam ao subterfúgio do adiamento da sessão para prosseguimento posterior. As penas aplicadas aos hereges eram jejum obrigatório, peregrinação, proibição de permanência em determinados lugares, pratica religiosa obrigatória, prisão inclusive domiciliar, utilização do sambenito que era um habito em forma de saco que se enfiava pela cabeça nas cores amarela e vermelha, fragelaçao e a morte pelo fogo.

E os hereges reincidentes eram lançados diretamente ao fogo, e os que abjuravam a heresia na hora da morte eram estrangulados pelo carrasco e seus corpos jogado já sem vida na fogueira e a maioria dos autos de fé eram realizados na Plaza Mayor de Madri.

E com decorrer do tempo foram instituídos os crimes de judaísmo e de maometismo o que acarretou intensa perseguição aos adeptos da reforma protestante e entre os reformistas os mais visados foram os erasmitas que eram adeptos de Erasmo de Rotterdan, os luteranos e os intimistas que renegavam qualquer tipo de culto externo, os místicos, os iluminados, as beatas, e entre os fatos mais relevantes temos que em 1579 em Estremadura foi encontrado místicos entre os jesuítas, o caso da beata Eugenia de La Torre que foi condenada a morte na fogueira em Toledo por participação em orgia libidinosas, até Ignácio de Loyola fundador da Companhia de Jesus também esteve sob suspeita da inquisição que o processou e o absolveu por suspeitarem dos seus exercícios espirituais, Santa Tereza de Ávila também foi processada e absolvida sob acusação de iluminismo e por volta de 1510 o monge franciscano Melchor da cidade de Ocaña que havia profetizado a conversão total dos mouros, a queda dos tronos, a convulsão total da cristandade e a transfeencia do papado para Jerusalém, que ao dirigir-se a Joana de La Cruz a convidando-a a com ele gerar um filho que seria um novo messias, acabou sendo denunciado por Joana ao inquisidor geral Cisneiro, que o processou e o condenou a fogueira, e no ano de 1558 a infanta Joana inaugurou a censura, instituída pela sansão pragmática que listou diversas obras proibidas que passaram a ser proibida as suas aquisições por católicos sob pena de condenação à morte, e uma vitima desta censura foi o Frei Luis de Leon que era professor da Universidade de Salamanca que foi acusado de assumir em aulas sua posição iluminista e por gesto acabou sendo preso durante o periodo de 1572 a 1576 e que ao reassumir sua cátedra, começou a primeira aula dizendo " como dizíamos ontem ". E no final do século XVI destacou-se a figura sinistra do Duque de Alba que em seu tribunal de sanue mandou torturar e matar muita gente com a contemplacencia das autoridades eclesiasticas da época que prosseguiam na luta da inquisçao mais enérgica contra os protestantes quando novas figuras criminosas foram criadas, como a sodomia, a bestialidade, o homossexualismo, a necrofilia e a mancebia sob a competência dos tribunais do santo oficio e quase todas passiveis de morte pelo fogo.

E no século XVIII o iluminismo anticlerical que se alastrou pela Europa e acabou eclodindo na revolução francesa, foi severamente punido pela inquisição espanhola, mas devido a sua influência acabou se aliando a revolução industrial e com à ascensão da burguesia e dos movimentos liberais, o prestigio e a atuação do santo oficio cada vez mais foi considerado um anacronismo insuportável e injustificável, porém a inquisição espanhola resistiu ate mesmo a invasão de Napoleão Bonaparte que em Dezembro de 1808 o aboliu formalmente, porém o santo oficio não deixou de existir na pratica e em 22 de Janeiro de 1813 as cortes de Cádiz votaram a abolição do santo oficio, porém quando do retorno do Rei Fernando VII ao trono da Espanha ele restabeleceu a inquisição em 1820.

E atravez do decreto de Maria Cristina em 1834 o tribunal do santo oficio da inquisição veio a ser definitivamente eliminado da Espanha.

 

 

A INQUISIÇÃO ESPANHOLA E A BRUXARIA ANDINA: EVANGELIZAÇÃO E RESISTÊNCIA

 


Quando barcos espanhóis singraram as águas do Atlântico, trouxeram em seus porões o demônio, bruxas e os medos peculiares aos homens do medievo europeu. Não havia como ser diferente, suas mentes serviam de depósito a idéias há muito propagadas e oficializadas. Escritores europeus, como os dominicanos Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, detiveram-se no meticuloso e moroso trabalho de elaborar teses, que não deixassem margem a quaisquer dúvidas sobre a existência do mal encarnado na figura do demônio e de suas fiéis seguidoras, as bruxas1. Se não bastasse o medo do desconhecido, do mar, dos monstros marinhos e todo um arsenal mítico apavorante2, os marinheiros que se aventuraram a cruzar o oceano, também carregaram em si, a obrigação de propagar a fé católica e em conseqüência, a repressão que grassava na Europa contra aqueles que conspirassem contra a cristandade.

Ao aportarem em terras americanas, começaram a conquista material e espiritual dos povos que aqui encontraram. Saquearam, mataram e submeteram-nos, visto que, conforme Sepúlveda, era o mais conveniente que poderia acontecer a esses bárbaros, que de homens ímpios e servos do demônio, passariam a ser civilizados, cristãos e cultores da verdadeira fé. Para que o domínio espanhol fosse estabelecido com sucesso, estes realizaram um julgamento de valor prévio e procuraram conhecer os costumes e a língua dos povos autóctones, visto que a comunicação estava ligada ao poder e a compreensão dos signos do “outro”, propiciaria o domínio completo.

Cronistas espanhóis detiveram-se no estudo e descrição dos povos andinos, seus costumes, sociedade e religião, que é onde encontramos uma aproximação aos modelos demonológicos propagados na Europa. No contexto americano, a utilização da demonologia tinha por principal objetivo acabar com a Igreja pagã - nos dizeres dos missionários - e é exatamente nas crônicas quinhentistas que os sacerdotes desses povos são transformados em bruxos e feiticeiros, terminologia que permanece até os dias atuais.

As campanhas de extirpação de idolatrias, levadas a cabo desde a segunda metade do século XVI na região andina, tinham por objetivo terminar com todos os ídolos e rituais indígenas, visto que estes contradiziam o cristianismo, ao adorarem criaturas no lugar do Criador, o Deus cristão6. Houve uma tentativa de cristianizar o imaginário indígena, em que seus deuses foram transformados em demônios7. Seguindo os passos da Inquisição européia, perseguiram-se também aqueles que praticavam malefícios, sendo acusados de bruxaria8. Na Península Ibérica, devido à excessiva preocupação em rastrear e punir delitos dos judaizantes, houve menor repressão à bruxaria9. Pressupomos que este seja um dos motivos, pelos quais a bruxaria tenha adquirido grande atenção em terras andinas, por parte do corpo eclesiástico, pois na ausência de judeus conversos, restava-lhes perseguir índios idólatras, que facilmente poderiam ser acusados de praticar a feitiçaria. Não abordaremos essa questão, visto ser necessário um maior aprofundamento a respeito da Inquisição na Península Ibérica, o que não é o objetivo deste artigo.

 

Tahuantinsuyu - o Império dos Incas

 

Na documentação do século XVI, lê-se que o Tahuantinsuyu10 nasceu da anexação de diversas etnias, sob o controle político-religioso do chefe Inca, pois este era o filho do deus Sol. A reciprocidade foi fundamental para a expansão do território inca, tanto que os povos que desconheciam esse sistema não aceitaram a dominação incaica. O Inca estabelecia ligações com os chefes de ayllus11, oferecendo presentes em troca de trabalho ou, como nos mostra John Murra, estabelecendo laços de parentesco, contraindo em casamento filhas desses curacas.

A reciprocidade era a principal característica desses grupos étnicos organizados em ayllus. Essa reciprocidade13 inicial se dava entre os membros do ayllu e o curaca, que era o responsável pela divisão da terra a ser cultivada e pelo armazenamento da produção. Suas terras também eram produzidas, bem como as que se destinavam à manutenção das huacas (centros cerimoniais) e o restante dos produtos eram redistribuídos entre o grupo.

Conforme María Rostworowski Canseco, baseando-se nesse tipo de reciprocidade, os incas formaram o seu império, o Tahuantinsuyu, pois, à medida que ampliavam suas conquistas, o número de curacas unidos ao Inca por reciprocidade e por laços de parentesco foi aumentando, o que resultou num crescimento da força de trabalho disponível14, aumentando a produção e gerando o excedente necessário à manutenção das ligações recíprocas com os ayllus.

Porém, esse sistema tornou-se quase impraticável devido às grandes dimensões do império. Desse modo, quando um grupo não aceitava o domínio através da reciprocidade, o Inca colocava um funcionário de sua confiança no lugar do curaca local, estabelecendo assim, suas regras organizativas. O aumento do território e da população ocasionou a necessidade de maior produção para ser redistribuída e atender ao sistema de reciprocidade.

Karl Polanyi aplica os conceitos de reciprocidade e redistribuição ao estudo de populações africanas15 e John Murra os reutiliza, caracterizando o Tahuantinsuyu como sendo um Estado16 redistributivo, não porque fosse um Estado com fins humanitários, mas porque isso era essencial para manter a coesão do Império17. Isso ocasionou mudanças na organização produtiva dos ayllus, pois se antes a reciprocidade e a redistribuição se davam em função das relações de parentesco entre o chefe do ayllu e seus membros, agora passam a ocorrer em função da relação político-religiosa estabelecida entre esses grupos e o Estado inca.

Durante o domínio inca, os ayllus permaneceram como grupos ligados por laços de parentesco e aqueles que tinham a posse da terra, perderam-na, passando esta ao controle do Estado que, por sua vez, a dividiu em terra do Sol, do Estado e do povo. A cada ano era feita a redistribuição de tupus19, lotes de terra, suficientes para o sustento de cada família. Também eram distribuídas as tarefas de produção estatal da terra, pois esse tipo de trabalho, ou mita20, era o tributo que o Estado exigia à população em troca de benefícios coletivos ou individuais. Desse modo, o sistema comunitário de produção baseado em laços de parentesco do ayllu é reutilizado no Tahuantinsuyu com fins expansionistas.

Muitos grupos étnicos permaneceram insatisfeitos sob o domínio inca, pois também foi utilizada a coerção. Por outro lado, o crescimento em demasia do território dominado originou uma maior demanda de produtos para serem redistribuídos e nem sempre o Inca conseguiu satisfazer os curacas, que esperavam dele presentes e regalias. Esse descontentamento vai se refletir mais tarde, quando chegam os espanhóis, pois muitos desses curacas aliam-se ao inimigo com o objetivo de libertarem-se do jugo incaico e de estabelecerem novas relações de reciprocidade.

PARTE 3