No fundo da mitologia romana (ou grega, se preferir chamá-las de Moiras), estão as enigmáticas filhas da Noite — ou talvez de Zeus e Têmis, dependendo da versão que você escolher. Três divindades que moldam o destino dos mortais, mexendo com a vida e a morte de um jeito que nem Zeus, o chefe dos deuses, ousava questionar.
Sabe aquele lance de "destino"? Pois é, vem delas. E, não à toa, chamamos isso de "fatalidade". As Parcas — ou Fates — são três: Nona (ou Cloto), Décima (ou Láquesis) e Morta (ou Átropos). Cada uma com um papel bem definido no ciclo da vida.
Nona é a tecelã do fio da vida, começando seu trabalho no útero materno. Ela é quem faz a mágica acontecer durante as nove luas da gestação. Já Décima, como o nome sugere, aparece na décima lua, no momento exato do nascimento, quando o cordão umbilical é cortado e a vida terrena começa de fato. Por fim, Morta, implacável e silenciosa, está sempre à espreita, pronta para cortar o fio da vida quando seu tempo chegar. É interessante como até o calendário romano refletia esse ciclo — regido por um sistema solar para os anos e lunar para os meses. A gravidez não dura nove meses, mas sim nove luas. Fica a dica.
As Moiras e a Roda do Destino
Na Grécia Antiga, a história das Moiras não era muito diferente. Três irmãs lúgubres — donas da vida e da morte, tanto para deuses quanto para humanos. Imagina só! Elas teciam o destino de todos, usando um tear conhecido como Roda da Fortuna. À medida que a roda girava, o fio da vida de cada pessoa passava por altos e baixos, numa dança entre sorte e azar. É por isso que a vida, às vezes, parece uma montanha-russa, cheia de surpresas (nem sempre boas, vamos combinar).
Essas três deusas não brincavam em serviço. Eram filhas da Noite, e a própria Moira — o Destino em si, no singular — era uma força imparável. Tanto na *Ilíada* quanto na *Odisseia*, as Moiras surgem como fiandeiras, descritas pelos poetas da época com uma aparência assustadora, quase monstruosa: dentes afiados, unhas longas, uma presença que gelava a espinha. Curioso que, nas artes, eram retratadas como belas donzelas, o que só mostra a ironia de como o destino pode ser tanto atraente quanto aterrorizante.
Cloto, cujo nome significa "fiar", era a responsável por segurar o fuso e começar o fio da vida. Ela não estava sozinha nesse papel, atuava ao lado de outras divindades ligadas aos nascimentos, como Ártemis e Hécate. Láquesis, cujo nome vem de "sortear", enrolava e desenrolava o fio, determinando o curso da vida. E Átropos, cujo nome significa "afastar", cortava o fio, encerrando a jornada. Não há volta depois disso.
O Calendário e a Simbologia das Luas
Os antigos romanos adaptaram o calendário lunar ao longo dos séculos, e não é por acaso que as Parcas estão profundamente ligadas a esse ciclo. O próprio nome "Parca" deriva do verbo "parir" — dar à luz. No antigo calendário romano, Dezembro era o décimo mês (daí o nome "Decem") e uma homenagem à deusa Décima, aquela que preside o nascimento. Esse simbolismo da gravidez que dura nove luas e culmina na décima, com o nascimento e o início de uma vida, reflete a relação das Parcas com o tempo e o destino.
Enquanto Nona tece o fio dentro do útero, e Décima marca o corte do cordão umbilical, Morta está ali, representando o fim. E esse fim pode chegar de repente, a qualquer momento. Não importa o quão longe você esteja, Morta sempre encontra o fio que precisa ser cortado.
O Destino: Cegueira ou Clarividência?
O que torna as Parcas tão intrigantes é o fato de que elas não enxergam. Cegas, segundo algumas versões, elas manuseiam o destino de forma imparcial e fria. Há algo de irônico nessa cegueira: somos nós que, mesmo enxergando, somos incapazes de perceber os fios que estão sendo tecidos para nós. A vida muda de repente, sem aviso, e raramente paramos para refletir sobre o que está por trás dessas mudanças. Preferimos acreditar no acaso, no acidente, na sorte ou no azar, sem nos dar conta de que há forças maiores em jogo.
O conceito de destino é como uma sombra invisível que paira sobre nós. Embora essas mudanças pareçam aleatórias, elas muitas vezes refletem algo que carregamos dentro de nós mesmos — aquele "outro eu" oculto que, sem que percebamos, direciona nossos passos. Quando culpamos as circunstâncias ou outras pessoas pelos reveses da vida, esquecemos que somos parte ativa nesse processo. O destino não vem ao nosso encontro; somos nós que, inconscientemente, o atraímos.
Em última análise, as Parcas são o símbolo de algo maior que a simples existência. Elas nos lembram que a vida, com todos os seus altos e baixos, é um tecido delicado, em constante mutação. Ao mesmo tempo que tecemos nossa própria história, há fios invisíveis sendo puxados e cortados, nos levando para caminhos inesperados. Afinal, como dizem, não se pode escapar do destino, mas é possível escolher como caminhar por ele.
Referências:
https://pt.wikipedia.org
http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br