HISTÓRIA E CULTURA

Maragatos, Pica-paus e Chimangos

chimarapau1Os termos “maragato” e “pica-pau” surgiram no Rio Grande do Sul em 1893, durante a Revolução Federalista, para definir as duas grandes correntes políticas gaúchas então em conflito. Os “maragatos” representavam os federalistas, liderados por Gaspar Silveira Martins, e eram identificados pelo uso de lenços vermelhos. Os “pica-paus” representavam os republicanos, liderados por Júlio de Castilhos, e sua identificação se dava pelo uso de lenços brancos. O termo “chimango” ou “ximango”, que já havia designado no Império uma facção do ...

Partido Liberal, recebeu novo sentido a partir da publicação, em 1915, do poema épico-satírico de autoria de Ramiro Barcelos intitulado Antônio Chimango. A partir de então, foram chamados de “chimangos” os republicanos, agora liderados por Antônio Augusto Borges de Medeiros.

Os revolucionários federalistas de 1893, ao invadirem o Rio Grande do Sul, vindo do Uruguai, receberam dois estigmas: o de restauradores e o de “maragatos”. Restauradores, porque ligados a Gaspar Silveira Martins, líder liberal do Império. “Maragatos”, em referência a mercenários castelhanos. O fato é que havia uruguaios nas fileiras do grupo do chefe revolucionário Gumercindo Saraiva, descendentes de imigrantes espanhóis oriundos da Maragataria, área da província de Leon, entre Astorga, El Teleno, Cambarros e Santiago Millas. Esses espanhóis possuíam uma origem remota e controvertida: viriam dos berberes, povos que habitaram o norte da Espanha durante a dominação moura. Seriam um povo errante, tendo o cavalo como transporte e a guerra como diversão. Criava-se, assim, a associação com os lanceiros de Gumercindo: brasileiros exilados, uruguaios e “maragatos” do departamento de San José, no Uruguai.

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A palavra entrou para a lexicografia rio-grandense em 1898 através do dicionário de Romaguera Correa, cujo verbete acentuava as características dos habitantes da Maragataria: ciganos que viviam do roubo (principalmente de gado), nômades e avessos ao trabalho. Essa perspectiva foi contraditada por Manuelito de Ornelas, na defesa do povo maragato. O importante é que os federalistas assumiram a alcunha e, revertendo o sentido, passaram a autointitular-se “maragatos”. Dessa forma, “maragatos” tornaram-se sinônimo de federalistas, ou seja, membros do Partido Federalista liderados por Gaspar Silveira Martins e opositores ferrenhos de Júlio de Castilhos, o presidente do estado chefe do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). O Maragato era também o jornal de Rafael Cabeda e Rodolfo Costa editado na cidade de Rivera, o lado uruguaio de Livramento. Fundado em 1896, o jornal era partidário e denuncista, e foi perseguido pelo regimento do Cati, de João Francisco Pereira de Sousa.

Em contrapartida, o apelido de “pica-pau”, dado pelos “maragatos” aos adversários republicanos, não foi absorvido pelos castilhistas. Segundo Manuelito de Ornelas, a alcunha surgiu em função da divisa branca que os republicanos usavam nos chapéus, que lembrava o topete da ave. Encerrada a Revolução Federalista em 1895, a divisão política no Rio Grande do Sul perdurou ao longo das primeiras décadas do século XX, voltando a manifestar-se com intensidade principalmente na Revolução de 1923 e em 1928, quando, em oposição ao PRR, foi fundado o Partido Libertador. Desde a morte de Júlio de Castilhos em 1903, o comando do PRR havia passado às mãos de Antônio Augusto Borges de Medeiros presidente do estado de 1898 a 1908 e de 1913 a 1928. Por divergências com Borges de Medeiros a respeito do candidato do PRR ao Senado em 1915, Ramiro Barcelos rompeu com ele e com o partido e escreveu Antônio Chimango – Poemeto campestre, dirigido a Borges e sua máquina política. O personagem-título era o senhor todo-poderoso da “estância de São Pedro” (o Rio Grande do Sul), que elegia e depunha deputados e senadores. Como consequência, o termo “chimango”, nome de uma ave de rapina do Rio Grande do Sul, passou a ser empregado genericamente para designar Borges de Medeiros e seus liderados.

Na Revolução de 1923, contra a eleição de Borges de Medeiros no ano anterior para o quinto mandato consecutivo como presidente do Rio Grande do Sul, os “chimangos” enfrentaram a união das oposições, representadas pelos federalistas e pelos dissidentes do PRR liderados por Assis Brasil. Em 1928, os federalistas parlamentaristas e os presidencialistas de Assis Brasil se uniram sob a sigla do Partido Libertador, que herdou a alcunha “maragata”.

 

MARAGATOS, CHIMANGOS E PICA-PAUS: ENTENDA DE UMA VEZ POR TODAS

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Maragatos - Tropa de Gumercindo Saraiva (sentado, segundo da esquerda para a direita) , que deu início à Revolução Federalista Riograndense, em 1893

16/01/20219 - Temos 3 denominações associadas a cor do lenço: Pica paus, maragatos e chimangos. Que fique bem claro que esses apelidos para as cores foram dados em caráter pejorativo a quem os portava. Eu já deixo em claro que escolhi um lenço carijó pra contar esse causo, pois a origem desse lenço é justamente o branco e o vermelho entrelaçados em uma só peça. Simbolizando a paz entre os filhos do continente de São Pedro. Uma coisa que é importante destacar é que a região aqui do Sul da América quase sempre teve uma peleia ou outra. Guerras como a da Independência da Cisplatina, a Revolução Farroupilha e Guerra do Paraguai foram criando grupos com interesses diferentes e essa rixa foi passando pelas gerações que se seguiram. Por isso é importante a gente deixar claro que esses apelidos não são todos da mesma época. Primeiro tivemos o embate entre Maragatos e Pica Paus em 1893 e, mais tarde, entre Maragatos e Chimangos em 1923.

Então porque quem usava lenço vermelho era chamado de maragato?

A origem está na Revolução Federalista (1893-1895), onde o grupo liderado por Gaspar Silveira Martins se rebelou contra o excessivo controle exercido pelo governo central sobre os estados. Eles defendiam a ideia de um sistema federativo em que os estados tivessem maior autonomia. Grande parte do exército liderado por Silveira Martins partiu do Uruguay, de uma região colonizada por descendentes de espanhóis vindos de uma região chamada de Maragateria, então os republicanos que eram quem defendiam o poder central, os apelidaram de Maragatos, buscando dar uma identidade estrangeira aos federalistas.

E porque os republicanos eram chamados de pica-paus?

Os republicanos eram os defensores do atual estados das coisas. Eram liderados pelo governador do estado Julio de Castilhos que servia os interesses do Presidente do Brasil Marechal Floriano de Peixoto. O que deu o apelido de pica-paus aos republicanos não foi somente o lenço, mas sim toda a aparência de seu uniforme. A calça e a parte de cima eram azuis, com detalhes em branco e o quepe era vermelho com divisas brancas. Tal qual o passarinho. Essa revolução também é conhecida como Revolta da Degola, pois a degola era um dos meios mais comuns de eliminação dos inimigos. Daí vem o famoso verso: “Onde havia um lenço branco, brota um rubro de sol-por. Se o lenço era colorado, o novo é da mesma cor.”

E onde entram os chimangos nessa história?

Como eu disse primeiro, essas peleias terminam, mas nunca acabam. Sempre fica uma faísca pra desencadear um foguito mais a frente. Esse foi bem o caso da Revolução de 23. Essa revolução foi um movimento armado que durou 11 meses, mas ocorreu só em território gaúcho. Dessa vez, de um lado estavam os partidários Borges de Medeiros contra os aliados de Assis Brasil. Nesse caso, os maragatos de Assis Brasil novamente que rebeleram contra o poder central dos chimangos de Borges de Medeiros, que era o sucessor do Julio de Castilhos.

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E por que quem usava lenço branco era chamado de chimango?

O apelido tem muito a ver com os motivos da Revolução. Porque depois da Revolução Federalista, o Julio de Castilhos, que não gostava muito da tal democracia, tomou providências prá se manter no poder. Redigiu sua própria constituição e a fez aprovar. Só que teve um problema que ele não contava e que ninguém pode controlar. Não é que o Julio de Castilho bateu as bota logo em 1903… E aí, quem assumiu foi o Antônio Augusto Borges de Medeiros, que deu sequência ao que alguns chamam de ditadura republicana. Tinha um partidário do Borges de Medeiros que rompeu a aliança e resolveu fazer algumas críticas ao governante. Mas não era qualquer tipo de crítica, foi escrito um livro de nome: Antonio Chimango – Poemeto Campestre. Incusive a gente fez um programa de rádio do Linha Campeira inteiro dedicado ao livro, o link tá na descrição do vídeo.

Resumindo, nesse livro o personagem Antonio Chimango era um senhor que regia uma tal estância de São Pedro e utilizava uns métodos questionáveis pra governar. Tal qual o Borges de Medeiros.

E esse livro se tornou muito popular e em seguida todos os apoiadores do Borges de Medeiros começaram a ser chamados pejorativamente de chimangos. Ah e também o chimango é uma ave, dessas de rapina, parecidita com um gavião e que se alimenta geralmente de carniça. Por muito tempo a cor do lenço foi motivo de ideais, discussões, brigas e até de mortes. Hoje é um elemento fundamental que permite a gente entender um pouco mais a nossa cultura e formação.

Fonte: https://cpdoc.fgv.br/
           https://linhacampeira.com/