Bud Dajo: O Massacre Esquecido que Envergonha os EUA

Bud Dajo: O Massacre Esquecido que Envergonha os EUA

Você já ouviu falar da Batalha de Bud Dajo ? Provavelmente não, certo? Afinal, esse episódio obscuro das relações entre os EUA e as Filipinas foi cuidadosamente empurrado para debaixo do tapete da história. Mas calma lá, vamos desenrolar essa história juntos, porque ela é mais relevante do que parece. E olha que tem até um gosto amargo de ironia — afinal, quem diria que um presidente conhecido por sua língua afiada como Rodrigo Duterte abriria velhas feridas ao chamar Barack Obama, em 2016, de "filho da puta"? Sim, você leu direito. Mas, antes de torcer o nariz, vale a pena entender o contexto.

Duterte não estava falando apenas por impulso (como muitos poderiam pensar), mas carregava uma faísca de revolta histórica nas palavras. Ele estava se referindo a algo que aconteceu quase um século antes: um evento brutal chamado Batalha de Bud Dajo — ou, como muitos preferem chamar, Massacre de Bud Dajo . Isso mesmo, massacre. E, para ser sincero, é difícil discordar desse termo depois de entender os detalhes sangrentos do que rolou lá.

De onde tudo começou: As Filipinas, um presente embalado para os EUA

Batalha bud dajo

Voltando no tempo, precisamos dar um pulo até 1898. Naquele ano, os Estados Unidos acabaram de ganhar uma guerra contra a Espanha, aquela potência colonial que controlava boa parte do Caribe e do Pacífico. No Tratado de Paris, assinado em dezembro, os EUA compraram as Filipinas por US$ 20 milhões. Parece um negócio da China, né? Mas aqui entra a primeira rasteira dessa história: os filipinos não foram consultados. Aliás, eles sequer aceitaram a ideia de serem entregues de mão beijada aos americanos.

Resultado? Guerra. Os filipinos lutaram bravamente contra os invasores norte-americanos durante anos. E, embora os EUA tenham declarado oficialmente o fim do conflito em 4 de julho de 1902, havia uma ressalva importante na proclamação do presidente Theodore Roosevelt: as províncias habitadas pelos moros estavam excluídas. Esses territórios, localizados no sul do arquipélago filipino, eram considerados "selvagens" e "incivilizados" pelos ocidentais. Em outras palavras, os EUA achavam que tinham uma missão civilizatória ali — e isso nunca termina bem.

Os Moros: Um povo resistente

Se você ainda não conhece os moros, chegou a hora de aprender. Eles são um grupo étnico muçulmano que habita as ilhas do sul das Filipinas, especialmente Mindanao e Jolo. Durante séculos, esses povos mantiveram sua cultura, religião e autonomia apesar das tentativas coloniais europeias de subjugá-los. Quando os americanos apareceram, os moros simplesmente disseram: "Sem chance". Não era só uma questão de orgulho; era também uma luta pela sobrevivência cultural.

O Major-General Leonard Wood foi designado para governar a Província de Moro, criada em 1903. Sua abordagem? Forçar os moros a se adaptarem à democracia americana, algo que ele acreditava ser superior. Porém, os moros não estavam nem aí para as lições de moral dos gringos. Eles continuaram vivendo como sempre viveram: sem pagar impostos, sem obedecer às ordens dos EUA e, claro, sem medo de enfrentar qualquer ameaça militar.

A faísca que acendeu o vulcão: Bud Dajo

Agora, imagine esta cena: centenas de moros, incluindo homens, mulheres e crianças, correndo para um lugar sagrado em busca de proteção. Era Bud Dajo, a cratera de um vulcão extinto, cercada por selvas densas e acessível apenas por trilhas estreitas. Para os moros, aquele lugar tinha um significado místico — diziam que os espíritos do vulcão ajudariam os guerreiros em momentos críticos. Era, portanto, perfeito para resistir a um ataque.

Mas Wood não estava disposto a esperar. Depois de três anos tentando negociar com os líderes locais, ele decidiu agir. Em março de 1906, ordenou uma ofensiva liderada pelo Coronel Joseph W. Duncan. O objetivo? Eliminar a resistência moro de vez. E assim começou um dos capítulos mais sombrios da ocupação americana nas Filipinas.

O confronto: Uma vitória manchada de sangue

Batalha bud armas

O avanço das forças americanas foi brutal. A artilharia bombardeou Bud Dajo incessantemente, enquanto soldados subiam pelas encostas íngremes. Os tambores e cânticos dos moros ecoavam na noite, como um último grito de resistência. Quando finalmente chegaram ao topo, os americanos encontraram uma cena devastadora: centenas de corpos, incluindo mulheres e crianças, espalhados pelo chão. Algumas vítimas tinham sido alvejadas tantas vezes que seus corpos pareciam perfurados por uma chuva de balas.

Segundo Wood, cerca de 600 pessoas morreram na batalha, mas outras estimativas sugerem números ainda maiores, possivelmente ultrapassando 900. Apenas sete pessoas sobreviveram — três mulheres e quatro crianças. Dezoito homens conseguiram escapar, mas ninguém sabe ao certo quantos realmente fugiram. Enquanto isso, do lado americano, as baixas foram mínimas: 18 mortos e 52 feridos.

A repercussão: Vitória ou massacre?

Nos EUA, a reação foi mista. Alguns elogiaram Wood por sua "vitória decisiva", inclusive o presidente Roosevelt, que enviou um telegrama de congratulações. Mas houve vozes dissidentes. Parte da imprensa americana denunciou o ocorrido como um verdadeiro massacre, questionando por que Wood não optou por cercar a montanha em vez de lançar um ataque frontal que resultou em tantas mortes civis.

Wood tentou justificar as mortes alegando que as mulheres se vestiam como homens para lutar e que crianças eram usadas como escudos humanos. Outros responsáveis culparam a artilharia, dizendo que as mortes foram "danos colaterais". Mas essas explicações contraditórias só aumentaram as críticas.

A herança dolorosa de Bud Dajo

Embora autoridades locais tenham visto a operação como necessária para garantir a "estabilidade", a verdade é que a resistência moro não terminou ali. Anos depois, novos levantes eclodiram, culminando em eventos como a Batalha de Bud Bagsak , em 1913. Até hoje, a memória de Bud Dajo permanece viva entre os moros, simbolizando a luta contra a opressão estrangeira.

E é exatamente essa memória que Duterte trouxe à tona ao criticar Obama. Para ele, os EUA nunca pediram desculpas pelas atrocidades cometidas contra seu povo. E, convenhamos, ele tem razão. Histórias como a de Bud Dajo nos lembram que, por trás das narrativas triunfantes, há sempre cicatrizes profundas que merecem ser reconhecidas.

Conclusão: Ainda estamos aprendendo com o passado

Então, o que podemos tirar de tudo isso? Primeiro, que a história é complicada — cheia de nuances, contradições e verdades inconvenientes. Segundo, que o silêncio sobre eventos como Bud Dajo perpetua injustiças e alimenta ressentimentos. E, por fim, que figuras como Duterte, por mais polêmicas que sejam, podem ter algo a ensinar quando insistem em jogar luz sobre os cantos escuros do passado.

Portanto, da próxima vez que ouvir alguém falar sobre as Filipinas e os EUA, lembre-se de Bud Dajo. Pode ser que essa memória desconfortável ajude a construir pontes mais honestas entre os povos. Afinal, como diz o ditado: quem não conhece sua história está condenado a repeti-la.

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