Malthus Voltou – E Trouxe o Fim do Mundo

Malthus Voltou – E Trouxe o Fim do Mundo

2021 – O Crescimento Populacional e o Planeta: Entre a Vida, a Moralidade e o Aquecimento Global. Já imaginou um mundo com 11 bilhões de pessoas? Pois é. Segundo as projeções da ONU, é exatamente isso que pode acontecer até o final do século XXI — se não fizermos nada para mudar essa trajetória. Mas cá entre nós: como conciliar o direito humano à vida, ao crescimento e à liberdade com a urgência climática que bate à nossa porta?

O tema é delicado, complexo e carrega mais arestas do que uma pedra no sapato em uma caminhada longa. Estamos falando aqui do papel do crescimento populacional nas mudanças climáticas , e como esse assunto mexe com questões profundas — éticas, políticas, econômicas e até filosóficas.

Um Fantasma Velho que Nunca Saiu de Cena

Vamos voltar lá pra 1798. Sim, você leu certo. Dois séculos atrás, Thomas Robert Malthus já alertava sobre os perigos do crescimento desenfreado da população. Em seu famoso An Essay on the Principle of Population , ele dizia que a humanidade, por mais que produzisse comida, sempre acabaria em crise. Por quê? Porque quanto mais gente tem comida na barriga, mais ela tende a ter filhos. E aí? Comeram tudo outra vez.

Parece dramático, mas Malthus estava tentando nos dizer algo importante: há limites . Só que, ironicamente, sua teoria foi lançada justamente antes de uma das maiores revoluções tecnológicas da história — a agricultura moderna. Fertilizantes, irrigação, máquinas... Tudo isso fez com que a produção de alimentos explodisse, sustentando uma população mundial que saltou de cerca de 1 bilhão na época dele para mais de 8 bilhões hoje.

Mas será que os limites ainda não existem? Ou só estavam escondidos?

O Retorno dos "Profetas do Apocalipse"

No século XX, Malthus ganhou novos aliados. Paul Ehrlich, biólogo da Stanford, escreveu The Population Bomb em 1968, prevendo fome global e colapso ambiental caso não controlássemos a natalidade. Já o Clube de Roma, em Limits to Growth (1972), usou modelos computacionais para mostrar que o crescimento infinito em um planeta finito simplesmente não funciona. Eles acertaram? Bem… nem tanto. Nem todo mundo morreu de fome. Mas o planeta começou a dar sinais claros de cansaço: derretimento de geleiras, secas severas, enchentes, incêndios florestais cada vez mais frequentes. Parece que o relógio está correndo, e talvez estejamos apenas adiando o apocalipse, não evitando-o.

A Equação Kaya: A Matemática por Trás da Crise Climática

Quer entender por que o CO₂ aumenta tanto? Vamos à matemática. Yoichi Kaya, economista japonês, criou uma equação que explica as emissões totais de dióxido de carbono:

CO₂ = População × PIB por pessoa × Uso de energia por unidade de PIB × Emissões por unidade de energia

Ou seja, quatro fatores que atuam juntos. E todos eles importam.

População : Quanto mais gente, mais demanda por recursos.
PIB por pessoa : Países ricos consomem mais.
Uso de energia : Se gastamos muita energia para produzir pouco, o problema piora.
Emissões por energia : Energia limpa reduz isso; carvão, petróleo e gás aumentam.
Entendeu agora por que é tão difícil reduzir as emissões? Cada fator precisa ser ajustado. E se um cresce rápido demais, anula os progressos dos outros.

O Controle Populacional: Uma Solução ou Um Crime?

Agora entra a parte mais polêmica. Alguns especialistas sugerem que controlar a população seria uma forma eficaz de reduzir as emissões. Mas aí vem a pergunta que ninguém quer responder: vale a pena sacrificar vidas que ainda não nasceram para salvar outras que já estão aqui? É um dilema moral digno de filme de ficção científica. Se o objetivo é garantir um futuro habitável para nossos netos, quem decide quantos netos devem existir? E qual é o limite entre planejamento familiar e controle autoritário?

A China tentou. Lembra da Política do Filho Único , que vigorou entre 1979 e 2015? Funcionou — até certo ponto. A taxa de fertilidade caiu pela metade. Mas veio com um preço alto: envelhecimento precoce da população, desequilíbrio de gênero e consequências sociais profundas. Seria isso replicável? Seria justo? E se sim, como aplicar isso globalmente sem parecer uma ditadura disfarçada de “solução ambiental”?

E se o Problema For o Crescimento Econômico?

Outra saída possível é reduzir o PIB per capita — ou seja, diminuir o consumo individual. Isso soa bem utópico num mundo onde o padrão de vida ocidental é o sonho de consumo global. Como convencer países pobres a não crescer economicamente quando os ricos já tiveram sua chance? Além disso, cortar o crescimento pode trazer consequências distributivas injustas . Enquanto alguns têm carros elétricos e casas inteligentes, há milhões sem acesso a água potável. Como exigir que essas populações esperem sua vez?

O Mundo Que Desaparece Sozinho

Curioso é que, em alguns lugares, a população já está diminuindo naturalmente . Na Nova Zelândia, a taxa de fertilidade despencou para 1,63 filhos por mulher — bem abaixo do necessário para repor a população (2,1). No Japão, a população atingiu o pico em 2010 e desde então vem caindo. Isso pode soar como bom sinal, mas também traz desafios: menos trabalhadores, mais idosos, menos inovação. É o paradoxo do sucesso: quanto mais desenvolvidos os países ficam, menos filhos as pessoas têm . E isso pode ajudar a reduzir emissões, mas não resolve o problema central. Segundo a ONU, a população mundial deve chegar a 11 bilhões até 2100 e depois começar a cair. Mas até lá, como vai ser o nosso planeta? Um mundo mais velho? Mais quente? Mais árido?

E Se Não Focarmos Nas Emissões?

Nem tudo precisa passar pelo CO₂. Existem outras formas de enfrentar a crise climática:

Mitigação : Reduzir danos já causados.
Adaptação : Construir infraestrutura que aguente eventos climáticos extremos.
Remoção de CO₂ : Tecnologias que capturam carbono diretamente do ar.
Do lado das emissões, podemos focar em:

Reduzir o uso de energia (eficiência).
Usar energias limpas (menos emissões).
Essas são soluções mais aceitáveis politicamente, porque evitam confrontar questões morais difíceis. Mas se elas não forem suficientes — e rápido — vamos ter que encarar o que tantos fogem: limitar o tamanho da nossa própria espécie .

O Futuro: Entre a Esperança e o Medo

Talvez o grande teste da humanidade não seja só tecnológico ou científico. Talvez seja ético . Como lidar com um planeta sobrecarregado, sem perder nossa essência humana? Por um lado, a ciência avança. Temos painéis solares, turbinas eólicas, carros elétricos, sistemas de irrigação inteligentes. Por outro, precisamos decidir se vamos continuar acreditando que o crescimento é sinônimo de progresso — ou se estamos prontos para imaginar um mundo diferente. Um mundo onde ser feliz não depende de consumir mais , mas de viver melhor. Um mundo onde ter filhos não seja automaticamente visto como um crime contra o clima , mas como um ato de amor consciente.

Conclusão: A Humanidade no Divã

Em resumo, o crescimento populacional é parte do problema — mas não o único. Ele age junto com o consumo excessivo, a economia predatória e a falta de políticas globais coerentes. As soluções existem, mas exigem coragem política, cooperação internacional e, principalmente, humildade. Não somos donos do planeta. Somos apenas passageiros. E talvez, por mais contraditório que pareça, cuidar dele signifique aprender a existir com menos — menos desperdício, menos egoísmo, menos negação. E se o futuro depender disso, talvez valha a pena parar de fugir dessas perguntas difíceis. Porque, no fim das contas, o maior desafio da humanidade não é apenas sobreviver. É saber o que vale a pena preservar .