Os Santos dos Últimos Dias, mais conhecidos como Mórmons, formam uma das religiões mais intrigantes e comentadas do mundo moderno. Embora tenha nascido nos Estados Unidos no século XIX, seu impacto se espalhou por todos os continentes, gerando curiosidade, debates e até controvérsias. E, claro, a figura central desse movimento é Joseph Smith Jr., o primeiro profeta, segundo seus seguidores. O nome da igreja, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, já revela algo interessante: o senso de urgência. Para os mórmons, vivemos nos "últimos dias" antes da segunda vinda de Cristo. Mas isso é só o começo da história.
A Primeira Visão: O Início de Tudo
Imagine um jovem de apenas 14 anos, confuso, cercado por várias igrejas, cada uma afirmando ser a única verdadeira. Essa era a realidade de Joseph Smith Jr. em 1820. Em um momento de angústia, ele foi até um bosque perto de sua casa para orar, buscando uma resposta divina. Segundo Smith, algo extraordinário aconteceu ali: Deus Pai e Jesus Cristo apareceram para ele. Sim, você leu certo! Eles não apenas o instruíram a não se juntar a nenhuma igreja, mas também afirmaram que a verdadeira igreja não existia mais na Terra. Este evento, conhecido como a Primeira Visão, é o marco inicial do que viria a ser o mormonismo.
As Placas de Ouro e o Livro de Mórmon
O que parece um conto de fadas continua com a história das placas de ouro. Em outra visão, o anjo Morôni teria aparecido para Joseph Smith e mostrado a localização dessas placas, que continham uma escritura sagrada escrita em uma língua até então desconhecida. Após quatro anos de espera, Smith finalmente recebeu as placas e as traduziu para o inglês, originando o famoso Livro de Mórmon. Este livro é considerado tão sagrado quanto a Bíblia pelos mórmons, sendo um dos quatro textos fundamentais da fé, ao lado da Bíblia, Doutrina e Convênios e Pérola de Grande Valor.
Perseguição e Expansão
A fundação da igreja não foi recebida com braços abertos por todos. Joseph Smith e seus seguidores enfrentaram intensa perseguição, tanto por motivos religiosos quanto políticos. À medida que a comunidade mórmon crescia, ela também se tornava uma força política significativa, algo que incomodava as populações locais. Como resultado, os mórmons foram vítimas de atos de violência, que culminaram no assassinato de Joseph Smith em 1844, enquanto estava preso em Illinois.
Mórmon ou Santo dos Últimos Dias?
A palavra "Mórmon" vem do nome do profeta que compilou as escrituras conhecidas como o Livro de Mórmon. Embora amplamente utilizados, os líderes da igreja preferem o termo Santos dos Últimos Dias (SUD) para se referir aos membros da fé. Eles acreditam que estão vivendo no período final da história humana, aguardando o retorno de Jesus Cristo.
No que os Mórmons Acreditam?
Para os mórmons, a vida após a morte não é simples como céu ou inferno. Eles acreditam em três reinos diferentes: o Celestial, o Terrestre e o Telestial, além de um lugar de escuridão exterior. Aonde alguém vai parar depende de suas crenças e ações nesta vida. Essa visão difere da maioria das denominações cristãs, que acreditam em um destino eterno mais direto. Outra crença interessante é que Deus Pai, segundo os mórmons, tem um corpo de carne e ossos, algo que vai contra o ensino tradicional cristão de que Deus é um espírito. Eles também acreditam que qualquer ser humano pode, eventualmente, se tornar um deus, desde que viva de maneira justa.
Polemicas e controvércias
O mormonismo, como qualquer movimento religioso significativo, não está isento de polêmicas e controvérsias. Desde sua fundação por Joseph Smith no início do século XIX, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (SUD) enfrentou uma série de denúncias e debates que continuam a repercutir. Algumas das mais notórias polêmicas envolvem questões de doutrina, práticas sociais, e o comportamento de seus líderes ao longo da história. Aqui estão alguns dos principais pontos de controvérsia envolvendo os mórmons:
1. Poligamia
Uma das polêmicas mais duradouras envolvendo a igreja é a prática da poligamia. No início da história do mormonismo, Joseph Smith e outros líderes como Brigham Young praticavam a poligamia, com Smith chegando a ter cerca de 40 esposas, algumas delas adolescentes. A poligamia era defendida como uma prática religiosa, com base em revelações divinas alegadamente recebidas por Smith. No entanto, essa prática gerou forte oposição e perseguição nos Estados Unidos, sendo um dos principais motivos de discriminação e violência contra os mórmons no século XIX. A poligamia foi oficialmente abolida pela igreja em 1890, sob pressão do governo dos EUA, que ameaçou confiscar propriedades da igreja e impedir a entrada de Utah na União como estado. Mesmo assim, alguns grupos dissidentes, conhecidos como mórmons fundamentalistas, continuam praticando a poligamia até hoje, o que gera novas controvérsias, especialmente em casos envolvendo menores de idade.
2. Massacre de Mountain Meadows
Em 1857, um evento trágico marcou a história mórmon: o Massacre de Mountain Meadows. Um grupo de membros da igreja, disfarçados de índios, atacou uma caravana de emigrantes do Arkansas que estava atravessando o território de Utah em direção à Califórnia. Após vários dias de cerco, os agressores mataram 120 pessoas, incluindo homens, mulheres e crianças. Os sobreviventes, em sua maioria crianças, foram poupados. A responsabilidade pelo massacre é atribuída a líderes locais mórmons, embora a igreja tenha se distanciado das ações e, por muito tempo, tenha se recusado a admitir seu papel. A questão de quem deu as ordens e o nível de envolvimento da liderança central da igreja em Salt Lake City, incluindo Brigham Young, continua a ser debatida. O evento gerou profunda desconfiança em relação aos mórmons nos Estados Unidos e ainda é um tema sensível dentro da comunidade.
3. Racismo e Exclusão de Negros do Sacerdócio
Até 1978, a igreja SUD proibia homens negros de receberem o sacerdócio, que é uma das principais distinções religiosas dentro da fé mórmon. Esta exclusão baseava-se em interpretações raciais de escrituras e ensinamentos de líderes da igreja no século XIX, que acreditavam que os negros descendiam de Caim e, portanto, carregavam uma marca de maldição. A proibição gerou grande controvérsia, especialmente durante o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1978, a liderança da igreja afirmou ter recebido uma revelação divina que permitiu a inclusão de homens negros no sacerdócio. Apesar dessa mudança, o legado de racismo dentro da igreja continua sendo uma mancha na sua história, e a falta de desculpas formais ou de um retrato claro do passado racista ainda é criticada.
4. O Livro de Abraão e Traduções Questionáveis
Outra polêmica envolve a autenticidade do Livro de Abraão, uma das escrituras canônicas da igreja. Joseph Smith afirmou ter traduzido o livro a partir de papiros egípcios antigos que comprou de um comerciante itinerante. Por muitos anos, os mórmons consideraram o texto como uma tradução autêntica de escritos do próprio Abraão. No entanto, no século XX, estudiosos do Egito antigo examinaram os papiros e descobriram que, na verdade, tratavam-se de textos funerários egípcios, sem qualquer relação com Abraão ou com as histórias contadas por Smith. Essa descoberta levantou dúvidas sobre as alegações de inspiração divina de Smith e sua capacidade de traduzir textos antigos. Mesmo assim, a igreja continua a usar o Livro de Abraão como escritura, explicando que a tradução pode ter sido feita de forma espiritual, e não literal.
5. Segredo em Rituais do Templo
Os rituais realizados nos templos mórmons, como os selamentos matrimoniais e o batismo pelos mortos, são considerados sagrados e, por isso, realizados com grande sigilo. Muitas pessoas fora da igreja veem essa falta de transparência como algo suspeito. Durante o século XX, ex-membros da igreja revelaram detalhes desses rituais, incluindo apertos de mão secretos e juramentos simbólicos, que teriam semelhanças com os rituais maçônicos. A conexão entre os rituais mórmons e as práticas da maçonaria gerou ainda mais controvérsia, já que Joseph Smith era um maçom antes de estabelecer alguns desses rituais no templo. A igreja alega que os rituais são inspirados por revelação divina e que o sigilo serve para preservar sua santidade, mas para muitos críticos, isso alimenta um clima de mistério e desconfiança.
6. Suicídio de Joseph Smith ou Martirização?
O assassinato de Joseph Smith, enquanto estava preso em uma cela em Carthage, Illinois, é um dos episódios mais controversos da história mórmon. Embora os mórmons o retratem como um mártir, há evidências de que Smith tentou se defender com uma pistola contrabandeada. Durante o ataque à prisão, ele trocou tiros com os agressores e, em um ponto, caiu de uma janela, o que levantou suspeitas de suicídio. A discussão sobre se sua morte foi um ato heroico ou desesperado ainda é uma questão de debate entre historiadores e críticos da igreja.
7. Abuso Sexual e Proteção de Agressores
Nos últimos anos, surgiram denúncias de que a Igreja SUD teria acobertado casos de abuso sexual dentro de sua comunidade. Ex-membros e vítimas afirmam que líderes locais da igreja frequentemente orientaram vítimas a não denunciar os abusos às autoridades, preferindo tratar os casos internamente para preservar a imagem da igreja. Alega-se que, em alguns casos, os agressores receberam penas leves, enquanto as vítimas foram aconselhadas a perdoar e não manchar o nome da igreja. Essas alegações levaram a críticas severas, e a igreja tem sido pressionada a ser mais transparente em sua maneira de lidar com abusos. Em resposta, a igreja afirmou que está implementando novas políticas para proteger as vítimas e garantir que os casos sejam devidamente investigados.
8. Controle Social e Pressão Psicológica
Outro ponto de polêmica é a percepção de que a igreja exerce um controle excessivo sobre a vida de seus membros. Críticos afirmam que os mórmons enfrentam intensa pressão para seguir as normas estabelecidas pela igreja, como a abstinência de álcool, tabaco, café e o pagamento de dízimos obrigatórios. A forte ênfase na conformidade religiosa e social pode levar alguns membros a se sentirem isolados ou inadequados se não conseguirem seguir todas as regras. O papel das missões, onde jovens passam dois anos pregando o evangelho longe de suas famílias, também é visto como uma forma de controle social, além de gerar estresse psicológico em alguns casos.
As controvérsias em torno do mormonismo são variadas e complexas, refletindo tanto os desafios históricos quanto as práticas religiosas atuais da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Apesar das polêmicas, a igreja continua a crescer e a ter milhões de adeptos em todo o mundo, muitos dos quais são profundamente fiéis e comprometidos com suas crenças. No entanto, as questões levantadas por críticos e ex-membros continuam a alimentar discussões sobre a legitimidade e a moralidade de alguns dos ensinamentos e práticas da igreja.
O Domingo para os Mórmons
O domingo é um dia sagrado para os mórmons, dedicado ao descanso e adoração. Eles acreditam que é um dia para se desconectar das atividades mundanas e se concentrar em Cristo. Muitos se reúnem para uma reunião sacramental, onde tomam o sacramento em memória de Jesus.
Conclusão
Os mórmons são, sem dúvida, um grupo fascinante. Com uma história cheia de visões, placas de ouro, perseguições e polêmicas, eles continuam a atrair tanto seguidores quanto críticos. E, apesar das controvérsias, a fé dos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias permanece firme, ancorada na crença de que estão vivendo nos últimos dias antes do retorno de Cristo. Quer você concorde com eles ou não, é impossível negar o impacto que eles tiveram – e continuam tendo – no mundo.