2023 ficou marcado por uma decisão controversa em Utah: a remoção da versão King James da Bíblia de várias escolas no distrito de Davis. O motivo? Um comitê concluiu que o texto continha "vulgaridade e violência", determinando sua exclusão das instituições de ensino fundamental e médio. Mas o que está por trás dessa decisão tão inesperada? Vamos mergulhar nessa história cheia de reviravoltas, críticas e reflexões sobre censura e liberdade literária.
A denúncia que sacudiu o distrito escolar
Tudo começou em 11 de dezembro, quando um pai, claramente incomodado com a onda de remoções de livros considerados "inapropriados" por grupos conservadores, decidiu desafiar o sistema. Em uma jogada inesperada, ele solicitou que a própria Bíblia fosse analisada sob o mesmo rigor usado para banir outros livros das escolas. Em sua reclamação, ele não poupou críticas: listou passagens que, segundo ele, descrevem incesto, mutilação genital, estupro e até infanticídio. Para ele, a Bíblia era "um dos livros mais cheios de sexo" e deveria ser tratada como tal, conforme as novas definições de "material sensível" estabelecidas pela lei de Utah.
A lei que gerou um efeito dominó
A controvérsia se ampara no projeto de lei H.B. 374, que determina que qualquer livro contendo material considerado pornográfico ou indecente seja removido das bibliotecas escolares. Segundo o código, obras com descrições explícitas de atos sexuais ou comportamentos considerados imorais podem ser banidas, desde que uma solicitação formal seja feita. Esse mesmo critério já havia sido usado para proibir livros como The Bluest Eye, da aclamada Toni Morrison, e Gender Queer, uma história em quadrinhos que aborda questões de identidade. Agora, a Bíblia entrou para essa lista.
Uma decisão com várias camadas de ironia
A decisão de remover a Bíblia foi, para muitos, um sinal dos tempos. O próprio pai que protocolou a queixa ironizou o processo, agradecendo ao legislativo de Utah por tornar "fácil e eficiente" banir livros sem sequer precisar lê-los. Sua crítica mordaz reflete o desconforto com o que ele chamou de "má fé" nos critérios de avaliação, que parecem pender para certos livros enquanto ignoram outros. Grupos conservadores, como o Utah Parents United, que antes lideraram esforços para banir livros sobre questões LGBTQIA+ e raciais, agora enfrentam o peso de suas próprias regras. Para eles, a retirada da Bíblia foi um "tapa na cara" de pais que tentavam proteger os filhos.
A Bíblia: patrimônio ou problema?
Embora o comitê tenha concluído que a Bíblia não contém material sensível conforme a lei, decidiu pela remoção com base em sua adequação à faixa etária. Essa decisão levantou questões importantes: até que ponto o conteúdo de um livro deve ser avaliado isoladamente? E o contexto histórico e cultural, onde entra nessa discussão? Os críticos da decisão argumentam que, ao banir a Bíblia, abre-se um precedente perigoso de censura que pode ser usado contra outras obras literárias fundamentais. Por outro lado, defensores da remoção acreditam que as regras devem valer para todos, sem exceções.
O futuro da Bíblia nas escolas
Enquanto as cópias da Bíblia já estão sendo removidas de algumas escolas, o caso ainda não chegou ao fim. Um novo desafio foi apresentado por outro pai, que luta para manter o livro em todas as instituições de ensino. Essa batalha jurídica promete continuar alimentando o debate sobre liberdade literária, censura e o papel das escolas na escolha de materiais educacionais.
Reflexão final: o peso de um livro
A Bíblia, um texto que moldou culturas e crenças por milênios, agora se encontra no centro de uma discussão sobre moralidade e adequação escolar. O episódio de Utah é um lembrete de que livros não são apenas páginas encadernadas – são janelas para ideias, histórias e reflexões. Quando começamos a decidir quais histórias merecem ser contadas e quais não, colocamos em risco a pluralidade de vozes que torna a literatura tão poderosa. E você, o que pensa sobre essa polêmica? Até que ponto devemos limitar o acesso a determinados livros? O que ganhamos – ou perdemos – ao definir o que é "apropriado"? O debate está aberto, e, como a própria literatura, promete desafiar nossas certezas.