Vivemos em um mundo onde somos constantemente expostos a narrativas que influenciam nossas percepções, crenças e comportamentos. (2025) Seja através de novelas, seriados, noticiários ou redes sociais, o consumo contínuo de informações pode modificar a maneira como enxergamos a realidade. A questão que se coloca é: se uma pessoa participasse de uma terapia em grupo todos os dias, durante os 365 dias do ano, sua maneira de pensar mudaria? A resposta é sim. E esse mesmo princípio se aplica às mídias e ao entretenimento.
O Poder da Repetição na Formação de Ideias
Nosso cérebro aprende por meio da repetição. Quando uma ideia é exposta reiteradamente, ela se torna mais familiar e, consequentemente, mais aceita. Isso ocorre porque a mente humana tende a rejeitar o desconhecido e a abraçar o que lhe é comumente apresentado. Esse fenômeno é explorado em diversos contextos, desde a publicidade até a manipulação de opinião pública.
Um exemplo clássico pode ser observado em seriados e novelas. Vamos pegar o caso da série La Casa de Papel. Durante a trama, o público se vê torcendo pelos assaltantes, que, em qualquer outro contexto, seriam considerados criminosos. Isso acontece porque a narrativa apresenta esses personagens como heróis, humanizando suas histórias e justificando suas ações. O efeito é que o espectador se identifica com eles e passa a desejar o sucesso de suas empreitadas, mesmo que, em um contexto normal, condenasse tais atos.
Essa estratégia de narração não é nova. Em novelas, vários temas que, no passado, eram tabus foram normalizados através da repetição de situações e personagens que representam essas questões. Políticos, empresas e instituições também utilizam a exposição contínua para influenciar a opinião do público.
A Manipulação da Percepção e a Construção de Normalidades
Quando algo nos é apresentado repetidamente, ele pode perder sua carga de estranheza e se tornar parte do nosso repertório mental. Isso pode ser benéfico em algumas situações, como a aceitação de novos conceitos que promovem o progresso social, mas também pode ser perigoso quando utilizado para manipulação ideológica, comercial ou política.
Por exemplo, muitas campanhas publicitárias utilizam esse método para convencer consumidores de que precisam de um produto ou serviço. No âmbito político, discursos podem ser repetidos até que as pessoas comecem a aceitá-los sem questionamento. Isso também ocorre no noticiário, onde a seleção de temas e a forma como são abordados podem direcionar a opinião pública de maneira sutil, mas eficaz.
O Perigo da Falta de Questionamento
A repetição pode tornar ideias antes rejeitadas em algo normal, mas isso não significa que essa normalização seja sempre positiva. Quando uma informação é absorvida sem questionamento, abre-se espaço para manipulação. Dessa forma, a estranheza inicial pode ser um alerta de que algo está sendo introduzido de maneira planejada para moldar percepções e crenças.
Um exemplo clássico disso está na propaganda política e nos discursos ideológicos. Muitos regimes autoritários usaram a tática da repetição para convencer populações inteiras de que certas atitudes eram necessárias e justificáveis, mesmo quando iam contra princípios morais e éticos básicos.
Como Manter a Consciência Crítica?
Para evitar cair na armadilha da manipulação, é fundamental adotar uma postura crítica em relação ao que consumimos. Algumas estratégias incluem:
Diversificar Fontes de Informação: Busque diferentes perspectivas sobre um mesmo tema para ter uma visão mais ampla e equilibrada.
Refletir Sobre Suas Reações: Pergunte-se por que você torce por certos personagens ou aceita determinadas narrativas.
Fazer Perguntas Críticas: Ao se deparar com uma informação, questione quem a está transmitindo, qual é o interesse por trás dela e se existem outras formas de interpretar o fato.
Reconhecer a Influência da Emoção: Histórias bem contadas mexem com emoções, mas isso não significa que são verdades absolutas.
Evitar o Consumo Passivo: Seja um espectador ativo, analisando o que você assiste, lê e escuta.
Conclusão
A influência das narrativas sobre nossa maneira de pensar é inegável. O que consumimos molda nossas percepções e crenças ao longo do tempo, muitas vezes sem que percebamos. O mesmo princípio que rege uma terapia diária também se aplica às novelas, séries e noticiários. O desafio está em reconhecer esses processos e manter uma postura crítica, garantindo que nossas opiniões e escolhas sejam realmente nossas, e não apenas um reflexo das narrativas que nos são impostas diariamente.