CIÊNCIA E TECNOLOGIA

A microbiota humana

biota topoPor: Luis Caetano Martha Antunes - A maior parte dos leitores deste artigo provavelmente se espantará ao saber que a maioria das células presentes em nosso organismo não é humana. Essa maioria não humana é encontrada nas comunidades microbianas riquíssimas que habitam nosso corpo. A existência dessas comunidades é conhecida desde que o holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723) observou, em um de seus microscópios, um raspado da superfície de seus dentes e descobriu um grande número de minúsculos seres vivos, com as mais variadas formas. Nas últimas décadas, o estudo dos microrganismos que hospedamos cresceu vertiginosamente, ...

dando origem a um novo campo da microbiologia. Desde então, essa comunidade amigável de minúsculos seres vem sendo chamada de microbiota (ou ainda flora, microflora e microbioma, entre outros nomes). Embora não a enxerguemos a olho nu, a microbiota é parte importante de nosso organismo. Estima-se, por exemplo, que mais da metade do material das fezes seja composto por células microbianas.

Calcula-se que, no corpo de um adulto, exista cerca de 1 kg de micróbios. O papel importante desses seres microscópicos fica ainda mais evidente quando comparamos o número de células humanas e microbianas no nosso corpo. Estimativas dizem que há 10 vezes mais micróbios em nossos corpos do que nossas próprias células. Em outras palavras, quanto ao número de células, somos 90% micróbios e apenas 10% humanos.

Mas a coisa não para por aí. Assim como os humanos, esses microrganismos também têm seus genes, que determinam como eles vivem e interagem com outros organismos. Se calcularmos o número de genes microbianos presentes em nosso corpo, chegamos à impressionante conclusão de que abrigamos 100 vezes mais genes microbianos do que humanos. Assim, em termos de número de genes, somos 99% micróbios e apenas 1% humanos.

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Microbiota intestinal de camundongo, em imagem obtida por microscopia.

Os microrganismos que vivem no corpo humano colonizam virtualmente todas as superfícies expostas ao ambiente externo. A microbiota está presente na boca, no estômago, no intestino, nos tratos genitourinário e respiratório, nos olhos, na pele etc. Embora esta se distribua por todas as áreas de contato com o exterior, a maior parte da colonização (cerca de 70%) ocorre no trato gastrointestinal.

Isso se deve em grande parte ao fato de a área das paredes intestinais de um adulto ser equivalente à de uma quadra de tênis – é, portanto, um imenso espaço para interações entre o tecido humano e os micróbios.

Essa associação começa cedo. No instante em que nasce, por parto normal, o bebê é colonizado por bactérias do canal vaginal da mãe. Já bebês que nascem por cesariana têm uma microbiota diferente, composta principalmente por micróbios da pele da mãe e dos profissionais de saúde envolvidos no parto. Após a colonização inicial, a comunidade microbiana do bebê é simples e instável. Entretanto, após o primeiro ano de vida, a composição desta se estabiliza e se torna semelhante à de um adulto. A partir daí, a microbiota continua evoluindo, mas de forma mais estável.

Além dessa variação no tempo, o conjunto de microrganismos também exibe grandes diferenças espaciais. No trato gastrointestinal, por exemplo, cada segmento do tubo digestivo tem micróbios relativamente específicos. No estômago, são comuns bactérias dos gêneros Lactobacillus, Veillonella e Helicobacter. No intestino delgado, predominam estreptococos, actinobactérias e corinebactérias. No intestino grosso, algumas das bactérias mais abundantes são os gêneros Bacteroides e Clostridium.

A composição microbiana no intestino também varia de acordo com a distância de cada microambiente em relação às paredes do tubo intestinal. A superfície do epitélio intestinal é, com poucas exceções, não colonizada. Já a camada de muco que recobre esse epitélio abriga bactérias características, como as dos gêneros Clostridium, Lactobacillus e Enterococcus. O espaço interno (lúmen) do trato gastrointestinal, por sua vez, é rico em outros gêneros (Bacteroides, Bifidobacterium), além de enterobactérias em geral. Esses padrões de colonização são influenciados por muitos aspectos, entre eles a distribuição de nutrientes e oxigênio, os níveis de acidez ou alcalinidade e a presença ou ausência de sítios específicos de ligação.

Papéis fundamentais

Todas essas observações deixam claro que as bactérias que colonizam o corpo humano devem exercer funções muito importantes. De fato, dezenas de estudos têm demonstrado que elas são fundamentais para a saúde. Grande parte desses estudos usou animais de laboratório, nos quais a microbiota foi de algum modo manipulada.

De início, camundongos eram tratados com antibióticos, que reduziam a níveis mínimos a população microbiana em seu intestino, e os efeitos desse tratamento eram registrados e investigados. Em seguida, foram desenvolvidos métodos mais sofisticados para o estudo da microbiota.

Camundongos paridos por cirurgia cesariana eram mantidos em condições totalmente assépticas, na ausência de qualquer tipo de microrganismo. Esses animais eram chamados de germ-free (livres de germes). Durante seu crescimento, em laboratório, diversos aspectos fisiológicos eram monitorados. Estudos como estes levaram à identificação de papéis fundamentais da comunidade microbiana na saúde dos animais (e, por extensão, na saúde humana).

Um exemplo é a função crítica da microbiota na proteção de seus hospedeiros contra a invasão por microrganismos causadores de doenças. Já era bem conhecida a maior incidência de infecções intestinais em indivíduos tratados com antibióticos. Um dos principais agentes dessas infecções é a bactéria Clostridium difficile, que causa a colite pseudomembranosa (inflamação do cólon que leva a diarreia e pode ser fatal). O surgimento dessa colite está associada ao uso de antibióticos de amplo espectro.

C. difficile pode ser encontrada na microbiota intestinal humana, e em geral não causa qualquer dano ao hospedeiro. No entanto, quando um antibiótico é usado para tratar uma infecção, esse conjunto de microrganismos é severamente alterado, o que propicia a expansão de C. difficile no intestino do hospedeiro. Como essa bactéria produz fatores de virulência, inclusive toxinas, o aumento de sua população desencadeia a colite pseudomembranosa.

Além dessas observações clínicas, estudos de laboratório, nas décadas de 1950 e 1960, confirmaram que o uso de antibióticos pode aumentar a sensibilidade a infecções intestinais. Camundongos tratados com estreptomicina, que apresentaram alterações drásticas na composição da microbiota intestinal, foram então infectados com a bactéria Salmonella, que causa gastroenterite em humanos, e os cientistas verificaram que os distúrbios na comunidade microbiana tornaram os animais muito mais suscetíveis à infecção por essa bactéria, assim como no caso de C. difficile.

Os mecanismos envolvidos na proteção gerada pela microbiota ainda são em grande parte desconhecidos. Acredita-se que essas bactérias funcionem como exímios competidores por nutrientes e sítios de ligação. As bactérias benéficas impediriam os agentes patogênicos de encontrar receptores e se ligar às células do intestino, levando à rápida eliminação destes. Além disso, a alta carga microbiana deixaria poucos nutrientes disponíveis para os agentes patogênicos que achassem um sítio de ligação. No entanto, muitos outros possíveis mecanismos são discutidos atualmente.


O papel dos microrganismos intestinais na saúde humana


2013 - Há muito que se sabe que os microrganismos presentes no intestino humano desempenham um importante papel na saúde digestiva. Contudo, investigações mais recentes indicam que as bactérias intestinais podem igualmente estar relacionadas com outros aspectos de saúde, incluindo obesidade e saúde metabólica.

Microrganismos no corpo humano

Os microrganismos habitam variados locais do organismo humano, incluindo a pele, o nariz, a boca e o intestino. Este último, em particular, constitui a “casa” de uma enorme variedade de microrganismos - aproximadamente 100 triliões de células bacterianas, número este dez vezes superior ao número de células humanas.1 Os microrganismos presentes no intestino humano são, sobretudo, bactérias que pertencem a mais de 1000 espécies, 90% das quais pertencem ao grande grupo dos Firmicutes e Bacteroidetes.2,3 Cada indivíduo apresenta uma composição distinta e altamente variável de microrganismos intestinais, muito embora um conjunto deles seja comum a todos nós.2,4 A composição dos microrganismos intestinais designa-se por microbiota, enquanto que a totalidade dos genes do microbiota se designa por microbioma. Os genes do microbioma intestinal são 150 vezes mais elevados do que os genes do organismo humano.1

O que é que influencia o microbiota intestinal?

O microbiota humano estabelece-se no início da vida – o feto no útero é estéril e a exposição aos microrganismos inicia-se no parto durante a passagem pelo canal vaginal e/ou exposição aos microrganismos presentes no ambiente. Os bebés nascidos por cesariana apresentam um microbiota com composição diferente dos bebés nascidos por parto natural, situação que se julga menos favorável e que, de acordo com alguns autores, pode eventualmente estar associada ao aumento do risco de doenças e excesso de peso e obesidade na vida futura.5 Apesar do microbiota se estabelecer na altura do parto, pode sofrer alterações ao longo da vida, sendo influenciado por determinados factores, nomeadamente, idade, alimentação, localização geográfica, consumo de suplementos alimentares ou fármacos ou outros factores ambientais.6 O excesso de gordura corporal ou situações de doença estão igualmente associadas à alteração do microbiota intestinal.

Sabe-se que a alimentação, incluindo a dieta da criança logo desde o nascimento (aleitamento materno versus fórmulas infantis), modula a composição do microbiota intestinal humano e pensa-se que os hábitos alimentares ao longo da vida exercem igualmente um efeito considerável, o que pode explicar algumas das diferenças geográficas.2 Alguns componentes da dieta como, por exemplo, a fibra alimentar, são degradados pela fermentação das bactérias, que os utilizam como combustível. O consumo aumentado de certos componentes alimentares pode contribuir para o aumento do número de bactérias que utilizam estes componentes específicos como combustível, significando o referido que alterações na composição da dieta podem conduzir a alterações na composição do microbiota intestinal. A composição em macronutrientes da dieta (isto é, a proporção de proteína, gordura e hidratos de carbono) parece exercer influência e alterações na alimentação podem conduzir a modificações no microbiota.2 A forma como a dieta interage com o microbiota continua a ser alvo de intensa investigação.

The gut microbiota and health

A maioria da investigação acerca do microbiota humano foca os microrganismos presentes no intestino, uma vez que se pensa que eles influenciam a saúde em vários aspectos. Existem evidências de que os indivíduos que sofrem de determinadas doenças (por exemplo, doença intestinal inflamatória ou alergias) apresentam um microbiota diferente daquele apresentado por indivíduos saudáveis, apesar de, em grande parte dos casos, não ser possível afirmar se o microbiota alterado é causa ou consequência da doença. Os padrões do microbiota intestinal associados à saúde são, contudo, mais difíceis de definir.6 A composição do microbiota intestinal é altamente variável mesmo entre indivíduos saudáveis. Os investigadores demonstraram que apesar de a composição variar entre indivíduos, diferentes composições podem apresentar funções similares (ou seja, a forma como certos microrganismos degradam determinados componentes da dieta ou a forma como afectam o sistema imunológico). Pelo referido, tem sido sugerido que a função do microbiota intestinal, mais do que a sua composição, parece ser mais importante para a saúde.6

Os microrganismos presentes no intestino desempenham um papel crucial na saúde digestiva, mas influenciam igualmente o sistema imunológico. Os tecidos imunes presentes no tracto gastrointestinal constituem a maior e mais complexa fracção do sistema imunológico humano. A mucosa intestinal é uma grande superfície que delimita o intestino e que está exposta a antigénios ambientais (substâncias que despoletam a produção de anticorpos pelo sistema imunológico) patogénicos (que causam doenças) e não patogénicos. No lúmen intestinal, os microrganismos desempenham um papel crítico no desenvolvimento de um sistema imunológico equilibrado e robusto.3 Alterações que possam ocorrer no microbiota intestinal dos indivíduos, por exemplo, aquando da toma de determinados antibióticos, aumentam o risco de infecção por microrganismos patogénicos oportunistas, nomeadamente por Clostridium difficile.6

Nos últimos anos, os investigadores estabeleceram uma associação entre o microbiota intestinal e o peso corporal. Muito embora a investigação nesta área se encontre a dar os primeiros passos, os estudos revelaram que os indivíduos obesos tendem a apresentar uma composição em bactérias intestinais algo diferente daquela apresentada por pessoas com índice de massa corporal normal.7, 8, 4 Não se sabe ainda se a composição do microbiota alterado é uma causa ou uma consequência da obesidade. Os estudos mostram que a composição do microbiota intestinal se altera com a perda de peso e/ou com o ganho de peso; no entanto, o significado dessas alterações para a saúde humana constitui matéria de debate.8 Alguns investigadores sugeriram que o microbiota de indivíduos obesos pode contribuir para o aumento da quantidade de energia que é retirada dos alimentos, sugerindo que determinadas estruturas do microbiota intestinal possam aumentar a probabilidade de se desenvolver obesidade.2, 4 Contudo, esta teoria está a ser debatida sendo necessários mais estudos que permitam investigar se esta hipótese tem efectivamente fundamento. Muitas das evidências da associação entre a flora intestinal e o risco de obesidade derivam de estudos animais. Os resultados destes estudos indicam que um microbiota “obeso” (ou seja, determinadas composições do microbiota encontrado em obesos) pode conduzir ao aumento do peso e a alterações metabólicas desfavoráveis quando ele é transferido para ratinhos magros estéreis.2, 4 Apesar dos modelos animais fornecerem pistas interessantes, não se podem tirar conclusões directas acerca dessas associações em humanos. Esta área de investigação é recente, sendo necessários mais estudos, particularmente em humanos, para se perceber de que forma e em que extensão é que a composição de microrganismos intestinais influencia várias funções metabólicas no organismo.

Probióticos e prebióticos

Os probióticos podem ser definidos como microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, podem conferir benefícios na saúde do hospedeiro. Têm sido estudados vários tipos de probióticos. Existem algumas evidências de que determinados probióticos são efectivos na melhoria dos sintomas da síndrome do cólon irritável, colite ulcerativa e doenças infecciosas, bem como na redução do risco de desenvolvimento de eczema e outras condições alérgicas.9, 10

Também os indivíduos saudáveis podem beneficiar com a ingestão de probióticos – existem evidências que sugerem que os probióticos podem reduzir o risco de doenças infecciosas, incluindo infecções do tracto respiratório superior, em populações saudáveis.9 Qualquer efeito de um probiótico é geralmente específico à estirpe da bactéria probiótica utilizada. Isto significa que se se encontrar um dado efeito associado a uma estirpe probiótica, não se podem retirar conclusões acerca dos possíveis efeitos de outras estirpes probióticas.10 Enquanto que existe uma boa quantidade de evidências que suportam o efeito positivo de estirpes probióticas específicas em determinadas patologias, como infecções por Clostridium difficile e colite ulcerativa, as evidências são ainda inconclusivas para outras questões de saúde, sendo necessários mais estudos para confirmar os benefícios dos probióticos, particularmente, em pessoas saudáveis. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar que fornece aconselhamento científico à Comissão Europeia, rejeitou, até à data, que os produtos alimentares ostentem alegações de saúde que sugiram que os indivíduos saudáveis beneficiam do consumo de probióticos. Estão, neste momento, a ser levadas a cabo mais investigações que utilizam novas tecnologias e biomarcadores específicos que podem ajudar a compreender de que forma os indivíduos podem beneficiar da utilização dos probióticos.

Apesar de não ser ainda claro como é que os probióticos actuam na saúde, tem sido sugerido que podem ter o potencial de afectar a função, mais do que a composição, do microbiota.6, 9 Se for este o caso, o consumo de probióticos pode exercer um efeito na saúde mesmo quando não se verifique qualquer alteração na composição do microbiota intestinal.6

Prebióticos

Os prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que são selectivamente fermentados pelas bactérias intestinais associadas aos efeitos benéficos na saúde. Existem evidências de que os prebióticos podem induzir alterações no microbiota intestinal, mas ainda não é perfeitamente claro de que forma a utilização de prebióticos pode alterar a composição e a função do microbiota intestinal, qual a estabilidade destas alterações e o seu significado em termos de saúde humana – tudo isto terá que ser futuramente investigado.6

Efeitos dos antibióticos no microbiota intestinal

A toma de antibióticos pode conduzir a distúrbios no microbiota intestinal. Isto acontece por causa do seu potencial efeito sobre diferentes tipos de bactérias intestinais; existem bactérias específicas que são particularmente sensíveis, ou resistentes, a determinados antibióticos.6 O referido pode conduzir a diarreia associada a antibióticos e, em ambiente hospitalar, pode aumentar o risco de uma forma mais severa de diarreia, causada pelo patogénico Clostridium difficile. O impacto dos antibióticos é geralmente de curta duração, mas foram já documentados distúrbios no microbiota intestinal durante períodos de tempo alargado.6 Existem evidências de que a ingestão de probióticos durante o tratamento com antibióticos pode reduzir o risco de desenvolvimento de diarreia associada à toma de antibióticos.11

Conclusões

Os microrganismos presentes no intestino humano são cruciais para a saúde humana. Exactamente de que forma, em que extensão e que áreas da saúde são influenciadas por estes microrganismos são questões que permanecem ainda por estabelecer, tal como a evidência sobre de que forma a composição e/ou a função da microbiota pode ser manipulada de maneira a atingirem-se benefícios específicos para a saúde.

Referências

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Flora Intestinal - como mantê-la forte e saudável?

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Por Conceição Trucom - O organismo humano é bom para enfrentar doenças, mas precisa dos mecanismos de defesa na linha de frente. As 3 principais linhas de defesa são: o sistema imunológico, o fígado e as colônias de bactérias benéficas que habitam nosso intestino.

Examinando a função das fibras alimentares – cada vez mais escassa na alimentação ocidental, parece que desempenham pelo menos 2 funções importantes:

1) alimentam as colônias de bactérias benéficas que vivem no intestino grosso,
2) existem indícios de que uma dieta rica em fibras possa ajudar a evitar o câncer de intestino e outras doenças.

Diante de uma infecção de garganta, a indicação médica costuma ser antibiótico. Tal medicamento mata as bactérias que causam a doença, mas também mata as bactérias benéficas que vivem no intestino grosso. Porém, tais bactérias desempenham um papel muito importante na manutenção da saúde. Matá-las é o mesmo que fragilizar nossas defesas: seja de um microorganismo do mal, de um veneno ou de uma célula mutante.

Uma boa maneira de garantir a existência destas bactérias benéficas em quantidade e qualidade é via consumo de "probióticos" - alimentos contendo culturas dessas bactérias. Mas essa é uma forma de interferir rapidamente na reconstrução de uma flora. Como seria a forma correta de manter uma flora saudável?

Bactérias Benéficas x Bactérias Nocivas

Existem cerca de 100 milhões de bactérias (microorganismos) no intestino de um humano adulto, o que significa pouco mais de um quilo do peso corporal. Praticamente todas as bactérias que habitam o nosso intestino são encontradas no cólon, a parte mais longa do intestino grosso.

Coletivamente, estas bactérias são chamadas de "flora intestinal" ou "microbiota". Cada bactéria é uma única célula - um ser vivo diminuto - e existem centenas de espécies diferentes. Em geral existe um consenso de 700 a 800 espécies.

No entanto, apenas cerca de quarenta espécies benéficas, responsáveis pela maioria das bactérias intestinais. As principais famílias são conhecidas como Lactobacillus e Bifidobacterium, também conhecidas como PRObióticas.

Segundo o dr. José Roberto Kamer pós graduado em nutrologia e formação em Medicina Tradicional Chinesa, a distribuição desta microbiota é aproximadamente assim:

- 20% de bactérias do BEM, importantes na produção de vitaminas,
antioxidantes, hormônios, etc.;

- 30% de bactérias do MAL (patógenas), que
geram doenças e descontroles metabólicos;

- 50% de bactérias que jogam no time que estiver ganhando...

Assim, cabe a cada um de nós manter nossa flora intestinal saudável e feliz, porque ao fortalecermos a presença das 20% do BEM o time ganha 50% de adesão e totalizamos 70% de eficiência. Do contrário serão 80% de bactérias nocivas e não há como evitar os descontroles e as doenças físicas, emocionais, mentais e até espirituais...

Antes do nascimento, o cólon do feto não contém bactéria alguma. Quando o bebê nasce de parto normal, recebe sua primeira flora intestinal da mãe - herança das bactérias benéficas que habitam o canal vaginal. As pesquisas mostram que os bebês que nascem de cesariana têm muito menos bactérias benéficas e muito mais bactérias do MAU.

O contato íntimo com a mãe é importante. O aleitamento materno também ajuda: quando são alimentados no peito, os bebês podem absorver as bactérias benéficas por meio do contato da boca com o bico do peito, e o leite materno é perfeito para alimentar a flora intestinal benéfica.

Você provavelmente traz dentro de si os descendentes diretos das bactérias da sua mãe.

As bactérias da família Bifidobacterium compõem até 90% da flora intestinal de um bebê amamentado no peito. Um estudo publicado pelo Allergy Research Centre, de Estocolmo, em 2001, acompanhou recém-nascidos até os dois anos de idade e descobriu que os que tinham uma flora bacteriana mais numerosa, apresentavam menos chances de desenvolver alergias.

Em uma situação ideal, as boas bactérias estão adaptadas ao seu meio intestinal. Por isso, normalmente prosperam e inviabilizam a proliferação de bactérias nocivas. No entanto, sempre estamos em contato com bactérias potencialmente danosas via: alimentos, quando colocamos alguma coisa na boca, beijo, etc. Assim, as bactérias benéficas precisam estar sempre numerosas, bem alimentadas: em estado de alerta, poder e eficácia.

As bactérias benéficas sobrevivem se alimentando, ou seja, fermentando as fibras alimentares, provenientes dos alimentos de origem vegetal. Esse é um dos motivos pelos quais devemos consumir diariamente frutas e hortaliças, idealmente frescas, cruas e integrais. O organismo não digere as fibras, que passam direto para o cólon, onde as bactérias as esperam famintas.

Existem dois tipos de fibras: as solúveis, que absorvem água, e as insolúveis, que não absorvem água. Nozes, sementes, ervilhas, feijões e lentilhas fornecem grande quantidade de fibras solúveis. As fibras insolúveis são encontradas, por exemplo, no arroz, cenoura e pepino.

Um fato: As fibras solúveis fermentam mais facilmente do que as insolúveis. O principal papel das fibras insolúveis é ocupar espaços, facilitar absorções e criar condições ideais de liberação de nutrientes de volta para o organismo.

A fermentação das fibras produz substâncias benéficas. As bactérias da família Lactobacillus produzem ácido láctico, que reduz significativamente a população de bactérias prejudiciais. Podem também produzir as vitaminas K e B12, que são assimiladas via parede do cólon. A fermentação que ocorre dentro do cólon nos ajuda a absorver sais minerais e alguns produtos da fermentação que podem ajudar a combater o câncer.

Na verdade, cerca de 10% de nossa energia provém do processamento das fibras dentro do intestino.

As boas bactérias desempenham diversos outros papéis importantes. Por exemplo, elas treinam nosso sistema imunológico quando ainda somos bebês, consomem também alguns gases produzidos pelas bactérias prejudiciais, reduzindo a quantidade que temos de "expelir".

Quando a Flora Intestinal está fragilizada

Na maior parte do tempo, as bactérias benéficas prosperam e controlam a situação no cólon. Mas, quando estamos doentes, muito cansados ou tomando antibióticos, a flora intestinal sofre muitas baixas. E pior, aquelas do maus ficam em vantagem e ganham a adesão daquelas 50% que jogam somente no time que está ganhando...

Quando a flora intestinal se encontra em declínio, as bactérias prejudiciais podem se proliferar, transformando-se em uma força dominante e, obviamente, as bactérias benéficas, em minoria e fragilizadas, não conseguem mais desempenhar sua importante função de defesa. A esse desequilíbrio dá-se o nome de DISBIOSE.

Quando a quantidade de fibras que fermentam no intestino é pouca, as fezes podem reter líquido demais, ficar moles e desencadear perdas minerais importantes. Com uma flora intestinal insuficiente, o funcionamento do intestino também será irregular, você pode se sentir letárgico e observar que está expelindo mais gases do que o normal.

Bem, agora que você já se convenceu de que precisa manter as bactérias benéficas felizes e saudáveis, deve estar pensando: "Mas como farei isso?".

Nossa parte é simples: lhes fornecemos um meio ideal para viverem. Basicamente, não pode faltar esta dupla dinâmica:

Água de boa qualidade, idealmente filtrada e Água Solarizada & Cromoterapia
Fibras de boa qualidade, presente nas frutas, folhas, legumes, raízes e sementes germinadas, que é a base da alimentação crua e viva.
Os efeitos positivos sobre a flora intestinal dependem do consumo regular de:

- Alimentos ricos em fibras solúveis, também conhecidos como prebióticos, de preferência pela manhã e outras 2 vezes ao longo do dia.
- Determinados grupos da população podem ser mais vulneráreis a distúrbios gástricos, como idosos, diabéticos, crianças pequenas e pessoas que viajam muito. Nestes casos poderiam se beneficiar do consumo de alimentos enriquecidos com probióticos.

Texto adaptado por Conceição Trucom do livro A verdade sobre a comida - Jill Fullerton-Smith - editora Intrínseca.

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Fonte:  http://cienciahoje.uol.com.br/
          http://www.eufic.org/
          http://www.docelimao.com.br/