CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Tabela periódica ganha quatro novos elementos, todos superpesados

elementab1POR CESAR BAIMA 04/01/2016 - Eles foram descobertos por russos, americanos e japoneses. A União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês) e a União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap) reconheceram a produção de quatro novos elementos químicos, que agora passam a fazer parte oficialmente da tabela periódica. Provisoriamente batizados de ...

ununtrium (Uut), ununpentium (Uup), ununseptium (Uus) e ununoctium (Uuo), eles têm como número atômico, isto é, a quantidade de prótons em seu núcleo, 113, 115, 117 e 118, respectivamente, e completam as lacunas que restavam na sétima linha da tabela.

Criados em laboratório por meio da fusão de átomos de outros elementos, com a ajuda de poderosos aceleradores de partículas , os novos integrantes da tabela periódica não são encontrados na natureza e têm “vidas” extremamente curtas, sofrendo decaimentos radioativos em milésimos de segundo. Diante disso, não existem aplicações práticas possíveis para eles, e é muito difícil saber até quais seriam suas propriedades químicas. Sua produção, no entanto, abre caminho para a síntese de outros elementos superpesados que os cientistas esperam que sejam mais estáveis, aportando numa teórica “ilha de estabilidade”. Desta forma, os novos átomos possibilitariam usos em campos tão variados como a medicina, a química de novos materiais, a geração de energia e a computação.

— Há uma previsão teórica de que a partir de um número atômico por volta de 120 haveria essa “ilha de estabilidade” — comenta Romeu Cardozo Rocha Filho, professor do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). — Assim, embora a produção desses quatro novos elementos seja um trabalho de pesquisa básica, não há nada que impeça a abertura de uma oitava linha na tabela periódica. Este será o grande desafio para os cientistas daqui para frente, ainda mais diante dessa perspectiva de alcançar a “ilha de estabilidade”.

Japoneses comemoram primazia

elementab2

A Iupac e a Iupap atribuíram a criação do ununtrium (113) ao Instituto Riken, no Japão. Já os elementos 115 e 117 foram reconhecidos como resultado da colaboração entre o Instituto Conjunto para Pesquisas Nucleares de Dubna, na Rússia, com os laboratórios nacionais Lawrence Livermore e Oak Ridge, ambos nos EUA. O ununoctium (118), por sua vez, foi apontado como produzido apenas pela instituição em Dubna e pelo Lawrence Livermore. Essas organizações ganham o privilégio de sugerir os nomes oficiais para os novos elementos, limitados por alguns critérios. Mas a palavra final sobre esse “batismo” cabe a um comitê conjunto das uniões de química e física. A última vez que isso ocorreu foi em 2012, quando foram adotados os nomes flerovium (Fl) e livermorium (Lv) para os elementos 114 e 116, cujas descobertas tinham sido reconhecidas pelas duas uniões científicas no ano anterior.

“A comunidade da química está muito feliz em ver sua amada tabela finalmente completa até o fim da sétima linha”, celebrou Jan Reedijk, presidente da divisão de química inorgânica da Iupac, no comunicado sobre a inclusão dos elementos, publicado no site da entidade no último dia 30 de dezembro. “A Iupac deu início agora ao processo para formalizar os nomes e símbolos destes novos elementos”.

A decisão das duas uniões de dar a primazia na produção do ununtrium (113) ao Riken foi especialmente comemorada pelos cientistas da instituição japonesa. Trata-se da primeira vez em que um elemento foi reconhecido como criação de um laboratório na Ásia. Eles iniciaram a busca pelo ununtrium em setembro de 2003, quando o grupo de pesquisadores liderado por Kosuke Morita começou a usar o acelerador de partículas do Riken para bombardear uma fina camada de bismuto (elemento 83) com átomos de zinco (elemento 30), a uma velocidade equivalente a 10% da velocidade da luz, na esperança de que eventualmente se fundissem. Os pesquisadores japoneses relataram seu primeiro sucesso nos experimentos em julho de 2004. Nesta época, a colaboração russo-americana anunciou a identificação do mesmo elemento como resultado do primeiro decaimento radioativo no processo de criação do ununpentium (115). Mas, para a Iupac e a Iupap, a pesquisa nipônica foi pioneira.

— Agora que demonstramos de forma conclusiva a existência do elemento 113, planejamos fazer buscas no território não mapeado do elemento 119 e além, com o objetivo de examinar as propriedades químicas dos elementos nas sétima e oitava filas da tabela periódica e, um dia, descobrir a “ilha de estabilidade” — diz Morita.


Fonte: http://oglobo.globo.com/