CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O que é Computação Cognitiva?

compco topo2015, por Victor Macedo de Moura - O conceito é relativamente novo, mas ditará as mudanças tecnológicas em um futuro próximo. Computação cognitiva trata-se da capacidade de computadores pensarem (quase) como seres humanos. No início da computação, os computadores eram capazes de efetuar cálculos, evoluindo para a utilização de sistemas programáveis (como conhecemos hoje) e o próximo passo será a utilização de computadores para o processamento de informações e tomadas de decisões baseadas em aprendizado de experiências anteriores, semelhante ao funcionamento ...

do nosso cérebro. Um exemplo simples e bastante provável de utilização é a análise de quedas ou acentuações de ações na bolsa de valores e indicar qual a melhor opção para investir a partir de dados previamente informados (seja por uma entrada manual, ou por aprendizado e analises anteriores).

A utilização de grande repercussão da computação cognitiva foi em 2011, com a utilização do sistema de computação cognitiva da IBM batizado de Watson, que conseguiu derrotar dois conhecidos vencedores de um programa de perguntas e respostas da televisão americana, chamado Jeopardy.

No Brasil, a IBM sentiu a necessidade de parcerias para que a tecnologia seja ensinada já na universidade e firmou parceria com três universidades para formar profissionais especializados em computação cognitiva. Já a partir de 2016, Mackenzie, ESPM e Insper contarão com matérias relacionadas ao tema em cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado.

Aplicações

 

Medicina

Certos tratamentos da medicina, baseiam-se na combinação de inúmeras fontes de conhecimento. Um oncologista, para identificar o melhor tratamento para tratar certo tipo de câncer, precisa analisar uma infinidade de dados, como: a idade do paciente, o aparecimento da lesão, as condições de cirurgia, o tipo da doença e etc e combinar tudo isso com a experiência e conhecimento adquiridos ao longo do exercício da função para então tomar uma decisão. A partir da ideia de contar com a ajuda de um computador que faça essa análise a partir de informações coletadas pelo próprio médico junto ao paciente e em seguida retorne opções de tratamento surgiu o Watson Oncology, um sistema que usa a computação cognitiva para recomendar tratamentos contra o câncer. Seu banco de dados inclui milhares e milhares de pesquisas científicas na área, além de históricos reais de pacientes que se livraram ou não da doença. A IBM possui parceria com dois hospitais líderes no tratamento do câncer nos Estados Unidos, que já estão trabalhando com o Watson Oncology: o MD Anderson, em Houston, no Texas, e o Memorial Sloan-Kettering, em Nova York.

Música

O MusicGeek, aplicativo criado pela empresa britânica Decibel Music Systems, usa a tecnologia Watson para procurar pela internet e identificar conexões e tendências musicais, a partir de uma busca feita pelo usuário no próprio aplicativo. Essa pesquisa pode ser o nome de um artista, canção, álbum, tema, estilo musical, localização, ou a combinação de dois ou mais termos.

O próximo passo é associar esses conhecimentos adquiridos na web com as informações já presentes no banco de dados da Decibel. Em questão de segundos, o usuário recebe uma lista inteligente de recomendações de novas músicas e seus respectivos artistas, todas relacionadas à busca inicial. Esse vídeo aqui explica como vai funcionar, em inglês.

Justiça

Outro campo onde a computação cognitiva pode atuar de forma muito eficiente é na área jurídica. Primeiro: os processos se repetem, mas cada um tem suas mínimas particularidades. Segundo: tudo deve ser julgado com base nas leis. Por que não jogar todas essas informações num computador?

Culinária

Talvez a forma mais acessível de usar a computação cognitiva no dia-a-dia, utilizando-se do banco de dados do Bon Appétit, um dos maiores sites de receitas do mundo, a IBM criou o aplicativo Chef Watson, que utiliza a computação cognitiva para fazer recomendações de receitas levando em consideração o gosto dos usuários. Por exemplo: você tem tomate, aipo e gengibre e quer usá-los para preparar o almoço. No site do programa, você seleciona esses três alimentos e vai receber algumas ideias de receitas, assim como a chance dessa mistura dar certo.

E o mais interessante: você selecionou os ingredientes, o sistema sugeriu uma receita, você preparou e aprovou o prato e então na próxima vez que alguém misturar os mesmos ingredientes, a resposta do Watson vai ser ainda mais certeira, pois ele ‘aprendeu’ que aquela combinação dá certo. Conforme vai sendo utilizado, o sistema também é capaz de “aprender” as preferências culinárias do próprio usuário, fazendo recomendações cada vez mais coerentes e com maior probabilidade de acerto.

O Chef Watson já está disponível gratuitamente na internet, em inglês. O projeto também virou livro, chamado Cognitive cooking with Chef Watson, que reúne 65 receitas com combinações inéditas de ingredientes criadas a partir do aplicativo. Também em inglês, está sendo vendido na Amazon desde abril deste ano, com entrega no Brasil.

Carreiras que podem surgir com a disseminação da computação cognitiva

Engenheiro de internet das coisas, nanomédico, ciberpolicial. São centenas de novas carreiras nascidas da combinação entre inteligência humana e digital. Ao mesmo tempo, a computação cognitiva tem o poder de eliminar muitos empregos, inclusive os mais qualificados e dependentes de raciocínio. Os mais radicais futuristas chegam a prever o fim do trabalho. Você pode participar do humanbrainproject.eu, que reúne cientistas do mundo todo para compreender o impacto dessa nova era na humanidade e nos levar a outras fronteiras do pensamento.


Computação Cognitiva: Sete Maneiras de de mudar, de vez, a vida das pessoas

compco1


2015, por Érika Koday - “Se existe algo mais importante que o conhecimento, é saber como usar esse conhecimento”, diz Fábio Gandour, cientista-chefe da IBM Brasil. Essa frase pode resumir o próximo grande avanço da humanidade no campo tecnológico, que já está acontecendo em passos tímidos, como todo início de grandes transformações. A computação cognitiva, termo técnico desse avanço, promete mudar a forma como tratamos a informação.

Fazendo um resumo rápido da história da computação, as máquinas mais antigas eram capazes de fazer cálculos. Anos depois, surgiram os sistemas programáveis, que são aqueles utilizados até hoje em nossos celulares, por exemplo. O próximo passo, a computação cognitiva, traz uma tecnologia capaz de processar informações e de aprender com elas de forma muito semelhante ao cérebro humano, sem que precise ser programada.

“A complexidade do mundo em termos de variedade de opções nos coloca num momento em que precisamos de uma máquina para apoiar nossas decisões”, diz Gandour, que afirma estarmos entrando numa nova era. “Antes, a computação era capaz apenas de produzir e distribuir conhecimento. Agora, ela não só dá o conhecimento, mas também formas inteligentes de usá-lo.”

Um exemplo simples de como a computação cognitiva pode funcionar: você tem R$ 5 mil e quer fazer uma aplicação. O computador tem seus dados e sabe que você é uma pessoa propensa a aceitar riscos. Ele então vai lhe dar um leque de opções, com suas respectivas probabilidades de sucesso, baseadas em evidências reais: aplicação na bolsa, investimento no mercado de derivativo, colocar na poupança, e por aí vai.

A multinacional IBM entrou na nova era da tecnologia com seu sistema de computação cognitiva Watson, já utilizado em diferentes indústrias. “Neste momento, estamos atravessando uma ponte entre ciência e tecnologia e chegando à praia do negócio”, diz o cientista da empresa. (Os exemplos estão na lista abaixo).

Tudo começou em 2011, quando a companhia colocou sua máquina para competir com dois conhecidos vencedores de um programa popular de perguntas e respostas da televisão americana, chamado Jeopardy. Resultado: o Watson venceu os concorrentes por uma larga margem de pontos (foto acima). O evento teve forte impacto na mídia, e hoje a IBM já possui mais de 280 parceiros comerciais para o uso de sua tecnologia.

No Brasil, a companhia americana sentiu a necessidade de ensinar, na universidade, essa nova tecnologia. “O que adianta termos uma ciência altamente sofisticada se as pessoas não souberem usá-la?”, diz Gandour, ao contar que a IBM firmou acordo com três instituições de ensino em São Paulo para formar profissionais especializados em computação cognitiva.

A partir de 2016, Mackenzie, ESPM e Insper ganharão disciplinas relacionadas a este tema em cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado em diversas áreas. De acordo com o cientista, que está à frente dessas parcerias, essas serão as primeiras cadeiras ligadas à tecnologia da cognição no país. “O que há nas escolas brasileiras é a velha e boa inteligência artificial”, afirma. “Lá fora, por outro lado, a IBM já tem contrato com 130 universidades. Aqui temos três, mas é um começo.”

Conheça abaixo sete provas de que a computação cognitiva é de fato capaz de mudar a vida de pessoas e profissionais:

1. Na cura do câncer

“O tratamento do câncer é a ponderação de inúmeras fontes de conhecimento”, afirma Gandour, graduado em medicina. Um oncologista, para identificar a melhor terapêutica para tratar certo tipo de câncer, precisa analisar uma infinidade de dados — a idade do paciente, o aparecimento da lesão, as condições de cirurgia, o tipo da doença, e por aí vai —, e então aliar todo esse conhecimento à própria experiência. “Ele tem de olhar em todas as fontes de conhecimento para tomar uma decisão. E não está dando”, diz o cientista, completando que a tecnologia pode exercer essa função de forma muito mais precisa.

Assim surgiu o Watson Oncology, um sistema que usa a computação cognitiva para recomendar tratamentos contra o câncer. Seu banco de dados inclui milhares e milhares de pesquisas científicas na área, além de históricos reais de pacientes que se livraram ou não da doença. Eis como funciona: o médico garimpa todas as informações necessárias sobre o enfermo e as fornece ao computador, que responderá com os possíveis tratamentos e suas chances de cura. “O Watson vai dizer ao médico: ‘se você usar o protocolo x, a probabilidade de dar certo é de 61%. Se não puder usar esse protocolo, você pode usar o y, mas a probabilidade de cura é só de 50%’”, afirma Gandour.

A IBM possui parceria com dois hospitais líderes no tratamento do câncer nos Estados Unidos, que já estão trabalhando com o Watson Oncology: o MD Anderson, em Houston, no Texas, e o o Memorial Sloan-Kettering, em Nova York.

2. Na música

Um recém-anunciado aplicativo quer mudar a forma como as pessoas ouvem música e descobrem novos artistas e sons. O MusicGeek, criado pela empresa britânica Decibel Music Systems, usa a tecnologia Watson para vasculhar a internet — de sites a mídias sociais — e identificar conexões e tendências musicais, a partir de uma busca feita pelo usuário no próprio aplicativo. Essa pesquisa pode ser o nome de um artista, canção, álbum, tema, estilo musical, localização, ou a combinação de dois ou mais termos.

O próximo passo é associar esses conhecimentos adquiridos na web com as informações já presentes no banco de dados da Decibel. Em questão de segundos, o usuário recebe uma lista inteligente de recomendações de novas músicas e seus respectivos artistas, todas relacionadas à busca inicial. Esse vídeo aqui explica como vai funcionar, em inglês.

3. Na culinária

Essa aqui talvez seja a forma mais acessível de usar a computação cognitiva no dia-a-dia. Com o banco de dados do Bon Appétit, um dos maiores sites de receitas do mundo, a IBM criou o aplicativo Chef Watson, que utiliza a computação cognitiva para fazer recomendações culinárias, levando em conta o próprio gosto pessoal de usuários.

Um exemplo: você tem tomate, aipo e gengibre na geladeira, e quer usar esses ingredientes para preparar o almoço. No site do programa, você seleciona esses três alimentos e vai receber algumas ideias de receitas, assim como a chance dessa mistura dar certo. “Por outro lado, se os ingredientes são mais incompatíveis, como banana, chuchu e vinho, por exemplo, a probabilidade de convergência dessas respostas vai ser baixíssima”, afirma Gandour.

E aqui entra, com ainda mais força, a computação cognitiva: você selecionou tomate, aipo e gengibre, o sistema sugeriu uma receita, você preparou e aprovou o prato. No site, você dá um feedback positivo. O que acontece? “Na próxima vez que alguém na Malásia quiser misturar tomate, aipo e gengibre, a resposta do Watson vai ser ainda mais favorável, pois ele ‘aprendeu’ que aquela combinação dá certo”, diz o cientista. Com o uso, o chef digital também é capaz de "aprender" as preferências culinárias do próprio usuário, fazendo recomendações cada vez mais certeiras.

O Chef Watson já está disponível gratuitamente na internet, em inglês. O projeto também virou livro, chamado Cognitive cooking with Chef Watson, que reúne 65 receitas com combinações inéditas de ingredientes criadas a partir do aplicativo. Também em inglês, está sendo vendido na Amazon desde abril deste ano, com entrega no Brasil.

4. Na indústria hoteleira

Com a computação cognitiva, a experiência em viagens também pode melhorar. A empresa Go Moment, por exemplo, especializada em soluções móveis para a indústria hoteleira, criou em parceria com a IBM o aplicativo Rev1. Oferecido a hotéis, o sistema é capaz de responder, no mesmo minuto, dúvidas simples dos hóspedes e atender a algumas de suas necessidades, como o pedido de refeições no quarto ou recomendações de pontos turísticos da cidade.

O hóspede quer saber o horário em que o café da manhã é servido? O “concierge digital” lhe responde na hora. Dessa forma, a equipe do estabelecimento fica mais livre para realizar as funções que pedem um tratamento mais pessoal. O hotel The Line, em Los Angeles, nos Estados Unidos, começou a usar o serviço em março deste ano.

5. Nos cuidados com a saúde

Esse serviço funciona de maneira bem parecida com o direcionado ao câncer, mas tem como objetivo o atendimento altamente personalizado de pacientes de hospitais, de uma forma geral. A empresa americana hc1.com, por exemplo, já está utilizando a tecnologia Watson para esse fim.

O novo sistema analisa várias fontes de dados — de postagens em redes sociais a pesquisas científicas — para reunir conhecimentos, ou ‘insights’, sobre a personalidade de cada indivíduo. Em seguida, esses dados são fornecidos a médicos e a outros profissionais da saúde para que eles atendam seus pacientes de forma mais personalizada, aumentando assim a confiança e fidelidade dos clientes com o hospital. Além disso, a tecnologia permite que os centros de saúde entendam melhor a população de pacientes de cada região, algo que já está sendo feito pelo grupo Eskenazi Health, também nos Estados Unidos.

Outra forma de usar a computação cognitiva nos cuidados com a saúde é por meio do aplicativo CafeWell Concierge, criado pela companhia americana Welltok e já disponível para dispositivos móveis, em inglês. Operado pela tecnologia Watson, o sistema analisa as condições da saúde, os interesses pessoais e os objetivos de cada paciente para então fornecer recomendações mais personalizadas de cuidados com o corpo.

6. Na indústria de energia

Empresas de energia enfrentam o crescente desafio de se manter alinhadas com as diretrizes regulamentadoras do ramo. E usamos aqui o termo “desafio” porque os requisitos legais para se operar refinarias e fábricas de produtos químicos podem ser escritos em muitas milhares de páginas. Sem contar com o valor das multas pelo descumprimento da lei, que não para de crescer. Assim, os técnicos encarregados de manter as fábricas funcionando são obrigados a conhecer linha por linha da legislação, para não correr riscos. Aqui, um computador inteligente cairia bem.

A computação cognitiva já está operando num sistema chamado NLG (sigla para Geração de Linguagem Natural, em inglês), da companhia britânica Arria, oferecido a empresas de energia. A engenhoca é capaz de consultar a legislação para obter as respostas necessárias, combinar esse conhecimento jurídico com o conhecimento prático da área e então gerar, em segundos, relatórios que vão ajudar na decisão dos especialistas. Menos tempo e menos riscos.

7. Na Justiça

Outro campo onde a computação cognitiva pode atuar de forma muito eficiente é na área jurídica. Primeiro: os processos se repetem, mas cada um tem suas mínimas particularidades. Segundo: tudo deve ser julgado com base nas leis. Por que não jogar todas essas informações — históricos de processos e a legislação vigente — num computador? “O juiz tem de tomar uma decisão com base num calhamaço de papéis do processo. Ele pode ler todas as duas mil páginas e compará-las com a lei, dentro do seu entendimento. Ou pode usar o Watson, que vai ajudá-lo a interpretar o processo à luz da jurisprudência existente”, diz Fábio Gandour.


Preparado para a era da computação cognitiva?

compco2


2016 - Cognição é o processo da mente humana que permite a aquisição de conhecimento a partir de informações captadas pelos sentidos. Com o avanço dos computadores, essa capacidade começa a integrar uma nova geração de máquinas que pode ajudar a sociedade em uma série de atividades, do combate a doenças graves à prevenção de fraudes no sistema financeiro.

“A computação cognitiva possibilita ao computador aprender como o cérebro humano e utilizar esse conhecimento”, diz José Augusto Stuchi, pesquisador sênior e líder da plataforma tecnológica cognitiva do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), um dos maiores centros de pesquisa em TI da América Latina, localizado na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

Os sistemas tornam-se capazes de compreender a linguagem natural dos humanos, como a voz, além de texto, imagem e outros dados considerados desestruturados, aqueles que ainda não foram convertidos para a linguagem das máquinas tradicionais.

Os programas de computadores regulares funcionam a partir de uma série de instruções escritas por programadores humanos. Os softwares são compostos de muitas linhas de código, que explicam à máquina exatamente o que ela deve fazer. O trajeto já está preestabelecido. Pense, por exemplo, num programa de reconhecimento de imagens.

Essa tecnologia pode ser usada para diversas finalidades, como categorizar células tumorais para um laboratório ou catalogar fotos de cachorros em uma ferramenta de busca online. Da maneira tradicional, o programador faria isso ordenando o software a executar uma série de tarefas, como medir as proporções da imagem e identificar as cores dos pixels, para concluir a partir desses resultados.

Na computação cognitiva, isso acontece de maneira diferente. O programa de computador deve estar equipado com algoritmos de aprendizado, que são treinados para executar determinada tarefa. No exemplo do reconhecimento de imagens, a máquina poderia ser alimentada com fotos diversas e, a partir delas, estabelecer suas próprias regras e estratégias para atingir o objetivo.

Esses algoritmos, que se tornam cada vez mais complexos e sofisticados, são uma das bases da tecnologia de computação cognitiva. De certa forma, a máquina passa a ser capaz de “raciocinar”, gerando novos conceitos, insights e hipóteses. “A grande sacada é que, a partir de poucos exemplos, a rede consegue generalizar”, diz Stuchi. Além disso, o sistema pode aprender com o tempo, tornando-se gradualmente mais valioso e inteligente.

Um dos fundamentos da computação cognitiva é a disponibilidade de dados e, com a tendência do big data, a quantidade de informações disponíveis já é enorme. Além disso, a ascensão da internet das coisas ampliará essa oferta, graças aos sensores que passarão a equipar até aparelhos domésticos, como geladeiras e máquinas de lavar.

A computação cognitiva melhora também previsões baseadas em tendências anteriores, que podem ser usadas na medicina ou na meteorologia, para citar dois campos que já são beneficiados. Resultados de exames e diagnósticos ajudam a explicar o comportamento de um tipo de tumor, além de indicar a melhor forma de tratamento, assim como uma série histórica de temperaturas ajuda na previsão climática para uma determinada área do país.

“Um médico decide se um paciente está doente ou não com base na sua experiência. Ele vai a congressos, atualiza-se, mas ainda assim possui um conhecimento limitado e toma decisões a partir disso”, diz Stuchi, do CPqD. “A computação cognitiva propõe que esse mesmo médico seja auxiliado por uma base gigantesca de informações.”

Para processar tudo isso, novos computadores são fabricados especialmente com essa finalidade. Eles têm múltiplos núcleos de processamento, quantidades enormes de memória RAM, assim como placas gráficas (GPUs) poderosíssimas, capazes de fazer processamento paralelo, o que acelera o trabalho.

O Watson, da IBM, é um exemplo de sistema avançado que usa a computação cognitiva. Famoso por ter vencido humanos no Jeopardy, um popular jogo de perguntas e respostas dos Estados Unidos, ao acessar uma vasta base de conhecimento, o Watson pode ser usado em diferentes áreas do conhecimento.

Atualmente, um de seus usos é no combate ao câncer, auxiliando médicos com sua crescente base de dados sobre a doença. O Watson pode ser alimentado com pesquisas acadêmicas e outras fontes, de forma a apoiar o processo de decisão.

No livro De Zero a Um, o empreendedor bilionário Peter Thiel, um dos primeiros investidores do Facebook e especialista na evolução tecnológica, explica que essa nova geração de sistemas já auxilia os humanos como “supercérebros”. Ao entregar uma grande capacidade de processamento, esses sistemas ajudam a sociedade global a superar alguns de seus maiores desafios. E esse é apenas o início da nova era da computação cognitiva.


Em 5 anos, a Computação Cognitiva mudará o mundo para melhor

compco3


Por Silvia Bassi, 2016 - Em 2011, Ginni Rometty, presidente e CEO da IBM, apostou o futuro da companhia em um computador cognitivo que tinha em seu currículo o feito de ter vencido seres humanos em um programa de perguntas e respostas na televisão americana (o Jeopoardy). Cinco anos depois, Rometty subiu ao palco da conferência World of Watson na tarde da quarta-feira (26/10) e, para um auditório lotado com mais de 18 mil pessoas, junto com parceiros como a fabricante de automóveis GM, a gigante farmacêutica Teva, o Secretário de Educação do Governo norte-americano, e o renomado especialista em genoma humano, professor Satoru Miyano, mostrou que sua aposta gerou frutos e poderá de fato mudar o mundo.

"Agradeço a todos vocês, clientes e parceiros, em nome da IBM, a confiança que depositaram desde o início na nossa estratégia com Watson", disse Rometty. A platéia correspondeu com entusiasmo, especialmente levando em conta as cifras dessa aposta: por volta de 2025, segundo a CEO da IBM, o mercado de computação cognitiva e inteligência artificial deverá representar mais de 2 trilhões de dólares.

Os próximos cinco

Para Rometty, nos próximos cinco anos toda decisão importante, profissional ou pessoal, poderá ser feita com a ajuda do IBM Watson. O computador cognitivo da IBM é a plataforma de todo um ecossistema que, utilizando tecnologias de inteligência artificial e aprendizado de máquina, está funcionando em diferentes verticais econômicas, como saúde, finanças, entretenimento e varejo, conectando consumidores e empresas através da nuvem e fornecendo soluções por meio do entendimento de big data e analytics.

Rometty diz que a sigla A.I. do Watson não se refere a inteligência artificial (Artificial Intelligence) e sim a Inteligência Aumentada (Augmented Intelligence). "Nossa meta é ampliar a inteligência humana. Miramos em um mundo homem e máquina. Nosso foco é estender e ampliar o expertise humano em qualquer área. Professores, médicos, advogados, não interessa sua área de atuação, nós vamos ampliar seu conhecimento".

O mercado de IA hoje ainda é jovem e em formação e a IBM fincou sua bandeira nele transformando seu Watson em uma das grandes forças e atraindo clientes e parceiros como General Motors, GlaxoSmithKline, Staples, Teva Pharmaceuticals, a American Cancer Society, a Cleveland Clinic e o Bradesco, entre outros. Até o final de 2016, a tecnologia Watson, segundo Rometty, terá tocado centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo que, em muitos casos, nem vão notar sua presença, apenas os benefícios.

Watson e os motoristas

Um dos exemplos é a parceria com a GM, anunciada também na quarta-feira. A chaiman e CEO da GM, Mary Barra, subiu ao palcom junto com Rometty para falar da parceria, que leva os recursos cognitivos do Watson para dentro da plataforma móvel OnStar, que equipa os carros da montadora.

A OnStar, que já existe há 20 anos, oferece aos motoristas comunicação intraveicular, segurança, recursos de navegação, diagnóstico remoto de problemas e chamadas externas hands-free. Com o Watson trabalhando nos bastidores do OnStar Go, os motoristas passarão a ter recursos de computação cognitiva como, por exemplo, ser alertado sobre o risco de ficar sem combustível e receber o melhor trajeto para evitar tráfego até o posto mais próximo.

Ou pedir um café em linguagem natural, pagar de dentro do carro, e apenas passar na sua cafeteria predileta para retirar o copo da bebida quentinha (tradição para os norte-americanos) a caminho do trabalho. Ou ser lembrado pelo carro, ao voltar para casa, que precisa parar na farmácia para comprar remédios.

A solução OnStar Go baseada em Watson começará a circular nos carros no início de 2017, e até o final do ano "milhões de carros estarão com ela", segundo Barra. "Acreditamos que a indústria automobilística verá em cinco anos muito mais mudanças do que viu nos últimos 50 anos. Vemos uma tremenda oportunidade para transformar a mobilidade pessoal. Pense como será levar o OnStar a outro patamar, conhecendo você e sua vida e o seu dia a dia e oferecendo facilidades e segurança. Podemos pegar o tempo gasto no trânsito e transformá-lo em qualidade de vida".

Na medicina, a diferença entre vida e morte

Revolucionar a saúde é uma das metas mais ambiciosas da IBM com Watson. E um dos convidados de Ginni Rometty ao palco, o professor Satoru Miyano, do Centro de Genoma Humano do Instituto de Ciências Médicas da Universidade de Tóquio, mostrou como o uso da plataforma pode fazer a diferença entre a vida e a morte de um paciente. Miyano explicou que pesquisadores e médicos enfrentam diariamente muita dificuldade para conseguir acompanhar a montanha de dados sobre suas especialidades. Só no ano passado, por exemplo, foram publicados mais de 200 mil estudos sobre câncer. Ao mesmo tempo, os oncologistas lidam com um cenário com mais de 4 milhões de mutações patológicas de genes ligadas ao câncer já identificadas.

"Ninguém consegue ler tudo isso", disse Miyano. "Nos sentimos como uma rã no fundo do poço. Entender o câncer está acima da capacidade humana mas o Watson pode ler, entender e aprender. Por que não usá-lo?" E, de fato, os pesquisadores estão usando Watson para navegar pelo mundo de dados e, cruzando informações com fichas de pacientes e dados de específicos de cada genoma, achar a melhor forma de tratamento.

O exemplo mais contundente veio de uma paciente de 66 anos, com leucemia. Segundo Miyano ela recebia tratamento padronizado contra a doença mas piorava, Os médicos não entendiam por que ela ficava mais doente. Usando o Watson, em 10 minutos conseguiram analisar os dados da paciente contra os dados da base gigante de conhecimento. Os resultados apresentados por Watson forma investigados e os médicos descobriram que Watson tinha apontado um problema em um gene que levava a um tipo diference de leucemia que exigiria outro tratamento. Mudaram a terapia e a paciente está recuperada completamente.

Watson na frente

Os exemplos, as parcerias e os projetos comerciais da IBM com o Watson mostram que a empresa está aproveitando o momento de "tela limpa" para se reinventar novamente e tentar dominar um mercado emergente gigantesco. Se vai conseguir, diz o analista da indústria Jeff Kagan, "depende de como ela conseguir definir o markeplace". "Liderar o mercado hoje é fácil para o Watson, já que a companhia começou na frente, mas para se manter na liderança em dez anos a IBM precisará desenhar muito bem o mercado e controlar as expectativas". Para Kagan, as chances são boas: "A IBM está em uma posição hoje de criar a base sobre a qual toda a indústria vai se erguer. Alguém tem de criar essa base". Depois da conferência de ontem, ficou claro que Ginni Rometty quer essa posição. E tem apoio para isso.

compco4


Fonte: http://blog.betalabs.com.br
           http://epoca.globo.com
           http://exame.abril.com.br
           http://cio.com.br