CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Giardia Lamblia (giardíase): sintomas e tratamento

giar1Dr. Pedro Pinheiro - A Giardia lamblia, também chamada de Giardia intestinalis ou Giardia duodenale, é um protozoário que pode parasitar os intestinos dos seres humanos e causar diarreia e dor abdominal. A doença causada pela Giardia lamblia recebe o nome de giardíase ou giardiose, e sua transmissão se dá pelo contato com fezes de pessoas contaminadas. A Giardia possui duas formas morfológicas: cistos e trofozoítas. Os cistos são as formas do parasita liberadas pelas fezes dos pacientes infectados, podendo sobreviver por muito tempo no ambiente se houver umidade.

A transmissão da Giárdia é fecal-oral, ou seja, ocorre pela ingestão dos cistos de Giardia que saem nas fezes de humanos ou outros mamíferos. Quanto piores forem as condições de saneamento de um local, maior o risco de epidemias de giardíase. Falarei especificamente dos meios de transmissão mais abaixo. Após a ingestão do cisto, a Giardia, no intestino delgado, se transforma na forma trofozoíta, tornando-se organismos flagelados que medem apenas 15 micrômetros (0,015 milímetros). Para um melhor entendimento, podemos dizer que os cistos funcionam como ovos e os trofozoítas são os filhotes que saem do mesmo. Os trofozoítas são a forma capaz de se reproduzir, multiplicando-se dentro do intestino delgado do paciente contaminado, aderindo a sua parede e alimentando-se da comida que passa.Quando o parasita chega ao intestino grosso, ele volta a forma de cisto, pois este é o único meio de sobreviver no meio ambiente após a sua eliminação nas fezes.

FORMAS DE TRANSMISSÃO

Como já dito, a giardíase é transmitida pela via fecal-oral. Qualquer situação em que os cistos de Giárdia liberados nas fezes alcancem a boca de outras pessoas, causará a contaminação. Alguns exemplos:

Beber ou banhar-se em águas contaminadas (leia: DOENÇAS TRANSMITIDAS PELA ÁGUA).

Contaminação de alimentos por mãos mal lavadas. O processo de cozimento mata os cistos da Giárdia, portanto, este modo de transmissão é mais comum com alimentos crus ou contaminados somente após estarem prontos.

Leia também - Os adesivos de microagulha fluorescentes detectam biomarcadores em níveis muito mais baixos

Creches e instituições de idosos onde há pouca preocupação com higiene.

Sexo anal.

Contato com fezes de cães e gatos contaminados.

Manuseio de solo contaminado sem a devida limpeza posterior das mãos.

 

SINTOMAS

A maioria das pessoas contaminadas pela Giardia lamblia não apresentarão sintomas. Naqueles que terão sintomas, os mais comuns são:

Diarreia, normalmente bem líquida, mas por vezes gordurosa, chamada de esteatorreia.

Cólicas abdominais.

Mal-estar.

Flatulência.

Náuseas e vômitos.

Emagrecimento.

Febre é um sintoma menos comum e ocorre em menos de 15% dos casos. Os sintomas descritos acima costumam surgir em aproximadamente 1 a 2 semanas após a contaminação com os cistos de Giárdia, durando em média por 2 a 4 semanas. Após uma fase aguda, cerca de 2/3 dos pacientes que tiveram sintomas apresentam melhora espontânea. 1/3, porém, desenvolvem a infecção crônica pela Giárdia, mantendo-se infectados e sintomáticos por longos períodos. Na giardíase crônica, os sintomas mais comuns são:

Fezes pastosas.

Esteatorreia (fezes gordurosas e com forte odor).

Perda de peso importante.

Cansaço.

Depressão.

Um dos principais problemas da infecção pela Giárdia é a síndrome de má absorção, caracterizada clinicamente pela perda de peso e esteatorreia. O paciente com giardíase apresenta dificuldade em digerir gorduras, carboidratos e vitaminas. Até 40% dos pacientes desenvolvem intolerância à lactose.

DIAGNÓSTICO

A infecção pela Giárdia é normalmente diagnosticada através do exame parasitológico de fezes. Como o parasita é eliminado de modo intermitente, a coleta de pelo menos três amostras de fezes aumenta a chance de encontrarmos cistos.

TRATAMENTO

O tratamento da infecção pela Giardia tem dois objetivos: eliminar os sintomas nos pacientes sintomáticos e interromper a eliminação dos cistos pelas fezes, quebrando a cadeia de transmissão. Os esquemas terapêuticos mais indicados são os seguintes (doses para adultos):

Tinidazol (Pletil) 2000 mg em dose única.

Secnidazol (Secnidal) 2000 mg em única.

Metronidazol (Flagyl) 500 mg – 2 vezes por dia por 5 dias.

Nitazoxanida (Annita) 500 mg – 2 vezes por dia por 3 dias.

Albendazol (Zolben, Zentel) 400 mg – 1 vez por dia por 5 dias.

Mebendazol (Pantelmin) 300 mg – 3 vezes por dia por 5 dias.

Tratamento nas grávidas

Como a Giardia lamblia em si não faz mal para o bebê, nas grávidas com giardíase leve, que são capazes de se manter hidratadas e bem nutridas, é razoável adiar o tratamento até pelo menos o segundo trimestre para minimizar o risco de efeitos adversos dos fármacos para o feto. Porém, se o obstetra entender que o tratamento é necessário durante o primeiro trimestre, o medicamento mais seguro é a paromomicina (10 mg/kg por via oral, 3 vezes por dia, por 5 a 10 dias), por apresentar absorção sistêmica limitada. Durante o segundo e terceiro trimestres de gravidez, agentes antimicrobianos aceitáveis incluem paromomicina, tinidazol, nitazoxanida ou metronidazol.

EPISDEMIOLOGIA

A giardíase está distribuída por todo o planeta, sobretudo em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil sua prevalência varia de 12,4% a 50%, dependendo do estudo, da região e da faixa etária pesquisada, predominando nas crianças entre zero e seis anos. Estudo feito em Botucatu, SP, revelou acometimento de crianças em faixa etária predominante de um a quatro anos. Pode ser transmitida por ingestão de cistos que contaminam a água e alimentos (via mais frequente), por contato interpessoal (em enfermos institucionalizados — p. ex., creches e hospitais psiquiátricos) e via sexual (sexo anal/ oral), a qual é teoricamente possível, mas não plenamente aceita por todos os autores.

Leia também - Moléculas orgânicas descobertas por Curiosity Rover consistentes com o início da vida em Marte: estudo

PATOGÊNESE

O processo patológico depende do número de parasitos que colonizam o intestino delgado, da cepa do protozoário e do sinergismo entre bactérias e fungos, além de fatores inerentes ao hospedeiro, como hipocloridria e deficiência de IgA e IgE na mucosa digestiva. Uma alta carga parasitária pode provocar ação irritativa sobre a mucosa intestinal, levando à produção excessiva de muco e a alterações da produção de enzimas digestivas — principalmente dissacaridases —, ocasionando intolerância ao leite e derivados, além da formação de barreira mecânica. Todos dificultam a absorção (vitaminas lipossolúveis, ácidos graxos, vitamina B12, ácido fólico e ferro).

ASPECTOS CLÍNICOS

A maioria dos casos é assintomática ou oligossintomática, sobretudo em pacientes adultos. Contudo, a doença pode apresentar amplo espectro clínico em crianças ou adultos jovens; as crianças pequenas podem, em raros casos, evoluir com hemorragia retal e fenômenos alérgicos. As manifestações podem surgir de forma súbita ou gradual.

OUTRAS MANIFESTAÇÕES IMPORTANTES

Outras apresentações clínicas menos comuns são: síndrome de má absorção, que causa emagrecimento, anorexia, distensão abdominal, flatulência, desnutrição, raquitismo e esteatorreia, além de anemia; síndrome dispéptica, com sensação de desconforto epigástrico, plenitude gástrica pós-prandial, eructações, pirose e náuseas, além de vômitos; e síndrome pseudoulcerosa, constituída por dor epigástrica ou pirose, que melhora com a ingestão de alimentos e retorna com o jejum.

Fonte: https://www.mdsaude.com/
           https://fernandobraganca.com.br/