CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O que são os telômeros, a chave do envelhecimento estudada pelos cientistas

talome103/04/2018/ por Daniel B. Dentillo - O nome vem do grego - significa "parte final", exatamente o que são os telômeros: as extremidades dos cromossomos, como aquelas pontas de plástico dos cadarços do tênis. Eles são partes do DNA muito repetitivas e não codificantes - sua função principal é proteger o material genético que o cromossomo transporta. Na medida em que nossas células se dividem para se multiplicar e para regenerar os tecidos e órgãos do nosso corpo, a longitude dos telômeros vai se reduzindo e, ...

por isso, com o passar do tempo, eles vão ficando mais curtos. Quando finalmente os telômeros ficam tão pequenos que já não são mais capazes de proteger o DNA, as células param de se reproduzir: alcançam um estado de "velhice". Por isso, a longitude dos telômeros é considerada um "biomarcador de envelhecimento chave" no nível molecular, embora não seja o único. Nos últimos anos, esse aspecto tem chamado a atenção de diversos pesquisadores.

Qual é o tamanho dos telômeros e em quanto tempo eles se deterioram?

A longitude dos telômeros é medida em "pares de base", que são os pares de nucleotídeos opostos e complementares que estão conectados por ligações de hidrogênio na cadeia do DNA. A longitude dos telômeros varia muito entre espécies distintas. No caso dos humanos, a longitude dos telômeros se deteriora passando de uma média de 11 quilobases no nascimento para cerca de 4 quilobases na velhice. Um quilobase é uma unidade de medida da biologia molecular igual a mil pares nucleotídeos - que formam DNA e RNA -, o que significaria mil 'pedaços' na cadeia helicoidal de nosso material genético.

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É possível intervir nos telômeros?

Em 2009, três pesquisadores americanos obtiveram o prêmio Nobel de medicina por seu trabalho sobre o envelhecimento das células e sua relação com o câncer. Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak pesquisaram os telômeros e descobriram que a enzima telomerase pode proteger os cromossomos do envelhecimento - pode fazer com que eles regenerem os telômeros e, assim, prolongar a vida deles. Essa enzima ajuda a impedir o encolhimento dos telômeros com a divisão celular, o que ajuda a manter a juventude biológica das células. Grande parte das pesquisas sobre telômeros não tem a ver com uma aspiração estética de longevidade, mas sim com a potencial cura de doenças. A espanhola María Blasco, que trabalhou nos Estados Unidos com Greider, agora é diretora do Grupo de Telômeros e Telomerasa do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha.

Blasco liderou o desenvolvimento de uma nova técnica que bloqueia a capacidade do glioblastoma, um dos cânceres cerebrais mais agressivos, de se regenerar e reproduzir, atacando precisamente os telômeros das células cancerígenas. Em testes com ratos, a equipe dela conseguiu reduzir o crescimento dos tumores e aumentar a sobrevivência dos animais, algo que poderia abrir as portas para alternativas potenciais de tratamento em humanos. Mas Blasco e sua equipe continuam pesquisando também com estratégias invertidas, conforme explicou à BBC. A intenção é ativar a telomerase de uma forma que seja possível curar pessoas que estão morrendo de doenças raras por mutações genéticas associadas a telômeros muito curtos.

Segredo da juventude?

Mas conter o envelhecimento de células não necessariamente tem como consequência um efeito anti-idade em todo o corpo. Segundo a médica Carmen Martin-Ruiz, pesquisadora sobre envelhecimento do Instituto de Neurociência da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, o tamanho dos telômeros de uma pessoa pode determinar o quão "forte" ela é biologicamente. "Quando uma pessoa tem os telômeros mais longos, é porque ela tem mecanismos metabólicos que o protegem", disse a especialista à BBC. "É como se o seu corpo tivesse sistemas de defesa melhores", explicou. Mas um dos problemas atuais das pesquisas científicas neste campo, segundo a especialista, é que não existe um método padrão e universal para medir os telômeros.

Um estudo recente dos Estados Unidos concluiu que a maternidade encurtou mais os telômeros das mulheres do que o tabaco ou a obesidade, enquanto outra pesquisa feita entre mulheres maias - menor, porém com uma metodologia "mais complexa", segundo Martin-Ruiz - chegou à conclusão oposta: que a maternidade fazia as mulheres ficarem biologicamente mais jovens, já que suas células tinham telômeros mais longos. Martin-Ruiz afirma que cada laboratório utiliza técnicas e metodologias diferentes, o que torna difícil comparar estudos e resultados, porque os cálculos podem ser interpretados de muitas formas diferentes. De qualquer maneira, há um grande grupo de cientistas que está pesquisando aspectos distintos do envelhecimento humano, incluindo os telômeros, as mitocôndrias, a forma das proteínas e muitos outros aspectos desse processo.

 

Telômeros: o que são e como influenciam a nossa saúde

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07/09/2021 - Os telômeros são partes extremamente importantes dos nossos cromossomos que protegem os genes e garantem a estabilidade do nosso código genético. Muito estudados nos últimos anos, sua descoberta rendeu um prêmio Nobel, colocou um holofote na urgência em levarmos um estilo de vida saudável, e abriu novas possibilidades de terapias contra o câncer. É isso o que veremos com mais detalhes neste artigo. Vem com a gente nessa!

O que são telômeros e qual a sua função?

Os telômeros formam a extremidade de cada um dos nossos cromossomos. Apenas para uma rápida revisão: cromossomos são estruturas presentes no núcleo das células e são formados pelo DNA e por proteínas onde o DNA se liga. No total temos 46 cromossomos em nossas células – portanto, podemos dizer que temos 46 moléculas de DNA, sendo que 23 delas vem do pai e 23 da mãe. No final da molécula de DNA de cada um dos nossos cromossomos existe uma parte que não é capaz de gerar nenhuma proteína, mas que tem a função de proteger os genes que estão na região mais interna. Essa parte é chamada de telômero. Em uma analogia bastante usada, podemos comparar o cromossomo a um cadarço. A extremidade, que é mais rígida, protege o cadarço de se desfazer – o mesmo faz o telômero com relação aos genes, formando uma ponta protetora.

Os telômeros e o envelhecimento

Os telômeros dos cromossomos humanos são constituídos de uma curta sequência de nucleotídeos (TTAGGG), mas que se repetem milhares de vezes: TTAGGG-TTAGGG-TTAGGG-TTAGGG… O que acontece é que com o passar do tempo essa sequência se torna cada vez menor. Por exemplo, uma criança tem milhares dessas repetições formando os seus telômeros, e conforme ela chega à vida adulta esse número já é bem menor, com um número reduzido de repetições. Esse encurtamento ocorre porque a cada rodada de multiplicação celular, as células não conseguem refazer adequadamente o comprimento dos telômeros. E isso é algo natural, que ocorre de forma lenta e progressiva conforme a idade avança. Voltando à analogia do cadarço, é como se as pontas dele fossem sendo perdidas à medida que ele é usado.

E quando o tamanho dos telômeros se torna muito pequeno, os genes começam a ficar desprotegidos, as células não conseguem mais se multiplicar, e entram em senescência, um estado de “velhice celular”. Por isso é que o tamanho ou comprimento dos telômeros estão associados à longevidade. Ou seja, quanto mais tempo leva para os telômeros se desgastarem, maior é o tempo de vida útil que a célula tem – e, consequentemente, mais longeva pode ser uma pessoa.

Telomerase, a enzima anti-envelhecimento

Quando nosso organismo está no início do seu desenvolvimento, os telômeros são mantidos do mesmo tamanho, mesmo sendo bastante grande a taxa de multiplicação celular. Isso ocorre pois as células a esta altura são providas de uma enzima chamada telomerase, que é capaz de restabelecer o tamanho dos telômeros ao final de cada ciclo de multiplicação celular. Parênteses: pela identificação desta enzima, junto com a função dos telômeros, um trio de cientistas, liderado pela biologista molecular Elizabeth Blackburn, ganhou o Prêmio Nobel em 2009. O problema é que após a etapa de desenvolvimento, na grande maioria dos tecidos maduros saudáveis, a telomerase para de ser produzida. A partir de então é que os telômeros começam a ter seu tamanho diminuído gradualmente até atingirem um ponto em que as células não se multiplicam mais – está instalado aí o envelhecimento celular! Falando em telomerase, além de abrir portas para tratamentos contra o envelhecimento precoce, a enzima também tem potencial para terapias contra o câncer. Isso porque células cancerosas, que se proliferam intensamente, conseguem ativar a produção dessa enzima. Logo, bloquear sua produção ou atividade nessas células poderia eliminá-las. Está mais que justificado porque a descoberta da telomerase rendeu um Nobel.

A importância dos telômeros para nossa saúde

Nas últimas décadas, os avanços científicos nos brindaram com uma outra descoberta, também de extrema importância: o estilo de vida tem influência sobre o tamanho dos telômeros. Assim, quanto melhor a qualidade de vida, menor é a perda telomérica. Explicando de outra forma, quanto mais saudável é a alimentação, quanto mais frequentes são os exercícios físicos, quanto maior o cuidado com a saúde mental e com as relações pessoais e sociais, menor é o encurtamento dos telômeros. Dessa maneira, por mais que as células se multipliquem, os cromossomos sofrem menos desgaste, e a renovação celular acontece com maior qualidade. E esse é um dos fatores que contribuem para uma melhor saúde e uma maior longevidade.

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Do outro lado, ter hábitos não-saudáveis, como viver estressado, dormir pouco, ingerir comidas ultra-processadas frequentemente, estabelecer más relações com outras pessoas e estar sempre descontente, acelera o encurtamento dos telômeros, comprometendo a expectativa de vida. Assim, temos uma via de mão dupla. Tanto o nosso DNA é capaz de nos dotar de certas características, como nosso estilo de vida pode influenciar o nosso DNA. Logo, ter saúde não depende apenas do que nossos pais nos passaram em seus cromossomos, mas das escolhas que fazemos diariamente!

Fonte: https://www.bbc.com/
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