Inovações e Descobertas

Energia do nada? Não, da rotação da Terra!

Energia do nada? Não, da rotação da Terra!

E se a Terra fosse uma usina gigante? Cientistas dizem que sim — e estão usando o planeta como bateria (quase) grátis. Você já parou pra pensar que, enquanto você lê isso, está se movendo a uns 1.670 km/h só por estar em cima da Terra? Sim, essa velocidade alucinante é a rotação do planeta no equador. E se eu te disser que essa rotação — sim, aquela que faz o sol nascer todo dia — pode estar escondendo uma mina de energia limpa, silenciosa e quase infinita?

Pois é. Em 2025, um grupo de cientistas maluco — ou genial, depende do seu grau de ceticismo — está testando uma ideia tão absurda que parece piada de físico bêbado: gerar eletricidade só porque o planeta gira. E não, não é ficção científica. É física real. E está acontecendo agora, no laboratório da Universidade de Princeton, nos EUA.

O cilindro mágico que não se move… mas gera energia

O nome do personagem principal? Chris Chyba. Astrofísico, ex-da NASA, mente brilhante com um pé no espaço e outro no chão — literalmente. Há cerca de uma década, ele começou a se perguntar: “E se a rotação da Terra pudesse ser ‘roubada’ para gerar eletricidade?” Não, ele não quer parar o planeta. Nem virar vilão de filme da Marvel. Ele quer só pegar um tiquinho da energia rotacional — aquela que faz o globo girar feito um pião — e transformar em volts. E acredite: ele pode estar conseguindo. O segredo? Um cilindro oco de ferrita de manganês-zinco, com 30 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro. Parece um cano de esgoto de brinquedo, mas é feito de um material especial: condutor fraco e escudo magnético ao mesmo tempo. Tipo um super-herói do eletromagnetismo.

O cilindro não se move. Fica parado no laboratório. Mas como ele está colado na Terra, ele gira junto com o planeta. E, ao girar dentro do campo magnético terrestre (aquele que faz a bússola apontar pro norte), surge uma pequena voltagem. Resultado? 18 microvolts. Parece nada, né? É tipo o choque de estática que você leva ao tocar na maçaneta. Mas o que importa aqui não é a quantidade — é o princípio. É a prova de que é possível extrair energia do movimento do planeta.

Como assim, “extrair energia da rotação da Terra”?

Calma, não vamos virar o planeta num dínamo de bicicleta. Mas vamos entender o que está rolando aqui. A Terra tem um campo magnético gigante, criado pelo movimento do ferro líquido no núcleo. Esse campo envolve todo o planeta, como uma concha invisível. Agora, imagina que você tem um objeto dentro desse campo — e ele está se movendo em relação a ele. Aí entra a física do eletromagnetismo: quando um condutor se move num campo magnético, surgem forças sobre os elétrons dentro dele. Em teoria, isso pode gerar uma corrente. É o princípio básico dos geradores elétricos.

Mas tem um problema: na superfície da Terra, tudo está parado em relação ao planeta. Então, por que haveria movimento relativo? Aqui entra a sacada de Chyba: o cilindro não se move em relação ao solo, mas se move em relação ao campo magnético — porque o campo não gira exatamente na mesma velocidade que a crosta. Além disso, o material especial do cilindro impede que os elétrons se reorganizem para anular a força magnética, como acontece em metais comuns. Em termos técnicos: o equilíbrio eletrostático é quebrado. Os elétrons não conseguem “se ajeitar” pra cancelar a força, então uma pequena diferença de potencial se acumula nas extremidades do cilindro.

E é aí que aparecem os 18 microvolts.

“Mas isso é possível? Parece pegadinha!”

Pois é. Quando Chyba e Kevin Hand, do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da NASA), lançaram a ideia em 2016, a comunidade científica explodiu.

Alguns disseram: “Isso viola a conservação de energia!”

Outros: “É só ruído térmico!”

Tem até quem tenha soltado um “tá de brincadeira,

Mas Chyba não desistiu. Ele foi pro laboratório, pegou o cilindro, posicionou ele a 57° em relação ao solo, alinhado de norte a sul — ou seja, perpendicular ao campo magnético terrestre e à direção de rotação — e colocou eletrodos nas pontas. Fez testes em três posições:

0° (posição ideal) → gerou 18 µV
90° (zero teórico) → gerou quase nada
180° (invertido) → gerou sinal negativo

Ou seja: o sinal mudava conforme a orientação, como previsto. E não apareceu em cilindros de controle (como um sólido, que não tem as mesmas propriedades). Mas tinha um vilão no meio do caminho: o efeito Seebeck.

O efeito Seebeck: o ladrão de voltagens

O efeito Seebeck é um fenômeno chato: quando uma extremidade de um material é mais quente que a outra, surgem milivolts do nada. Pode ser uma diferença de 0,1°C — já basta pra gerar ruído. E no laboratório? Sempre tem corrente de ar, variação de temperatura, alguém espirrando perto do equipamento… tudo pode criar um gradiente térmico. Então, os cientistas tiveram que isolar esse efeito. Fizeram medições em diferentes temperaturas, usaram materiais de controle, repetiram o experimento mil vezes. Resultado: parte da voltagem era mesmo do Seebeck. Mas 18 microvolts não podiam ser explicados por ele. Só apareciam no cilindro oco, na orientação correta. Ou seja: o sinal extra existe. E, segundo a teoria, vem do movimento relativo entre o cilindro e o campo magnético terrestre.

Críticas, ceticismo e o peso da tradição

Claro, nem todo mundo engoliu essa. Alguns físicos argumentam que o sistema está em equilíbrio com o campo magnético, então não deveria haver geração de energia. Outros dizem que a energia “extraída” viria da rotação da Terra, o que, em tese, desaceleraria o planeta. Mas calma. Aí entra uma conta que dá arrepio:

👉 A energia rotacional da Terra é da ordem de 10²⁹ joules.
👉 Um bilhão de cilindros gerando 18 µV cada um mal tiraria uma fração ínfima disso.

É como se você bebesse um gole d’água de uma piscina olímpica cheia. O planeta nem sentiria. Além disso, a Terra recebe energia constante do Sol, da Lua (marés) e até do vento solar — então a rotação não é um sistema fechado. Tem “recarga” natural. Ou seja: não vamos parar o planeta por causa de um cilindro de 30 cm.

E agora? Vamos ter tomadas movidas pela rotação da Terra?

Ainda não. Mas o futuro pode estar mais perto do que você pensa. Imagine:

Sensores ambientais em locais remotos, funcionando pra sempre sem bateria.
Dispositivos de baixíssimo consumo alimentados só pelo campo magnético terrestre.
Satélites ou sondas espaciais usando o mesmo princípio em luas como Europa ou Ganimedes, que orbitam dentro do campo magnético de Júpiter.

Aliás, foi pensando nessas luas que Chyba começou a pesquisar. Ele estudava se o movimento delas poderia gerar calor interno — e se perguntou: “Será que isso também funciona aqui?” E agora, em 2025, a ideia saiu do papel. Foi publicada na Physical Review Research, uma das revistas mais respeitadas da física. E, mesmo com críticas, o experimento foi reproduzido com resultados consistentes.

Curiosidades que você vai querer contar no churrasco

🔹 O campo magnético da Terra é fraco — cerca de 45 microteslas. Um imã de geladeira tem uns 5 mil vezes mais força.
🔹 Mesmo assim, um elétron se movendo a 350 m/s (velocidade da rotação na latitude de Princeton) sente uma força de 10 milinewtons por coulomb.
🔹 A ferrita de manganês-zinco é usada em núcleos de transformadores e antenas de rádio — agora pode virar estrela de usina.
🔹 Se todos os habitantes da Terra usassem esse sistema, ainda seria menos energia do que um raio. Mas para dispositivos microscópicos? Pode ser revolucionário.
🔹 A ideia lembra o “eterno movimento”, mas não viola as leis da física — porque a energia vem do planeta, não é criada do nada.

O que isso muda no futuro da energia?

Nada — por enquanto. Mas tudo — no longo prazo. Hoje, geramos energia com:

Queima de combustíveis (polui)
Queda d’água (precisa de represa)
Vento e sol (intermitentes)
Fusão e fissão (complexo e caro)

E se tivéssemos uma fonte passiva, silenciosa, que funciona 24h por dia, em qualquer lugar do planeta? Claro, não vai substituir usinas. Mas pode alimentar trilhões de sensores no mundo IoT, chips em roupas, marcapassos, ou até sistemas de alerta em zonas de desastre. É energia quase mágica: você monta, liga e esquece. O planeta faz o resto.

E aí, estamos no caminho de uma revolução energética?

Talvez. Ou talvez seja só um experimento curioso que vai virar piada em congresso de física. Mas uma coisa é certa: a ideia mexe com a imaginação. Ela desafia o óbvio.
Ela faz a gente lembrar que ainda temos muito a aprender sobre o planeta em que vivemos.

Afinal, estamos em cima de uma esfera gigante, girando no espaço, com um campo magnético que nos protege de radiação cósmica… e agora descobrimos que ele pode, literalmente, carregar seu celular. Tudo bem que ainda vai demorar.Mas em 2050, seu neto pode dizer:

“Pô, vovô, você vivia carregando bateria? Nós só deixamos o aparelho na janela — o planeta que faz o serviço.”

A próxima vez que você olhar pro céu e pensar “nossa, como o mundo é grande”, lembre-se: o chão embaixo dos seus pés pode estar escondendo a próxima revolução energética. E tudo o que precisamos é de um cilindro oco, um pouco de coragem… e a física do absurdo. Porque às vezes, a maior inovação não vem do que inventamos - mas do que finalmente percebemos que já estava aqui o tempo todo.