CURIOSIDADES

Fukushima e o ataque dos javalis radioativos

javradia113/04/2016, por Helô D'Angelo - Fukushima tem lutado para se reerguer depois da explosão da usina nuclear, há 5 anos. Na semana passada, por exemplo, o governo anunciou a construção de uma muralha de gelo para conter a água contaminada que ainda está vazando da usina. Outra questão é a radiação, que tomou conta da cidade e tem causado danos genéticos em insetos, pássaros e macacos - algumas borboletas, por exemplo, não conseguem mais sair do casulo e bater as asas direito. Agora, um novo problema tem atormentado as autoridades locais: uma população cada vez maior de javalis radioativos tem tomado conta dos arredores de Fukushima e invadido plantações, causando quase 1 milhão de dólares em prejuízos para os fazendeiros locais. E o pior: as autoridades não têm ideia de como contê-los.

Esses porcos selvagens têm usado as casas e lojas abandonadas na cidade como refúgios para a reprodução. Por isso, desde a evacuação, seus números explodiram, passando de 3 mil para 13 mil. O problema é que, ao se alimentar de plantas e outros animais menores, os bichos se contaminaram com césio, uma substância radioativa e cancerígena. Os biólogos que estudam Fukushima não entendem muito bem o por quê, mas a radiação não parece fazer mal aos javalis, embora seja muito prejudicial para os seres humanos. Então, caçar os porcos para comer está fora de questão - o que contribui para o crescimento cada vez mais desenfreado da sua população.

Desde 2011, a polícia tem oferecido recompensas para os caçadores matarem os porcos selvagens. Mas esta solução está ficando insustentável, porque é muito difícil se livrar das carcaças: além de pesadas (um javali macho pesa em torno de 90kg), elas são radioativas, e por isso seu descarte pede um cuidado especial. Não dá para simplesmente enterrá-las em qualquer lugar, porque cachorros e outros bichos acabam cavando e encontrando os porcos mortos, comendo a carne contaminada e, enfim, piorando tudo. Por enquanto, as autoridades disponibilizam valas comuns para os javalis, mas há pouco espaço: só cabem 600 carcaças nas que existem hoje, e elas estão ficando cheias bem rápido.

Queimar os javalis também não é possível, porque a fumaça espalharia as partículas radioativas, contaminando outras cidades e ainda mais seres vivos. Existe um lugar específico para incinerar materiais radioativos, mas ele só consegue se livrar de três javalis por dia. Ou seja, em um ano, as autoridades só conseguiriam descartar 1.092 carcaças, um número bem menor que o total de 13 mil - lembrando que, em condições tão favoráveis, eles não vão parar de se reproduzir.

É comum que animais vivam em espaços abandonados pelos seres humanos após desastres naturais. Foi o que aconteceu em Chernobyl, palco de um dos maiores acidentes nucleares que o mundo já viu: os números de veados, lobos, ursos, linces e javalis triplicaram, mesmo com pelo menos um terço deles contaminados com radioatividade - e olha que, por lá, o desastre aconteceu em 1986. Os biólogos que estudam esses desastres explicam que a radiação faz mal para os animais - mas a presença humana faz pior. Isso explica porque eles gostam tanto de áreas abandonadas, mesmo com a radioatividade.


Itália enfrenta invasão de javalis radioativos quase 30 anos após Chernobyl

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2014, por Patrícia Araújo - Quase trinta anos após o desastre da usina de Chernobyl (Ucrânia), a maior tragédia radioativa da história continua a causar graves problemas na Europa e a deixar a população em alerta. Desta vez, o alarme foi soado em uma zona de caça livre no norte da Itália. Após um ano de pesquisas, o Instituto Zooprofilático Experimental de Piemonte, Ligúria e Valle d'Aosta – entidade ligada ao governo regional – divulgou a presença de traços de césio-137 acima dos limites permitidos pela União Europeia em dezenas de javalis encontrados na província piemontesa de Verbano-Cusio-Ossola, especialmente na pequena comunidade de Valsesia. A carne do javali seria consumida pelos caçadores.

O instituto começou a investigar a área com maior rigor em março de 2013, após a descoberta de 27 animais contaminados. Em pouco mais de um ano, foram analisados 1.441 porcos selvagens e a constatação foi a de que mais de 10% da população (166 javalis) apresentam índice de radioatividade superior a 600 becquerel/quilo, limite máximo permitido pela UE em animais selvagens. O becquerel é a unidade usada internacionalmente para mediação de radioatividade. Embora não tenha revelado precisamente o nível de radiação encontrado nos animais de Vasesia, Maria Caramelli, diretora do instituto, afirmou que as análises apresentaram traços de césio-137 "significativamente superiores" ao permitido pela comunidade europeia.

Nuvem radioativa

De acordo com a instituição, a contaminação dos javalis é consequência ainda da nuvem radioativa provocada pela explosão de Chernobyl em 1986. Nos dias decorrentes ao desastre, a nuvem se espalhou por dezenas de países da Europa. Na Itália, um mapeamento feito pelo CCR (Centro Comum de Pesquisa da União Europeia) constatou que as regiões mais afetadas foram Lombardia e Piemonte. Fortes chuvas atingiram essas áreas naquele período fazendo com que o césio penetrasse maciçamente no solo.

A atual propagação da substância radioativa entre a população de porcos selvagens, e não em outros animais, pode ser consequência dos hábitos alimentares dos javalis. Como eles se nutrem principalmente de raízes, escavam camadas profundas do solo em busca do alimento, expondo-se assim à radiação. Além disso, as raízes são por si próprias grandes concentradoras de radiatividade. Após a descoberta, o instituto zooprofilático emitiu um alerta pedindo maior controle na zona de caça da província de Verbano-Cusio-Ossola. Atualmente, o Piemonte possui um plano de monitoramento da carne proveniente da caça na região. Porém, a fiscalização não atinge a totalidade dos animais abatidos em zonas selvagens antes de serem consumidos.

Índices subestimados

Para Massimo Bonfatti, coordenador na Itália do Projeto Humus, que trabalha com políticas de contenção de contaminação em áreas atingidas por radioatividade, a situação é ainda mais grave do que parece. Segundo o médico, dois fatores não estão sendo levados em consideração para avaliar precisamente o quadro. O primeiro deles seria a análise exclusiva de somente um isótopo radioativo.

"Um problema grave é que o índice de validação de contaminação na Europa é feito só com o césio-137, mas a nuvem que foi liberada por Chernobyl era cheia de outros elementos em proporções diversas. Não conseguimos nunca ter, por exemplo, o resultado da contaminação no norte da Itália por césio-134, que também pode causar sérios danos". Além disso, segundo o coordenador, o valor permitido de radiação de 600 becquerel por quilo de carne é extremamente elevado. "É complicado, mas estamos trabalhando na elaboração de uma proposta de projeto de lei para baixar esse índice para 10 bq/kg"

Maior rigor

Ainda de acordo com Bonfatti, os danos causados à saúde humana por contaminação radioativa são gigantescos. "Nós sustentamos que a grande epidemia de câncer que existe no mundo é provavelmente consequência da radiação que foi liberada do pós-guerra até hoje no planeta. Além disso, estudos já revelaram que o césio-137 se liga às fibras do coração provocando o surgimento de graves patologias cardíacas."

A reportagem do UOL entrou em contato com as assessorias do governo da região do Piemonte e do Ministério da Saúde italiano para saber quais providências devem ser tomadas após a divulgação do estudo. A administração regional informou que o Instituto Zooprofilático Experimental é o único "ente responsável pela solução de casos do gênero" na área e que, portanto, apenas ele pode falar sobre o assunto. Já o Ministério da Saúde, embora tenha sido procurado diversas vezes ao longo da última semana, não se pronunciou até a publicação desta reportagem.


Fonte: http://super.abril.com.br/
         http://noticias.uol.com.br/