CURIOSIDADES

Quando São Paulo elegeu um rinoceronte

careco208/07/2016 - Muito em breve, teremos eleições para prefeito e vereador em todo o país. Será o momento de ouvirmos de novo aquele monte de promessas, de gente sendo aliciada para votar neste ou naquele candidato, de discussões e bate-bocas sobre qual o melhor candidato, torcidas organizadas, passeatas e comícios. E a volta do horário político na TV… ARGH! Nada que seja diferente do que vem acontecendo no país desde o final da ditadura militar. E nada diferente do que acontecia antes dos militares assumirem o poder, em 1964. O cordial povo brasileiro sempre se viu seduzido por promessas bonitas e elegeu inúmeros crápulas. Depois, ficou chorando e reclamando que “o governo é isso e aquilo”, esquecendo-se de ...

que o “governo” foi eleito justamente… Pelo povo brasileiro. Poucas vezes ele reagiu, porém. Uma dessas vezes foi em 1959… Getúlio Vargas havia morrido. O governador de São Paulo era Ademar de Barros, uma espécie de antepassado político de Paulo Maluf.

careco1

Ademar de Barros

Uma das “tradições” da política brasileira é a do “rouba, mas faz”, sobre o governante que enfrenta denúncias de corrupção ao longo do mandato, mas é querido pelo povo por causa das obras que realiza. Foi deputado, prefeito da capital e governador do Estado de S. Paulo, e até hoje é identificado com esse lema, que dizem ter sido criado pelo próprio Ademar e copiado anos depois pelos correligionários do Maluf. Ademar de Barros, durante toda a sua carreira de 34 anos na política, colecionou feitos administrativos e suspeitas de desvio de dinheiro público. Fez escola, não?

Voltando, o eleitorado estava revoltado com a Câmara Municipal que, para variar, não estava se comportando muito bem. No meio de tudo isso, havia o rinoceronte Cacareco, que, vale dizer, era uma fêmea, apesar do nome.

Cacareco estava nas notícias porque saíra do Rio de Janeiro, emprestado por seis meses, para abrilhantar a inauguração do Zoológico de São Paulo, que ocorria naquele mesmo ano. Os seis meses iam se passando e os paulistas cogitavam a ideia de dar um calote e não devolver o rinoceronte.

No meio de um mar de lama da Câmara Municipal, em pleno período eleitoral, o assunto era o rinoceronte. Não que os políticos da época não ajudassem. Havia um de 230 kg, cujo slogan era “vale quanto pesa”. Outro andava por aí com uma onça e dizia: “eleitor inteligente vota no amigo da onça”.

careco3

Então, Cacareco ficou cada dia mais popular. Todos os jornais só falavam dele.

O jornalista Itaboraí Martins brincou com isso, lançando a candidatura de Cacareco ao cargo de vereador. E não é que a ideia pegou?

Naquela época, a eleição era na base do papel e do envelope. O eleitor recebia um envelope das mãos do mesário e, dentro dele, botava a cédula do seu candidato, fosse ele quem fosse. Houve uma adesão gigantesca à candidatura de Cacareco e várias gráficas, de brincadeira, imprimiram cédulas com o nome do bicho. Muita gente achou legal ir pra rua e fazer campanha em nome do rinoceronte.

careco5

O que aconteceu a seguir parece piada, mas Cacareco recebeu cerca de 100 mil votos! Parece pouco diante do eleitorado de hoje, mas preste atenção no restante dos números. O candidato mais votado naquela eleição não teve mais que 110 mil votos e mesmo o partido que elegeu a maior bancada teve, ao todo, 95 mil votos.

Sua excelência, o rinoceronte Cacareco, nem pôde comemorar, coitado. Dois dias antes da eleição, o bicho foi devolvido para o zoo do Rio, sem muito alarde, como se fosse um anarquista subversivo.

careco4

O estrago, porém, já havia sido feito. Cacareco ganhou até as páginas do jornal “The New York Times”, que citava um eleitor:

– É melhor eleger um rinoceronte do que um asno.

Cacareco não foi o único animal a sair “candidato”. Houve o também famoso Macaco Tião, em Jaboatão elegeram um bode, mas por conta da quantidade de votos obtidos, o rinoceronte tornou-se o mais famoso caso de “voto de protesto” da história.


Fonte: R7