Graças à vacinação, o Brasil controlou os casos de raiva humana – doença grave transmitida principalmente através da mordida de animais infectados. Segundo os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, três pessoas foram diagnosticadas com raiva em 2016. Duas delas adquiriram a doença ao serem mordidas por morcegos em Tocantins e na Bahia; e uma por gato, em ...
Pernambuco.Apesar dos poucos casos da doença em humanos, a manutenção dos cuidados deve ser constante, sobretudo pela progressiva e constante aproximação dos ambientes urbanos e silvestres no País. No estado de São Paulo, não há registro de raiva humana desde 1997, mas em 2017 já foram observados 17 casos de raiva em morcegos não-hematófagos (que não se alimentam de sangue).
Isso é sinal de que o vírus continua presente em alguns animais. “Não devemos nunca abaixar a guarda contra essa doença, que ao redor do mundo provoca a morte de uma pessoa a cada dez minutos”, comenta o Dr. Lucas Chaves Netto, infectologista no Hospital Sírio-Libanês. Os morcegos infectados são os principais transmissores da raiva para humanos em regiões silvestres, embora a doença possa ser transmitida por vários mamíferos, como bovinos, equinos, macacos e gambás.
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Já nas zonas urbanas, são os gatos e os cachorros que costumam passar a doença. Pequenos roedores urbanos, como ratos, camundongos, hamsters e até coelhos de estimação, não representam risco de transmissão da raiva. Também infectologista no Hospital Sírio-Libanês, o Dr. Otelo Rigato Junior explica que mesmo os morcegos não-hematófagos, presentes nas cidades, podem ser transmissores da raiva em razão de acidentes. Ao ser manipulado, o animal pode acabar mordendo ou arranhando as pessoas, transmitindo a doença. “Ao depararmos com um caso de morcego dentro de casa, devemos evitar o contato com o animal e chamar auxílio de bombeiros ou guarda civil”, sugere o médico. Além da mordida, a raiva pode ser transmitida quando animais infectados arranham ou lambem feridas abertas das pessoas.
Quais os sintomas da raiva?
O período de incubação da raiva, ou seja, o tempo médio entre a infecção e o surgimento de sintomas, pode variar de duas semanas a três meses. No início, a doença se apresenta por meio de:
Mal-estar geral.
Pequeno aumento de temperatura ou febre.
Perda de peso anormal.
Dor de cabeça.
Náuseas.
Se você foi mordido por um animal mamífero e sentiu qualquer um desses sintomas, procure ajude médica imediatamente.
Após esse quadro inespecífico da doença, a pessoa infectada pode apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:
Irritabilidade.
Agitação progressiva.
Delírios.
Espasmos musculares involuntários.
Convulsões.
Paralisia muscular.
Por conta desses sintomas neurológicos, a doença recebeu o nome de raiva. Outro sintoma característico da doença é a hidrofobia (aversão a água). “Quando a pessoa infectada vê ou tenta ingerir líquido, ela apresenta espasmos, hipersalivação, diarreia e vômitos”, descreve o Dr. Chaves Netto.
Como me prevenir da raiva?
Diante da mordida de qualquer animal mamífero que você não tenha a certeza de estar imunizado contra a raiva, lave imediatamente a ferida com água corrente e sabão. Após a limpeza, observe o animal por dez dias e, diante de comportamentos estranhos, como não reconhecer o dono e parar de comer, procure o quanto antes um serviço especializado (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais – Crie). Geralmente, o procedimento será a aplicação de uma vacina e/ou soro antirrábico, conforme a avaliação do ferimento pelo médico. “Trata-se de um tratamento profilático, cujo objetivo é neutralizar imediatamente o vírus da raiva no organismo”, explica o Dr. Rigato Junior.
Vacine seu cão e seu gato, anualmente, contra a raiva. Nos meses de agosto e setembro, o governo costuma promover campanhas de vacinação gratuita. Caso seu cão ou seu gato seja mordido por outro mamífero, cuja imunização contra a raiva seja desconhecida, observe também o animal por dez dias e, diante de comportamentos suspeitos, como agressividade, procure uma unidade de saúde animal (zoonose) especializada. Se você lida constantemente com animais, é visitante de cavernas ou viaja para locais com morcegos e outros bichos que podem transmitir a raiva, vacine-se. O Centro de Imunizações do Hospital Sírio-Libanês oferece a vacina contra a raiva para crianças e adultos.
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A cura da raiva após a doença ser instalada é rara. No Brasil, o primeiro caso tratado com sucesso foi em 2008 no Recife, dando origem ao “Protocolo de Recife”, atual modelo de tratamento no País. Trata-se do uso de medicamentos antivirais e sedação profunda, além de medidas em terapia intensiva de monitorização clínica de alta complexidade. Tais medidas são realizados a após confirmação laboratorial da doença. O Hospital Sírio-Libanês está preparado para fazer o diagnóstico e a condução clínica de pacientes com raiva, contando com os mais modernos recursos de tratamento. Tais medidas são fundamentais para tentar minimizar os danos provocados por essa grave doença.
Fonte: Dr. Lucas Chaves Netto, infectologista no Hospital Sírio-Libanês; e o Dr. Otelo Rigato Junior, infectologista no Hospital Sírio-Libanês.