Fitoterapia (do grego therapeia = tratamento e phyton = vegetal) é o estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças. Ela surgiu independentemente na maioria dos povos. Na China, surgiu por volta de 3000 a.C. quando o imperador Cho-Chin-Kei descreveu as propriedades do Ginseng e da Cânfora. É a utilização de vegetais em preparações farmacêutica (extratos, pomadas, tinturas e cápsulas) para auxílio ao tratamento de doenças, manutenção e recuperação da saúde. A fitoterapia acompanha a humanidade desde os povos primitivos, que já utilizavam plantas medicinais ...
para curar doenças, e hoje em dia vem .ganhando cada vez mais popularidade no mundo todo. Porém, é preciso ter cautela ao utilizar a fitoterapia, uma vez que um produto natural não significa necessariamente que seja livre de efeitos colaterais. Todos os medicamentos, inclusive os fitoterápicos, devem ser usados com orientação médica. Deve-se observar que a definição de medicamento fitoterápico é diferente de fitoterapia pois não engloba o uso popular das plantas em si, mas sim seus extratos. Os medicamentos fitoterápicos são preparações técnicas elaboradas por técnicas de farmácia, além de serem produtos industrializados.
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A história das plantas
Considerada a forma de medicina mais antiga da civilização humana, existem registos do ano 2500 a.C. sobre a utilização de plantas medicinais na China e, em 2800 a.C., foi escrito o primeiro livro com referências a fórmulas de fitoterapia, o célebre “Nei Jing”. Está documentado que todos os povos da Antiguidade – gregos, romanos, persas, egípcios, etc. – utilizaram as plantas, os produtos de origem mineral e animal, como base da sua medicina. A partir do século XX, deu-se o boom da indústria farmacêutica e o desenvolvimento dos medicamentos químicos, mas, e ao contrário do que se possa pensar, as plantas não foram postas de parte.
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Até essa altura, os herbalistas, os médicos e os farmacêuticos trabalhavam em conjunto no estudo das plantas e das suas capacidades curativas. Esse trabalho de pesquisa continuou em duas frentes: a medicina tradicional, agora apoiada pelo sector farmacêutico não descurou o poder das plantas, até porque aproximadamente 85% dos medicamentos utilizados nos dias que correm, são derivados dos princípios activos das plantas. Por outro lado, os herbalistas prosseguiram com a análise química das plantas, o que lhes conferiu um forte argumento que não detinham até então: a base científica.
Seguiram-se anos de investigação não só sobre as plantas, mas também sobre as vitaminas, os minerais e os alimentos, mas mais importante do que isso, foi o estudo sobre a forma como estas riquezas naturais influenciavam ou não o corpo humano. Deve-se o termo “fitoterapia” ao médico francês, Henri Leclerc, que depois de inúmeras experiências com plantas durante a década de 50, reuniu os resultados na obra “Sumário de Fitoterapia”.
Hoje, a fitoterapia é a aplicação da ciência moderna (estando sujeita a testes e controles científicos) à medicina herbal, ou seja, para além de identificar os componentes activos de cada planta, explica a maneira como as plantas medicinais actuam no corpo humano.
Popular
A fitoterapia tem se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo o mundo. Há inúmeros medicamentos no mercado que utilizam em seus rótulos o termo "produto natural". Produtos à base de ginseng, carqueja, guaraná, confrei, ginko biloba, espinheira santa e sene são apenas alguns exemplos. Eles prometem, além de maior eficácia terapêutica, ausência de efeitos colaterais. Grande parte utiliza plantas da flora estrangeira ou brasileira como matéria-prima. Os medicamentos à base de plantas são usados para os mais diferentes fins: acalmar, cicatrizar, expectorar, engordar, emagrecer e muitos outros. É essa utilização das plantas para o tratamento de doenças que constitui, hoje, um ramo da medicina conhecido como fitoterapia. A fitoterapia, apesar de ser considerada por muitos como uma terapia alternativa, não é uma especialidade médica, como a homeopatia ou a acupuntura, e se enquadra dentro da chamada medicina alopática. O uso das plantas como remédio é provavelmente tão antigo quanto a própria humanidade. Nas Ilhas Oceânicas, por exemplo, há séculos a planta kava kava (Piper methysticum) é usada como calmante. Durante muito tempo, foi utilizada em cerimônias religiosas, para um tipo de "efeito místico". Depois, cientistas alemães comprovaram que seu extrato tem efeito no combate à ansiedade.
No entanto, é preciso ter cautela. A crença popular de que as plantas não fazem mal, estimulada ainda mais por fortes apelos de marketing, faz com que o quadro fique um tanto distorcido. "Havia um conceito pré-estabelecido, popular, de que o que vem da natureza não faz mal. Isso não é correto", lembra Elisaldo Carlini, pesquisador do Departamento de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Quem é que não sabe que a planta conhecida como "Comigo ninguém pode" é extremamente tóxica e pode matar? E afinal, estricnina, morfina e cocaína também são produtos naturais.
Todo medicamento, inclusive os fitoterápicos, deve ser usado segundo orientação médica. É claro que dificilmente chega-se a uma overdose de chá de boldo. Mas há ainda muitas plantas cujos efeitos não são bem conhecidos e seu uso indiscriminado pode prejudicar a saúde. Por outro lado, vários estudos científicos comprovam que a fitoterapia pode oferecer soluções eficazes e mais baratas para diversas doenças.
Para Carlini, os preconceitos em relação ao uso de fitoterápicos estão diminuindo. "O uso da fitoterapia como prescrição até há pouco tempo não era aceito pelos próprios cientistas. Ela era considerada uma medicina inferior, alternativa, principalmente por conta dos benefícios propagados por aproveitadores e charlatões. Era vista como 'medicina popular`, desenvolvida à base de plantas que podiam ser encontradas na quitanda, na loja de artigos de umbanda, casas de chás, praças, etc", diz.
Segundo o pesquisador, o conceito de uso dos fitoterápicos vem sendo modificado graças a produtos que os próprios médicos vêm utilizando e que têm base científica comprovada: "O crescimento do uso de fitoterápicos deve-se à competência científica de estudar, testar e recomendar o uso de determinadas plantas para usos específicos", afirma.
É considerado fitoterápico toda preparação farmacêutica (extratos, tinturas, pomadas e cápsulas) que utiliza como matéria-prima partes de plantas, como folhas, caules, raízes, flores e sementes, com conhecido efeito farmacológico. O uso adequado dessas preparações traz uma série de benefícios para a saúde humana ajudando no combate a doenças infecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgicas e traumas diversos, entre outros. Associado às suas atividades terapêuticas está o seu baixo custo; a grande disponibilidade de matéria-prima (plantas), principalmente nos países tropicais; e a cultura relacionada ao seu uso.
Vantagens e riscos
Há uma grande quantidade de plantas medicinais, em todas as partes do mundo, utilizadas há milhares de anos para o tratamento de doenças, através de mecanismos na maioria das vezes desconhecidos. O estudo desses mecanismos e o isolamento do princípio ativo (a substância ou conjunto delas que é responsável pelos efeitos terapêuticos) da planta é uma das principais prioridades da farmacologia.
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Enquanto o princípio ativo não é isolado, as plantas medicinais são utilizadas de forma caseira, principalmente através de chás, ultradiluições, ou de forma industrializada, com extrato homogêneo da planta.
Ao contrário da crença popular, o uso de plantas medicinais não é isento de risco. Além do princípio ativo terapêutico, a mesma planta pode conter outras substâncias tóxicas, a grande quantidade de substâncias diferentes pode induzir a reação alérgica, pode haver contaminação por agrotóxicos ou por metais pesados e interação com outras medicações, levando a danos à saúde e até predisposição para o câncer.
Além disso, todo princípio ativo terapêutico é benéfico dentro de um intervalo de quantidade - abaixo dessa quantidade, é inócuo e acima disso passa a ser tóxico. A variação de concentração do princípio ativo em chás pode ser muito grande, tornando praticamente impossível atingir a faixa terapêutica com segurança em algumas plantas aonde essa faixa é mais estreita. Na forma industrializada, o risco de contaminações pode ser reduzida através do controle de qualidade da matéria prima, mas mesmo assim a variação na concentração do princípio ativo em cápsulas pode variar até em 100%. Nas ultradiluições, como na homeopatia, aonde não há virtualmente o princípio ativo na apresentação final, não há nenhum desses riscos anteriores, mas a eficácia desse tratamento não foi comprovada cientificamente.
À medida que os princípios ativos são descobertos, eles são isolados e refinados de modo a eliminar agentes tóxicos e contaminações, e as doses terapêutica e tóxica são bem estabelecidas, de modo a determinar de forma precisa a faixa terapêutica e as interações desse fármaco com os demais.
No entanto, o isolamento e refino de princípios ativos também não é isento de riscos. Primeiro porque pretende substituir o conhecimento popular tradicional e livre, testado há milênios, por resultados provindos de algumas pesquisas analítico-científicas que muitas vezes são antagônicas. Segundo, porque a simples idéia de extrair princípios ativos despreza os muitos outros elementos existentes na planta que, em estado natural, mantêm suas exatas proporções. Assim sendo, o uso de fitoterápicos de laboratório poderia introduzir novos efeitos colaterais ou adversos inesperados, devidos à ausência de sinergismo ou antagonismo parcial entre mais de um princípio ativo que apenas seriam encontrados na planta.
Usos e abusos da fitoterapia
Quando utilizados de maneira adequada, os fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, às vezes, superiores aos dos medicamentos convencionais, com efeitos colaterais minimizados.
Um exemplo é a valeriana (Valeriana officinalis) que vem sendo usada no tratamento de insônia e que, ao contrário dos medicamentos convencionais, não provoca dependência nem tolerância. No entanto, se ingerida em grandes quantidades e por tempo prolongado, ela pode ser tóxica para o fígado.
A utilização inadequada dos fitoterápicos, como a automedicação, pode trazer uma série de efeitos colaterais. Entre os principais problemas causados por seu uso indiscriminado e prolongado estão as reações alérgicas, os efeitos tóxicos graves em vários órgãos e mesmo o desenvolvimento de certos tipos de câncer. Elisaldo Carlini, pesquisador da Unifesp, chama a atenção para a importância de educar a população, conscientizando-a sobre o uso adequado das plantas e medicamentos ditos naturais.
Artigo publicado na revista Archives of International Medicine (veja a bibliografia) mostra que 4% das causas de internação de pacientes em hospitais na Coréia do Sul é devida ao uso abusivo de plantas medicinais. O mesmo acontece em outros países asiáticos. No Brasil não há dados precisos, uma vez que problemas como esse não são de notificação obrigatória ao serviço de saúde.
Fitocomplexo - Os fitoterápicos, de maneira geral, possuem efeitos mais suaves, o que pode explicar a redução dos efeitos colaterais. Ao contrário dos medicamentos convencionais, que possuem quantidades conhecidas de princípios ativos isolados, ou seja, das substâncias responsáveis pelos efeitos, nos fitoterápicos os princípios ativos não são isolados. Eles coexistem com uma série de outras substâncias presentes na plantas. Em cada planta, apenas uma parte é utilizada para a formulação de medicamentos. A diversidade de substâncias existentes nessas partes é chamada de fitocomplexo, que é responsável pelo efeito terapêutico mais suave e pela redução dos efeitos colaterais. O efeito terapêutico da valeriana, por exemplo, só é atingido quando se administra o fitocomplexo. Quando o princípio ativo é administrado isoladamente, não há efeito significativo.
Qualidade dos medicamentos - O crescimento do mercado de fitoterápicos e seu uso indiscriminado, baseado na crença de ausência de efeitos colaterais, têm gerado certa preocupação entre os cientistas. Vários artigos publicados na Archives of International Medicine, mostram que a maioria das plantas medicinais e chás vendidos no mundo não é licenciada, ou seja, está à disposição dos consumidores de maneira clandestina. Também falta regulamentação e controle de qualidade adequado para a comercialização. A maior parte desses produtos está no mercado sem nenhum critério científico.
Além disso, a automedicação é um grande problema, porque muitas pessoas utilizam plantas que crescem nos próprios quintais ou as coletam em terrenos baldios ou florestas. Eventualmente, essas plantas são confundidas com outras que possuem características semelhantes, como o mesmo tipo de folhas, flores, frutos, caules ou raízes.
As pessoas que se automedicam também desconhecem que a quantidade de princípios ativos contida nas plantas pode variar de acordo com a idade da planta, a época da colheita, o tipo de solo, a parte utilizada e as condições de estocagem. E as plantas que crescem muito próximas a rodovias apresentam concentração elevada de metais como chumbo, zinco e alumínio, entre outros, cujos efeitos podem ser indesejáveis.
O caso do confrei - Um exemplo marcante sobre efeito tóxico de plantas medicinais no Brasil está relacionado ao uso do confrei. No início dos anos 80 foi amplamente divulgado na imprensa que esta planta teria fantásticas propriedades terapêuticas para uma série de doenças, incluindo a leucemia e até mesmo o câncer. A partir daí, muitas pessoas passaram a ingerir suco de confrei (folhas com água batidas no liqüidificador) regularmente.
No entanto, estudos toxicológicos posteriores mostraram que o confrei possui uma substância extremamente tóxica para o fígado, o que acabou culminando na proibição de sua indicação para uso interno. Já quando usado externamente, o confrei apresenta excelentes propriedades cicatrizantes.
Fitoterapia é uma saída para reduzir gastos no sistema público de saúde
Num país como o Brasil, onde a população carente não só tem dificuldades para obter os medicamentos convencionais mas também adoece muito mais, o uso criterioso da fitoterapia no sistema público de saúde pode ser uma alternativa para a redução do custo dos medicamentos. Enquanto na região Sudeste os medicamentos convencionais ainda são os mais prescritos pelos médicos, estados como o Ceará e a Paraíba desenvolvem algumas iniciativas bem sucedidas de uso de medicamentos não-convencionais. A experiência mais antiga é da Universidade Federal do Ceará (UFCE) que em 1983 começou a implantar o programa Farmácias Vivas, sob a coordenação do professor José Abreu Matos. Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o programa oferece assistência farmacêutica fitoterápica de base científica às comunidades mais carentes de Fortaleza, aproveitando as plantas de ocorrência local ou regional dotadas de atividade terapêutica comprovada. O programa vem mostrando seus resultados. Dados de 1995 mostram, por exemplo, que para os casos de amebíase e giardíse (doenças parasitárias muito comuns) cápsulas de hortelã têm efeito comprovado e custavam, à época, R$ 0,96 enquanto que o medicamento convencional, Flagyl (da Rhodia) custava R$ 4,12. Outro exemplo é o xarope de cumaru-malvariço-hortelã japonesa, utilizado como broncodilatador e expectorante, que custava R$ 1,30 ao passo que o Aerolin (da Glaxo) custava R$ 2, 17.
O Farmácias Vivas de Fortaleza já se tornou referência para outras faculdades de Farmácia do Nordeste brasileiro. Em 1998, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), após 10 anos de pesquisas com fitoterápicos, começou a implantar o projeto no seu hospital universitário, com financiamento da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Em breve estará sendo iniciado atendimento ambulatorial, no qual serão feitas avaliações clínicas de uma planta com propriedades broncodilatadoras. O nome da planta por enquanto é segredo, pois, segundo a professora Rinalda A. G. de Oliveira, da Faculdade de Farmácia, a universidade pretende patenteá-la.
Outra iniciativa é a da Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba que a partir de 1998 começou a implantar o Programa de Alternativas Alimentares, Terapias Complementares, Homeopatia e Acunpuntura (PROACHA), sendo que a fitoterapia está contemplada dentro das terapias complementares.
Os médicos, de modo geral, aceitam bem a fitoterapia, mas não a prescrevem por falta de conhecimento técnico, fruto de uma educação deficiente nessa área, conforme mostrou uma consulta realizada pela Secretaria de Saúde. Para suprir essa demanda, as universidades Federal e Estadual da Paraíba já oferecem a disciplina de fitoterapia para alguns cursos da área de saúde.
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Trabalho Interdisciplinar - Implantar a fitoterapia no sistema de saúde não é um trabalho fácil, pois envolve diversos profissionais, como médicos (para prescrever), farmacêuticos (para manipular) e agrônomos (para planejar o cultivo das plantas), entre outros. Além disso, é necessário conhecimento técnico sobre as plantas, seus efeitos terapêuticos e tóxicos, parte utilizável, via de administração e um bom banco de dados de referências bibliográficas. Tudo isso só é possível através da pesquisa contínua, desenvolvida dentro das universidades.
Tão importante quanto a pesquisa é a divulgação e o ensino da fitoterapia nos cursos de graduação da área de saúde, para que aos poucos vá se formando uma nova mentalidade, que proteja e ao mesmo tempo utilize o potencial da flora brasileira, colocando-o, de maneira mais acessível, à serviço da saúde.
PARTE 2