Manobras de Acobertamento-Parte2

acoberta6A existência desta quarta cláusula do Painel Robertson foi descoberta pelo professor James E. McDonald, físico atmosférico da Universidade do Arizona, em Tucson. McDonald recebeu um convite do Secretário do Ar, Mr. Harold Brown, em 1968, para consultar os arquivos secretos do Blue Book. McDonald foi, sem hesitar, para reforçar sua opinião de que o fenômeno UFO não passava de fenômenos meteorológicos mal interpretados. Depois de examinar detidamente os relatórios secretos, James E. McDonald não só mudou de opinião ...

como virou um verdadeiro mártir da teoria extraterrestre – uma verdadeira "pedra no sapato" do programa de acobertamento ufológico.

Em suma, o grupo que formava o Painel Robertson não é o responsável pelo descrédito que foi amplamente adotado pelo governo americano, mas a CIA que, por pressão, armou toda a situação e introduziu o quarto tópico secreto ao Painel Robertson. Os cientistas que faziam parte desse grupo estavam convencidos de verdade que o fenômeno UFO era meros fenômenos naturais erradamente divulgados e interpretados. Foi uma análise rápida e superficial de meia-dúzia de arquivos do Blue Book, provavelmente escolhidos "a dedo" por quem buscava acobertar o fenômeno da opinião pública. A conclusão do Painel Robertson foi provavelmente correta diante do que lhes foi colocado em mãos.

As conclusões negativas da Comissão com relação a veracidade do fenômeno era tudo que a Força Aérea queria e deu força para as explicações do Blue Book que, em muitos casos, chegava ser uma atrocidade ao bom senso. Apesar disso, recomendaram a continuação das investigações do Blue Book, com o objetivo de obter mais informações que permitiria uma melhor avaliação dos fatos.

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As investigações continuaram durante anos. Em março de 1966, a Junta Consultora da USAF lançou um informe especial do Comitê para uma revisão do Projeto Blue Book. Tal comitê considerou tudo quanto se tinha dito anteriormente pelos diferentes projetos, incluindo as determinações do Painel Robertson, de janeiro de 1953, o que lhe levou a determinar que, depois de dezenove anos de presença, os UFOs não existiam. É interessante notar que o próprio comitê detectou uma certa limitação no Blue Book: "É opinião do Comitê que o atual programa da Força Aérea que trata das observações de UFOs esteve bem organizado, embora os recursos que lhe designaram (um oficial, um sargento e um secretário) foram muito limitados".

Foi feito um levantamento dos resultados obtidos pelo Blue Book, em dezembro de 1952, no qual correspondiam ao 1021 casos recebidos até então. O resultado foi:

18,51% – Balões
11,76% – Aviões
14,20% – Corpos Astronômicos
04,21% – Outros
06,84% – Radar (Sem explicação)
01,66% – Armadilhas (fraudes intencionais)
22,72% – Dados insuficientes
20,10% – Desconhecidos


O RELATÓRIO CONDON


O Projeto Blue Book deu continuidade aos trabalhos de investigações com a assessoria científica do doutor Hynek. No entanto, até aquele momento, o fenômeno UFO não tinha tido realmente um tratamento adequado. O doutor Hynek, que já demonstrava certa rebeldia, comentava com freqüência em pequenos círculos que a questão dos UFOs era motivo de brincadeiras, porque os cientistas que lidavam com o assunto não prestavam atenção de fato aos dados obtidos. Essa condição política de "não seriedade" no tratamento do fenômeno culminava em explicações sem quaisquer critérios e, em muitos casos, eram frágeis, insustentáveis e até atrozes. Obviamente que essa postura era reflexo da USAF, empregadora de tais cientistas, que iria de qualquer modo desmoralizar os casos considerados, mesmo se dados como legítimos.

O deboche era tão grande e a engrenagem da política de acobertamento tão evidente, já com tentáculos no exterior, que a mídia chegava a ironizar o trabalho do Projeto Blue Book, com declarações como: "Para cada 200 avistamentos de UFOs, a USAF tinha 201 explicações" – um reflexo da pouca credibilidade nos trabalhos do Blue Book. Diante dessa situação, a Força Aérea resolveu contratar uma comissão independente e civil para analisar os resultados obtidos até então pelo Blue Book. Era a resposta óbvia diante da falta de credibilidade que os projetos oficiais tinham para os cidadãos americanos e do mundo inteiro. Assim, foi feito um contrato com a Universidade do Colorado, no qual foi doado cerca de 313.000 dólares, e que caberia ao doutor Edward U. Condon, por dezoito meses, realizar um estudo acurado do material obtido no Projeto Blue Book.


Lamentavelmente, a esperança de uma investigação imparcial por parte da comunidade científica iria converter-se em desilusão, já que o seio do Relatório Condon (como acabou sendo chamado) seguiria o mesmo contexto político de "não seriedade" para os dados. E isso ficou bastante evidente pelo fato do Relatório Condon apresentar, nos seus resultados finais, somente os casos facilmente explicáveis como fenômenos naturais, ignorando justamente aqueles casos que são inexplicáveis e fornecem fortes indícios da realidade do fenômeno UFO.

A verdadeira medida do espírito que animou esta comissão da Universidade do Colorado ficou bem refletida na afirmação que Robert L. Low deu, em 09 de agosto de 1966: "A fraude seria, na minha opinião, descrever o projeto de forma que, para o público, aparecesse um estudo totalmente objetivo, enquanto que, diante a comunidade científica, apresenta-se a imagem de um grupo de descrentes fazendo o possível por serem objetivos, mas tendo quase nenhuma esperança de encontrar um disco voador". O fato é que a comissão da Universidade do Colorado não escondeu, desde o início de seus trabalhos, a completa descrença com o fenômeno. E isso comprometeu imediatamente os estudos, já que era óbvio que não seria tolerado qualquer direcionamento para a realidade do fenômeno como uma possível presença extraterrestre.

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Os resultados finais da equipe de trabalho da Universidade do Colorado foram objetos de notícias na imprensa diariamente. Como norma geral, os resultados foram divulgados publicamente em diferentes notas de diversos jornais, sob títulos como: "A CONCLUSÃO FINAL SOBRE A QUESTÃO DOS UFOS NOS ESTADOS UNIDOS – A Força Aérea conclui que não há fenômenos extraterrestres". Os resultados do Relatório Condon eram tudo o que a USAF precisava para pôr um fim definitivo nas investigações oficiais públicas do fenômeno UFO: "Quarta-feira, o secretário da Força Aérea norte-americana, Robert Seamans, anunciou o fechamento do Blue Book, porque não existiam provas que justificassem sua prolongação, nem em interesse da ciência nem em razão da segurança nacional" (revista "La Vanguardia", de 21 de dezembro de 1969).

Segundo um memorando da Força Aérea norte-americana, "os fenômenos são apenas produtos da imaginação ou fenômenos atmosféricos e outros tipos de aparelhos terrestres confundidos". Seamans comunicou que o Blue Book tinha estudado um total de 12.618 casos e que só 701 podiam ser considerados desconhecidos. Ou seja: o Blue Book, com todo o seu ceticismo, não conseguiu invalidar 701 casos. Mas mesmo assim a posição oficial foi de negação! Paradoxalmente, 1968 e 1969 foram dois anos de grande atividade ufológica em escala mundial... Talvez esqueceram de avisar para os UFOs que cientistas renomados da maior potencia mundial afirmaram categoricamente que eles não existem!

De qualquer forma, estava sepultado o assunto nas esferas oficiais, pelo menos temporariamente. Ponto para a política de acobertamento, já plenamente efetiva nos EUA e em boa parte do mundo. Junto do Blue Book estavam também enterradas as chances de surgir outro projeto oficial de pesquisa do fenômeno UFO. Agora, o assunto seria tratado sempre – e somente – sigilosamente.


DOS EUA PARA O MUNDO: NÃO AOS UFOS!


Em suma, basicamente a política oficial norte-americana é de negação total do fenômeno UFO em caráter público. E esse procedimento foi importado por todos os países, principalmente os aliados após o término da Segunda Grande Guerra. Enquanto vitoriosos da guerra, os Estados Unidos passaram a ser a referência máxima mundial, inclusive para o Brasil.

O Brasil também teve projetos oficiais de pesquisas ufológicas. Já 1952, o coronel-aviador João Adil de Oliveira fora para os EUA receber instruções militares sobre o assunto de seus colegas. De volta ao Brasil, passou a fazer diversas conferências para os militares sobre a questão UFO. Na época ele era chefe do Serviço de Informações do Estado Maior da Aeronáutica. Num momento único e sem precedentes, 1954, o coronel-aviador reuniu vários militares e a imprensa no Auditório da Escola Técnica do Exército, no Rio de Janeiro, e discursou sobre o fenômeno UFO de forma aberta e em caráter oficial. Simplesmente, por alguma razão, Oliveira não trouxe consigo, dos EUA, o ranço de acobertamento que imperava naquele país.

Mas somente em 1969 foi criado o primeiro projeto de pesquisas ufológicas: SIOANI – Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados – no 4º Comando Aéreo Regional (COMAR), na Praça Prof. Oswaldo de Vincenzo, nº 200, no bairro do Cambuci (SP). Quem comandava o SIOANI era o major brigadeiro José Vaz da Silva, que na época era comandante do 4° COMAR.

O SIOANI passou a investigar muitos casos ufológicos ocorridos naquela época e era formado por militares e civis que se encontravam espalhados em diversas bases aéreas e aeroportos. Foi uma iniciativa única onde havia uma colaboração mútua entre pesquisadores militares e civis, que também podiam participar das reuniões – situação similar ao que ocorre hoje no Chile. Esse é um dado interessantíssimo, já que estávamos em plena época de ditadura militar. O SIOANI chegou a emitir boletins informativos restritos, sendo que posteriormente dois foram tornados públicos pelo editor Ademar José Gevaerd, em várias edições da Revista UFO.

O primeiro boletim, de março de 1969, explicitava o estatuto e as diretrizes do organismo. Já no segundo boletim, de agosto de 1969, estava registrado a descrição de 58 casos ufológicos ocorridos no nosso país. Nesses documentos estão casos ufológicos de grande envergadura, registrado pelos militares. Alguns, inclusive, de naves pousadas e com a presença de supostos tripulantes.

Em 1972, as atividades do SIOANI foram encerradas. Não se sabe a razão do encerramento, mas é possível que ocorreu com a mudança do governo no Brasil. Como sempre ocorre, cada novo governo que assume acaba promovendo mudanças estruturais drásticas em diversas áreas. E essas mudanças podem ser a razão da não continuidade do SIOANI. Outras hipóteses levantadas que também podem ter gerado a extinção da organização é o desinteresse do próprio COMAR na continuidade, bem como pode ter havido pressão externa para a sua eliminação. De qualquer forma, o engenheiro Claudeir Covo, presidente do INFA, esteve no COMAR posteriormente com o ufólogo Osmar de Freitas, presidente do GEONI, e obteve a informação que realmente o SIOANI foi desativado e que todo o material produzido pelo organismo foi enviado para o alto comando em Brasília.

O próximo projeto oficial brasileiro de pesquisas ufológicas que se tem notícia é a Operação Prato. Em 1977 ocorreu uma onda ufológica sem precedentes na região Amazônica, atingindo principalmente as pequenas comunidades litorâneas e rurais. Tratava-se do fenômeno que ficou vulgarmente conhecido como Chupa-Chupa: objetos aéreos desconhecidos que perseguiam os moradores locais e atingia-os com potentes feixes de luz. Para os moradores locais, esses objetos sugavam o sangue quando atingiam as pessoas com seus feixes luminosos.

A situação foi tão contundente que começou a afetar a economia local, pois os pescadores não tinham mais condições de exercer sua atividade por causa dos ataques do "Chupa-Chupa". Com a população alarmada, o prefeito de Colares, uma ilha do município de Vigia, litoral do Pará, acabou sendo obrigado a enviar um ofício para o COMAR. No ofício, o prefeito descrevia que a situação estava fora de controle e toda a população se encontrava em estado de histeria. De fato, os moradores não dormiam mais a noite por causa do fenômeno. As pessoas se reuniam em volta de fogueiras para soltar fogos de artifícios para tentar afugentar os UFOs.

Com isso, o chefe da Segunda Seção do COMAR, coronel Camilo Ferraz de Barros, designou o então capitão Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima para o comando de uma operação oficial a fim de investigar o fenômeno. Nomeada de "Operação Prato" pelo capitão Uyrangê, a operação correspondeu basicamente no deslocamento de uma força-tarefa aos locais de incidência do fenômeno a fim de documentar toda a situação. Vale ressaltar que toda a Operação Prato foi realizada em caráter secreto e só se tornou público por Uyrangê Bolívar Soares Nogueira de Hollanda Lima que, após dar baixa no serviço militar, deu uma entrevista histórica para o Editor da revista UFO, Ademar José Gevaerd, e para o co-editor Marco Petit. Esse quadro parece ser uma constante no Brasil, tal qual é feito nos Estados Unidos: publicamente o fenômeno UFO é ignorado totalmente, mas secretamente é alvo de pesquisa e documentação oficial.

Conforme as declarações de Uyrangê, a Operação Prato produziu inúmeros relatórios descrevendo vários incidentes com o fenômeno, centenas de fotos de UFOs e, ainda, vários registros em filme, num total de mais de 16 horas. Mas todo o material, após o encerramento da operação, foi sumariamente enviado pelo COMAR para o então Núcleo do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Nucomdabra), precursor do atual Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra). No entanto, quatro meses após o início a Operação Prato foi finalizada. O resultado e os desmembramentos da operação não são conhecidos, pois Uyrangê era apenas um capitão e não participava das decisões do alto comando em Brasília. De qualquer forma, sua atuação foi primordial para acalmar os ânimos da população diante do fenômeno UFO.

Depois da Operação Prato, não temos mais notícia de projetos oficiais específicos para investigar o fenômeno UFO, mas sabemos que todos os casos ufológicos são enviados para o Comando de Defesa Aéreo Espacial Brasileira (Comdabra), que é o centro nervoso das operações de defesa da soberania aérea do Brasil.

Em seu programa "Circuito Night And Day", na Rede TV, exibido no dia 19 de janeiro de 2002, o apresentador e deputado federal Celso Russomano entrevistou o Major Brigadeiro José Carlos Pereira, na época comandante do COMDABRA. No excelente programa, Russomano mostrou as instalações do COMDABRA e quais são os procedimentos realizados nas diversas ações de vigilância e interceptação de vôos não autorizados ou não identificados coordenados pelas forças militares.

Num dado momento, Russomano acabou levantando a questão UFO para o Major Brigadeiro José Carlos Pereira. Hesitando inicialmente, o Major Brigadeiro acabou confirmando que o COMDABRA é responsável por todos assuntos envolvendo o espaço aéreo brasileiro, inclusive os casos de UFOs – os quais tem um formulário padrão para ser documentado. Chamado de "Tráfego Hotel" pelos militares, Russomano acabou conseguindo fazer o Major Brigadeiro mostrar um grande volume encadernado onde estariam registrados os casos ufológicos de 2001. Eram mais de noventa casos, sendo que o Major Brigadeiro só exigiu que o conteúdo não fosse aberto diante das câmeras, pois eram documentos secretos militares.

Mas Claudeir Covo, presidente do INFA, alerta que o COMDABRA é apenas uma espécie de depósito oficial de casos ufológicos, pois tudo indica que nenhum dos casos é alvo de alguma investigação. E esse quadro se deve basicamente a situação econômica do Brasil. Com toda a máquina militar sucatada por falta de verbas públicas, os militares não têm condições de destinar parte de seu orçamento anual para a investigação oficial dos casos ufológicos que documenta. Mas é um fato: a Força Aérea documenta com formulário próprio padrão todos os casos ufológicos que ocorrem no espaço aéreo brasileiro, demonstrando que a presença UFO é literalmente alvo de atenção oficial, porém em caráter secreto! Qualquer semelhança com os Estados Unidos pode não ser mera coincidência...

E não deve ser mesmo! A comunidade ufológica brasileira tem conhecimento de dois casos ocorridos no Brasil em que os Estados Unidos foram acionados. Um caso aconteceu na noite do dia 04 de novembro de 1957, no Forte Itaipú, em São Vicente, litoral Sul de São Paulo. Dois sentinelas sofreram queimaduras graves provenientes de um UFO que teria se posicionado entre eles a pouca altura. Na época, as altas autoridades brasileiras pediram auxilio à Embaixada norte-americana em suas investigações. Rapidamente, os Estados Unidos enviaram pesquisadores que auxiliaram os oficiais do Exército brasileiro na operação de apuração dos fatos.

Outro caso em que ficou evidente a presença dos Estados Unidos foi o famoso Caso Varginha. Antes do dia 20 de janeiro de 1996, muitas pessoas avistaram diversas luzes estranhas no céu do sul de Minas. E militares brasileiros informaram os pesquisadores do caos, em caráter sigiloso, que militares norte-americanos estavam rastreando esses UFOs através de satélites. O fato é que tudo indica que os americanos acompanharam e participaram, direta ou indiretamente, de todas as operações de rastreamento, resgate, captura e acobertamento dos fatos. O incidente de Varginha fez com que até o Secretário de Estado americano do governo Clinton, Warren Christopher, e o administrador geral da Agência Espacial dos Estados Unidos (NASA), Daniel Goldin, viessem ao Brasil nos meses seguintes. Provavelmente oficializar acordos beneficiando o Brasil, que permitiu que os Estados Unidos se envolvessem diretamente nesse caso ufológico de suma importância.

Está mais do que na hora de nos questionar e convidar nossas autoridades brasileiras a se questionarem se o tratamento oficial atual para a questão UFO continua sendo a melhor forma do governo brasileiro agir. Inclusive se atende realmente aos interesses do nosso país.


Fonte: INFA